Plinio Corrêa de Oliveira

 

Comentando...
 
A Casa de Saboia

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 1º de agosto de 1943, N. 573, pag. 2

  Bookmark and Share

 

Não se pode negar, a Casa de Saboia foi algo de providencial para a Itália, na atual conjetura. Cessada a aventura mussoliniana, a monarquia aparece aos olhos dos italianos como alguma coisa de estável no meio da tormenta, a voz do bom senso no meio da confusão, uma força tradicional no meio da desordem. Se não fosse a existência de um Rei, que, quando nada, é o descendente de uma grande dinastia, o representante vivo da cultura e da História, que estaria acontecendo agora à Itália, após a queda do Sr. Mussolini? O caos, o mais tremendo e mais incrível caos estaria subvertendo a península. Ninguém mais se entenderia, seria o terror mais pavoroso, em que os inocentes pereceriam e de que os bandidos se aproveitariam.

Os regimes ditatoriais têm isto de próprio, que só têm consistência nas mãos de seu autor; desaparecido este, sobrevém a anarquia, porque toda a imensa e complexa máquina administrativa do ditador se dissipa como uma fantasmagoria, como um sonho ou como um pesadelo, e depois, só resta o vácuo. Tudo se passa como nos teatros de bonecos: enquanto o animador está presente, puxando os cordéis, o palco tem a animação da vida, tal a impressão de naturalidade e espontaneidade. Afasta-se, porém, o único verdadeiro ator, as marionetes penderão plácidas, inúteis, pequenos trapos sem maior significação. Entretanto, as ditaduras passam, mas as dinastias ficam.

É nestes momentos angustiosos que os povos percebem que a História não é apenas uma narrativa inanimada de fatos mortos, mas uma realidade vital, em que se encontram forças vivas de reconstrução.

Neste sentido, a Casa de Saboia é hoje um símbolo para os italianos; mais do que um símbolo, é uma vergôntea, é um tronco vivo que vem do passado, com as raízes fincadas na terra da Itália, trazendo a seiva generosa da tradição italiana. A encenação mussoliniana poderá ter atordoado muitos italianos; mas, desfeito o artifício, a realidade, que estivera tanto tempo esquecida na sombra, aparece diante de seus olhos, sob uma luz particularmente intensa, dolorosamente intensa. Esta realidade, esta verdadeira taboa de salvação está em torno da Casa de Saboia, está com a Casa de Saboia, é tudo o que a Casa de Saboia representa.

E, no entanto, a Casa de Saboia pode vir a ser destronada; há quem conspire contra ela. Que acontecerá então? Com a Casa de Saboia desaparecerão muitas, muitas coisas. Desaparecerão tantas coisas, que a Itália correrá o risco de se desprender de seu passado e girar fora de sua órbita, fora do sentido de sua História.


Bookmark and Share