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A
* Ele [Hitler] continuará a viver onde se aconselhar a esterilização e se matarem os nascituros [aborto], nas correntes em que se afirmar que o homem é escravo da bestialidade insofreável de seus instintos.
* Essa hidra da qual tão pouco se fala no debate da reforma agrária, e que é o açambarcador. O açambarcador que ganha muito mais do que o agricultor habitualmente e que é o responsável em grande parte pela carestia.
* Quando, passada a “procella tenebrarum” (Jud. 13) em que estamos, se fizer a história de nossos dias, há de ser reconhecido como uma glória do povo alemão o fato de que, esmagado pela derrota a que o arrastaram os facínoras nazistas, humilhado e dividido em conseqüência dessa derrota, reduzido pois a um mero fragmento de sua grandeza antiga, teve à sua frente um homem que, como Adenauer ( o qual tem, aliás, defeitos não pequenos ), reivindicou a árdua tarefa de empunhar o gládio de Deus contra o anticristo soviético. (…) Há algo de mais glorioso do que um ferido de guerra a meter medo, com o único braço que de momento lhe resta válido, a um gigante que por sua vez faz tremer toda a terra?
* Mesmo antes da difusão do Evangelho, os gregos e romanos chegaram a conhecer a existência da alma humana. A filosofia cristã acrescentou maiores luzes a esse conhecimento. (…) Trabalham contra a ordem do universo os técnicos que se negam a tomar em consideração, em seus estudos, a existência da alma imortal. Recusadas a Encarnação e a espiritualidade da alma, o mundo fica sem sentido.
* Os melhores dons de Deus são as cruzes e as missões. São presentes que encerram a promessa de outros dons. Quando Deus incumbe a um homem de uma grande tarefa, promete-lhe graças para ter uma grande alma. E uma grande alma, uma alma santa é o melhor dom que Deus possa fazer ao homem.
* Ter sempre em mãos a própria alma para a governar continuamente!… Que elogio! Quanto isto vale mais do que dirigir um avião superpotente, um país inteiro, ou até um banco (uso aqui a escala de valores característica de certa mentalidade supermoderna).
* Quando se ama algo ou alguém – pessoa, instituição, doutrina – deseja-se-lhe todo o bem, toda a honra, toda a glória. Isto é verdadeiro a fortiori com Deus e sua Igreja.
* Como se compreende completa e rapidamente aquilo que já se começou a amar! E como é difícil entender bem todo o alcance, sentir todas as consequências daquilo que não se ama!
* A ambição cria mais inimizades do que alianças.
* É inerente à sociabilidade, ao menos para a imensa maioria dos homens, a tendência de freqüentar um ambiente que esteja de acordo com seus gostos, inclinações e idéias.
* Se o homem não freqüenta um ambiente conforme às suas convicções, a sociabilidade o leva a se adaptar ao meio em que se encontra, assimilando-lhe, tanto quanto possível, o modo de pensar e de sentir, ou, quando nada, estabelecendo interiormente certos “arranjos”, que terão como conseqüência final uma adaptação completa. Assim, parafraseando Pascal, poder-se-ia dizer que constitui para a imensa maioria uma inclinação imperiosa “conformar as idéias com o ambiente quando o ambiente não se conforma com as idéias”.
* A criatura humana é o que há de mais típico em matéria de “Ambientes, costumes, civilizações“. Entretanto, é por vezes mais difícil interpretar a significação de uma fisionomia do que a de um móvel ou um prédio.
* Em “Ambientes, Costumes, Civilizações“, tive em vista ilustrar a importância da Revolução “A” tendencial, e seu nexo com a Revolução “B” [nos fatos], como com a Revolução “A” sofística. Nexo que se tivesse sido levado em conta pelos diversos movimentos contra-revolucionários, lhes teria aumentado a autenticidade, e a eficácia, dando outríssimo aspecto ao embate “R-CR”.
* Nesta vida o homem, em todas as idades, tem de se dedicar ao esforço de formar-se e reformar-se, preparando-se assim para o Céu, que é só onde cessa a nossa marcha para a perfeição. Assim, o católico pode e deve exigir dos ambientes em que está, que sejam instrumento eficaz para sua formação moral.
* Também a ambigüidade ante o inaceitável pode ser uma forma de aceitação.
* Comunistizada a América Latina, os Estados Unidos e a Europa Ocidental perderão um apoio econômico e político absolutamente indispensável, cuja falta só então sentirão. Em outros termos, penso que a grande luta mundial pró e contra o comunismo poderá ser ganha ou perdida na América Latina. (…) O comunismo só tem importância no mundo latino-americano enquanto infiltrado na Igreja.
* Estou persuadido de que a vietnamização da América do Sul é velho plano do qual de nenhum modo abrirá mão Moscou. E se aparecer no horizonte nova complicação política tendente a nos vietnamizar, o presente artigo tem uma utilidade como que notarial, tabelioa. Pois me servirá de prova de que, por detrás dessa nova complicação, desde o início estivera Moscou.
* Só existe verdadeiro amor, verdadeira dedicação, verdadeira amizade, verdadeiro idealismo, onde há espírito de sacrifício. Quando não há disposição de se dedicar, de se sacrificar, qualquer dito de amizade ou declaração de afeto não passa de relambório. Ou a pessoa prova seu afeto, sua amizade e seu idealismo com obras, e com obras que lhe custem, ou fica provado que não tem verdadeiro afeto, verdadeira dedicação. Um amor não sério a Deus é como o sacrifício de Caim: um sacrifício não sério, de frutas podres, que exala uma fumaça que não sobe até o Céu. O amor sério a Deus é como o sacrifício de Abel: queima a oferenda, cujo perfume se estende aos circunstantes, e cujo fumo sobe ao trono do Altíssimo.
* Que a humanidade se destrua e que tudo se perca, que importa aos homens de hoje? É precisamente o ideal do anarquismo: a destruição até que desapareça da terra o último vestígio do homem.
* Um mundo reconduzido a Cristo e à Sua Igreja teria sempre que estar preparado para repelir as investidas dos aliados dos anjos das trevas, que habitarão entre nós até os confins dos séculos.
* Para os espíritos levianos, as obras de superfície parecem sempre as mais importantes: construções de vulto, movimentos de massa e mais números e mais números: eis os únicos grandes serviços prestados à Igreja (segundo essa falsa concepção de apostolado)
* Para o espírito do século, há uma oposição irremediável entre contemplação e ação, entre oração e polêmica, entre vida espiritual e apostolado.
* O que é a doutrina católica? É um conjunto de verdades. Desde que, nesse conjunto, uma só verdade fosse adulterada, a doutrina católica já não seria ela mesma. Assim, tentar acomodá-la, adaptá-la, ajeitá-la, é trabalhar para que Ela perca sua identidade consigo mesma: em outros termos, é tentar matá-la. E achar que o apostolado não é possível sem essa adaptação é achar que a Igreja só pode vencer morrendo!
* Se amamos ao próximo como a nós mesmos, demos-lhe a Fé, nosso maior tesouro. (apostolado)
* Os frutos da apostasia são piores do que os da gentilidade. Pois pode não haver culpa em ignorar a verdade: há sempre culpa em repudiá-la.
* A característica do apostolado dos leigos, portanto dos Terceiros Carmelitas também, consiste em desenvolver-se no século, em agir no seio da sociedade civil, para promover a salvação das almas por todos os meios lícitos, inclusive pela impregnação do espírito da Igreja em todos os valores próprios à esfera temporal. Não se trata, portanto, para nós, de evitar as coisas do século, enquanto tais, não se trata para nós de fugir para uma Tebaida ou para o recesso sagrado de uma Ordem estritamente contemplativa, nem sequer de vivermos a vida conventual numa Ordem consagrada ao apostolado externo. Trata-se, para nós, isto sim, de estarmos dentro do século e de ordenarmos para Deus os valores do século que foram criados para Ele e dos quais se deve exigir que Lhe dêem glória.
* Há uma grande diversidade de almas… E implicitamente deve haver uma grande variedade de atitudes no apostolado. Errará a “técnica de apostolado” que não tomar em consideração esta verdade fundamental. Que admiração causavam aos pagãos que enchiam o Circo Romano e o Coliseu, as profissões de Fé desassombrada dos mártires!
* Nos tempos de hoje, quem não é apóstolo é apóstata.
* As argumentações apriorísticas, mesmo quando cômodas e destras, não resistem à análise.
* “O estilo é o homem”, diz-se em literatura. O estilo é a época, poder-se-ia dizer em arquitetura. Cada estilo resulta de um conjunto de tendências, idéias, aspirações, e atitudes mentais.
* Por uma propriedade que não é apenas convencional ou imaginativa, mas que crava raízes no âmago da realidade, certas formas, certas cores, as qualidades de certos tecidos, produzem no homem determinadas impressões, que são mais ou menos as mesmas para todos os homens. Impressões e, pois, estados de espírito, atitudes mentais, em certos casos todo um pendor da personalidade. É este um dos fundamentos da arte.
* Por vezes, se faz necessária uma verdadeira ascese para ver o óbvio. Por exemplo, quando isto nos obriga a passar da esfera deslumbrante das grandiosas planificações de progresso, de um mundo próspero e em paz, para os problemas angustiantes inseparáveis da previsão e análise dos perigos que o futuro traz em seu bojo.
* …do século V para cá, Átila piorou muito. Ele era um bárbaro que conhecia apenas alguns rudimentos da ordem natural. Hoje é um apóstata. Sua ferocidade se fez maquiavélica, sagaz, técnica. No século V Átila matava muito. Ele continua homicida. Suas mãos estão tintas de sangue. Mas no Século V, Átila só matava corpos. Batizado, aprendeu que há almas. Hoje, Átila, apóstata, prefere matar almas! No século V, Átila era sobretudo um bruto. Hoje, é antes de tudo um demônio.
E este demônio, como todos os seus congêneres, é igualitário. “Não serve”, precisamente como Lúcifer. Revolta-se. Detesta toda desigualdade, exceto a hierarquia de suas milícias diabólicas. Por toda parte onde vai, marchando em fileiras rijamente disciplinadas, ele destrói a verdadeira disciplina; revolta as almas contra Deus, revolta os instintos materiais contra o domínio racional da alma, revolta a força contra o saber, revolta a barbárie contra a tradição, contra a civilização, contra a hierarquia dos valores culturais, tradicionais, espirituais.
* A autodemolição das classes dirigentes é traço de importância capital, presente em todas as grandes revoluções que vêm abalando o Ocidente.
* Anos atrás, a Igreja e os Estados Unidos eram, nos respectivos planos, as duas maiores potências anticomunistas. Hoje, cada qual está engajada num misterioso processo de autodemolição.
* Se não estiver fundamentada em Deus, a autoridade será sinônimo de opressão. Não há autoridade sem Deus.
* Uma autoridade eclesiástica que se julgue injustamente acusada deve considerar grave dever pastoral defender-se. E se reconhece justa a acusação, tem o dever quiçá ainda mais grave de desculpar-se. Quanto a este último ponto, consideremos o exemplo que nos foi dado pelo maior Papa de nosso século. Pio XII o elevou à honra dos altares. Refiro-me a São Pio X.
B
* O bem que fazemos e vemos é grande, graças a Deus. Maior, porém, e mais meritório, é o bem que fazemos e não vemos.
* Escreveu Camões que “um fraco rei faz fraca a forte gente”. A contrario sensu, um forte Bispo pode incutir, pela palavra e pelo exemplo, notável valentia em seus diocesanos.
* Mas se se chegou a isto [referindo-se à situação do Brasil, n.d.c.], foi notadamente por força de um conceito errado de boa vontade: ser “bom” seria dizer “sim” a tudo; ser “mau” seria dizer “não”. Quem, como a TFP, se viu na contingência de dizer inúmeras vezes “não” à demagogia, era facilmente apontado como “mau”; quem, pelo contrário, encabeçasse a farândola do suicídio da ordem atual era “bom”.
* O homem deve ser governado sempre pelo bom senso. E mesmo os sentimentos os mais nobres são passíveis de censura quando deixam as rotas seguras que o bom senso nos indica.
* Se algum dia a III ou a IV Revolução tomar conta da vida temporal da humanidade, acolitada na esfera espiritual pelo progressismo ecumênico, devê-lo-ão mais à incúria e colaboração destes risonhos e otimistas profetas do “bom senso”, do que a toda a sanha das hostes e dos serviços de propaganda revolucionários. – Profetas estes [do “bom senso”] de um estranho gênero, pois suas profecias consistem em afirmar invariavelmente que “nada acontecerá”.
* Coragem e bom senso, duas virtudes que devem andar muito juntas. Porque bom senso sem coragem dá em covardia. E coragem sem bom senso dá em loucura.
* A invasão de uma bobeira egoística, otimista, e míope mina a vontade de resistência de nossos povos.
* É fácil paralisar pelo pânico a característica poltronice burguesa!
* Brasil fictício. Isto é, o Brasil formado por uma imensa panelinha (perdoe o leitor a contradição dos termos, mas a coisa é assim: uma grande quantidade de pessoas que constitui no Brasil uma minoria proporcionadamente pequena): 1) clérigos e católicos progressistas ou “bofistas”; 2) uns tantos miliardários comunistas; 3) certos granfinos idólatras da extravagância, da pornografia sofisticada e dos imprevistos escandalosos; 4) intelectuais que imaginam soprar sempre para a esquerda a última moda, e 5) publicistas de esquerda ou em vias de se tornarem tais. Em suma, um Brasil inautêntico, pois o Brasil nem é uma panela nem é esquerdista. Mas o Brasil tanto e tanto é descrito como sendo assim, que acabam acreditando na descrição até mesmo os que, por arroubos ideológicos, acabaram fabricando o mito.
* Características com que o Brasil costuma enfrentar as suas crises.
* “Oração e luta”: oração para glorificar a Deus e vencer na luta; luta para conservar o direito de prestar culto a Deus e viver em oração! (…) quantos países há que julgam poder conservar sua Fé sem travar em qualquer terreno a luta que a preservação da Fé exige! Rezemos para que o Brasil não venha a ser colhido de surpresa como um templo sem muralhas defensivas…
* Em Anchieta, “vas electionis”, brotara uma flor de virtude, e esta flor, ele a semeou por todo o Brasil: é a mansidão suave ligada à energia serena mas inexorável, que é o eixo de nossa alma.
* É próprio do Brasil combater como combatia São Luís IX, Rei de França: ninguém tão rijo na luta, ninguém tão moderado na vitória, ninguém tão compassivo ante a desgraça do vencido. Reivindicava seus direitos em toda linha, com heróico vigor. Mas, reparados os seus direitos, podia-se ver que nenhum ódio tivera seu grande coração.
* Em nosso País (Brasil) as divergências doutrinárias facilmente degeneram em insípidas retaliações pessoais, para as quais, em minha longa vida de polemista católico, nunca tive atração.
* O Brasil que devemos amar não é o Brasil selvagem e pagão, nascido da carne e do sangue, mas o Brasil gerado à civilização cristã pela verdadeira Fé, nascido da água e do Espírito.
* (Brasil) Na realidade, nossas massas são tranquilas, ordeiras e de boa paz. Elas não têm ojeriza aos ricos nem à polícia. E a indignação que lhes vai na alma contra o Poder público, não é porque este mantém os direitos da grande e média propriedade, mas, pelo contrário, porque não protege a pequena propriedade e a segurança pessoal do homem comum, porque deixa as ruas entregues ao roubo impune, como aliás também à sanha sexual.
* Todo o Brasil conhece o terrível peso que têm em seu orçamento os gastos com a administração pública, dotada de incontáveis servidores, mas geralmente tida e havida como inoperante, lerda e terrivelmente inflada. – A par disso, não há quem ignore o peso terrível das empresas estatais que o Poder Público teve a inabilidade e a imprevidência de comprar e constituir na última década do regime militar.
* Não compreendo, absolutamente não compreendo, por que motivo o Brasil de há muito já não restituiu à iniciativa privada as empresas estatais cujo déficit vai devorando nossos recursos. Da mesma maneira, não compreendo como um clamor nacional autenticamente suprapartidário não forçou a adoção dessa medida.
* Nosso país é um país cordato, um país que ama a mansidão. Mas se algum dia alguém de nós se aproximar e disser: “És ainda tu o Brasil cristão? Não aceitas a pressão que se quer fazer contra ti?” Eu tenho a certeza que esta nação responderá com uma força que ainda ninguém lhe conhece, mas que está nascendo nas tormentas do momento atual.
* Indiscutivelmente, há mais pobreza na trivialidade do burguês, que na espiritual indigência do caipira. A superioridade de espírito do caboclo não é titulo que justifique sua inércia. É, antes, motivo para que se aproveite seu potencial interior na construção de um Brasil grande. – Vivemos em um ambiente em que os maiores plutocratas são agarrados, pequeninos e egoístas como os mais ínfimos burgueses. A avidez e a ganância do proletariado neo-pagão também é bestial e repugnante. O caboclo, pelo contrário, na sua miséria semi-voluntária, tem larguezas de um “grand seigneur” – O caipira ainda mesmo quando desfigurado pelo amarelo de dentes sujos e cariados, metido em uma roupeta que conserva restos muito indecisos de sua antiga cor branca, ou das listas de cor que outrora a riscavam, sabe fazer uma coisa que a maior parte dos “modernos” esquecem.
* O caráter fundamentalmente católico é a mais importante característica da tradição nacional. Ainda está para ser feita uma História da Igreja no Brasil. No dia em que tal se fizer, e em que for possível pôr à mostra as raízes religiosas de muitos dos principais acontecimentos históricos de nosso País, ver-se-á o quanto a História oficial se empenhou em desfigurar a verdade.
* Somente em uma restauração de suas tradições religiosas pode o Brasil encontrar remédio para seus numerosos males. Esta restauração, porém, não deve ser de forma nenhuma o regresso puro e simples do passado, mas a readaptação de nossa vida pública e particular aos valores espirituais eternos, e portanto de uma perene atualidade, que refulgem nas tradições de nossa História.
* Não façamos dos louros de hoje a sepultura gloriosa de nossas energias de ontem – Quando todas as nações do mundo esperavam ver uma nova China na América do Sul, o Brasil se reergue de seus escombros como nova fênix.
* Se o Brasil quiser ser a grande nação de cruzados e missionários, é por meio de uma ardente piedade marial que conseguirá essa graça. E se quiser essa graça, há de implorá-la pelos meios que a própria Virgem indicou (em Fátima: a devoção do Coração Imaculado de Maria e a do Santo Rosário).
* [Um Conselho de Notáveis para o Brasil] Conselho [de notabilidades] indicaria a rota quando as rochas, os ventos, as brumas e a noite tornassem perigosa a travessia (…). O presidente da República, o gabinete ou o Congresso, poderiam não atender ao conselho. Mas também o capitão de um navio pode não seguir o facho de luz do farol. Quites, entretanto, a responder depois perante a maruja e os passageiros!
* Somos um povo [referindo-se ao brasileiro] emotivo. Um favor, uma atenção, por vezes um mero sorriso podem abrir-nos a alma. Mas, em sentido contrário, uma recusa, um esquecimento, um cumprimento vago e distante nos podem melindrar.
* Dize-me com quem és propenso a brigar e te direi quem és… Dize-me com quem és propenso a não brigar e também te direi quem és.
* O terreno próprio para a má semente não é o estômago vazio dos indigentes, mas o cérebro vazio de alguns burgueses (a propósito da afirmação de Luiz Carlos Prestes: “No Brasil só se pode fazer a revolução comunista por meio dos intelectuais que nos ajudariam a formar uma geração intelectual futura comunista. Logo, são as classes ricas o alvo predileto da propaganda comunista”).
* Pensamento e movimentação muito mais do que burocracia. É o aproveitamento do gênio e da capacidade própria do latino.
* A burocracia é guiada pela ideia e pelos moldes da eficiência (ainda quando não seja realmente eficiente, o que ocorre no mais das vezes). E a eficiência não tem nada a ver com o que é intimamente humano, porque não passa de uma categoria mecânica.
C
* Nas épocas das grandes calamidades, é preciso gemer junto ao altar, rezar, fazer penitência, distribuir esmolas. Assim se aplaca a ira de Deus, se vencem os ímpetos desordenados da natureza e se expulsam os demônios.
* Todos os brasileiros cônscios se agrupem (…) inter-articulando elementos afins quanto às soluções que desejem dar a suas preocupações cívicas (…), se reúnam em amplas coligações em torno de um programa e de atividades (…) que nessas fileiras sobressaiam naturalmente as pessoas mais ilustres por seus predicados intelectuais e morais, e por sua influência sobre os que caminham com elas (…), e por fim emerjam robustas e equilibradas candidaturas, entre as quais nos seja dado escolher a melhor, em vez de votar ingloriamente na “menos má”.
* Infelizmente, a tarefa do clero de esquerda se tornou bem clara no Brasil e no mundo. Menos claro é, para muitos leitores, a missão esquerdista do capital. (…) Digressões no ar, de um reacionário situado no campo doutrinário mais genuíno em matéria de reação, como graças a Deus sou? Não: um dos maiores doutrinadores do comunismo, Engels, afirma o mesmo, e exprime a este propósito toda a sua gratidão admirativa para com o capital.
* A caridade deve ser a arma invariável de nosso apostolado. Mas ela não é o contrário de argúcia e de combatividade.
* Quando desaparece o espírito sobrenatural, a caridade ou degenera em romantismo adocicado e se torna ridícula, ou desaparece sob as lufadas do egoísmo.
* Há modos de faltar com a caridade combatendo. Como há modos de não combater em que se falta com a caridade.
* Às vezes, o excesso de argúcia implica em falta de caridade. Outras vezes, pecamos contra a caridade por não termos sido suficientemente argutos.
* A caridade se acha como que deteriorada por uma certa infiltração de materialismo: compreende-se, pratica-se e louva-se a caridade feita em benefício do corpo. Foge-se, censura-se, condena-se a caridade feita em benefício do espírito. É uma espécie de filantropia materialista, que vê no corpo o fim último do homem, e no espírito apenas um acessório destinado a registrar benevolamente as delícias de que o corpo deve gozar.
* O maior mal do Brasil não é a inflação monetária. E’ a deflação dos caracteres
* Sob pretexto de cultuar a alegria, o Carnaval trai a alegria. Em verdade, que é a alegria carnavalesca? Embriaguez de álcool, embriaguez de éter, embriaguez de ritmo, em suma, a completa desordem do sistema nervoso, alucinação de pessoas que desejam fugir de si mesmas, porque em si mesmas morrerão de tédio ou de náusea. Para uma humanidade falsificada, idiotizada, brutalizada, que detesta a sua alma e não quer contemplar a sua própria face, só mesmo uma alegria falsificada: o Carnaval é inumano.
* Carnaval: coletânea sobre.
* Perdeu-se a noção de que o casamento é uma vocação social e, por aí, a morte mesma do egoísmo. Quem se casa, de certa forma se aliena de si mesmo e se oferece à coletividade e ao bem da geração futura.
* Só há duas atitudes coerentes em face do casamento: a sua negação ou a sua indissolubilidade.
* Em certo sentido, poder-se-ia dizer que a misericórdia de Deus transparece mais claramente sobretudo quando castiga. Ai daqueles sobre quem tarda a vir o castigo de Deus! Ai do pecador impenitente que vive feliz e despreocupado! Ai do homem iníquo, a quem cercam todas as venturas da vida temporal! O homem que continua feliz no crime é o maior dos desgraçados. Deus nunca falta com sua graça, nem ao ímpio, nem ao pecador. Mas como crescem, se acumulam, se multiplicam os castigos que Deus tarda em enviar!
* O monolito, desde que seja fragmentado, deixa de ser monolito. O Catolicismo, desde que seja privado de uma de suas partes, deixa de ser Catolicismo.
* Ser católico e ter medo de sofrer por Deus é fazer deste um mero banqueiro.
* Há algo mais difícil do que reconduzir à razão quem, como o católico de esquerda, vive na e da contradição?
* Mostremos com santa ufania as cruzes, os espinhos, as lutas que se encontram no caminho do verdadeiro católico / Tal atitude não afugentará os neófitos, se lhe soubermos mostrar esse caminho resplendendo de glória pelo esplendor do sol das almas que é o Coração de Jesus, e suavizado a cada passo pelo sorriso maternal de Maria.
* A cavalaria sabe respeitar, a cavalaria sabe admirar, a cavalaria sabe querer bem.
* Os centristas e os direitistas são – cada um desses setores a seu modo – homens de ordem. E o próprio de quem ama a ordem consiste em não exprimir seu desagrado em termos de agitação e desordem. Essas últimas constituem a única linguagem dos prosélitos da anarquia, do caos e da violência. A indignação da ordem se exprime em termos de protesto digno, com uma força calma, segura de si, e disposta à luta. À luta de cavalheiro, que é diametralmente o oposto da fanfarronada agressiva e vulgar dos piquetes de greve, das “ocupações” lesivas ao patrimônio de outrem, e congêneres métodos de protesto.
* O justo cultiva certezas; o preguiçoso manuseia ilusões. (25-1-1989)
* A superstição é um corolário necessário da descrença, a vala comum para a qual descambam os céticos.
* A mania de decidir logo não é boa. A ideia de que o verdadeiro chefe é o que decide depressa é uma ideia tonta. O chefe não decide depressa nem devagar. Ele decide depressa quando é possível; devagar quando é necessário. Nunca decide sem conhecer bem o problema a respeito do qual vai tomar uma decisão.
* Mas voltemos à China e à Pérsia. Ali, a URSS levanta o facho da discórdia. No Ocidente, o que faz? Deglute pacificamente a Europa centro-oriental. Só isto? Não. Clama contra o monopólio da bomba atômica. Haverá maior cinismo do que este? Hoje, fala-se em cortesia francesa, pontualidade britânica, cavalheirismo espanhol, etc., etc. Dia virá em que se falará também em cinismo soviético. Cinismo pasmoso, na verdade, que só teve um “símile” no mundo: o cinismo nazista.
* O cinismo é um predicado bem totalitário. Ostentam-no à porfia nazistas e comunistas.
* Na civilização cristã a grandeza do senhor não humilha o servidor, mas o eleva.
* Penso que não há, em todo o Antigo Testamento, princípio mais intimamente ligado às concepções do LEGIONÁRIO sobre a civilização em geral, e particularmente sobre a civilização cristã, do que o do salmista: “enquanto o Senhor não edificar a cidade, em vão trabalharão os que a edificam”.
* O Cristianismo irmana as classes sociais, unindo-as num mesmo amor de caridade. Porém, para as irmanar e as unir, é condição indispensável não as destruir, mas aperfeiçoá-las segundo a perfeição que a Igreja traz a este mundo.
* Ó incompreensível CNBB, por certo a mais intrincada e ameaçadora charada que há neste nosso imenso, lindo e querido Brasil.
* O governo (…) e as bancadas esquerdistas da Constituinte vão abrindo caminho para (…) reformas sócio-econômicas ruinosas como a reforma agrária, a reforma urbana e (…) a CNBB aplaude eufórica essas reformas orgiacamente dispendiosas. E se zanga de verdade com a Nova República (…) insuficientemente rápida com sua marcha para o abismo.
* A CNBB [por] seu próprio presidente, D. Ivo Lorscheiter, (…) conhecido líder da corrente mais esquerdista da entidade (…) afirmou (…) ser fundamental que venha logo uma reforma agrária (…) abrangente. Como pode a CNBB, órgão essencialmente espiritual, “cobrar” do chefe de Estado – a quem cabe a direção da esfera temporal – uma reforma pela qual, segundo a Constituição, este só é responsável perante o país? A culpa da radicalidade da reforma caberia pois (…) à CNBB.
* O CIMI (Conselho Indigenista Missionário) é o órgão anexo da CNBB para quanto diz respeito a nossos índios (…) elaborou (…) uma série de reivindicações, muitas das quais pouco ou nada têm que ver com assuntos tribais, mas apresentam graves afinidades com os programas da Internacional Socialista, e dos organismos propulsores da expansão comunista mundial: (…) transferência para o Estado, de todos os estabelecimentos privados básicos que cuidam da educação e da saúde, e, no mesmo nível, de todos os que cuidam dos transportes e da construção de moradias (…) requer ainda a “redefinição do papel das Forças Armadas”. Temos assim a figura global da catastrófica transformação a que está arriscado o país (…) que, por certo, realizará todos os planos de Moscou sobre o Brasil.
* O que o Sr. mais admira nas pessoas? – A coerência na fé católica.
* O melhor bálsamo para as dores humanas não é o remédio, é a compaixão. Como fazer brotar do coração humano, tão frio, tão duro, tão egoístico, a flor da compaixão? Pela meditação da Paixão de Cristo.
* Nós somos um País rico governado (em 1989) por um Estado pobre, pela incompetência e por outros fatores ainda de nossos homens públicos. Agora, o resultado é que quando um incompetente dirige os interesses de um competente, o competente vai para a ruína junto com o incompetente.
* Para acafajestar, nivelar, vulgarizar. É a civilização que vai morrendo em seus requintes, e a vulgaridade que vai subindo. Em suma, é o comunismo que vai impondo seus estilos e conquistando a humanidade.
* Mais uma prova da perfeita concordância entre o nazismo e o comunismo é o fato do ministro do Reich no México comunista ter exigido a prisão e o julgamento de um chefe sindicalista que criticara Hitler [dezembro de 1938].
* O “Voelkister Beobachter”, órgão nazista de Viena, publicou uma reportagem espalhafatosa em que afirma que a Áustria tem ricas igrejas e um povo pobre. Mais uma vez constatamos não só a identidade de métodos e de linguagem entre comunistas e nazistas. Se o “Legionário” acentua estes fatos, fá-lo não para hostilizar esta ou aquela nação, mas para dissipar certas ilusões políticas funestas.
* A Alemanha [de Hitler] intervém na Alsácia-Lorena, onde uma intensa propaganda separatista está sendo feita em língua alemã, contando com o apoio dos comunistas!
* Os deuses pagãos ressuscitaram na velha Alemanha. Como explicar um fenômeno tão estranho? Para fazê-lo, procurei sua relação com a História da evolução do pensamento alemão de Lutero para nossos dias. A explicação jorrou daí clara e cristalina. O percurso luteranismo-enciclopedismo-comunismo. A superstição é um corolário necessário da descrença, a vala comum para a qual descambam os céticos.
* Qual a diferença entre os nazistas que queimam imagens e agridem Sacerdotes na Áustria aos bolchevistas que queimam e agridem na Espanha? – De tantos frutos amargos, tiremos ao menos um proveito. E’ a convicção de que, para o nazismo quanto para o comunismo, não há conciliação possível com a Igreja.
* Se Joseph de Maistre disse com razão que a Revolução Francesa foi satânica, pode-se dizer com maior razão que a guerra de classes promovida pelo comunismo internacional é a explosão universal daquilo que na Revolução [Francesa] havia de mais caracteristicamente diabólico.
* Os homens e as civilizações se salvam e se perdem pelas ideias que professam e é sempre no terreno da luta das ideias que se resolvem os destinos dos povos. – Optar entre o comunismo e o nazismo é optar entre Lúcifer e Belzebu, entre o demônio e o demônio.
* O governo brasileiro enviou quinze mil sacas de café para distribuição gratuita na Espanha. Do governo comunista de Barcelona já vieram os devidos agradecimentos [outubro de 1938].
* Expulso do Brasil o ex-cônsul do governo comunista de Barcelona em Santos [outubro de 1938].
* Nenhum católico digno desse nome pode duvidar de que o nazismo representa, no mundo contemporâneo, um perigo doutrinário imenso, que ameaça atirar as almas a um paganismo tão funesto e tão completo que até mesmo os espíritos os mais moderados se sentem inclinados a afirmar que o nazismo em nada é preferível ao comunismo. O nazismo realizou um prodígio de incongruência com a elaboração de uma doutrina ao mesmo tempo atéia e idólatra, em que o sangue, a raça e o solo são adorados como deuses. Esta idolatria gera, no terreno político e social, consequências tão profundamente diversas das do Evangelho que a sociedade integralmente nazismo tem de ser necessariamente uma sociedade integral, irremediável e ferozmente anticristã. É incontestável que o comunismo é a antítese do Catolicismo. Mas o nazismo, por seu lado, constitui outra antítese da doutrina católica, muito mais próxima do comunismo do que qualquer destes do Catolicismo.
* Ainda poderá haver algum ingênuo que se espante ao ver ligados esses dois fatos contemporâneos: Nazismo e Comunismo. Em verdade, é infinita a geração dos incautos. Por isso prevemos que poderá haver muito bom quem exclame: “Pois Hitler não é o maior inimigo de Stalin?” Por várias vezes, e isso desde há muito tempo, o LEGIONÁRIO assinalou os parentescos ideológicos das duas doutrinas políticas.
* Até há bem pouco tempo, era tal a simpatia americana pelos dirigentes comunistas do México que o confisco e o saque de inúmeras igrejas deixaram sempre a América do Norte indiferente, não vendo nisso violação de nenhum direito internacional. Mas o México confiscou agora [agosto de 1938] as minas de petróleo. Tanto bastou para que o governo americano visse nessa medida a violação dos mais graves princípios internacionais.
* Rússia e Alemanha trocam carícias! Onde põe o Sr. Hitler o seu anticomunismo?
* [agosto de 1938] A cooperação econômica do governo comunista do México com a Alemanha nazista continua muito estreita.
* [julho de 1938] Inicia-se um intenso intercâmbio comercial entre o México comunista e a Alemanha hitlerista, por intermédio de uma firma da América democrática. Hitler, que afirma ser o nacional-socialismo a única barreira contra o comunismo, auxilia, pois, o México a sair do grave impasse em que se achava.
* Erguem-se o nazismo e o comunismo contra o Papa [em 1938]. Ambos veem no Sumo Pontífice o defensor heroico de tudo o que há de nobre e de elevado na vida humana, o defensor da vida do espírito. Materialistas como são, o nazismo e o comunismo querem então esmagar o Papado que sabem ser o centro de todo o universo.
* Aqueles que se ocupam com o combate ao câncer do liberalismo e ao seu genuíno produto, que é o comunismo, esquecem-se muito frequentemente de que o liberalismo não é o único filho do Protestantismo, e que este gerou outro filho, não menos parecido com o pai, que é o nazismo.
* o comunismo e o nazismo, que são as duas maiores heresias de nosso século…
* A Congregação do Santo Ofício promulgou decreto condenando o livro do nazista Raoul Francé (“Von der Arbeit zum Erfolg”), a respeito do que comentou o “Osservatore Romano”: “O presente livro é um fruto do materialismo biológico (…) verdadeiro materialismo, que não difere do materialismo comunista ainda que se vele sob o culto místico prestado à natureza e à raça”.
* Os católicos que discutem o que é melhor, se o nazismo ou se o comunismo, para se abrigarem de um inimigo sob as garras de outro…
* Os incautos ou os tolos estão persuadidos de que Hitler é um inimigo feroz do comunismo, mesmo entre os católicos há quem pense assim. Entretanto o “Fuehrer” acaba de exigir que o governo católico da Áustria soltasse não apenas o nazistas mas também os comunistas presos em Viena. E, ao mesmo tempo, ele ordena na Alemanha o fechamento de 4000 sociedades católicas, com o total de 325.000 membros.
* A Igreja está acima de tudo e de todas as contrariedades e perseguições. Lembrem-se de 1937 as Encíclicas condenando o comunismo e o nazismo.
* Repelindo o comunismo, ela [a Espanha] repele igualmente o endeusamento do Estado ou da raça.
* O comunismo só será definitivamente vencido no Brasil no dia em que for solucionada nossa crise religiosa.
* Inimiga ferrenha, intransigente, irredutível do comunismo, a Santa Igreja nem por isto pactua com as graves e numerosas injustiças sociais que se notam freqüentemente em nossos dias em relação à classe operária.
* É muito do espírito igualitário e comunista insinuar que as classes pobres devem sentir pejo de sua condição e por isto revoltar-se. Mas os católicos, porque acham que não há vergonha em pertencer a uma classe social humilde – uma vez que Nosso Senhor foi filho de um carpinteiro – não sentem qualquer diminuição nisso. Porque, seja em que classe social for, o católico tem a suprema qualidade de membro da Igreja, que lhe conferiu o Batismo.
* Aproxima-se a sucessão presidencial, os aproveitadores lançam a confusão em todos os setores. Aos católicos temos apenas que recomendar o máximo de serenidade. Se o comunismo tomar pé em nossa Pátria, teremos a maior das catástrofes.
* O comunismo apresenta-se sempre camuflado, envergando as mais lindas ou as mais inocentes roupagens. Ele é sempre o protetor das classes desfavorecidas oprimidas pelo capitalismo feroz. Apresenta-se como o oprimido, como o bom perseguido. Deixem que o comunismo “inocente” e “protetor” aporte em qualquer lugar e se verão surgir como por encanto os dentes e as garras mais afiadas…!
* Não podemos, não queremos e não devemos ser dos que afirmam que o Brasil está vacinado contra o comunismo. Isto é afirmar de certa forma que o Brasil é impecável e, como tal, invulnerável.
* Ninguém tem escrito mais, nem com maior veemência contra o comunismo do que o “Legionário” que, fazendo-o, não cumpre senão o mais elementar de seus deveres.
* Pânico e derrota são sinônimos. Poucos têm o senso da realidade, poucos se dominam e examinam as coisas com a devida frieza. Verificou-se na Espanha que as províncias onde a Ação Católica estava mais perfeitamente organizada, foram as que responderam mais eficientemente ao apelo contra o comunismo.
* Pio XI não tolerou os erros do fascismo nem os do comunismo, mas proclamou as verdades do catolicismo. Porque a Igreja é bastante forte para nunca silenciar perante o erro, ainda mesmo quando, humanamente, Ela se apresenta mais destituída de vigor. Sua força é Nosso Senhor Jesus Cristo, e só Ele. E ainda mesmo que Pio XI tivesse de enfrentar o fascismo e o comunismo simultaneamente e ainda que ele estivesse tão desarmado quanto o Papa São Leão perante Átila, ele nada teria a recear. – Nossa tática não é a da timidez nem a do conformismo. Esta atitude desagrada à direita? Suscita aplausos hipócritas e desprezíveis à esquerda? Pouco importa. O que queremos é seguir o exemplo de Pio XI.
* Os católicos não devem fazer ação católica só para combater o comunismo. O fim da ação católica não é apenas o de destruir o mal, mas sobretudo o de fazer o bem.
* Não há para o comunismo presa melhor que a nossa Pátria com sua extensão e suas riquezas e com a destruição por ele visada de uma grande potência católica. Enquanto os políticos se agitam e se destroem, o comunismo age. Alguém há de estar alerta. E este alguém só poderão ser os católicos, colocando acima de tudo a sua fé e logo depois a sua Pátria, sempre como católicos e só como católicos, sem ideologias estranhas sempre destruidoras da Fé e do verdadeiro patriotismo.
* O Ministro Oswaldo Aranha disse a S. Ema o Cardeal D. Sebastião Leme que os católicos, em 1933, intervieram nas eleições de forma tão salutar, que salvaram o Brasil do comunismo.
* Se a Igreja está a mil léguas do comunismo, também está distante do capitalismo opressor, que vê no operário apenas uma máquina da qual se deve sugar o máximo de trabalho pelo mínimo de salário.
* O 50° aniversário da morte de Darwin, passado em 1932, foi mais celebrado na Rússia do que em qualquer outro país. O comunismo adotou, com efeito, a totalidade das idéias evolucionistas e procurou disseminá-las em todos os meios.
* As universidades brasileiras não combatem o comunismo e, o que é mais grave, em muitas delas faz-se propaganda direta ou indireta do “credo vermelho”. A universidade da capital Federal tem professores ostensivamente comunistas. A universidade de São Paulo tem professores materialistas que negam Deus e outros que defendem o divórcio, enfraquecendo a família… Em lugar de ser combatido, o comunismo é favorecido. Nossas universidades traem assim, lamentavelmente, o seu dever.
* O espetáculo desses representantes do comunismo desfilando sobre as ogivas góticas da Catedral de Westminster ao som do “God save the King”, num cortejo de marajás e de lordes, é bem característico da triste época em que vivemos. Perfídia de um lado. Cegueira do outro. Falsidade em ambos.
* O comunismo ataca e fere de morte o instituto da família e a propriedade individual. É o inimigo n.º 1 da Religião. – Enquanto não conhecermos as proporções exatas, as forças e os métodos dos exércitos que nos combatem, enquanto não soubermos com toda a precisão quais os pontos vulneráveis em que estamos sendo combatidos, do que nos serve todo o resto?
* O comunismo se esmera em atingir as crianças; são elas as grandes vítimas das hordas vermelhas.
* Imprevidentes como se fossem cegos, silenciosos como se fossem mudos, inertes como se fossem paralíticos, muitos daqueles que mais razões teriam para atacar o comunismo, “deixam correr o marfim”. Quando, porém – o que Deus não permita – se atearem aqui os primeiros incêndios, correr o primeiro sangue, forem imoladas as primeiras vítimas de algum novo conflito social, o Brasil pedirá contas aos cegos, aos mudos, aos displicentes, dos crimes que, por sua cegueira, por sua mudez, por sua displicência, se tiverem praticado. Neste dia, assim o esperamos, a consciência católica do povo se arvorará em juiz dos seus pilotos míopes.
* O “Pravda”, órgão oficial russo, noticiou que uma mulher foi premiada pelo governo, por ter amamentado um leitãozinho. A igualdade é um dos ideais pregados pelos comunistas. Julgava-se até agora que era a igualdade entre os homens. Mas eis um fato esclarecendo o verdadeiro sentido da igualdade apregoada pelo comunismo.
* O “Diário Popular” preconiza diante do maior perigo do século – o comunismo – a atitude mais desfibrada possível. Graças a Deus, os seus conselhos não serão ouvidos e enquanto houver em corações brasileiros a sólida barragem da Fé Católica, o comunismo terá a resposta que merece.
* Este monstro moderno, o marxismo ou comunismo, hidra de sete cabeças, síntese de toda heresia, oposto diametralmente ao cristianismo em sua doutrina religiosa, política, social e econômica. E quando o Sumo Pontífice, em documentos recentíssimos, lança anátema ao comunismo, e previne contra ele todos os poderes, ainda não cristãos, ele assinala como aríete destruidor de toda civilização digna de tal nome.
* O comunismo é um mal profundo, decorrente da corrupção de todas as células e tecidos sociais. Se, portanto, quisermos enfrentar o mal, deveremos fazê-lo pelo combate às suas causas mais remotas e perigosas. E a “causa causarum” do mal não é outra coisa senão a irreligião. Nesta luta, ou seremos soldados ou desertores, ou heróis ou covardes.
* Graus e formas de comunismo: anticlericalismo? campanha sexual para libertação de “falsos preconceitos”? socialismo pedagógico? – Qualquer destes abcessos do comunismo negará ser comunista integral: busca apenas um ideal, que tem como base a igualdade de todos. Se chegassem à realização de todos estes “ideais” juntos veriam com assombro o comunismo integral. Numa soma, cada parcela não é o total. O total é a soma destas parcelas todas…
* O comunismo não é o manso cordeiro que finge ser (…). Na Espanha, os incêndios de igrejas só começaram quando o regime se viu no poder; antes ele defendia as “liberdades populares”…
* A melhor maneira de combater o comunismo não é por uma doutrinação oriunda dos princípios da Revolução Francesa, mas pela desassombrada pregação do verdadeiro Evangelho, o de Nosso Senhor Jesus Cristo, inclusive para manter a disciplina nas forças armadas.
* Toda a civilização católica, todos os princípios de moral, todas as tradições, todas as instituições de que se orgulham os ocidentais, desaparecerão irremediavelmente se vencer o comunismo. – A Igreja só quer a paz que é, segundo diz São Tomás, “a tranquilidade da ordem”. E nunca a paz resultante de uma semi-vitória do comunismo, o que seria, quando muito, a tranquilidade da desordem.
* Brasil tradicional / Realizada Missa festiva de encerramento do curso escolar da Escola Rural da Fazenda Contendas, em Mococa (Estado de Sao Paulo). Durante o Santo Sacrifício foi dada a Comunhão a grande número de crianças. Essa notícia, aparentemente banal, é digna de uma menção particular. É por toda a parte a vida da graça, levando os homens para Deus e, portanto, para o bem e para a verdadeira paz. Não há melhor obra do que essa para afastar o comunismo de nosso Brasil!
* Para o comunismo a noção de crime perde sua razão de ser se esse crime não teve consequência perturbadora do progresso da evolução da humanidade para a felicidade. Assim considerados, muitos atos de culposa criminalidade deixam de o ser, porque as conseqüências práticas não apareceram em sociedade prejudicando-a. Somente a utilidade das coisas para o progresso humano é que as torna boas ou más. Daí o dispor o Estado dos particulares, de suas aptidões e capacidades, com um despotismo tirânico.
* …a tendência, incentivada e explorada pelo comunismo, de formar uma religião sem dogmas, onde naufragará definitivamente o espírito humano.
* Impressões de um jornalista francês – O que ele viu e nós não vemos: “Parece difícil, à primeira vista, que uma doutrina de ódio como o comunismo, se implante no Brasil. Não há povo mais doce, mais benevolente, mais acolhedor; e é um dos atrativos deste maravilhoso país, não ver em nenhuma fisionomia o quadro horroroso da inveja, que tantas vezes encontramos nas ruas de nossas cidades. Estes tesouros, destruí-los-ão por suas mãos em lutas intestinas?”
* Uma medida meramente econômica nunca extinguiria o comunismo, cujas causas são sobretudo morais. É (o Papa) Leão XIII quem o afirma.
* Nenhuma doutrina constituiu mais exatamente o extremo oposto do comunismo do que a Boa-Nova pregada por Nosso Senhor Jesus Cristo.
* A verdadeira causa da difusão do comunismo é a falta de instrução religiosa. Só a religião é capaz de incutir no cérebro humano a noção do justo e do injusto.
* Churchill disse uma vez, falando dos agressores nazistas, que os que defenderam o mundo contra eles mereceram a gratidão universal porque “nunca tantos ficaram a dever a tão poucos”. Pensando no comunismo, eu diria, nesta imensa empresa de agressão mundial que é o comunismo internacional, eu diria nunca tantos desejaram tanto mal, um mal tão profundo, desejaram a aplicação de um programa tão errado, proclamaram a ruína de verdades tão fundamentais e tão patentes quanto faz o comunismo internacional.
* A debelação do comunismo deve ser a preocupação principal dos nossos dirigentes. E – estejam eles disto certos – o sucesso de sua campanha está diretamente ligado ao sucesso de sua luta contra o comunismo.
* O comunismo só tem importância no mundo latino-americano enquanto infiltrado na Igreja (Católica).
* Feliz do comunismo se só encontrasse diante de si opositores sem destemor
* O inexorável princípio marxista: tudo quanto o comunismo não possa destruir, deve ser posto sem reservas ao serviço dele.
* Uma parte do programa do Partido Comunista no México: “A escola deve transformar-se em instrumento para a transformação comunista da sociedade. Ela deve ser o guia na influência ideológica, organizadora e educadora do proletariado, para que as camadas semi ou não proletárias das massas trabalhadoras sejam de tal modo preparadas, que o Comunistmo venha afinal a realizar-se”.
* Se eu tivesse a desdita de ser comunista, seria vivamente contrário (por detrás dos bastidores, bem entendido) ao reconhecimento legal de meu partido. Porque tal reconhecimento não conduziria senão a mostrar a irremediável insignificância dos contingentes eleitorais de que ele dispõe.
* A figura desgrenhada de Marx, o olhar felino de Lenine, os ares de urso desleal e cruel de Stalin favoreciam muito a formação deste perfil moral do comunista, deduzido dos próprios princípios comunistas pelo bom senso universal.
* Falar em sentimento cristão de tolerância, de indulgência, de benignidade, em relação aos comunistas é, pura e simplesmente, pregar a traição, a covardia, a deserção, em nome de Jesus.
* O terreno próprio para a má semente não é o estômago vazio dos indigentes, mas o cérebro vazio de alguns burgueses (a propósito da afirmação de Luiz Carlos Prestes: “No Brasil só se pode fazer a revolução comunista por meio dos intelectuais que nos ajudariam a formar uma geração intelectual futura comunista. Logo, são as classes ricas o alvo predileto da propaganda comunista”)
* E’ obviamente falsa, cabalmente antinatural, monstruosa, absolutamente ruinosa, uma ideologia feita de irreligião, de promiscuidade sexual, de comunidade de bens e da negação de todas as soberanias nacionais.
* A mais universal, contínua e entusiástica sinfonia publicitária não é motivo para se confiar em ninguém. Antes pelo contrário…
* Da confusão ao desespero é curto o passo.
* A confusão não se remedeia senão com a verdade. Mas com a Verdade por excelência, plena e sem jaça, que só se encontra naquele que é “Caminho, Verdade e Vida”.
* Nesses nossos anos de confusão, o mais das vezes os fatos influenciam muito menos pelo que são do que pelo que parecem ser. E eles parecem ser conforme os apresenta a propaganda.
* Pobre Brasil se seus filhos destemidos e ordeiros recuassem diante de slogans confusionistas
* Ai dos que receberam e, por egoísmo ou covardia, não atenderam aos bons conselhos! Ai também dos que, por covardia ou egoísmo, calaram os bons conselhos que eles poderiam ter dado! Estes conselhos salutares, que eles não externaram, queimá-los-ão a eles próprios pelo interior, como brasas ardentes. E no dia do juízo serão levados à conta de talentos inaproveitados.
* Não seria melhor contemporizar? É o eterno problema dos que julgam que o melhor meio de propagar verdades consiste em as diluir e ocultar, como se o melhor meio de disseminar a luz fosse quebrá-la com um abat-jour… Pio X pensou de modo radicalmente diverso.
* As trombadas sofridas numa conversa podem às vezes doer tanto ou mais do que as de trânsito.
* Quando o homem começa a ficar censurável, ele vai perdendo a coragem. O homem que não tem mácula na alma, este homem tem coragem.
* A coragem do herói que conhece o perigo, mas que o afronta por amor a um sublime ideal, não pode ser comparada à imprudência de um ladrão.
* Lucidez e coragem… não sei qual destes predicados é mais raro nos dias que correm. Às vezes é preciso mais coragem para elogiar do que para atacar. Não desanimar, às vezes, supõe mais coragem do que avançar. O desânimo é um inimigo mais insidioso do que o externo.
* Coragem e bom senso, duas virtudes que devem andar muito juntas. Porque bom senso sem coragem dá em covardia. E coragem sem bom senso dá em loucura.
* Quanto mais os costumes se rebaixam e degradam, tanto mais se prepara o mundo a ser bolchevizado.
* Tirarmos ao Cristianismo o sofrimento é tirar a um corpo a espinha dorsal.
* “In hoc signo vinces” [Com este sinal – a Cruz – vencerás], disse uma Voz a Constantino num momento em que parecia incerta a sorte das armas. Essa Voz não se calou durante quinze séculos, e ainda hoje é a mesma a sua mensagem para o mundo hodierno.
* Houve uma vez um Chefe de Estado que quis derrotar os adversários do Cristianismo. Empenhou uma grande batalha e deveu sua vitória à Cruz, insígnia da civilização cristã, que protegeu suas armas. Este chefe se chamou Constantino. Não foi ele que deu vitória à Cruz, mas foi a Cruz que o fez vencer. Sr. Governador: os católicos souberam dar o devido valor às vossas belas palavras. E eles vos apontam a Cruz. Abraçai-a, e vencereis o comunismo. Ela é que vos protegerá.
* Francisco Campos [Francisco Luís da Silva Campos, 1891-1968] escreveu o livro “Atualidade de D. Quixote”: “Este nosso mundo de hoje, que como Sancho abandonado por seu amo, reclama a volta de dom Quixote, por sentir que sem ele a sua vida não teria sentido. De todos os lados sob os mais diversos nomes e as mais contraditórias aparências, o que o homem dos nossos dias pede e reclama, o que ansiosamente espera — é o retorno de Dom Quixote”. Dom Quixote, é bem de ver, não simboliza aqui a cavalaria decadente, dom-juanesca e fátua. Ele é o símbolo da cavalaria em seu melhor aspecto, do idealismo excelso, da coragem leonina, do menosprezo dos pequenos cálculos de oportunidade. E quanto é verdade que só pelo impulso de uma cruzada espiritual, a Igreja alcançará mover as multidões hodiernas!
* Nada pior do que a inércia ou até a cumplicidade covarde com um inimigo que lhe é oposto irremediavelmente. Colaborações deste gênero podem adiar as catástrofes, mas comprometem irremediavelmente todas as possibilidades de salvação. Se o inimigo irredutível espera um pouco, ele está somente afiando a faca. E não esperemos que os sorrisos que lhe tenhamos prodigalizado concorram para tornar o golpe menos certeiro ou menos profundo.
* CUBA – Como acreditar nos benefícios paradisíacos de um regime que se arma como um campo de concentração, para obrigar a permanecer sob suas garras uma população espavorida?
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* Se a situação brasileira chegou a proporções monstruosas é porque não encontrou em seu caminho a oposição clarividente, corajosa e frontal de todas as forças vivas da nacionalidade. Pelo contrário, quase todas elas se puseram a cortejar cada vez mais a demagogia, à medida que esta avançava, e mesmo que com isto praticassem o haraquiri em si mesmas.
* A demagogia não argumenta, ela exclama. (…) Quando a gente lhe dá argumentos, ou ela se esquiva, ou ela boceja, ou ela insulta.
* Para haver demagogia não basta o demagogo, é preciso o povo que ama o demagogo e vê nele a expressão dos seus sentimentos.
* Sempre fascinaram os demagogos quando, para demonstrar seu poder, calcaram aos pés desabridamente todas as leis da decência e da compostura.
* Representatividade na atual democracia – Na perspectiva democrático-representativa inerente à Abertura, a eleição para a Constituinte deve ser vista como sendo especificamente o ato pelo qual a Nação designará os lídimos [autênticos] porta-vozes do pensamento e dos desígnios dela no tocante aos rumos a serem escolhidos, bem como às soluções a serem dadas aos grandes problemas nacionais. Essa representatividade da escolha eleitoral é essencial para que o sistema receba o título de representativo, do qual a imensa maioria se ufana. E, como é inerente a toda e qualquer representação (por exemplo, uma procuração passada por um particular a outro), também essa representação coletiva e eminentemente política do eleitorado vale precisamente por sua autenticidade. Uma procuração inautêntica só pode ser qualificada de errônea, falsa ou impostora.
* Nas concepções centristas, a lógica e a dialética são condições fundamentais do debate, o qual é, por sua vez, a respiração da democracia. Ora, um morbus pútrido vem criando um crescente risco de total degenerescência do debate democrático. É a guerra psicológica evolucionária. Com efeito, esta última é antilógica por essência. Ela consiste num feixe de processos subdolos para furtar mentalidades de indivíduos, como de grupos sociais ou de multidões. Não por sofismas, que a lógica pode pinçar e destruir. Mas por todo um jogo de impressões, de pressões, de contrapressões, de pânicos, de quimeras, de ambigüidades, de excitações e de apatias adrede fabricadas etc. Tal jogo se opera o mais das vezes nos subconscientes. E leva as vítimas a atitudes absurdas.
* Para considerar só os problemas econômicos e financeiros, é flagrante – nesta matéria – a ausência de dados vigorosamente documentados, cristalinamente analisados, e sem os quais o “homem da rua” desta democracia cambaleante não pode sequer saber o que quer ou não quer. De onde as notícias nos jornais, sobre as alternativas sucessivamente propostas para a solução desses problemas, darem ao “homem da rua” – a mim, por exemplo, que em matérias econômico-financeiras me tenho na conta de tal – a impressão de que os debates ou os cambalachos efetuados nos altos bastidores de nossa vida pública são meras sessões de prestidigitação.
* Nesta época de crise, em que convivem os problemas econômicos internos mais intrincados com os problemas internacionais mais sombrios, vejo largamente desinformada nossa opinião pública. Bem compreendo a dificuldade de interessar o homem da rua nos meandros áridos da economia e das finanças estatais. Mas essa dificuldade, os propugnadores da abertura não podem considerá-la invencível. Pois do contrário afirmariam a impraticabilidade de informar o povo sobre os problemas-chaves do País. Ora, se a democracia é definida como o governo do povo, para o povo, pelo povo, ela seria então o governo dos desinformados, para os desinformados, pelos desinformados. Ou seja, o “non sense”. Assim, cumpre que os meios de comunicação social façam prodígios, obras primas, maravilhas, para oferecer ao povo uma idéia acessível, clara e atraente das grandes questões econômico-financeiras do dia.
* E assim avança o comunismo. Com a ajuda de algum “respeitável” leitor “mata-borrão”, o qual, se ler este artigo, vai amarrotá-lo e exclamar indignado: “Façamos calar este homem, pois nesta época de liberdade, não é tolerável que digam coisas dessas…” Como se a democracia não fosse o direito de discordar!
* Na democracia o povo é rei. Quando um rei é volúvel, qual o remédio? É estabelecer acima dele um super-rei? Mas a esse super-rei, quem controlará? Outro rei ainda mais “super”? Se o remédio consiste em uma lei que controle a soberania popular, repito que, em certos casos, a democracia pode ficar realmente sem defesa, sob pena de suicidar-se. Mas ela tem um caminho para se defender sem suicidar-se. – Uma democracia de inspiração genuinamente cristã reconhece ao povo o direito de legislar livremente, desde que, porém, não transgrida os ensinamentos e preceitos emanados de Deus, Soberano verdadeiro, Rei e Pai de todos os homens, infinitamente sábio e bom. E na reta destes preceitos nada resulta em ruína. A autoridade de Deus é a única que pode – no rigor da doutrina católica – circunscrever a soberania do poder temporal, qualquer que seja a forma deste, monárquica, aristocrática ou democrática. A não ser isto, ficam os povos sujeitos realmente à volubilidade do soberano, seja este um rei, uma aristocracia ou a plebe.
* O pressuposto mais fundamental do espírito demo-cristão [democrata-cristão] é que só os nazistas e os fascistas foram concebidos no pecado original. Portanto, só contra eles se justifica o emprego de todas as severidades, quando não de todas as violências. O restante da humanidade lhes parece concebido sem pecado original. Inclusive os comunistas. (…) Ao programa demo-cristão de concessões para comover, os comunistas responderam com ameaças, agressões, avanços e conquistas em escala mundial. A esta altura, que juízo fazer da Democracia-Cristã? Alguns se perguntam se ela constituiu a maior tolice ou a maior traição da História.
* O desbravador está para o agricultor comum em relação análoga à do herói com o cidadão tão-só honesto e operoso. Desbravar pressupõe possuir qualidades pessoais invulgares, empregadas de modo total, para a obtenção de resultados relevantes. O desbravador é, em certa perspectiva, um dom da Providência.
* À medida que se generaliza a descristianização do mundo contemporâneo, vão reaparecendo os costumes políticos das piores épocas de decadência.
* “Desenvolvimento” é um termo tomado aqui num sentido que tem parentesco apenas longínquo com o que habitualmente se entende por tal. Não falo do desenvolvimento econômico-financeiro. Este é o sentido ápice – e não raras vezes até único – que se atribui ao vocábulo em nossos dias empapados de hedonismo burguês e de materialismo comunista. Na perspectiva em que me coloco, tal forma de desenvolvimento tem seu lugar. Este não é, entretanto, o ápice. Pela simples razão de que o homem não é principalmente estômago. O desenvolvimento-ápice não consiste pois na promoção das coisas do corpo. Consiste, isto sim, no desenvolvimento do homem todo, postos na devida hierarquia os vários elementos deste todo. E, assim, a alma em primeiro lugar.
* Um cheiro de desonestidade e de deseducação impregnou tudo.
* Uma concepção a-filosófica e a-religiosa da sociedade, meramente econômica e profissionalista, dá origem ao grande desespero das multidões contemporâneas. Ontem estas se esbaldavam para fazer capital, hoje para fazer revolução, e já amanhã para se atirarem no bueiro do miserabilismo niilista, isto é, na glorificação do andrajo e da miséria, da sujeira, do desmazelo e do caos.
* A exacerbação das paixões sensuais prepara os desordeiros capazes amanhã de todos excessos. Foi com estratagemas destes que se preparou Paris para os anos macabros de 1789, 1790, 1791, a tragédia russa de 1917 e a da Espanha em 1936.
* A despreocupação não suprime os problemas, nem os resolve. Muitas vezes até os agrava tragicamente. Pois é a grande adormecedora das sentinelas…
* Destemor não é radicalismo. Feliz do comunismo se só encontrasse diante de si opositores sem destemor.
* Um vezo frequente nos debates de nossos dias (…) é dar preferência à detração pessoal, ao diz-que-diz, ao fuxico – bem entendido, desacompanhados de documentação e argumentação sérias (…) – e de relegar para segundo plano, ou omitir os temas de verdadeiro porte intelectual, e de real alcance para a escolha de rumos.
* No serviço de Deus há momentos em que não recriminar, não fustigar, equivale a trair.
* Estamos em uma época em que o dinheiro está valendo cada vez mais, e todo o resto vale cada vez menos. Tradição, linha moral, competência, o que vale isto, ao lado do prestígio de uma Cadillac ou de uma Packard? (…) E muito mais vale ao rico o esplendor do seu luxo, do que ao pobre o brilho de seu nome honesto. A riqueza é sempre uma honra ainda que adquirida pelos métodos mais escusos. E a pobreza sempre uma vergonha, mesmo quando derivada, não do ócio, nem do jogo, nem da delapidação, mas de vicissitudes inevitáveis, de que nossa época é fecunda. É este o estado de espírito monstruoso a que chegamos.
* Os rádios e os jornais não pertencem aos mais inteligentes, nem aos mais cultos, mas aos que possuem o dinheiro. Assim, o intelectual só fará carreira se ele tiver à sua disposição o jornal ou o rádio dos ricaços. Os ricaços, reciprocamente, só franquearão o rádio ou o jornal aos intelectuais que digam o que eles quiserem que se diga.
* Essa debilidade do símbolo se acentuou em nossos dias. No presente de luxo, que ainda conserva um vestígio de valor simbólico, o que se olha como símbolo é cada vez menos a relação entre o objeto e os predicados do presenteado, e cada vez mais o preço. Este, sim, é um símbolo que ainda “fala”. E “fala” tanto, que dispensa palavras. Indica em números a “cotação” do homenageado junto ao ou aos homenageantes. Quanto mais caro o presente, tanto mais é amigo quem dá, e tanto mais fica amigo quem recebe. Há nisto uma expressão viva do poder do número e – porque não dizê-lo? – do poder do dinheiro, em nossa época rude, atormentada e utilitária. Não fica nisto porém, em matéria de presentes, a influência do utilitarismo contemporâneo.
* A atmosfera diplomática de hoje é quase irrespirável para homens decentes. Os princípios não valem quase nada.
* [Direitos humanos] Mesmo quando estas [as Assembléias Constituintes] cessam, pode ser que muito de ditatorial subsista na Constituição que deixaram aprovada. Importa lembrar, pois, que o próprio poder das Constituintes é limitado. Ou seja, que cada homem tem direitos que lhe provêm de sua própria condição de ente racional e dotado de livre arbítrio. Direitos que, assim, lhe vêm do próprio Deus, Criador do Universo.
* O mais sagrado dos direitos do homem consiste em professar, praticar e propagar a Religião Católica
* As considerações de ordem meramente pessoal desunem. A discussão serena sobre princípios une.
* Um perigo prolongado transforma o receio em hábito. Um perigo incerto e prolongado transforma o receio em displicência. Hábito e displicência acabam por embotar os sentimentos mais delicados.
* As ditaduras passam, mas as dinastias ficam.
* As liberalizações de contornos indefinidos não criam nem consolidam nenhuma liberdade verdadeira. À medida que tendem a facultar a todos que façam quanto quiserem, essas liberalizações vão caminhando de fato para a anarquia, e daí para uma mais terrível ditadura.
* O divórcio facilita ao cônjuge relapso a fuga do lar. A maior parte de crimes passionais se verificam nas uniões irregulares, isto é, exatamente naquelas uniões mais facilmente dissolúveis.
* A doutrina católica é, para nós, um conhecimento tão necessário quanto, para o navegante, o conhecimento da posição dos astros que perscruta no céu para orientar seu roteiro. Mas o senso católico, por sua vez, representa os conhecimentos práticos do piloto que, sabedor dos escolhos, dos recifes traiçoeiros e dos bancos de areia, não volta seus olhos somente para o céu, mas para o mar, procurando nele os perigos de que se deve desviar. Sem uma e outra coisa, sem o conhecimento dos astros do céu e dos obstáculos escondidos no mar, não é possível a navegação.
* O que é a doutrina católica? É um conjunto de verdades. Desde que, nesse conjunto, uma só verdade fosse adulterada, a doutrina católica já não seria ela mesma. Assim, tentar acomodá-la, adaptá-la, ajeitá-la, é trabalhar para que Ela perca sua identidade consigo mesma: em outros termos, é tentar matá-la. E achar que o apostolado não é possível sem essa adaptação é achar que a Igreja só pode vencer morrendo!
E
* Revendo todos os lances desse insucesso do ecletismo otimista – face aos quais fui chamado a tomar atitude ao longo de minha vida – posso dar de mim este testemunho: eclético, jamais o fui, em nenhuma ocasião, de nenhum modo e sob nenhum ponto de vista.
* Ecologia: palavra elástica, com significados variáveis e quase todos reprováveis
* O ecumenismo, com a infatigável e vã tagarelagem de seu diálogo, é bem a religião dos mediocratas. (…) Nesta perspectiva, parece que a Deus é indiferente que se siga qualquer religião. Pode-se até blasfemar contra Ele e perseguí-Lo. Pode-se até negá-Lo. Ele é indiferente a todos os atos dos homens. Olimpicamente indiferente. Ecumenicamente indiferente. Como aliás os medíocres, por sua vez, tenham eles ou não algum Crucifixo, algum Buda de louça ou de cerâmica, ou algum amuleto, nos locais em que dormem ou em que trabalham, são olimpicamente indiferentes a Deus.
* O empenho de favorecer uma aproximação ecumênica [com o] perigo que a todos nos espreita no fim deste caminho, ou seja, a formação, em escala mundial, de um sinistro supermercado de religiões, filosofias e sistemas de todas as ordens, em que a verdade e o erro se apresentarão fracionados, misturados e postos em balbúrdia.
* Prepara-se por aí uma grande festa de pseudocristianismo [ecumenismo sem limites], que vai ser uma grande sedução, uma grande tentação, um dos maiores golpes de todos os tempos contra a Igreja, golpe tão grande e tão bem planejado, que A faria soçobrar, se Ela não fosse indefectível. (…) Será um cristianismo “puro”, sem dogmas, despido das “particularidades acidentais”, não confessional, que não será o monopólio da Igreja Católica, e que Nosso Senhor Jesus Cristo terá apenas a usurpação do nome.
* O homem-saúva (= medíocre) luta contra todas as formas de luta. Singular batalha, que ele trava cedendo, fugindo (para baixo, bem entendido), capitulando: deixando-se esmagar até, se não houver outra solução. A esta família de almas pertencem os incondicionais do ecumenismo. Temendo o aceso das disputas entre as religiões, o homem-saúva quer fundir todas numa só pan-religião, aliás mais ou menos atéia. Para o homem-saúva, todas as crenças e todas as descrenças devem confundir-se no mesmo ralo do ecumenismo.
* Cumpre calar afinal os velhos ditirambos ao heroísmo religioso ou civil. Pois o elogio da imbecilidade arrasta os fracos a segui-la. Pelo contrário, viva os poltrões [covardes]. Chegou para eles a era da glória. A prevalecer o “better red than dead” (melhor vermelho, ou seja comunista, do que morto), eles constituem o creme mais fino da humanidade. Formam a grei securitária e astuta dos endeusadores do egoísmo.
* Quando o relacionamento elite-povo é correto, do povo provém, muitas e muitas vezes, a inspiração das elites / Se as elites decaem, é difícil que não arrastem o povo. Se o povo decai parece-me impossível que não arraste as elites. – Um povo na sua ascensão ou em seu zênite constitui todo inteiro, no conjunto universal dos povos, uma enorme elite, dentro da qual afloram, quase por destilação, elites mais quintessenciadas e menores. E que é a harmônica conjugação da elite-povo (ou elite-maioria), com a elite-minoria, que nasce a grandeza geral. – A antítese elite-povo que o progressismo quer inculcar é uma impostura. – O verdadeiro povo não é senão uma saudável e magnífica engrenagem de elites: de ouro e de prata, as mais altas. De belo e nobre bronze, as mais modestas.
* Não foi com espírito entreguista que os primeiros cristãos renovaram a face da terra.
* O entusiasmo só é realmente grande quando se defronta com o perigo e não se abate pela adversidade.
* Quando se sabe prezar mais os valores do espírito do que os do corpo, envelhecer é crescer no que o homem tem de mais nobre, que é a alma, se bem que signifique a decadência do corpo, que é apenas o elemento material da pessoa humana.
* O triste período da escravidão no Brasil. Diferenças do estilo brasileiro face a esta lamentável fase.
* A esmola material é excelente. Mas é absolutamente insuficiente. O homem não vive só de pão, diz o Evangelho. E poderíamos acrescentar que o pão do corpo lhe é muito menos necessário para viver do que o pão do espírito, isto é, o bom conselho, o bom exemplo, a oração e a expiação.
* [Espanha – espanhóis] Os católicos espanhóis só acordaram quando viram suas igrejas ardendo em chamas, violados os tabernáculos e profanadas as imagens. Tendo dormido sobre o perigo, foram cruelmente chamados à realidade pelos seus adversários. E foi só à luz das catedrais que se incendiavam que eles souberam ver a necessidade de uma imprensa e uma ação católica organizada.
* Quando vituperamos Azaña e Cardenas mostramo-nos fraternais amigos da Espanha e do México.
* Para ser espião é preciso ter certo grau de inteligência. Muito mais para ser “desviacionista”. Consiste a missão deste em infiltrar-se até no cerne do partido adversário, em semear fatores de divisão, em sugerir manobras erradas, em fomentar o desânimo decorrente dos reveses. Ou seja, em produzir a derrota.
* A estabilidade de um país reside na elevação moral do seu povo.
* Os Estados fundados sobre a força são debilíssimos.
* Em todos os lugares onde o Estado se apodera dos meios de produção, o resultado são os racionamentos, as filas, as carências e o mercado negro.
* O Estado não tem o direito de agir contrariamente à Lei de Deus. Aliás, se o Estado – leia-se Constituinte – o fizer, só poderá ser maléfico. Pois tudo quanto se faz de contrário à Lei de Deus é contrário à ordem profunda das coisas, é nocivo a essas mesmas coisas. A fonte de todo êxito é a conformidade com a vontade de Deus.
* O pior dos patrões é o Poder Público. Porque mau patrão, o Estado é mau produtor.
* O Estado religiosamente indiferente tem em si mesmo os germens da decomposição e da ruína, que todas as forças do dinheiro e das armas não podem remediar.
* O livro dos “Exercícios Espirituais” (de autoria de Santo Inácio de Loiola) se pode definir assim: meditação para levar um homem a cumprir um dever desagradável. E a fórmula não é tornar agradável o dever, mas convencer o homem de que deve cumprir o dever e dar-lhe o espírito de sacrifício para fazer todo o necessário para que tal dever seja cumprido.
* (…) esta formulação de que o contrário de um mal extremo é outro mal extremo, não passa de um jogo de palavras. Assim, por exemplo, o contrário de uma mentira não é outra mentira oposta, mas a verdade.
* Tenho em mãos uma bengala e me pergunto se seria possível haver bengalas sem extremos. Alguém me diria que sim: bastaria cortar as duas pontas da bengala. Mas assim que ele tivesse feito esse corte, veria que a bengala teria continuado a ter dois extremos que, pouco antes da poda, talvez se chamassem centro-direita e centro-esquerda. Eis o nosso homem que corta, aflito, as novas pontas. E assim por diante, até acabar com a bengala. A caça relativista aos extremos, só por serem extremos, acaba com a opinião pública exatamente como acabaria com a bengala.
* O que se faz na Europa repercute, com grande eco, no mundo inteiro.
* …nesse nosso século de eutanásia, a pseudo-morte piedosa, que evita maiores sofrimentos. Parece que nos dias que correm só se sabe ter piedade para matar e não para sustentar e valorizar a vida. A isto chegamos! A vida moderna mercantilizou-se tanto, que até a dor humana tornou-se objeto de comércio…
F
* O que é que não periga quando periga a família?
* Há dois modos de combater a família. Um, consiste em investir contra ela abertamente, quer visando extingui-la por completo, como é o caso do comunismo, quer visando destruir-lhe a parte mais importante e fundamental, o vínculo indissolúvel. O outro modo, porém, é inteiramente diverso: vem de mansinho, vai corroendo tudo o que há de substancial em torno da Família, reduzindo-a à expressão mais simples, a um simples rótulo sem conteúdo, a um fantasma vago e flutuante, um sonho, uma miragem. A família, é verdade, continua a existir, mas só poderá ser encontrada nos dicionários. Este modo desleal de combater a família é próprio aos regimes nazifascistas, que se caracterizam pela fraude e pela mentira despudorada.
* A família não é mera transmissora de dotes biológicos e psicológicos. Ela é uma instituição educativa, e, na ordem natural das coisas, a primeira das instituições pedagógicas e formativas. Assim, quem for educado por pais altamente dotados do ponto de vista do talento, da cultura, das maneiras ou – o que é capital – da moralidade, terá sempre um ponto de partida melhor. E o único meio de evitar isto é suprimir a família, educando todas as crianças em escolas igualitárias e estatais, segundo o regime comunista. Há assim uma desigualdade hereditária mais importante do que a do patrimônio, e que resulta direta e necessariamente da própria existência da família.
* Estou certo de que os fanáticos de esquerda não têm isenção de ânimo para me ler. Viso, entretanto, dar aos centristas ou aos direitistas argumentos para discutir validamente com os esquerdistas, diminuindo-lhes o ímpeto e abaixando-lhes o topete.
* A História cristãmente imparcial jamais considerará em igual plano o sangue dos fanáticos que morrem agredindo o país, e o dos heróis que tombaram na defesa deste.
* Os regimes totalitários não podem subsistir sem o fanatismo, pois o fanatismo é o substituto das forças vivas da sociedade, que não podem vingar dentro dos totalitarismos.
* Para o relativista, toda afirmação categórica não é senão respingo de algum fanatismo.
* Homens como Churchill e De Gaulle souberam ser polemistas vigorosos mas sem fanatismo.
* O fanfarrão gaba-se do que não faz, é orgulhoso, mentiroso e impostor; ele se jacta do que não merece.
* Em situações torvas e críticas, as fantasmagorias podem impressionar mais do que a realidade.
* O “Legionário” combateu o fascismo não para se arrogar a gloriola de dizer que foi previdente. Não tivemos outro intuito senão servir a Igreja.
* A Fé, outro dos traços essenciais da alma medieval, é, ela também sob certo aspecto, um ato de humildade. O homem aceita as verdades que Deus lhe revela, não porque as tenha descoberto pelas meras forças de sua razão ou de seus sentidos mas simplesmente porque Deus lhas revelou.
* O que o Sr. mais admira nas pessoas? – A coerência na fé católica.
* A inquebrantável fidelidade constituirá contra-ofensiva mais forte, mais gloriosa, aos olhos de Deus, do que Lhe é ultrajante a vitória momentânea e blasfema. A inquebrantabilidade na fé e no amor de Deus vencerá (…) as astúcias do ódio revolucionário.
* Religiosidade e coragem, Fé e virilidade são coisas inseparáveis.
* D. Juan d’Áustria, o heróico vencedor dessa célebre batalha naval (Lepanto), que de nenhum modo equiparo, nem o melhor creme da direita espanhola jamais equiparou, com Francisco Franco Bahamonde.
* Quando desmascaramos o Sr. Blum, cumprimos nosso dever de francófilos entusiastas.
* A cultura, o espírito, a formação francesa são para o Ocidente cristão o que a Grécia foi para a gentilidade antiga – O espírito da Santa Igreja Católica teve na cultura francesa expressões, transparências, matizes a cuja luz lucraram as culturas regionais de todos os povos cristãos.
* Franqueza sem suavidade e intimidade sem respeito são lixo. A franqueza tem que ser agradável, afável, respeitosa; e a intimidade tem que ser cortês e distinta. Do contrário não se pode suportar.
* Todo direito é limitado por sua função social. Ora, o trabalho dá direitos. Logo estes também devem ser limitados por sua função social.
Um vezo frequente nos debates de nossos dias (…) é dar preferência à detração pessoal, ao diz-que-diz, ao fuxico – bem entendido, desacompanhados de documentação e argumentação sérias (…) – e de relegar para segundo plano, ou omitir os temas de verdadeiro porte intelectual, e de real alcance para a escolha de rumos.
G
* O Sr. Getúlio Vargas é o homem de Estado mais frio e impassível que o Brasil conheceu. Todos nós já o vimos ladeando precipícios com o sorriso de quem desliza sobre estrada de rosas, e atacar feras com a displicência de quem brinca com lulus da Pomerânia.
* Há um amigo a quem o Sr. Getúlio (Vargas) tem sido fidelíssimo, pelo qual ele vem lutando há oito anos, e ao qual tem sacrificado tudo: amizades, tranqüilidade, repouso, etc. Este amigo do Sr. Getúlio é o próprio Sr. Getúlio.
* Getúlio Vargas é mais completo, mais sublime, mais absolutamente total na arte de destruição (do que Napoleão Bonaparte). Ele não faz recuar ninguém. Como um mágico, abraça… e elimina. Ora, positivamente eliminar é muito mais do que fazer recuar. Quem recua, vive. Quem é eliminado desaparece. (…) O mais guapo, o mais ágil, o mais ilustre dos atletas e trapezistas da política do Brasil, aquele Getúlio entre todos eminente e feliz, cujos saltos macios causam inveja às próprias aves, e que desarma na arena, com o hipnotismo de seu sorriso, cobras e leões, hienas e raposas.
* Quando apontamos os erros de Hitler, procedemos como autênticos germanófilos.
* Na civilização cristã a grandeza do senhor não humilha o servidor, mas o eleva.
* Santo Agostinho: o mal maior da guerra é a ofensa feita a Deus pelo pecado do agressor.
* A sabedoria da Igreja é por demais profunda e sobrenatural para que esta aversão à guerra e à efusão injusta do sangue humano tenha jamais degenerado no pacifismo sonhador e tolo, tão em voga depois de 1918.
* Com o declínio do espírito cristão, ocorrido em consequência da Renascença e da Pseudo-Reforma, as guerras se foram tornando cada vez mais cruéis, a ação internacional do Papado como elemento de conciliação entre os povos foi sendo cada vez menos importante.
* Há uma lógica de guerra na qual não queremos, não podemos e não devemos entrar.
* A história do mundo mostra como é difícil afastar o perigo de uma guerra, quando se acha em jogo a malícia do homem. Não bastam os propósitos pacíficos de um lado, diante da má fé e perfídia de propósitos do outro.
* Quem trabalhe para que a violência das ocupações não se cometa (…) atua como defensor da ordem, e portanto colabora (…) no cumprimento da missão mais essencial [do governo], evitar a violência. A guerra civil é ateada por quem prega (…) a violência generalizada, e não por quem obsta [que] (…) a invasão violenta se transforme em fato consumado e impune em todo o território nacional.
* A guerra psicológica revolucionária (…) é antilógica por essência. Ela consiste num feixe de processos subdolos para furtar mentalidades de indivíduos, como de grupos sociais ou de multidões. Não por sofismas, que a lógica pode pinçar e destruir. Mas por todo um jogo de impressões, de pressões, de contrapressões, de pânicos, de quimeras, de ambiguidades, de excitações e de apatias adrede fabricadas etc. Tal jogo se opera o mais das vezes nos subconscientes. E leva as vítimas a atitudes absurdas.
* Um dos maquiavelismos da guerra psicológica consiste em que seus verdadeiros dirigentes quase nunca aparecem. E os responsáveis ostensivos por ela sejam não raras vezes inocentes úteis, propensos a atentar apenas para os efeitos imediatos das coisas.
H
* Essa invasão de hábitos bárbaros na diplomacia é um perigo para a civilização e a paz.
* (“Heresia branca“) Pieguismo não é bondade. Estupidez não é generosidade. Inocentes como as pombas, nem por isto deixemos de ser astutos como as serpentes. É Nosso Senhor que, em termos expressos, no-lo impõe. Queremos porventura ser melhores do que Ele?
* Qual é a mais alta ambição de uma heresia velada? – Não é simplesmente o recrutamento de muitos adeptos entre os fiéis. É de trazer para seu lado, sacerdotes, bispos, cardeais, e até, se o pudessem conseguir, algum papa. A tal extremo podem chegar os sonhos de dominação dos hereges!
* Sem heróis nenhum povo de hoje sobrevive.
* Enquanto católico, contesto terminantemente que o gênero humano se reduza a um conjunto de Quixotes e de Sanchos. Para além da alternativa posta por Cervantes, estão as vias sacrossantas do heroísmo cristão. Sim, do heroísmo cristão como a Igreja sempre o ensinou e ao qual a História deve seus lances mais sábios, mais esplendorosos e mais propícios ao bem espiritual e temporal dos homens.
* O heroísmo: esta virtude especificamente cristã! Porque nunca ninguém em nenhum lugar foi herói como foram os heróis verdadeiramente católicos.
* Ninguém, mais do que a Igreja, preconiza e estimula o heroísmo. Ela é mesmo a única fonte do verdadeiro heroísmo. Pois o heroísmo só é virtude quando desenvolvido segundo as regras do bom senso.
* Nem tudo se soluciona e querer tudo solucionar é desconhecer que a vida do homem neste mundo é essencialmente trágica. (…) Não há solução, há amputação, há uma falsificação do homem, que se já não sofre as injunções próprias à excelência de sua natureza, também já não é capaz senão de uma felicidade puramente animal, porque já não é capaz de heroísmo.
* Para que a restauração da indissolubilidade (do matrimônio) tenha viabilidade, é preciso que se restaure previamente, em incontáveis almas, o anseio de seriedade, de austeridade, de mortificação. Sim, e de algo mais, que se exprime por uma palavra doce como um favo de mel, perfumada como um lírio e que, entretanto, detona hoje em dia como uma bomba. Essa palavra é: pureza. E ela vem seguida de perto por duas coirmãs, não menos doces, nem menos suaves, mas com um poder de detonação ainda maior. Essas são: virgindade e honra.
* Não há honra onde não há verdade nem justiça.
* A humanidade hodierna se contorce por falta da luz dos verdadeiros princípios do verdadeiro Deus
* A grandeza de alma, o arrojo, o espírito de combatividade que elimina a humildade é falso. Mas também é falso, e falsíssima, a humildade que diminua o arrojo, o espírito de combatividade e a altivez.
* Há uma virtude pela qual o homem ama a superioridade infinita de Deus, e a superioridade finita das criaturas que Deus constituiu acima dele como talento, formosura, poder, riqueza ou virtude: é a humildade. Esta virtude nos leva a sentir gáudio pelo que os outros têm a mais do que nós. Num mundo onde haja humildade, nada de mais amável e compreensível do que a hierarquia. Desde que a humildade cesse de existir, nada mais inevitável do que o ódio à hierarquia, a sede de nivelamento e conseqüentemente, a Revolução. Humildade e hierarquia; orgulho e Revolução são, pois, termos conexos. Daí o fato de que a primeira Revolução tenha sido o “Non serviam” do primeiro, do grande, do eterno orgulhoso.
* A Fé, outro dos traços essenciais da alma medieval, é, ela também sob certo aspecto, um ato de humildade. O homem aceita as verdades que Deus lhe revela, não porque as tenha descoberto pelas meras forças de sua razão ou de seus sentidos mas simplesmente porque Deus lhas revelou.
I
* O homem vale na medida em que é alto o ideal em que ele põe seus olhos.
* Uma reminiscência pode ser uma grande força, quando se baseia num alto ideal e empolga muitos homens.
* Sou dos que prezam devidamente os interesses, mas colocam acima deles os ideais. E disto não arredo um passo.
* Quem tem verdadeiros ideais não sonha. Quem sonha não tem verdadeiros ideais.
* Quando os homens têm as mesmas ideias, encontram uma maneira de resolver seu desacordo de interesses. Porém, quando além do desacordo de interesses não estão também de acordo com as ideias que têm, então o entrechoque é completo.
* Quão pouco valem as ideias quando tem por detrás delas interesses políticos.
* As ideias que temos e não exprimimos tendem a se estiolar e a murchar em nós.
* [Partidos sem ideologia] No Brasil, o peso eleitoral das posições ideológicas deixou de ter significação a partir do momento em que a Constituição republicana de 1891 proibiu expressamente a formação de correntes ou partidos monárquicos, e as formações partidárias republicanas, na época ideologicamente homogêneas, passaram a se dividir apenas segundo os critérios pessoais do coronelismo e do cabresto então vigentes.
* A Igreja Católica é mais para mim do que meu pai, mais do que minha mãe, mais do que minha vida, mais do que tudo que eu possa ter! A Igreja Católica eu A amo com um amor tal, que tem laivos de adoração, porque Ela é o Corpo Místico de Nosso Senhor Jesus Cristo
* Quando os aspectos morais estão em jogo, a Igreja está interessada em opinar, porque a tutela da moral cabe a Ela, como sendo a Igreja fundada por Jesus Cristo.
* As coisas admiráveis do passado que nasceram do seio da Santa Igreja não se apagarão para sempre; elas renascerão!
* A Igreja não trabalha com demagogia. Ela sabe que todos os problemas devem se resolver numa lentidão apressada; que é preciso ir o mais depressa possível, mas é preciso absolutamente não correr demais.
* [A Igreja] não pode transigir com os princípios de sua Moral, porque Ela é a guarda da moralidade, é a coluna da moralidade por mandato divino. E pedir-lhe que renuncie ao princípio da propriedade privada, é pedir-lhe que renuncie à própria missão moralizadora que Ela tem em vista.
* A Igreja sempre lutará pela indissolubilidade do vínculo conjugal.
* A Igreja não sofre violência apenas quando as instituições eclesiásticas são atacadas. Porém, sempre e em todo o lugar em que o espírito cristão, a vida divina que Ela traz à terra encontra obstáculo; ferindo-se contra uma realidade oposta, a Igreja é atingida no que Ela tem de mais importante, na sua própria razão de ser. Isto é uma coisa pouco considerada, mas é muito importante.
* O envelhecimento que de quando em vez Ela [a Igreja Católica] mostra não é senão um epifenômeno transitório, um episódio macabro que, no fim de cada processo (o qual hoje [em 1980] chegou a um auge literalmente inimaginável), jamais resulta na morte, mas em nova primavera. Primavera tão mais esplêndida quanto mais trágicos tenham sido os hibernais sintomas da senilidade vencida.
* O obelisco ao centro da Praça de São Pedro é um símbolo da própria Igreja, num desafio perene ao tempo e à maldade humana.
* Ter a certeza de que ainda quando a Igreja não tem em suas mãos ouro nem canhões, pode atirar desassombradamente em seus adversários qualquer pedregulho de beira de estrada, e o pedregulho fará o papel da funda de David.
* Oh! a tragédia dos sinos que emudeceram, nas ocasiões em que deveriam soar, a tragédia das vozes que se calam, quando deveriam falar! E quanto pior ainda é a tragédia das vozes que dizem o que não deveriam dizer! Que negras e dolorosas páginas escreverão, a este respeito, daqui a cinqüenta ou cem anos, os historiadores da Igreja!
* O mito da igualdade absoluta de todos os homens, de seu nivelamento completo, contra o qual tanto tem falado Pio XII em seus documentos e alocuções. Esta é a suprema tentação do orgulho de todos os ressentidos, daqueles que por não aceitarem o jugo suave de Cristo, onde há paz e alegria, se entregam ao jugo intolerável do príncipe deste mundo, que só lhes dá em troca tristeza, amargura, maldição.
* Uma sociedade nivelada será uma sociedade inorgânica, um conjunto de indivíduos impessoais, simples números no total coletivo; nesta sociedade não haverá Autoridade, mas todo o Poder estará reunido nas mãos de um só autocrata. Todos serão iguais: todos igualmente escravos.
* O justo cultiva certezas; o preguiçoso manuseia ilusões. (25-1-1989)
* Uma época em que ninguém vive satisfeito com o que é, vive de imitar
* A conduta do viciado ante as perspectivas de catástrofe é sempre marcada pela ilogicidade e pela imprevidência.
* Estou certo de que logo que Dom Pedro I proclamou a Independência e o Brasil surgiu como nação soberana, Nossa Senhora deu a nosso País sua primeira benção e seu primeiro sorriso.
* Um dos mais graves [pecados do mundo contemporâneo] é a indiferença de tantos filhos da luz em relação aos progressos das trevas.
* Devemos sempre ter a informação informação próxima da gente, mas não devemos estar colados aos acontecimentos, ao ponto de que não possamos fugir da informação para pensar.
* Há certas almas que só são grandes quando sobre elas sopram as rajadas do infortúnio.
* Os rádios e os jornais não pertencem aos mais inteligentes, nem aos mais cultos, mas aos que possuem o dinheiro. Assim, o intelectual só fará carreira se ele tiver à sua disposição o jornal ou o rádio dos ricaços. Os ricaços, reciprocamente, só franquearão o rádio ou o jornal aos intelectuais que digam o que eles quiserem que se diga.
* [A difusão do trabalho intelectual] O conteúdo dos trabalhos intelectuais se difunde naturalmente na massa por um processo comparável a um curso de água que, brotando cristalino no alto de um monte, vai descendo em cascatas sucessivas, até espraiar-se largamente pela planície adjacente (…) devem irrigar de imediato os setores mais cultos; e, desses, através de divulgadores de talento e seriedade, alcançar públicos de capacidade cultural sucessivamente menor, até atingir, por fim, as multidões.
* Franqueza sem suavidade e intimidade sem respeito são lixo. A franqueza tem que ser agradável, afável, respeitosa; e a intimidade tem que ser cortês e distinta. Do contrário não se pode suportar.
* Todos os homens têm coisas que os outros invejam. Um invejoso inveja tudo de todo mundo.
* No século XIX, a unificação da Itália foi um grande, um inapreciável progresso para a Revolução. Mas os tempos passaram, as coisas evoluíram, as situações foram superadas, o que era uma conquista passou a ser um atraso.
* E quando apontamos algumas nuvens que toldam os horizontes italianos, damos provas de uma italofilia incontestável.
J
* O “jeitinho brasileiro” é um determinado estilo de processo para conseguir uma solução.
* Os jornais são feitos para o público, o qual é a grande realidade – perenemente interessante, inesgotavelmente variável, e, em cada país, transbordante de peculiaridades – para o serviço do qual o jornalista tem de adaptar-se.
* O justo cultiva certezas; o preguiçoso manuseia ilusões. (25-1-1989)
L
* Legislar sobre o trabalho: a coisa é indispensável, pode ser justa, pode até ser ótima. Se aos operários se derem todos os direitos, mas as contribuições previdenciárias tirarem o de fazer dinheiro, ter-se-á dado contra o mundo do trabalho um golpe brutal.
* O poder de destruição de um ato contrário à Lei de Deus e à dos homens se mede muito menos pelo número das vítimas, do que pela elevação do preceito transgredido. E pela gravidade da lesão.
* Quando de ambos os lados há repúdio das leis de Deus e dos princípios de justiça, cresce o horror desses conflitos em que os homens se entredevoram.
* As liberalizações de contornos indefinidos não criam nem consolidam nenhuma liberdade verdadeira. À medida que tendem a facultar a todos que façam quanto quiserem, essas liberalizações vão caminhando de fato para a anarquia, e daí para uma mais terrível ditadura.
* Liberdade de pensamento e liberdade de opinião (…), princípios intimamente conexos (…), entendidos num sentido compatível com a prudência cristã [são] elementos indispensáveis para um debate pré-eleitoral genuíno e, portanto, para a representatividade autêntica do resultado eleitoral.
* A água, para ser pura, precisa nascer da pedra; a virtude, para ser verdadeira, precisa nascer da lógica. (…) Os senhores verão que eu nunca peço aos senhores alguma coisa sem fundar em raciocínio. Nunca! Tudo o que eu peço, os srs. sabem porque é que eu peço. Por que? Porque eu não quereria que os senhores fizessem sem saber o porquê. Pois teria muito menos mérito aos olhos de Nossa Senhora. Mas sabendo o porquê, sendo fruto da lógica… Deus é o Deus da verdade. Quer dizer, a lógica é o meio de conhecer a verdade. Ele é, portanto, o Deus da lógica e quer que as nossas deliberações de alma nasçam da lógica. Onde o senso lógico está cambaleante, a virtude está cambaleante.
* Luís XIV não quis ser um novo São Luís. Sensual, ávido de prazeres, ambicioso e vaidoso em extremo, sacrificou à sua lascívia e ao que ele supunha ser sua glória, tempo, recursos e prestígio que Deus lhe havia dado para fim inteiramente diverso. Manda, entretanto, a justiça que se acrescente que a vida do grande Rei teve altos e baixos, e que, se em certo sentido ele faltou gravemente a seus deveres para com a Igreja, em outro sentido, lhe prestou assinalados serviços. Não obstante tudo isto, o certo é que o Rei não desempenhava aquela missão providencial à qual, evidentemente, fora chamado por Deus.
* Deus deu ao homem a possibilidade de exprimir por gestos, ritos, formas protocolares, a alta noção que tem de sua própria nobreza, ou da sublimidade das funções de governo espiritual ou temporal que por vezes é chamado a exercer. Daí, além do luxo, a pompa como elemento natural da vida de um povo culto.
* Dir-se-ia que o talento e o luxo luzem nessa penumbra de simplicidade, como a luz brilha com mil tonalidades diversas (…) na meditativa e recolhida obscuridade da sala. É a beleza específica de um ambiente pequeno-burguês, fortemente intelectualizado, e um tanto largo em recursos econômicos. Em suma, a sala tem ambiente. E a alma humana precisa de compartimentos fechados em que organize ambientes feitos segundo suas próprias necessidades, como o corpo precisa de casa e agasalho para não deperecer.
* O luxo é uma coisa excelente demais para não estar morrendo hoje... Tudo quanto é excelente está morrendo. Nós estamos numa época em que morrem os pássaros e se multiplicam as taturanas e as mariposas…
* Essa debilidade do símbolo se acentuou em nossos dias. No presente de luxo, que ainda conserva um vestígio de valor simbólico, o que se olha como símbolo é cada vez menos a relação entre o objeto e os predicados do presenteado, e cada vez mais o preço. Este, sim, é um símbolo que ainda “fala”. E “fala” tanto, que dispensa palavras. Indica em números a “cotação” do homenageado junto ao ou aos homenageantes. Quanto mais caro o presente, tanto mais é amigo quem dá, e tanto mais fica amigo quem recebe. Há nisto uma expressão viva do poder do número e – porque não dizê-lo? – do poder do dinheiro, em nossa época rude, atormentada e utilitária. Não fica nisto porém, em matéria de presentes, a influência do utilitarismo contemporâneo.
* A consagração do luxo em profecia de Ezequiel a respeito do povo eleito (Israel, como pré figura da Igreja Católica), e “apresentado como o símbolo do amor de Deus e da predileção de Deus, dos dons de Deus, das graças espirituais de Deus”.
* Uma mística humanitária por detrás da moral sinárquica (…) Qualquer luxo é roubo, porque subtrai o necessário a esta gente necessitada [segundo tal mística humanitária]. Daí vem uma tendência uniforme e onímoda de baixar o nível de todas as formas de produção, para só produzir aquilo que for o essencial para acabar inteiramente com esse estado de miséria entre os homens. (…) É preciso fazer cessar isto, fazendo cessar todas as formas de luxo, prazer, requinte, etc.
* Santo Eloi corrigia o desmazelo no trajar do rei. A democracia cristã é fundamentalmente contrária ao luxo, à pompa, ao vestir-se bem etc. Os senhores vêem um santo que censura o rei por trajar-se mal.
* Não há nada de comum entre Santo Odilon e um D. Helder Câmara, que preconiza que os bispos usem cruz de madeira, que usem anel ordinário, ou nenhuma cruz, nenhum anel, que é contra o chamado luxo do culto. Porque é contra o luxo, porque é igualitário, porque gosta das coisas que não têm elevação nem valor. Não é isso. Ele é um homem que gosta muito dessas coisas, a tal ponto, que faz o possível para produzir dinheiro, para guardar dinheiro, e quando o tem, compra essas coisas, e as favorece. Mas ele tem uma sábia hierarquia de valores. Sabe perfeitamente que há momentos em que se deve ter essas coisas, mas como estas existem para o serviço de Deus, há momentos também que é preciso renunciá-las. Um desses momentos era quando havia fome.
* O luxo é um mal quando proporciona ao indivíduo uma abundância de sensações desproporcionadas com a capacidade simbólica que ele tem.
* O luxo e a doutrina católica, acompanhada de textos pontifícios / objeções e refutações.
M
* As lágrimas que uma mãe verter pela apostasia de seu filho serão recolhidas pelos próprios Anjos.
* Não apenas uma mãe, a tua, mas alguém — Alguém — que se te afigura a quintessência inefável, a síntese amplíssima de todas as mães que houve, que há e que haverá. De todas as virtudes maternas que a inteligência e o coração do homem possam conhecer. Mais ainda, daqueles graus de virtude que só os santos sabem excogitar, e das quais só eles sabem aproximar-se, voando nas asas da graça e do heroísmo. É a mãe de todos os filhos e de todas as mães. É a mãe de todos os homens. É a mãe do Homem. Sim, do Homem-Deus, do Deus que se fez Homem no seio virginal dessa Mãe, para resgatar todos os homens. É uma Mãe que se define por uma palavra — o mar — a qual, por sua vez, dá origem a um nome. Nome que é um céu: é Maria.
* Um mal menor não é necessariamente um mal pequeno. Amputar as pernas é um mal imenso, se bem que seja um mal menor em função da perda da vida.
* Um inimigo desmoralizado é mais autenticamente um cadáver do que um morto glorificado pela auréola do martírio.
* O inexorável princípio marxista: tudo quanto o comunismo não possa destruir, deve ser posto sem reservas ao serviço dele.
* A encíclica Mater et Magistra: documento tão precioso e tão profundo nos seus ensinamentos, tão pouco lido e tão pouco estudado.
* Um homem chegado à plena maturidade, mas que conversa como se estivesse na sua primavera. Isso é maturidade! Maturidade de olhos caídos, boca baixa, isso não é maturidade… Não vale dois caracóis! Isso é ruína! E maturidade e ruína são coisas bem diferentes. A gente sente a mocidade no homem maduro. E na mocidade a maturidade.
* Depois da função do Sacerdote, a do médico é a mais delicada, a que exige maior agudeza espiritual, o maior sentido humano, que não entra em bitolas e padrões, mas se adapta virtualmente a cada caso concreto em particular para não perder nada de sua realidade íntima, num esforço de simpatia que só pode ser inspirado pelo amor. Antes de curar os homens é preciso amá-los, e quem não tiver essa ciência poderá ser, no máximo, um boticário. – O grande médico, antes de ser grande na medicina, há de ser grande como homem.
* A Fé, outro dos traços essenciais da alma medieval, é, ela também sob certo aspecto, um ato de humildade. O homem aceita as verdades que Deus lhe revela, não porque as tenha descoberto pelas meras forças de sua razão ou de seus sentidos mas simplesmente porque Deus lhas revelou.
* Distingo entre medíocres e medianos. Tem-se o direito de ser mediano, tanto quanto o de ter nascido com um estofo pessoal vigoroso, ou apenas suficiente. A mediocridade é o mal dos que, inteiramente absorvidos nas delícias da preguiça e pela exclusiva deleitação do que está ao alcance da mão, pelo inteiro confinamento no imediato, fazem da estagnação a condição normal de suas existências. Não olham para trás: falta-lhes o senso histórico. Nem olham para frente, ou para cima: não analisam nem prevêem. Têm preguiça de abstrair, de alinhar silogismos, de tirar conclusões, de arquitetar conjecturas. Sua vida mental se cifra na sensação do imediato. A abastança do dia, a poltrona cômoda, os chinelos e a televisão: não vai além seu pequeno paraíso. (A descrição sobre a mediocridade continua mais longamente no artigo de onde foi extraído este trecho, n.d.c.)
* Nada afirmar, nada negar, por quase nenhum direito reclamar, contra nenhuma obscenidade protestar, enfim arvorar a moderação como regra suprema do pensar, condição forçosa do querer, do sentir e do agir; tudo isto atirou o Ocidente no pantanal da mediocridade (trechos de Ernest Hello comentados, com as características do medíocre).
* Quando vituperamos Azaña e Cardenas mostramo-nos fraternais amigos da Espanha e do México.
* Uma concepção a-filosófica e a-religiosa da sociedade, meramente econômica e profissionalista, dá origem ao grande desespero das multidões contemporâneas. Ontem estas se esbaldavam para fazer capital, hoje para fazer revolução, e já amanhã para se atirarem no bueiro do miserabilismo niilista, isto é, na glorificação do andrajo e da miséria, da sujeira, do desmazelo e do caos.
* [A mídia] Os rádios e os jornais não pertencem aos mais inteligentes, nem aos mais cultos, mas aos que possuem o dinheiro. Assim, o intelectual só fará carreira se ele tiver à sua disposição o jornal ou o rádio dos ricaços. Os ricaços, reciprocamente, só franquearão o rádio ou o jornal aos intelectuais que digam o que eles quiserem que se diga.
* [Mídia e desinformação] Argumentação apressada, dados contestáveis, e cambaias vistas de conjunto… como é o caso de quanta opinião apressada, interesseira, para não dizer desalfabetizada, de muitos de nossos pró-homens, se divulgam nos “mass-media” hodiernos.
* As grandes multidões estão exaustas de trabalhar, de penar, de ser constantemente excitadas pelas mídias para emoções paroxísticas que lotem suas horas de lazer. Elas estão exaustas de perambular com espanto no caos dos acontecimentos sem nexo do dia-a-dia religioso, cultural, político, social e econômico de nossa existência moderna. Elas querem fugir de tudo isto que as mídias lhes entrouxavam continuamente no espírito, através dos olhos como dos ouvidos. Elas querem sossego, normalidade, despreocupação. E isto as mídias lhes recusam a todo instante. Daí, pelo menos em boa parte, o insucesso. E as mídias? Pelo menos no Brasil não parecem ter aprendido a lição. Elas procedem como se vivessem num grande mito hoje em dia inteiramente vazio de conteúdo real.
* Um povo que se deixa guiar por um mito, máxime tão falso, corre o risco de ter o destino do cego guiado por outro cego, contra o qual advertiu o Divino Salvador (Mt.15,14).
* A condenação do modernismo foi um fato histórico tão importante quanto a vitória de Lepanto.
* A palavra “moderno” é viscosa. De um lado, tem ela um sentido bom. Assim, quando se fala da astronomia moderna, indica-se o acervo dos conhecimentos do passado acrescidos e retificados pelo imenso tesouro de aquisições devidos à investigação contemporânea. (…) Mas a palavra “moderno” tem também outro sentido, e este é péssimo. Segundo tal sentido, a moça de mini-saia é mais moderna que a de saia de comprimento normal. A seminua seria mais moderna que a de mini-saia, e assim por diante. (…) O socialista de extrema esquerda se gaba de moderno diante do “moderado”, e o comunista se considera arqui-moderno, isto é, despreza como fósseis os socialistas de todas as gamas anteriores. E assim poderíamos multiplicar os exemplos. Em última análise, “moderno” é, neste sentido, algo cuja plenitude, cujo nec plus ultra está no delírio e no comunismo. Assim, se a Igreja deve ajustar-se a este segundo sentido de modernidade, Ela renuncia implicitamente a ser Ela mesma.
* Quando, entre dois grupos em luta, um começa a ser dirigido pelos respectivos duros e outro pelos respectivos moles, todos os entrechoques passam a ser os do pote de ferro contra o pote de barro…
* Afirmar a ortodoxia de um programa de reforma social inspirado pelo comunismo, que inclua o divórcio, o amor livre e a total promiscuidade nas relações sexuais é contrário frontalmente à moral católica. E isto ainda quando os propugnadores dessas reformas freqüentassem os sacramentos. O que digo da promiscuidade de sexos vale igualmente para a comunidade de bens, ou seja, para um regime econômico que exclua a propriedade individual. Se alguém diz crer em Deus, mas deseja a implantação desse regime, está contra a Igreja.
* Grau de moralidade pública. (…) um mesmo pensamento central, que se poderia descrever em torno da máxima do Direito Romano: Do ut des; facio ut facias (dou para que tu me dês; faço para que me faças). É uma combinação, um arranjo que pode ser feito de modo desonesto ou honesto, conforme entendimento das partes engajadas no negócio. O falseamento pode facilmente se dar em qualquer forma de governo vigente no momento, seja democracia, seja monarquia. E também ocorrer tanto no sistema econômico capitalista quanto no comunista. Lembremos que no comunismo os membros do partido – especialmente a cúpula, como a nomenklatura na ex-URSS – constituem uma casta, que obtém todas as vantagens. Isto que já era sabido, tornou-se patente após a queda do Muro de Berlim. O eixo da problemática não se encontra primordialmente, pois, na forma de governo nem no sistema econômico. Ele reside no grau de moralidade pública e, em particular, no comportamento dos homens publicos, numa ou noutra forma de governo, num ou noutro sistema econômico. Onde há pessoas que tomam a sério a existência de Deus, e cumprem, de fato, Sua Lei, tais coisas não acontecem.
* A morte é muito séria, e o nosso mundo é frívolo por princípio. A morte é triste, e os homens de hoje cultuam a puerilidade. A morte é velha, mas a juventude é um dos valores supremos da atualidade. A morte dá testemunho da precariedade de nossa vida, mas isto contraria a religião das vitaminas. A morte é espiritual, abre a porta para os valores transcendentais, mas o mundo moderno crê na carne e no sangue. A morte traz a mortificação, a disciplina, a austeridade, a renúncia, a delicadeza espiritual, mas isto, hoje, são heresias.
N
* Nacionalismo sem Religião é coisa impossível. Porque nacionalismo significa patriotismo. Patriotismo significa sacrifício aos interesses superiores do País. E sacrifício ou é ato da religião, ou é tolice. Porque só um crente tem motivo suficiente para sacrificar-se pelo próximo: o amor de Deus. E só um tolo é capaz de um sacrifício por uma humanidade incapaz de gratidão na imensa maioria dos casos, quando não se indica como razão do sacrifício um motivo religioso.
* O salto que, à primeira vista, a Rússia parece ter dado violentamente, passando brusca e inesperadamente [no final de 1943] do internacionalismo para o nacionalismo, não é tão grande assim. Muita gente houve que, num abrir e fechar de olhos, passou da extrema esquerda para a extrema direita, o que prova que a distância entre ambas não é muito considerável.
* Napoleão foi certamente derrotado. A França se deixou vencer. Extenuada de lutas, farta das conquistas artificiais, do peso de seu Império desmesurado, anacrônico e postiço, dos louros inevitavelmente efêmeros da epopéia napoleônica, os franceses já não queriam lutar e apoiavam molemente um déspota de que, no fundo, se queriam ver livres. Não há dúvida de que os feitos militares napoleônicos têm sido canonizados pelos técnicos de guerra como admiráveis obras primas da perícia militar. Mas a ciência moral se recusava e se recusa categoricamente a sancionar com igual admiração as causas e as conseqüências dessas guerras. Para a Europa inteira, e mesmo para imensas camadas da opinião francesa, Napoleão não era senão um Átila malfazejo que tinha arrastado seu país e o mundo inteiro a uma aventura louca. Com o tempo, porém, a recordação de tudo isto se esvaiu. E o Napoleão da legenda, o Napoleão que se ensina aos escolares, emergiu heróico, viril, respeitável, na admiração de todos os povos, mesmo dos que ele oprimiu mais duramente. E ficou para uso dos especialistas a recordação mais científica, menos brilhante e mais verdadeira, do autêntico Napoleão, que era o que as famílias na retaguarda, e os moribundos nos campos de batalha, maldiziam de todo coração.
* Napoleão Bonaparte achava – e a História ratifica sua opinião – que um dos fatores preponderantes do fracasso da epopéia imperial foi a inépcia dos homens que o rodeavam. (…) A Napoleão lhe faltaram, de todo em todo, diplomatas e estadistas autênticos. No meio desta coleção de nulidades, só duas figuras se destacavam: Talleyrand e Fouché. Mas estes dois grandes intrigantes – talvez os maiores e mais pérfidos urdidores políticos do seu século – Napoleão não os soube ligar ao destino, nem pelo interesse nem pelo afeto. Napoleão caiu porque nunca teve colaboradores.
* Tendo dado largas a toda a sua sanha destruidora e elevada ao auge a reação dos adversários, a Revolução [Francesa] foi retrocedendo por etapas. (…) Com Napoleão, o retrocesso se tornou ainda mais marcante. A república foi substituída por uma monarquia espúria. A sociedade burguesa se metamorfoseou em uma aristocracia postiça de novos ricos, de generais vitoriosos e de administradores de alto escalão. A Igreja, embora sem recuperar sua antiga situação, foi tirada dos ferros e entrou em regime de concordata com o Estado. Napoleão procurou até coonestar sua situação aos olhos dos seus adversários, nostálgicos do “Ancien Régime”, casando-se com uma arquiduquesa da Áustria. Ele se tornou assim – por afinidade – sobrinho neto de Maria Antonieta e de Luís XVI. Incorporou ele, em sua corte, quantos cortesões dos Bourbons conseguiu aliciar. E tentou até comprar os direitos ao trono, do conde de Provence, irmão e sucessor de Luís XVI. Toda essa aparente volta ao passado era, entretanto, muito mais de superfície do que de profundidade. (…) Como se operava essa neutralização dos adversários da Revolução? (…) destituído Napoleão pelos aliados, subiu ao trono Luís XVIII, o antigo conde de Provence. O clero e os emigrados ganharam mais algumas honrarias. E foi só. Em seus traços profundos, a ordem de coisas implantada por Napoleão perdurou, já agora com o apoio da maioria de seus adversários da véspera, uma vez que a aceitara o rei. (…)
* Identificar todo movimento categoricamente anticomunista com o nazi-fascismo, mero artifício da propaganda comunista. (…) Aliás, nem o nazismo nem o fascismo foram o contrário do comunismo. Um e outro eram fortemente estatistas, o nazismo mais ainda do que o fascismo. Ele se intitulava até, expressamente, uma modalidade de socialismo: “nacional-socialismo”.
* O nazismo pode ser equiparado, sob o ponto de vista internacional, quase ao comunismo. E ainda assim este “quase” é muito problemático.
* Nazismo e Comunismo convergem no terreno do ateísmo, e não só nesse ponto.
* Nazismo, irmão gêmeo do bolchevismo.
* O cinismo é um predicado bem totalitário. Ostentam-no à porfia nazistas e comunistas.
* A propósito de discurso de Mussolini (proferido em finais de outubro 1937): quanto à solidariedade entre os dois regimes (nazista e fascista), quem ousará, entre os católicos, sustentar que é louvável? Quem terá o senso católico e o amor à Igreja tão embotados que não perceba o perigo que aí se oculta?
* Os governos totalitários tem sido governos de farsantes. Seguindo fielmente o exemplo de Hitler, são fecundos em amabilidades e promessas. Comparecem sôfregos a todas as cerimônias religiosas. Especializam-se na arte sutil de conceder à Igreja tudo quanto não tem importância real. Tamanduás inteligentes, abraçam primeiro para depois estrangular. Mas possuem sobre o tamanduá uma dupla vantagem: sabem sorrir e usam pele de cordeiro. É assim o nazismo.
* A miragem de fazer bons negócios seduz e apaixona hoje em dia [em 1960] milhões de homens.
* [Nosso Senhor Jesus Cristo] era nobre como nunca nenhum rei foi nobre! Como nunca ninguém teve nada nem de longe que se parecesse com Ele na nobreza.
* Como lembra Leão XIII em uma das suas Encíclicas, a nobreza em toda a Europa não cumpriu até o fim seu dever e por isto sobreveio a Revolução Francesa. Mas, se não foi inteiramente fiel, não foi inteiramente infiel a nobreza. Por isso, reduzida a escombro embora, tem uma grande respeitabilidade, tem uma vida resistente.
* Os horrores do amor livre comunista não são maiores do que os do nudismo “rosenberguista” [nazista].
O
* Não posso compreender quem aceite com conformismo o alheamento da opinião pública em relação aos temas grandes e sérios (…); é absolutamente o mesmo que dizer que está entronizada a incompetência. Ou que é normal correr (…) à vulgar competição de interesses, rumo ao abismo.
* Para vencer, não devem os candidatos procurar ajustar suas campanhas eleitorais ao quadro-fiction de uma opinião pública brasileira socialo-comunista. Falem com timbre claro, leal e valente, a linguagem que os setores centristas e até reacionários da opinião pública gostam de ouvir. E as urnas lhes dirão que terá vencido o candidato que falou ao Brasil real, e não o que tenha falado a um Brasil irreal, um Brasil-fiction, paraíso dos comunistas e de seus vizinhos ideológicos.
* Quando as certezas morrem, a atividade intelectiva perde sua meta natural. E a modorra se apodera da opinião pública.
* Toda ilha marítima é o píncaro de uma montanha que se levanta das profundezas do mar. Consta-me que, de costume, as grandes montanhas não se erguem isoladas, mas fazem parte de cordilheiras. Assim também, por debaixo da massa líquida, há em torno de toda ilha montanhas menores, verdadeiras “ilhas” frustradas que não chegaram à luz do sol. Análogos são certos fenômenos que se passam nas águas profundas da opinião pública.
* [Opinião pública] Um perigo irreal, todo feito de coincidências estranhas e interpretações fantasmagóricas dos fatos (…) tem todas as possibilidades de constituir fator de êxito para os que o saibam manejar. Em situações torvas e críticas, as fantasmagorias podem impressionar mais do que a realidade. E tudo isto é altamente desestabilizador do que ainda há de firme em nossa situação sócio-política e socioeconômica.
* Vem a propósito citar aqui uma observação do grande De Maistre (Soirées de St. Petersburgo” — La Colombe, Paris, 1960, pág. 33): “As falsas opiniões assemelham-se à falsa moeda, que é cunhada por grandes culpados, e em seguida utilizada por pessoas honestas, que perpetuam o crime sem saber o que fazem”. Essa honestidade salobra e pardacenta é a dos inocentes úteis. Dos “idiotas utiles“, diz-se muito mais incisivamente e sobretudo mais adequadamente, em idioma castelhano.
* “Oração e luta”: oração para glorificar a Deus e vencer na luta; luta para conservar o direito de prestar culto a Deus e viver em oração! (…) quantos países há que julgam poder conservar sua Fé sem travar em qualquer terreno a luta que a preservação da Fé exige! Rezemos para que o Brasil não venha a ser colhido de surpresa como um templo sem muralhas defensivas…
* Se soubéssemos verdadeiramente rezar, se tivéssemos a confiança e a humildade que tornam grata a Deus a oração do homem, seríamos onipotentes. A oração confiante e perseverante do justo, tudo alcança. E a História da Igreja é sobretudo a narração dos triunfos que Ela alcançou pela oração dos fiéis.
* Se os pessimismos de qualquer natureza diminuem a confiança, os otimismos infundados fazem esmorecer a oração.
* É muito agradável ser otimista. A gente evita insônias e dores de cabeça, pelo menos até o momento, às vezes remoto, em que se percebe estar no fundo do abismo. Prevaleceu o otimismo…
P
* Os pacatos toleram tudo, exceto que se lhes perturbe a pacatez. Pois então facilmente se fazem ferozes…
* É preciso não confundir os pacifistas com os pacíficos. Estes últimos serão chamados filhos de Deus.
* Segundo Churchill, pacifistas são os que esperam só ser comidos no fim.
* O palácio, muito mais do que a residência do conforto, é a residência da glória! É propriamente a definição do palácio: é o lugar onde reside a glória. É a habitação proporcionada com a glória, isso é o palácio.
* Um pan-cristianismo socialista de ares moderados é o grande cavalo de Tróia que está sendo preparado como “presente” para o mundo para logo depois da guerra.
* Querer separar no Papa o chefe eclesiástico do soberano, é criar um monstrengo absurdo que só pode existir nos desvãos do mais estreito sectarismo.
* As virtudes do Papa Pio X haviam abafado o ruído estúpido dos que julgavam que o fator mais importante do apostolado está na inteligência
* Nessa hora de desgraça, não amaldiçoemos Paris, não batamos palmas aos que a oprimem, não nos acumpliciemos com os que a desolam. Rezemos por Paris. Se das cinzas dessa terrível penitência renascer uma cidade convertida, que mais podemos desejar para a França, que é e será sempre a Primogênita da Igreja?
* Que valor tem o pastor que não sabe distinguir o lobo entre suas ovelhas?
* Em via de regra, eles (socialistas e comunistas) acham justo que a Passionária, a fera do comunismo espanhol nos idos do “Alzamiento” esteja hoje gozando dos confortáveis subsídios de deputado às Cortes de seu país. No exercício de um mandato para o qual sua velhice não lhe dá força, sua cultura não lhe dá títulos, e seu passado não lhe dá direito. E acham justo também que uma das maiores damas de nosso século morra na penúria…
* Os beneméritos da Pátria são todos aqueles que concorrem de modo útil para a manutenção da moralidade pública, da riqueza nacional, para o esplendor e progresso da civilização.
* Há muita gente que imagina que a única forma de combater uma verdade consiste em negá-la redondamente. Este é apenas o processo dos simplórios. O modo mais subtil e mais perigoso consiste em exagerar a verdade. Com isto, se fornece aos seus adversários pretextos para combatê-la, desacreditando-a no espírito dos que a amam. Foi isto que se deu com o patriotismo.
* A perfeição do patriotismo forma heróis. Sua deformação dá origem a bandidos.
* O fruto da moralidade é a paz: ‘opus justitiae pax’. (…) Será pela generalização da imoralidade comunista, que a Europa chegará à paz?
* A paz é, antes de mais nada, um fato espiritual que, por via de consequência, se estende também às situações materiais. Uma paz puramente externa não passa de uma ordem aparente, superficial e precária, não é verdadeira paz. Tratados, acordos, códigos internacionais, polícias, organismos de segurança são coisas excelentes sem nenhuma dúvida, mas, só por si, não podem promover a paz, se não houver paz nos espíritos. Mas, acontece que a paz interior, a paz de espírito, a verdadeira paz, só a Igreja tem o seu segredo.
* A paz dos homens vale mais que a glória de Deus? A terra vale mais que o Céu? A paz na terra pode ser obtida e conservada sem que com isto nada tenha a ver a glória de Deus?
* Queira-se ou não, mais do que Mamon, é o pensamento que conduz os homens.
* é necessário não só que as profissões se organizem, mas também que surjam opiniões (fagulhas de pensamento a chispear no ambiente hoje tão analfabetizado e pornografizado da vida social). E que essas opiniões se organizem. Que reunam em vastas associações, das mais diversas naturezas, todos os homens para quem pensar ainda é algo. E que estas associações façam sentir ainda sua presença colaborante, estimulante, mas também vigilante, nos corredores dos Legislativos do Brasil.
* Eliminado da vida pública ou da vida social o fator pensamento, qual é o tipo de ordem que querem, para as democracias recém-erectas, os homens que aí estão? A ordem de um curral, onde há ração e tranqüilidade para que o Estado exerça sempre mais amplamente sua ação ordenhativa?
* Sou contra o livre-pensamento. Mas também contra o não-pensamento.
* “Quando o homem não age conforme pensa, acaba por pensar conforme age”: a reflexão é do romancista francês Paul Bourget. Tal é a natural realeza do pensamento em tudo quanto é humano, que o homem não consegue perdurar em conflito com ele. Em consequência do que, ou o homem se deixa dirigir pelo que pensa e acerta no caminho; ou então deforma seu pensamento, e rola no abismo. Em nossa época, vai crescendo dia a dia o número – não dos que acertam ou dos que erram – mas dos que simplesmente não pensam. – Ajudar aos que ainda pensam a não se deixarem tragar pela indiferença é obra de indiscutível mérito, como também reerguer do fundo desse vazio mental quem se tenha deixado cair nele.
* O sistema democrático que a abertura trouxe para o Brasil, se dá a cada homem o direito e o dever de votar, lhe impõe também a obrigação de pensar. E quando o homem pensa, necessariamente fala do que pensa. A obrigação de falar sobre temas do interesse público, até nos atos da vida privada, daí decorre.
* Se todos os que se reúnem em torno da mesa doméstica não conversam com freqüência sobre política (e portanto sobre religião, cultura, arte), as famílias não pensam. Quando as famílias não pensam, não educam.
* Mas isto já não é democracia, nem sequer curral. É outra coisa: é o triste campo de concentração, a mando dos ladrões de pensamento. Quem são estes? Os que, à força de proclamar que só vale a economia, fazem com que o homem encontre repouso e entretenimento apenas na bagatela, na piada, na pornografia e na droga. Isto é, nas várias formas do contrapensamento.
* Já avaliaram quantos tufões de contrapensamento sopram por esses brasis afora? E quanto andarão bem os que se organizarem, à maneira das Associações Comerciais, para tornar presente a nossos Legislativos os anelos do Brasil autêntico, que faz essas três coisas tão afins: reza, pensa e trabalha? Reza – oh dor em dizê-lo! – a prece da Igreja de sempre, e não a prece azeda e venenosa das CEBs!
* Um perigo prolongado transforma o receio em hábito. Um perigo incerto e prolongado transforma o receio em displicência. Hábito e displicência acabam por embotar os sentimentos mais delicados.
* O texto [do Missal Francês posto em uso em 1983] não poderia ser mais severo para com a Igreja, nem mais carregado de mal velada simpatia para com Lutero. A tal ponto que, na frase final, o leitor fica sem saber quem tem a culpa pela ruptura, se o heresiarca com suas negações, ou a Santa Igreja (…). Isto me parece mil vezes mais trágico do que o perigo atômico, a crise financeira internacional, ou qualquer outra coisa…
* As perplexidades constituem para a mente um atoleiro penoso. Um purgatório. Por vezes quase um inferno.
* A personalidade humana é como vinho precioso, que precisa de ser guardado com cuidado, sem agitações, para depurar-se e valorizar-se com o tempo. Do contrário, se ficar exposto ao ar livre, torna-se vinagre.
* Quem é o pessimista autêntico? É a sentinela que brada alertando sobre o perigo, na esperança de que a gravidade da hora galvanize energias ainda capazes de vencer? Ou é quem, de dentro da cidadela, responde ao brado de alarma: “Não há perigo… – aliás o inimigo não é assim tão detestável… – e, principalmente, nada há que fazer; deixe-me dormir até que ele entre, pois tudo está perdido…”
* Se os pessimismos de qualquer natureza diminuem a confiança, os otimismos infundados fazem esmorecer a oração.
* A Igreja, sumamente justa e cautelosa, jamais poderia tomar partido por um certo pessimismo sombrio e incondicional, que indistinta e colericamente atirasse o anátema em tudo quanto hoje existe. De outro lado, em lugar de nos extasiarmos incondicionalmente com o que o mundo atual tem de bom, devemos admitir que este bem é apenas um bem acessório, secundário, acidental. E que defeitos profundos e irremediáveis trincam todo o edifício da sociedade atual.
* A verdadeira piedade se nutre da verdade.
* O pior inimigo de Plinio Corrêa de Oliveira não é nenhum maçom, não é nenhum comunista, não é nenhum progressista, não é nenhum esquerdista-católico! O pior inimigo de Plinio Corrêa de Oliveira são os lados ruins de Plinio Corrêa de Oliveira! E ou eu tenho isso claramente em vista ou eu me deixo derrotar.
* Ensinar nossa geração a respeitar algo no pobre – um nome honrado, uma educação de escol, a glória do infortúnio, a suprema dignidade do batismo – é fazer-lhe um beneficio inestimável. Uma pessoa que aprenda no exercício da caridade a respeitar a dor, a virtude, o mérito pessoal mesmo no pobre, lucra só com isto mais do que o pobre a quem beneficia.
* A polêmica tem algo de comum com a cirurgia: jamais é um bem, e na melhor das hipóteses é um mal necessário. Por isto mesmo, deve ser empregada apenas quando indispensável, e amar a polêmica em si mesma pelo mero gosto de discutir é algo de tão irracional e descaridoso quanto amar em si mesma a cirurgia pelo mero prazer de talhar e retalhar um corpo.
* Passo – entre os que não me conhecem na intimidade – por homem batalhador e afeito à polêmica. A verdade é precisamente o contrário. Sou cordato a ponto de chegar quase ao fleumático. Alegro-me em concordar e elogiar. Se entro em tantas controvérsias, não é por gosto, mas pelo senso do dever.
* Quando “é inevitável que a polêmica deixe de ser a nobre e desinteressada esgrima dos argumentos, se transforme no “rugby” vulgar da difamação, e perca sua seriedade e sua destreza, sob a ação da peculiar coceira causada pelo fuxico“.
* Em geral, nada é mais efêmero do que, em política, as posições ecléticas e intermediárias. Elas trazem em seu bojo a contradição, e a contradição é – por sua natureza – algo de instável e precário.
* Eu nunca fui político, não vejo nisto nada que desdoure, acho uma coisa muito honrosa ser político, mas não fui. Mas estive na política.
* “Procurai antes de tudo o reino de Deus, e todas as coisas vos serão dadas por acréscimo”. A esta regra não pode escapar a política internacional. E, se cremos no Evangelho, devemos reconhecer que as coisas materiais e secundárias só prosperarão na medida em que o reino de Deus florescer.
* A TFP está longe de gostar da polêmica pela polêmica, e sabe evitar controvérsias quando não as julga conformes ao bem da Igreja e do País.
* Quando os homens resolvem cooperar com a graça de Deus, são as maravilhas da História que assim se operam: é a conversão do Império Romano, é a formação da Idade Média, é a reconquista da Espanha a partir de Covadonga, são todos esses acontecimentos que se dão como fruto das grandes ressurreições de alma de que os povos são também suscetíveis. Ressurreições invencíveis, porque não há o que derrote um povo virtuoso e que verdadeiramente ame a Deus.
* A popularidade de asfalto: artificial e fabricada como asfalto.
* Quando o relacionamento elite-povo é correto, do povo provém, muitas e muitas vezes, a inspiração das elites / Se as elites decaem, é difícil que não arrastem o povo. Se o povo decai parece-me impossível que não arraste as elites. – Um povo na sua ascensão ou em seu zênite constitui todo inteiro, no conjunto universal dos povos, uma enorme elite, dentro da qual afloram, quase por destilação, elites mais quintessenciadas e menores. E que é a harmônica conjugação da elite-povo (ou elite-maioria), com a elite-minoria, que nasce a grandeza geral. – A antítese elite-povo que o progressismo quer inculcar é uma impostura. – O verdadeiro povo não é senão uma saudável e magnífica engrenagem de elites: de ouro e de prata, as mais altas. De belo e nobre bronze, as mais modestas.
* O povo se regozija com todas as pompas. Tem o senso do maravilhoso. É certa formação demagógica que leva muito intelectual a declamar contra o luxo, na suposição de assim agradar o povo. Por exemplo, quanto se engana a corrente “miserabilista” que, para tornar a Igreja popular, minguou depois do Concílio e fez fanar as pompas religiosas.
* Sempre dei incomparavelmente mais importância aos panoramas psico-políticos (ou seja, decorrentes de um estado psicológico muito firme e definido da opinião pública) do que aos que chamaria de político-politiqueiros.
* O justo cultiva certezas; o preguiçoso manuseia ilusões. (25-1-1989)
* Increpar todos os privilégios é absolutamente tão insensato quanto apoiá-los a todos.
* Pode haver privilégios justos e benfazejos, como também os houve, há e haverá injustos e nocivos.
* O progressismo cria em seus adeptos incondicionais o hábito de ilusões agradáveis, às quais é penoso renunciar, mesmo à vista dos mais ponderáveis argumentos. Mas os cernes de movimentos ideológicos, privados de suas periferias, entram facilmente em regime de mal entendido com o público, o que produz neles azedume, desânimo e infecundidade de ação.
* Os problemas humanos são como os quadros: o mais belo dos quadros não é senão um pastiche quando ele é visto numa perspectiva que não lhe é favorável. E os mais intrincados dos problemas podem encontrar solução, a partir do momento em que encontremos o ponto de onde o problema deve ser visto.
* A mentalidade progressista tem uma enigmática insensibilidade às contradições.
* Delicta quis intelligit? Quem compreenderá os pecados? indaga a Escritura. Quem entenderá o progressismo?
* A propriedade deve ser usada sem egoísmo, sob pena de se transformar em fonte de perturbações sociais graves. Cumpre, aliás, acentuar que a supressão da propriedade não remediaria, mas apenas agravaria de forma desesperadora, tais perturbações.
* Porque o homem é dotado de uma liberdade natural, ele não é escravo, mas dono de si mesmo. Porque o homem é dono de si mesmo, é dono de suas aptidões, e do trabalho mediante o qual exercita suas aptidões. E, porque o homem é dono de seu trabalho, é dono do fruto de seu trabalho. Isto é, o homem é proprietário de seu salário. A propriedade nasce, pois, da liberdade e do trabalho.
* A prosperidade material não é – em si mesma e necessariamente – uma armadilha do demônio.
* É inegável que, em algumas circunstâncias muito especiais, o esquecimento é o melhor modo de combater certas doutrinas. Nem por isto se há de adotar, como regra comum de prudência, o princípio de que o melhor meio de extinguir incêndios consiste em os deixar lavrar à vontade.
R
* Quem não vê que um regime de racionamento universal e permanente em épocas normais, outra coisa não é senão puro totalitarismo?
* …da parte do centro-esquerda ideológico do continente ibero-americano, as TFPs sempre foram atacadas, de modo incessante, por pessoas habitualmente indignadas com nossa infatigável posição anticomunista. Bem sentiam elas quanto se expunham a ser desmascaradas como comunistas se afirmassem de público o motivo real de sua ojeriza contra nós. E por isso encobriam com um tênue véu seu pensamento profundo. Atacavam-nos, pois, não propriamente por nossa posição anticomunista, mas por nosso “radicalismo”. Éramos “radicais de direita”, tão odiáveis e tão nocivos – sempre segundo eles – quanto os “radicais de esquerda”. Só que, a esses radicais de esquerda, não atacavam jamais. Quanto às TFPs…
* A Fé, outro dos traços essenciais da alma medieval, é, ela também sob certo aspecto, um ato de humildade. O homem aceita as verdades que Deus lhe revela, não porque as tenha descoberto pelas meras forças de sua razão ou de seus sentidos mas simplesmente porque Deus lhas revelou.
* São chamados de “reacionários” aqueles que contrariam os demagogos.
* No serviço de Deus há momentos em que não recriminar, não fustigar, equivale a trair.
* Um grande homem é – por definição – um homem capaz de refletir e de meditar. Implicitamente, um povo não pode ser grande, nem para as coisas do Céu nem para as da terra, se não tiver o hábito da meditação.
* Com a linguagem de um povo se dá o mesmo do que com os seus costumes: (…) nasce espontaneamente, organicamente, vitalmente, de circunstâncias profundamente invisceradas na realidade (…) inútil é tentar modificá-las (…) por decreto (…) de alguns caciques (…). Que “reforma agrária” passe a significar (…) não mais a imensa e revolucionária transformação (…) mas um só tipo (…) por exemplo, a desapropriação confiscatória de terras inaproveitadas, sejam elas devolutas, ou então de propriedade do Poder Público.
* A superficialidade, o imediatismo, a despreocupação de tudo quanto não produza proventos materiais, multiplica em nossa época o número de pessoas totalmente indiferentes a tudo, e desprovidas de quaisquer idéias sobre a Religião.
* Como a República brasileira tratou Dom Pedro II quando a Família Imperial foi exilada.
* O mais modesto dos homens deve viver cercado de respeito. O respeito é um dos maiores bens da vida. A gente ser respeitado vale muito mais do que ser querido.
* Essa imbecilidade [fruto da despreocupação completa, de quem faz tudo quanto quer e só acha gostoso fazer aquilo que é bom que se faça, de maneira que não tem luta interior nenhuma, e nunca vai maturar] faz parte da frivolidade que era o defeito dessa época [Ancien Régime, ou seja, do século XVII até 1789]. A frivolidade com que a nobreza, o clero e a burguesia receberam a Revolução Francesa.
* Quando atacamos Stalin, fazemos ato de russofilia.
S
* Só há um meio de decidir os homens a grandes sacrifícios para eliminar um mal: é mostrar-lhes que este mal é bastante grave para justificar os sacrifícios que lhes pedem.
* O paganismo é a caça ao prazer, no fundo do qual só há sacrifício. O Cristianismo é a caça do sacrifício, no fundo do qual há prazer.
* Um ateu (Sakharov) acabou por dizer o que quereríamos ter ouvido dos lábios dos homens de Deus.
* Ninguém se santifica pela meditação sobre as virtudes ou defeitos alheios, se não o fizer de modo a acrescer suas próprias virtudes, ou combater seus próprios defeitos.
* A “saparia“, isto é, a burguesia endinheirada, nada hostil ao comunismo, porém muito hostil ao anticomunismo.
* A atitude do século XIX foi de vacilação. Desta nasceu sua grande característica: a incoerência.
* O sensacionalismo é um dos importantes fatores da dissolução dos costumes e das moléstias nervosas de nossos contemporâneos.
* O senso católico é uma das graças que mais deve ambicionar um filho da Igreja, realmente digno deste glorioso nome.
* Perguntaram a Santo Inácio de Loyola o que faria se o Papa dissolvesse a Companhia de Jesus. Ele disse: “Ao cabo de quinze minutos de oração diante do Santíssimo Sacramento, eu teria recobrado a paz”. Quer dizer, completo domínio de si. Obra estraçalhada, vida escangalhada! Ao cabo de quinze minutos ele teria recobrado a paz e ia começar a servir a Igreja em qualquer outro lugar… e magnificamente, porque tudo quanto ele fazia era magnífico! Serenidade, domínio de si.
* Nada é mais brilhante do que a seriedade.
* A seriedade é o clima interior segundo o qual se ama a Deus.
* Aquele que quiser ser infeliz, evite a seriedade: a frivolidade, o vazio, o vácuo, a frustração, a derrota sentar-se-ão na cabeceira dele, e o acompanharão como fadas más, o dia inteiro.
* A realidade completa da substância humana inclui necessariamente um corpo material e, por isso, tudo no homem, para ser completo, abrange expressões corpóreas. O pensamento quer a palavra, o sentimento pede o gesto, a emoção busca a fisionomia, a convicção exige o símbolo. E quanto maior plenitude tiverem os pensamentos, os sentimentos, as emoções, as convicções, tanto mais nobres serão as palavras, os gestos, as fisionomias, os símbolos.
* O livre debate das opiniões é condição capital da soberania popular. Persuadirá a opinião pública quem tiver razão, e souber provar que a tem.
* Os problemas sociais são como os ferimentos: quanto mais comprimidos, tantos mais se inflamam.
* A questão social não se resolverá enquanto a maior parte da humanidade sentir vergonha da condição de vida que lhe é própria.
* Socialismo e monopólio estatal são termos correlatos. A ideia fixa do socialista é monopolizar tudo quanto pode.
* Típico da mentalidade socialista: nega o espírito e põe o dinheiro acima de tudo. As razões morais não existem. Nem o decoro, nem a compostura.
* Não nos basta agir e rezar. Precisamos sofrer. Sofrer de bom grado as provações que Nosso Senhor manda ou permite. E procurar generosa e voluntariamente outros sofrimentos, para os oferecer a Deus.
* Sem a graça de Deus torna-se incompreensível a utilidade do sofrimento.
* Solidariedade não significa apoio incondicional, mas apoio no bem. Porque apoio no mal não se chama solidariedade, mas cumplicidade.
* Há quem suponha que só com melúrias e sorrisos se cativam as almas. Se com vinagre não se apanham moscas, com mel não se amansam panteras.
* Com os soviéticos não se negocia, como não se negocia com gangsters, apaches ou nazistas. O mundo civilizado perceberá isto? Ou cometerá o erro de capitular indefinidamente ante os vermelhos, como já capitulou ante os pardos?
* Muito superficial é quem não saiba discernir, entre certos fatinhos, o que é bagatela e o que é sintoma. E não conheça, assim, o profundo valor sintomático de coisas em que um espírito superficial não vê senão bagatelas.
T
* Incompreensão e ódio, entre defensores naturais da tradição, da família e da propriedade – (…) Em terreno assim devastado – no qual se vê que, na esfera pública como na privada, tudo ou quase tudo que não é ódio declarado e agressivo contra a Igreja e a Civilização Cristã, é covardia, cumplicidade, traição – não espanta que a TFP, voltada para a luta em prol da preservação da tradição, da família e da propriedade entendidas segundo os ensinamentos tradicionais do Supremo Magistério eclesiástico, encontre em seu caminho tanta incompreensão e não raras vezes tanto ódio da parte de representantes qualificados da própria tradição, da própria família, e da mesma propriedade! “Incompreensão e ódio” devidos por vezes à ignorância, à contra-informação, à dor de consciência que as palavras e os exemplos dos católicos fiéis despertam no ânimo de tantos que de católicos só têm o nome – “inimiga não há tão dura e fera, como a virtude falsa da sincera”, escreveu Camões (“Os Lusíadas”, Canto X, 113).
* Como é a TFP? Ligeira? Audaz? Eficiente no voo? Ou é sólida, firme, organizada, estruturada possantemente? É uma coisa que se poderia perguntar. Depende, em grande parte, dos senhores. Porque eu não sou fazedor de planos nos ares, e a TFP é resultante de uma ideia dada por mim e de uma generosidade dada pelos senhores. E quando a generosidade sai a meias, a ideia sai a meias, meio coxa, manca ou caolha. A TFP será o que os senhores forem.
* Não confundo notoriedade com simpatia. Seríamos tolos, os da TFP, se ignorássemos que suscitamos, a par de aplausos entusiásticos que nos comovem, críticas acerbadíssimas que nem de longe nos desalentam. Afirmo simplesmente que não há brasileiro que não tenha ouvido falar da TFP. Minha afirmação não vai além.
* Senhores da terceira-força, da terceira-posição [terceira via] etc. etc., “sapos” inveterados ou “inocentes úteis” incorrigíveis, fanáticos do anti-“fanatismo”: dizei de viseira erguida o que pensais do radicalismo aparatoso de Fidel [Castro]. (…) Dizei com toda a franqueza o que pensais dos detentores do poder na China atual, presumíveis sustentáculos do felpudo ditador cubano.
* A tibieza [suas características], com suas prudências, com suas acomodações, com suas covardias, com sua inteira falta de confiança no sobrenatural. Frouxo na fé, o católico liberal crê, sem saber muito exatamente porque. De onde nada lhe parece mais explicável mais fácil de ocorrer, mais naturalmente frequente do que a dúvida, o ceticismo, a neutralidade religiosa. Seu espírito padece de uma enfermidade profunda. A verdade e o erro, o bem e o mal não se diferenciam muito para ele. O princípio de contradição, mola fundamental do espírito humano, funciona nele com todas as delongas, as indecisões, a impotência de mola velha, gasta, fraca. Por todas estas razões, e porque é comodista, não gosta de lutar. E, ademais, tem medo da luta. As lutas da Igreja são sempre ininteligíveis se se abstrai da Providência. Ora, o liberal tem fé tíbia. O sobrenatural o deixa mal à vontade. Ele raciocina habitualmente no campo natural, e julga fazer um heroísmo quando por vezes se eleva a plano mais alto. Como certos pássaros mais feitos para andar do que para voar, que só se mantêm no ar a título de exceção, num voo curto e penoso que consome as energias de todo o seu organismo. Não confiando em Deus, tem mil razões excelentes para recear a todo momento derrotas. E por isto a única política que sabe fazer, que gosta de fazer, que costuma fazer, é a das concessões. A um tal liberal, nada perturba mais do que o receio de um choque entre a Igreja e esse Moloque que é o neopaganismo moderno.
* Quem concebe um país unicamente como um conjunto de classes profissionais, e nada mais, pensa que viver é só trabalhar. Ora, tal pensamento, em lugar de ser uma verdade óbvia, é um erro para além de óbvio. Se o homem trabalha, é para um fim. Que fim é esse? Depende da idéia que ele tenha formado do que seja esta vida. Como o trabalho é mero meio para alcançar este fim, ele vale menos do que esse fim.
* Tradição, bem entendido, que não é um passado estagnado, mas é a vida que a semente recebe do fruto que a contém. Ou seja, uma capacidade de, por sua vez, germinar, de produzir algo de novo que não seja o contrário do antigo, mas o harmônico desenvolvimento e enriquecimento dele. Assim vista, a tradição se amalgama harmonicamente com a família e a propriedade, na formação da herança e da continuidade familiar.
* (…) Tradição. É a própria vida da família, na riqueza de seu ambiente, transmitida na continuidade, não só biológica, mas também moral, das gerações. É assim que uma geração não nasce, da outra, não armada para as reivindicações e as lutas contra os mais velhos, mas preparada para mútua compreensão. A continuidade assegura a paz e o entendimento entre o dia de ontem e o de hoje. E o dia de hoje pode olhar para o de amanhã, sem medo de ser massacrado.
* A tradição não é privilégio de lordes. Um pouco por toda a parte, na Europa, não se encontra a tradição popular ainda viva? Não a guardam muitos camponeses da Serra da Estrela (Portugal) e do Tirol (Áustria), da Bretanha (França) ou da Sicília (Itália)? No Brasil, não há vestígios de tradição nas mais variadas camadas sociais, desde as famílias de 400 anos até as famílias modestas do mais retirado interior? Não guardam, muitas famílias de imigrantes, encantadoras tradições de suas pátrias de origem?
* A tradição é um legado do passado, que se articula com o presente para dar significado e rumo ao futuro. A pretensa tradição soviética (…) trancada em museus e sem nenhuma relação com a vida, não é tradição. Quando os museus lembram um passado que o presente rejeita e odeia, são meros necrotérios da História.
* A tradição é uma força. É uma potência. E entre outras maravilhas que opera, está a de impregnar de poesia e de encanto até mesmo o velho som de uma gaita de outrora… Conservar vida e encanto até mesmo do arcaico, qual a força capaz disto senão a Tradição?
* Conservar as tradições não é conservá-las como mero objeto de museu. É conservá-las vivas, fortes, e, para isto é preciso vivê-las. Só as tradições vividas na plenitude e autenticidade do espírito que as formou são capazes de influenciar beneficamente o progresso, orientando-o, estimulando-o, aliando-se a este sem com isto se deformarem.
* No serviço de Deus há momentos em que não recriminar, não fustigar, equivale a trair.
U
* Os católicos contemporâneos não se devem limitar a uma atitude meramente defensiva, mas, pelo contrário, devem desfraldar por toda parte, e com ufania, o estandarte de Cristo.
* A unidade de espíritos é a raiz bendita da qual brota a flor preciosa da concórdia.
V
* “Per Crucem ad Lucem”; é só pela Cruz, isto é, pelo sofrimento, que se chega à verdade. (…) Rompendo com o erro, que é o agnosticismo, que é o indiferentismo, que é o ateísmo, é preciso que a ruptura seja total.
* “É assim, é precisamente assim que é feito o coração humano. Cego e preguiçoso, indigno e desonesto, ele se oculta mas não admite que nada lhe seja ocultado. Assim lhe sucede que ele não consegue fugir dos olhos da verdade, mas a verdade foge dos olhos dele“.
* Pensar, e por meio do pensamento conquistar a Verdade, amá-LA, servi-LA, eis o grande fim da vida. A Verdade? Sim, e com “V” maiúsculo. A Verdade, personificada naquele que disse de Si: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo. 14,6).
* Os frutos da apostasia são piores do que os da gentilidade. Pois pode não haver culpa em ignorar a verdade: há sempre culpa em repudiá-la.
* Vencida em nosso íntimo a investida anti-cristã, tratemos de vencê-la no cenário hodierno. (vida interior)
* Se (…) quiser saber como será julgada sua vida no Tribunal Eterno, não indague tanto sobre os caminhos que palmilhou ou as gotas de suor que de sua fronte gotejaram. Indague, sim, das horas passadas de Rosário em punho, aos pés do Tabernáculo.
* Nem tudo se soluciona e querer tudo solucionar é desconhecer que a vida do homem neste mundo é essencialmente trágica.
* O pior inimigo da virtude não é sempre o vício escancarado, mas a contrafação da virtude verdadeira. O vício aberto, cínico, extravia facilmente as almas depravadas. A virtude mal-entendida, ou mal praticada, pode iludir e desviar as próprias almas retas.
* A virtude é a saúde da alma e quanto mais saudável a alma, tanto melhor e mais perfeita. Mas a virtude pode ser desfigurada, mal compreendida e mal aplicada.
* Desde que nosso amor a determinada virtude não seja motivado por razões muito verdadeiras e muito puras, facilmente degenera em paixão e se transforma em defeito.
* A vitória sobre um povo não consiste em destruí-lo fisicamente, mas em lhe tirar a vontade de perseverar na luta.
* Vitória (condições para) – Não é só com sangue e com coragem que se vence. É preciso ainda – e sobretudo – possuir coerência de ideais, firmeza inquebrantável de vontade e perspicácia à prova de qualquer dolo.
* Vitória (condições para) – …não percamos a confiança: Nossa Senhora superará todos os obstáculos que forem superiores a nossas forças. Enquanto esta confiança não desertar de nosso coração, a vitória será nossa, de nada valerão os ardis de nossos adversários: caminharemos sobre as áspides e os basiliscos e calcaremos aos pés os leões e os dragões.
* (vocação) No jardim, que é a Santa Igreja de Deus, ninguém nos pode tolher, sem criminosa injustiça, o direito de colher as flores da santidade, no canteiro onde nos chama o Espírito Santo.
* Quando Deus dá a alguém qualidades naturais singularíssimas, de qualquer natureza que sejam, impõe-lhe implicitamente responsabilidades onerosas. Conta-se que os Padres Jesuítas, que foram educadores de Voltaire, impressionados com a inteligência do menino, costumavam dizer que ele seria ou um Santo, ou um demônio.