D. Geraldo de Proença Sigaud

 

Carta Pastoral sobre a seita comunista

3a PARTE

A situação do Brasil

 

 

 

 

 

 

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1. O perigo de um "putsch" comunista

Ao estudarmos a situação do Brasil, amados Filhos, temos de considerar de início um perigo imediato: o perigo de um movimento armado comunista, com o fim de apoderar-se do governo. Em 1935, tivemos um tal movimento, que custou a vida a muitos militares, covardemente assassinados por seus colegas de farda, a soldo de Moscou. O perigo é hoje muito maior do que naquela ocasião. Realmente, há pouco, quando o Sr. Jânio Quadros renunciou a Presidência da República, todos nós sentimos que os comunistas queriam se valer da delicada circunstância para tentar escalar o poder. O Rio Grande do Sul assistiu aterrado a invasão das plagas gaúchas por agentes vermelhos nacionais e estrangeiros, que procuraram transformar aquele Estado numa nova Cuba. E agora, superada a fase aguda de crise, a palavra autorizada do Exmo. Revmo. Sr. Arcebispo de Porto Alegre nos informa que os abutres continuam pousados nos palácios, repartições públicas, pontos estratégicos do Rio Grande (cf. «Catolicismo», n° 133, de janeiro de 1962, p. 4). E no resto do Brasil?

Não sentiríamos nenhuma surpresa se a nossa polícia ou as nossas Forças armadas um dia informassem a Nação da descoberta de algum plano de insurreição e de grandes depósitos de armas e munições, preparados pelos comunistas para um levante militar ou uma serie de guerrilhas.

Não nos causaria surpresa, amados Filhos, se em certas regiões de nossa Pátria estes homens vendidos a Satanás e a Moscou (o que é o mesmo) começassem a assassinar Sacerdotes, incendiar igrejas, arrasar conventos, violentar Religiosas, fuzilar líderes católicos e políticos, atacar vossas famílias, confiscar vossos sítios, martirizar a vós e vossos filhos, erguer o seu sinistro «paredón» para tentar aniquilar a resistência do nosso povo.

Esperamos que as Autoridades constituídas estejam alerta, e que, sem descanso, investiguem as maquinações da tenebrosa seita, e estejam preparadas para esmagar no nascedouro qualquer tentativa de «putsch» ou de guerrilha.

2. A conquista lenta

A. Socialização legal

Mas não é só o «putsch» comunista que nos ameaça, e por isto estaríamos traindo o Nosso múnus pastoral se não alertássemos os Nossos Filhos e os nossos homens públicos para outro perigo real e gravíssimo que nossa Pátria corre, que é o de sermos empurrados para o comunismo por um processo lento e insidioso.

Em consequência da presença de legisladores comunistas em nossas Câmaras, pela infecção de ideias socialistas que pululam na cabeça de tantos homens públicos, existe o grande risco de o Congresso e as Assembleias Legislativas nos levarem ao comunismo.

A recente votação da lei de remessa de lucros para o Exterior é um flagrante exemplo deste perigo. Uma minoria fanática de comunistas que figuram nas bancadas de vários partidos, ajudada por vários filo-comunista, levou a Câmara a votar uma lei que prejudica mortalmente o Brasil e assim corresponde otimamente aos interesses da Rússia. Esta minoria está empenhada em continuar sua nefasta obra de bolchevização legislativa do Brasil.

B. Comunismo virtual nas leis de alto alcance social

Mas há um outro resvalar. Vede alguns exemplos. A perpetua renovação da iniqua «Lei do Inquilinato» está se tornando uma virtual negação do direito de propriedade, e uma como «Reforma Urbana» precária. A tentativa de introduzir a dissolução do casamento por motivo de erro sobre as qualidades morais do cônjuge, e a instituição de um casamento condicional, são outros passos para a implantação lenta do comunismo. Enfim, a «Reforma Agraria» que, em vários projetos, fere o direito de propriedade, declarando que a terra improdutiva não é mais do seu dono; ou que o Estado tem direito de desapropriar o latifúndio improdutivo, pelo simples fato de ser improdutivo; ou que quem trabalha a terra tem por isso mesmo direito à propriedade desta. Todos estes projetos de lei procuram introduzir no Brasil o regime comunista, de uma forma branda e insensível. Nosso livro «Reforma Agraria - Questão de Consciência» focaliza com precisão este aspecto de nossa vida nacional (D. Antonio de Castro Mayer, Bispo de Campos, D. Geraldo de Proença Sigaud, S. V. D., Bispo de Jacarezinho, Plinio Corrêa de Oliveira e Luiz Mendonça de Freitas — «Reforma Agrária — Questão de Consciência», Edit. Vera Cruz, São Paulo, 3a edição).

3. Reatamento das relações diplomáticas com a Rússia

Neste contexto toma vulto singular o reatamento das relações diplomáticas com a Rússia. O nosso governo reatou-as, deixando o Brasil chocado com o fato em si e com o modo como ele se verificou. E para acalmar a apreensão do povo brasileiro, declarou-se que o Governo cercará de mil cautelas a presença de diplomatas russos no Brasil. Nada disto convenceu ou tranquilizou o País. Ficamos sabendo pois que teremos um ativo centro de espionagem no Brasil, acobertado pelas imunidades diplomáticas. Ao trabalho de espionagem se aliará a conspiração, a preparação da conquista do poder pela violência. A esta conspiração se juntará o trabalho de propaganda do comunismo entre os intelectuais e estudantes e operários, pois que atrás das relações diplomáticas virão as relações culturais. Teremos numerosos Centros de Cultura Russa espalhados pelas cidades principais do Brasil.

4. Infiltração nas Universidades e nas organizações estudantis

Não devemos exagerar, e atribuir ao marxismo um papel dominante em nossas universidades e entre os nossos estudantes. Não é verdade que a maior parte dos professores e dos alunos seja comunista. Realmente, quando, por exemplo, os estudantes católicos resolveram reagir contra a tirania dos marxistas e manifestar sua repulsa a Fidel Castro, em sua grande maioria os estudantes de Minas Gerais declararam-se contrários ao carrasco de Cuba, e o mesmo se deu em São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba. No entanto, é inegável o fato gravíssimo de vários professores universitários porem sua cátedra a serviço do marxismo, e o fato doloroso de que várias organizações estudantis, de nível secundário e universitário, de âmbito municipal, estadual ou nacional, são dominadas por uma minoria audaz, e por «estudantes» profissionais comunistas.

5. Infiltração nos meios de comunicação

Causa-Nos apreensão a presença de comunistas notórios e a provável presença de outros muitos cripto-comunistas nos nossos meios de transporte e comunicação, como os portos, os correios e telégrafos, as estradas de ferro, a imprensa. Estes traidores poderiam paralisar os meios de comunicação em caso de uma crise ou um golpe comunista em nosso País.

6. Infiltração nos sindicatos

Causa-Nos igualmente grande apreensão, amados Filhos, a penetração dos comunistas em nossas organizações operarias. Não nos pode surpreender que os marxistas, a soldo da Rússia, procurem dominar e controlar as nossas organizações sindicais. Nem nos pode estranhar a investida dos marxistas para a conquista dos órgãos de cúpula, como a Confederação Nacional dos Trabalhadores da Indústria, que detém o controle do imposto sindical e de outros fundos que montam, pelo que estamos informado, à soma fabulosa de um bilhão e duzentos milhões de cruzeiros, e que está em perigo dê cair nas mãos dos comunistas.

Mas o que Nos causa maior apreensão é presenciarmos a obscura e enigmática atuação do Sr. Ministro do Trabalho, que, conforme noticiou a imprensa, propiciou a vitória de uma chapa dominada por comunistas nas eleições feitas há pouco, para a escolha da diretoria daquela importantíssima Confederação.

Igual apreensão sentimos diante da atuação do Sr. Ministro do Trabalho durante a última tentativa de greve geral em São Paulo. Estes gravíssimos fatos nos dão direito de perguntar: aonde nos conduz todo esse conjunto de circunstâncias?

7. Infiltração nas associações católicas — a palavra de ordem

Não seriam inteligentes os mentores da seita comunista se não tentassem paralisar a resistência da Igreja, infiltrando-se nas nossas Associações, e procurando servir-se delas para golpear a Igreja com suas próprias armas, de acordo com o princípio: «esmagar o inimigo servindo-se do próprio inimigo».

É por demais interessante que conheçais as instruções dadas a seus sequazes pelo órgão central do Partido Comunista Chinês, relativamente à luta contra a Igreja e as diversas seitas protestantes na América Latina: «Ordem secreta n.° 106 do Partido Comunista da China continental, de 12 de fevereiro de 1957, enviada aos comunistas da América Latina». Eis o seu texto:

«O catolicismo e o protestantismo são organizações a serviço da espionagem e do imperialismo capitalista. Tais organizações esforçam-se em penetrar no nosso País, para explorar e oprimir o povo. As igrejas, estabelecidas em todas as cidades do mundo, espalham o veneno das suas doutrinas, visando combater o socialismo comunista. Por isto, em obediência às diretrizes dos chefes do nosso Partido, todos os camaradas devem procurar um meio de penetrar no próprio coração da Igreja, a serviço da nossa polícia secreta, para o fim de desenvolver grande atividade no seio mesmo de todas as atividades eclesiásticas, desencadeando ataques de grande envergadura, apelando inclusive para a ajuda de Deus para facilitar o êxito. Para conseguir uma frente única devem servir-se da força sedutora do sexo feminino. E devem cumprir as nove seguintes determinações do nosso Partido, com o objetivo de provocar divisões internas nas igrejas e atirar organizações religiosas umas contra as outras:

1. Introduzir-se nas escolas mantidas pela Igreja Católica e envenenadas pelas suas doutrinas; espionar os reacionários e relatar suas atividades; misturar-se aos estudantes, adaptar-se aos seus sentimentos; insinuar-se metodicamente em todos os setores da ação eclesiástica.

2. Cada camarada deve encontrar meios de fazer-se, pelo batismo, membro da Igreja. Inscrever-se na «Legião de Maria» ou, tratando-se de protestantismo, unir-se à organização dos «cruzados». Uma vez dentro, desenvolver intensa atividade servindo-se de belas frases para comover e atrair os fiéis; deve ir além, ainda, tentando dividir radicalmente as diversas categorias de fiéis, mesmo com o emprego do amor a Deus e à causa da paz.

3. Assistir os serviços religiosos e, afável e cortesmente, unir-se ao clero e espionar suas ações.

4. As escolas fundadas e dirigidas pelas igrejas constituem um campo ideal para nossa penetração. Simulando benevolência, aplicar no entanto a regra de «agarrar-se ao inimigo para suprimir o inimigo». Mesclar-se alegremente com os diretores, professores e estudantes, para dominá-los, de acordo com o principio que manda «dividir para governar».

5. Tomar a iniciativa em todas as atividades, penetrar em todas as instituições da Igreja, infiltrar-se mesmo na própria direção da Igreja.

6. Secundando as diretrizes do Partido, as células conseguirão o objetivo fixado, a saber: penetrar em todas as organizações eclesiásticas, promover ações em favor da paz («coexistência pacifica») e influenciar todos os setores.

7. Baseado no princípio férreo que ensina «esmagar o inimigo servindo-se do próprio inimigo», persuadir membros eminentes da Igreja a virem à China, facilitando-lhes documentos e autorizações necessárias. Tal atitude falsa e secreta nos ajudará no nosso propósito, permitindo-nos, através dos visitantes, conhecer a verdadeira situação da Igreja.

8. Os camaradas ativistas devem exercer espírito de iniciativa, descobrir os pontos fracos da organização eclesiástica, explorar as divergências, e neutralizar o veneno religioso com a injeção do nosso próprio contraveneno.

9. Todo camarada que ocupar posto de mando deve compreender a fundo que a Igreja Católica está a serviço do imperialismo e que precisa, portanto, ser abatida e destruída pela raiz. Quanto ao protestantismo, que vem cometendo o erro de seguir uma política de «coexistência», é necessário impedir que ele faça novas conquistas, mas, entrementes, podemos deixá-lo morrer de morte natural».

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