Capítulo II
4 - A ofensiva psicológica da III Revolução, na Igreja
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Continuação do texto de 1976: Não seria possível descrever esta guerra psicológica sem tratar acuradamente do seu desenrolar naquilo que é a própria alma do Ocidente, ou seja, o cristianismo, e mais precisamente a Religião Católica, que é o cristianismo em sua plenitude absoluta e em sua autenticidade única.
A. O Concílio Vaticano II Dentro da perspectiva de Revolução e Contra-Revolução, o êxito dos êxitos alcançado pelo comunismo pós-staliniano sorridente foi o silêncio enigmático, desconcertante, espantoso e apocalipticamente trágico do Concílio Vaticano II a respeito do comunismo. Este Concílio se quis pastoral e não dogmático. Alcance dogmático ele realmente não o teve. Além disto, sua omissão sobre o comunismo pode fazê-lo passar para a História como o Concílio a-pastoral. Explicamos o sentido especial em que tomamos esta afirmação. Figure-se o leitor um imenso rebanho enlanguescendo em campos pobres e áridos, atacado de todas as partes por enxames de abelhas, vespas, aves de rapina. Os pastores se põem a regar a pradaria e a afastar os enxames. - Esta atividade pode ser qualificada de pastoral? - Em tese, por certo. Porém, na hipótese de que, ao mesmo tempo, o rebanho estivesse sendo atacado por matilhas de lobos vorazes, muitos deles com peles de ovelha, e os pastores se omitissem completamente de desmascarar ou de afugentar os lobos, enquanto lutavam contra insetos e aves, sua obra poderia ser considerada pastoral, ou seja, própria de bons e fiéis pastores? Em outros termos, atuaram como verdadeiros Pastores aqueles que, no Concílio Vaticano II, quiseram espantar os adversários minores, e impuseram livre curso - pelo silêncio - a favor do adversário maior? Com táticas aggiornate - das quais, aliás, o mínimo que se pode dizer é que são contestáveis no plano teórico e se vêm mostrando ruinosas na prática - o Concílio Vaticano II tentou afugentar, digamos, abelhas, vespas e aves de rapina. Seu silêncio sobre o comunismo deixou aos lobos toda a liberdade. A obra desse Concílio não pode estar inscrita, enquanto efetivamente pastoral, nem na História, nem no Livro da Vida. É penoso dizê-lo. Mas a evidência dos fatos aponta, neste sentido, o Concílio Vaticano II como uma das maiores calamidades, se não a maior, da História da Igreja74. A partir dele penetrou na Igreja, em proporções impensáveis, a “fumaça de Satanás”, que se vai dilatando dia a dia mais, com a terrível força de expansão dos gases. Para escândalo de incontáveis almas, o Corpo Místico de Cristo entrou no sinistro processo da como que autodemolição. Comentário acrescentado em 1992: Surpreendentes calamidades na fase pós-conciliar da Igreja Sobre as calamidades na fase pós-conciliar da Igreja, é de fundamental importância o depoimento histórico de Paulo VI na Alocução “Resistite fortes in fide”, de 29 de junho de 1972, que citamos aqui na versão da Poliglotta Vaticana: “Referindo-se à situação da Igreja de hoje, o Santo Padre afirma ter a sensação de que ‘por alguma fissura tenha entrado a fumaça de Satanás no templo de Deus’. Há – transcreve a Poliglotta – a dúvida, a incerteza, o complexo dos problemas, a inquietação, a insatisfação, o confronto. Não se confia mais na Igreja; confia-se no primeiro profeta profano [estranho à Igreja] que nos venha falar, por meio de algum jornal ou movimento social, a fim de correr atrás dele e perguntar-lhe se tem a fórmula da verdadeira vida. E não nos damos conta de já a possuirmos e sermos mestres dela. Entrou a dúvida em nossas consciências, e entrou por janelas que deviam estar abertas à luz. .... “Também na Igreja reina este estado de incerteza. Acreditava-se que, depois do Concílio, viria um dia ensolarado para a História da Igreja. Veio, pelo contrário, um dia cheio de nuvens, de tempestade, de escuridão, de indagação, de incerteza. Pregamos o ecumenismo, e nos afastamos sempre mais uns dos outros. Procuramos cavar abismos em vez de soterrá-los. “Como aconteceu isto? O Papa confia aos presentes um pensamento seu: o de que tenha havido a intervenção de um poder adverso. Seu nome é diabo, este misterioso ser a que também alude São Pedro em sua Epístola” (cfr. Insegnamenti di Paolo VI, Tipografia Poliglotta Vaticana, vol. X, pp. 707-709). Alguns anos antes, o mesmo Pontífice, na Alocução aos alunos do Seminário Lombardo, no dia 7 de dezembro de 1968, havia afirmado que “a Igreja atravessa hoje um momento de inquietação. Alguns praticam a autocrítica, dir-se-ia até a autodemolição. É como uma perturbação interior, aguda e complexa, que ninguém teria esperado depois do Concílio. Pensava-se num florescimento, numa expansão serena dos conceitos amadurecidos na grande assembléia conciliar. Há ainda este aspecto na Igreja, o do florescimento. Mas, posto que ‘bonum ex integra causa, malum ex quocumque defectu’, fixa-se a atenção mais especialmente sobre o aspecto doloroso. A Igreja é golpeada também pelos que dEla fazem parte” (cfr. Insegnamenti di Paolo VI, Tipografia Poliglotta Vaticana, vol. VI, p. 1188). Sua Santidade João Paulo II traçou também um panorama sombrio da situação da Igreja: “É necessário admitir realisticamente e com profunda e sentida sensibilidade que os cristãos hoje, em grande parte, sentem-se perdidos, confusos, perplexos e até desiludidos: foram divulgadas prodigamente idéias contrastantes com a Verdade revelada e desde sempre ensinada; foram difundidas verdadeiras e próprias heresias, no campo dogmático e moral, criando dúvidas, confusões e rebeliões; alterou-se até a Liturgia; imersos no ‘relativismo’ intelectual e moral e por conseguinte no permissivismo, os cristãos são tentados pelo ateísmo, pelo agnosticismo, pelo iluminismo vagamente moralista, por um cristianismo sociológico, sem dogmas definidos e sem moral objetiva” (Alocução de 6-2-81 aos Religiosos e Sacerdotes participantes do I Congresso Nacional Italiano sobre o tema “Missões ao Povo para os Anos 80”, in “L’Osservatore Romano”, 7-2-81). Em sentido semelhante pronunciou-se posteriormente o Emmo. Cardeal Joseph Ratzinger, Prefeito da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé: “Os resultados que se seguiram ao Concílio parecem cruelmente opostos às expectativas de todos, a começar do papa João XXIII e depois de Paulo VI. .... Os Papas e os Padres conciliares esperavam uma nova unidade católica e, pelo contrário, se caminhou para uma dissensão que – para usar as palavras de Paulo VI – pareceu passar da autocrítica à autodemolição. Esperava-se um novo entusiasmo e, em lugar dele, acabou-se com demasiada freqüência no tédio e no desânimo. Esperava-se um salto para a frente e, em vez disso, encontramo-nos ante um processo de decadência progressiva ....”. E conclui: “Afirma-se com letras claras que uma real reforma da Igreja pressupõe um inequívoco abandono das vias erradas que levaram a conseqüências indiscutivelmente negativas” (cfr. Vittorio Messori, A coloquio con il cardinale Ratzinger, Rapporto sulla fede, Edizioni Paoline, Milano, 1985, pp. 27-28). Continuação do texto de 1976: A História narra os inúmeros dramas que a Igreja vem sofrendo nos vinte séculos de sua existência. Oposições que germinaram fora dela, e de fora mesmo tentaram destruí-la. Tumores formados dentro dela, por ela cortados, e que já então de fora para dentro tentaram destruí-la com ferocidade. - Quando, porém, viu a História, antes de nossos dias, uma tentativa de demolição da Igreja, já não mais feita por um adversário, mas qualificada de “autodemolição” em altíssimo pronunciamento de repercussão mundial? Daí resultou para a Igreja e para o que ainda resta de civilização cristã, uma imensa derrocada. A Ostpolitik vaticana, por exemplo, e a infiltração gigantesca do comunismo nos meios católicos, são efeitos de todas estas calamidades. E constituem outros tantos êxitos da ofensiva psicológica da III Revolução contra a Igreja. Comentário acrescentado em 1992: A Ostpolitik vaticana: efeitos também surpreendentes Hoje em dia, lendo estas linhas sobre a Ostpolitik, alguém poderia perguntar, ante a enorme transformação que houve na Rússia, se esta não resulta de uma jogada “genial” da Hierarquia eclesiástica. O Vaticano, baseado em informações do melhor quilate, teria previsto que o comunismo, corroído por crises internas, começaria por sua vez a autodemolir-se. E, para estimular o quartel-general mundial do ateísmo materialista a praticar essa autodemolição, a Igreja Católica, situada no outro extremo do panorama ideológico, teria simulado sua própria autodemolição. Com isto teria atenuado muito sensivelmente a perseguição que então sofria da parte do comunismo: entre moribundos certas conivências seriam concebíveis. A flexibilização da Igreja teria, pois, criado condições para a flexibilização do mundo comunista. Caberia responder que, se a Sagrada Hierarquia tinha noção de que o comunismo estava em condições tais de indigência e de ruína que seria obrigado a se autodemolir, ela deveria denunciar essa situação e convocar todos os povos do Ocidente a preparar as vias do que seria o saneamento da Rússia e do mundo, quando o comunismo caísse efetivamente, e não deveria calar sobre o fato deixando que o fenômeno se produzisse à margem da influência católica e da cooperação generosa e solícita dos governos ocidentais. Pois só fazendo tal denúncia seria possível evitar que o desmoronamento soviético chegasse à situação na qual se encontra hoje, isto é, um beco sem saída, onde tudo é miséria e imbloglio. De qualquer forma, é falso que a autodemolição da Igreja tenha apressado a autodemolição do comunismo, a menos que se suponha a existência de um tratado oculto entre ambos nesse sentido – uma espécie de pacto suicida -, tratado esse, para dizer pouco, carente de legitimidade e utilidade para o mundo católico. Isto para não mencionar tudo quanto essa mera hipótese contém de ofensivo aos Papas em cujos pontificados esta dupla eutanásia se teria verificado. Notas: 74) Cfr. Alocução de Paulo VI, de 29/6/1972. 75) Cfr. Alocução de Paulo VI ao Seminário Lombardo, em 7/12/1968. |