Capítulo II
3. O ódio e a violência, metamorfoseados, geram a guerra psicológica revolucionária total
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Fidel Castro Continuação do texto de 1976: Para melhor apreendermos o alcance dessas imensas transformações ocorridas no quadro da III Revolução nos últimos vinte anos, será necessário analisarmos em seu conjunto a grande esperança atual do comunismo, que é a guerra revolucionária psicológica. Embora nascido necessariamente do ódio, e voltado por sua própria lógica interna para o uso da violência exercida por meio de guerras, revoluções e atentados, o comunismo internacional se viu compelido por grandes modificações em profundidade da opinião pública, a dissimular seu rancor, bem como a fingir ter desistido das guerras e das revoluções. Já o dissemos. Ora, se tais desistências fossem sinceras, de tal maneira ele se desmentiria a si próprio, que se autodemoliria. Longe disto, usa ele o sorriso tão-somente como arma de agressão e de guerra, e não extingue a violência, mas a transfere do campo de operação do físico e palpável, para o das atuações psicológicas impalpáveis. Seu objetivo: alcançar, no interior das almas, por etapas e invisivelmente, a vitória que certas circunstâncias lhe estavam impedindo de conquistar de modo drástico e visível, segundo os métodos clássicos. Bem entendido, não se trata aqui de efetuar, no campo do espírito, algumas operações esparsas e esporádicas. Trata-se, pelo contrário, de uma verdadeira guerra de conquista - psicológica, sim, mas total - visando o homem todo, e todos os homens em todos os países. Comentário acrescentado em 1992: Guerra psicológica revolucionária: “revolução cultural” e Revolução nas tendências Como uma modalidade de guerra psicológica revolucionária, a partir da rebelião estudantil da Sorbonne, em maio de 1968, numerosos autores socialistas e marxistas em geral passaram a reconhecer a necessidade de uma forma de revolução prévia às transformações políticas e sócio-econômicas, que operasse na vida cotidiana, nos costumes, nas mentalidades, nos modos de ser, de sentir e de viver. É a chamada “revolução cultural”. Consideram eles que esta revolução, preponderantemente psicológica e tendencial, é uma etapa indispensável para se chegar à mudança de mentalidade que tornaria possível a implantação da utopia igualitária, pois, sem tal preparação, a transformação revolucionária e as conseqüentes “mudanças de estrutura” tornar-se-iam efêmeras. O referido conceito de “revolução cultural” abarca, com impressionante analogia, o mesmo campo já designado por Revolução e Contra-Revolução, em 1959, como próprio da Revolução nas tendências (Cfr. parte I, cap. 5.).
Continuação do texto de 1976: Insistimos neste conceito de guerra revolucionária psicológica total. Com efeito, a guerra psicológica visa a psique toda do homem, isto é, “trabalha-o” nas várias potências de sua alma, e em todas as fibras de sua mentalidade. Ela visa todos os homens, isto é, tanto partidários ou simpatizantes da III Revolução, quanto neutros ou até adversários. Ela lança mão de todos os meios, a cada passo é-lhe necessário dispor de um fator específico para levar insensivelmente cada grupo social e até cada homem a se aproximar do comunismo, por pouco que seja. E isto em qualquer terreno: nas convicções religiosas, políticas, sociais e econômicas, nas impostações culturais, nas preferências artísticas, nos modos de ser e de agir em família, na profissão, na sociedade. A. As duas grandes metas da guerra psicológica revolucionária Dadas as atuais dificuldades do recrutamento ideológico da III Revolução, o mais útil de suas atividades se exerce, não sobre os amigos e simpatizantes, mas sobre os neutros e os adversários: a) iludir e adormecer paulatinamente os neutros; b) dividir a cada passo, desarticular, isolar, aterrorizar, difamar, perseguir e bloquear os adversários; - essas são, a nosso ver, as duas grandes metas da guerra psicológica revolucionária. Desta maneira, a III Revolução torna-se capaz de vencer, porém mais pelo aniquilamento do adversário do que pela multiplicação dos amigos. Obviamente, para conduzir esta guerra, mobiliza o comunismo todos os meios de ação com que conta, nos países ocidentais, graças ao apogeu em que nestes se acha a ofensiva da III Revolução. B. A guerra psicológica revolucionária total, uma resultante do apogeu da III Revolução e dos embaraços por que esta passa A guerra psicológica revolucionária total é, portanto, uma resultante da composição dos dois fatores contraditórios que já mencionamos: o auge de influência do comunismo sobre quase todos os pontos-chaves da grande máquina que é a sociedade ocidental, e de outro lado o declínio da capacidade de persuasão e de liderança dele sobre as camadas profundas da opinião pública do Ocidente. |