D. Geraldo de Proença Sigaud

 

Carta Pastoral sobre a seita comunista

2a PARTE

A Seita Comunista ou o Marxismo em Ação

 

 

 

 

 

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Capítulo I

O proletariado a serviço da Revolução

A ação marxista é fundamentalmente revolucionária. Mas a sua maneira de ser revolucionária difere daquilo que o homem comum entende ao falar de revolução. Para o homem comum a revolução é o meio violento de conseguir uma sociedade melhor e estável. Isto quer dizer que, conseguida a mudança, o homem quer que ela se estabilize, e pensa em lutar para que o fruto de seu esforço não seja destruído por outras forças. Para o marxista, não há um programa positivo a se realizar. A Revolução não pretende realizar novas reformas positivas e depois parar. A Revolução não intenta obter um bem, ela quer somente ação, movimento. A Revolução é em si mesma o grande ideal. A ação revolucionaria não é um meio, ela é o fim. Ela é permanente, é a obra gigantesca de uma humanidade em movimento, em que o Homem Novo se cria a si mesmo continuamente, se modifica perpetuamente. A Revolução não é meio para se conseguir uma nova «Ordem», ela é a nova «Ordem». Nós devemos pois modificar o nosso conceito de Revolução, quando estudamos o marxismo, e lembrar que a Revolução é o estagio definitivo da humanidade progressista.

Para chegar à Revolução é porém preciso demolir um universo. O marxismo iniciou esta demolição. Qual foi o instrumento de que ele lançou mão?

1. O proletariado

Em consequência da Revolução Francesa e da laicização da vida, apareceu na Europa, no século XIX, a classe dos proletários. Eram trabalhadores da indústria explorados criminosamente por capitalistas liberais, que consideravam o trabalho uma mercadoria e não o meio dado por Deus para o sustento digno do indivíduo e da família. Desta concepção liberal resultou uma miséria tétrica, desarraigamento crescente, ruptura com a Religião e a Pátria, miséria moral e espiritual. O trabalho das mulheres e das crianças tornava ainda mais triste a sorte dos lares operários. O Santo Padre Leão XIII analisa as causas desta situação na monumental Encíclica «Rerum Novarum»: «O século passado destruiu, sem as substituir por coisa alguma, as corporações antigas, que eram para eles (os homens das classes inferiores) uma proteção; os princípios e o sentimento religioso desapareceram das leis e das instituições públicas, e assim, pouco a pouco, os trabalhadores, isolados e sem defesa, têm-se visto, com o decorrer do tempo, entregues à mercê de senhores desumanos e à cobiça de uma concorrência desenfreada. A usura voraz veio agravar ainda mais o mal. Condenada muitas vezes pelo julgamento da Igreja, não tem deixado de ser praticada sob outra forma por homens ávidos de ganância, e de insaciável ambição. A tudo isto deve acrescentar-se o monopólio do trabalho e dos papeis de crédito, que se tornaram o quinhão de um pequeno número de ricos e de opulentos, que impõem assim um jugo quase servil à imensa multidão dos proletários» (Encíclica «Rerum Novarum», Edit. Vozes, p. 4, n.° 6).

Procurando uma classe capaz de servir de instrumento para a Revolução, Marx encontrou este proletariado. É muito importante conhecer o ângulo sob que o marxismo se interessou pelo proletariado. Haverá talvez entre vós, amados Filhos, quem pense que os comunistas desejavam melhorar a sorte dos operários. Estará enganado. Ouvi o que os próprios mestres do marxismo ensinam a esse respeito. Rosenberg dá a seguinte explicação: «Marx não partiu do proletariado, da sua miséria e da sua angústia, e da necessidade de libertar esta classe, para em seguida desembocar na Revolução. Ele percorreu o caminho justamente oposto... Buscando os meios que lhe possibilitariam realizar a Revolução, Marx descobriu o proletariado» (apud Jean Ousset, «El Marxismo-Leninismo», p. 116). E Henri Lefèvre comenta em «Le Marxisme»: «O marxismo não traz um humanismo sentimental e choramingas. Marx não se inclinou sobre o proletariado porque este fosse oprimido, nem o fez para se lamentar de sua opressão... O marxismo não se interessa pelo proletariado enquanto é débil (como é o caso da gente caritativa, de certos utopistas, de paternalistas, sinceros ou não), mas enquanto o proletariado é uma força» (apud Jean Ousset, o. c., p. 116).

Se Marx tivesse vivido cem, duzentos anos antes, não teria encontrado este instrumento. Na Idade Média e no «Ancien Régime», o operário, o artesão estava enquadrado em suas corporações, guildas, ligas, irmandades. Era alguém, tinha raízes, tinha tradições, uma situação econômica estável e uma situação social definida. Tinha suas festas, suas igrejas, seu prestígio. A corporação cuidava de sua formação técnica, do exercício de sua profissão, de sua vida religiosa, de sua saúde e de sua família, em caso de doença ou de morte. Dentro da paróquia ele tinha seu lugar; dentro do município, tinha sua profissão.

Tudo isto, a Revolução Francesa e a impiedade destruíram. Atemorizado, isolado, o operário se viu diante da era da máquina de vapor e das grandes fábricas. No entanto, na Europa ainda havia muita raiz, e muito trabalho se fazia para reerguer a classe operaria; por isto, apesar das tentativas, lá o marxismo não conseguiu a vitória. Mas, na Rússia o operariado estava ainda mais abandonado, porque a igreja cismática, privada da fecundidade e da vitalidade da Igreja Católica, não conseguia enfrentar a onda destruidora do liberalismo econômico. Quando o marxismo caiu sobre o proletariado russo, conseguiu, pela primeira vez, conquistar o poder e, firmando-se sobre esta base, empreender a conquista do mundo. Perguntareis: porque o proletariado russo era a classe ideal para servir de instrumento da Revolução? Eis a resposta de um comunista russo, dos fins do século passado: «Nós, proletários russos, carecemos de todas as riquezas do Ocidente, de toda herança. Em nossas recordações nada há de romano, nada de antigo, nada de católico, nada de feudal, nada de cavalheiresco, quase nada de burguês. Assim, pois, nenhum remorso, nenhuma consideração, nenhuma relíquia do passado poderia frear-nos».

Marx via duas coisas no proletariado.

Primeiro, que sua miséria, bem açulada, bem explorada, era capaz de lançar a classe dos operários contra a classe dos patrões, com uma violência esmagadora.

Segundo, que aquela classe não tinha raízes e tradições que a impedissem de agir. Sem propriedade, sem família bem constituída, sem Religião, sem pátria, nada freava os seus membros, estavam em quase perfeita disponibilidade. Aqueles homens eram capazes de uma ação revolucionária de violência inaudita. Ora, o marxismo quer ser a ação revolucionária mais potente. Era lógico que ele procurasse conquistar o proletariado, identificar-se com ele, desencadear sua ação demolidora, orientá-la, enquadrá-la, e assim destruir por meio dela todas as amarras, todas as ligações com Deus, Igreja, pátria, família, propriedade e passado. Ao mesmo tempo que demolidora, a classe operaria, uma vez no poder, criaria o mais gigantesco organismo industrial, que faria de todos os homens, operários, e faria das nações um imenso exército de trabalhadores, que transformariam o mundo. Para conseguir a Revolução, o marxismo empreendeu a conquista e a mobilização do operariado.

Mas agora não vamos tecer a história do comunismo. Podeis encontrá-la em livros especializados. Vamos mostrar-vos, amados Filhos, os passos metódicos que a seita segue.

2. Tomada de consciência

A tarefa que o marxismo tinha diante de si era iniciar uma violenta reação dos operários contra os patrões. Não lhe interessava melhorar a situação dos operários, como a Igreja estava fazendo. Ao contrário, interessava-lhe que esta situação ficasse ainda pior, que aumentassem a riqueza e o lucro de uns, e a miséria de outros. Mas toda a diferença de situações, por si mesma, ainda não poria os operários em movimento, enquanto eles não se dessem conta da sua condição miserável. Para isto era preciso sacudir o operariado com uma ação revolucionaria para que ele «tomasse consciência» da injustiça de sua situação e da própria força. Note-se que para o marxista, como não existe a verdade e o direito, não é pela comparação da situação de uma classe com normas da justiça que se tem conhecimento da injustiça de uma situação. Tal modo de proceder é próprio da inteligência comum. O marxista só crê na ação. E, por isto, é pela ação que ele leva o operário à ideia de que é explorado. Reivindicações de salários, congressos, greves, revoltas foram os meios usados para fazer o proletariado tomar consciência de que «era roubado».

Elaborando uma doutrina estranha, nova e artificial de Economia Política, o marxismo:

a) procurou convencer os operários de que todo o fruto do seu trabalho lhes pertenceria, e de que o lucro que os patrões e os capitalistas tinham era roubado deles;

b) estabeleceu o princípio de que os meios de produção devem ser da coletividade e não dos particulares;

c) procurou provar que no processo econômico existente, o capitalista fica cada vez mais rico, e o operário cada vez mais pobre.

Pregando estas doutrinas aos operários, o marxismo os punha em franca revolta contra a classe dos patrões.

3. Luta de classes

Esta luta dos operários contra os patrões representa para o marxismo o instrumento infalível para a demolição da sociedade cristã. Aquela força misteriosa que preside à evolução da matéria é reforçada pela luta de classes, e o processo que duraria séculos se acelera, e se faz em poucos anos.

Esta luta deve ser feita de maneira completamente materialista. Nenhum dogma, nenhum decálogo, nenhum motivo religioso, nenhum fim tradicional deve ser tolerado. Luta em torno do pão, em torno do dinheiro, e para tal, luta em torno do poder político. Desde que se deixem envolver nesta luta materialista, os próprios operários católicos se transformarão em materialistas e marxistas.

Se não houvesse a questão operária, o marxismo procuraria outro pretexto para lançar os mais fracos contra os mais fortes, os de baixo contra os de cima, os do Sul contra os do Norte, os pretos contra os brancos, a fim de, pelo desencadeamento da inveja, da cobiça e do orgulho, lançar os homens à destruição dos valores espirituais.

4. Classe proletária

A luta de classes seria desfavorável para os operários, que são mais pobres, menos cultos, se eles não procurassem o ponto onde são os mais fortes: o número. Por isto o marxismo vê no surgimento da consciência de que todos os proletários do mundo formam uma só classe, a grande força da Revolução. É este o grito de guerra do Manifesto comunista de 1847: «Proletários de todos os países, uni-vos!»

A única coletividade que o proletário deve reconhecer é a coletividade da classe. Nenhuma outra lhe interessa: nem a Igreja, nem a Pátria, nem o Exército, nem a família. Da união total dos proletários nasce a Classe Proletária. Tudo entre os proletários é comum. Por isto o marxismo se chama comunismo.

Aquela potência material máxima, capaz de criar um mundo novo, destruindo tudo o que se opõe à Revolução, é a Coletividade Proletária, o Estado comunista.

5. Coletivização

Para ele ser a Grande Força Revolucionária, é preciso que todos os meios de produção estejam nas mãos do proletariado, não com os indivíduos que o compõem, mas com a classe como tal. Como cúpula da classe, o Estado comunista representa o proletariado. Por isto todos os meios de produção e todas as alavancas do poder devem estar nas mãos do Estado comunista.

Enfeixando todos os recursos materiais do mundo, todos os meios de produção, transporte, guerra, etc., a classe operaria representa o máximo do poder humano, é como que a Divindade do Trabalho. Dentro deste grande organismo de produção, o indivíduo é uma rodinha minúscula na gigantesca engrenagem. Deverá se sujeitar a uma disciplina de ferro, e os interesses da Revolução serão o critério supremo de suas ações.

Vistes, amados Filhos, que o marxismo considera o homem um animal trabalhador. Ele é pois consequente quando entrega ao trabalhador, ao operário, os destinos da humanidade, a criação da humanidade nova. Para o marxismo, o proletário é o homem mais puro, mais legítimo, mais autêntico. Somente ele é capaz de criar uma humanidade autêntica. Para isto basta-lhe libertar-se de qualquer ligação com o passado, de qualquer elemento que lhe tolha a liberdade de ação, unir-se, e destruir tudo o que se opõe à Revolução Permanente.

6. Ditadura do proletariado

Uma vez unidos em organismos locais, regionais, nacionais, internacionais, os operários empreendem a conquista do poder, e esmagam todas as outras classes.

7. Moral — verdade —propaganda

Nesta luta pelo poder, todos os meios são lícitos: o importante é realizar a Revolução. Porque o único critério da moral e da verdade é a Revolução. É verdade o que concorre para ela; é mentira o que se opõe a ela ou a dificulta. É bom e lícito tudo o que concorre para o seu triunfo; é mau e proibido tudo o que a ela prejudica.

A propaganda tem um grande papel nesta luta. Sua finalidade não é difundir a verdade. Seu fim é pôr em movimento as massas revolucionarias. Por isto a propaganda se serve de todos os meios, mesmo de calunias e mentiras, para «forrar o cérebro» de ideias que provocam a ação revolucionária.

De outro lado, é preciso tirar da cabeça do povo as ideias que podem paralisar a ação revolucionária. Não se trata de convencer por razões lógicas, por argumentos e pela apresentação da verdade. O que é preciso é «lavar o cérebro».

8. Ideias

As ideias interessam muito o marxismo. De novo, interessam não pelo fato de serem verdadeiras ou falsas. Como o marxismo não reconhece a verdade, não lhe interessam as ideias sob este ponto de vista. Mas o marxista sabe que o animal chamado homem possui ideias na cabeça, e que estas ideias provocam ações. É sob este ponto de vista que as ideias lhe interessam, e o comunismo desenvolve estudos de psicologia para ensinar a seus técnicos a maneira de se servirem das ideias para provocar, orientar ou impedir as ações. Estas ideias costumam vir envoltas em um clima de emoção irracional, de tal sorte que não é a inteligência do homem que dirige sua ação, mas antes é a parte animal que dirige a parte intelectual. O comunismo chama a tais ideias irracionais «ideias-força». Exemplo de tais ideias tendes, amados Filhos, na parola comuno-nacionalista «o petróleo é nosso».

Apêndice: o capital e o trabalho

Dentro deste contexto, é importante vermos o que pensa o Catolicismo da origem do capital, e o que pensa o marxismo.

* Doutrina católica

De acordo com o ensinamento da Igreja, somente é propriedade do homem aquilo que foi honestamente ganho. O que é ganho desonestamente ou adquirido injustamente não é propriedade do homem, e deve ser restituído a seu dono. Portanto, dinheiro e bens roubados ou desonestamente adquiridos não são propriedade no sentido católico.

Posto isto, perguntamos: qual é a origem do capital?

A origem do capital é muito nobre. Mons. Delassus diz que o capital é um príncipe, filho de um casal muito nobre. Seu pai é o trabalho, sua mãe é a economia. O nascimento do capital se faz assim: o homem trabalha mais do que precisa e gasta menos do que pode. Assim sobra-lhe o dinheiro. Este dinheiro ganho e poupado é seu «trabalho cristalizado». Com este dinheiro ele compra uma fonte de renda, um campo, por exemplo, e passa a explorá-lo. Realmente este campo representa o fruto do seu trabalho. Ao explorá-lo, o homem faz o fruto do trabalho trabalhar para ele. Um outro compra uma casa e a aluga. É o «trabalho cristalizado» que por sua vez trabalha. Assim o homem melhora a sua situação. Continuando fiel ao princípio «trabalha mais do que precisas e gasta menos do que podes», e «faze o teu trabalho trabalhar para ti», o homem se torna capitalista.

O capitalismo é um sistema em si legitimo. É conforme à natureza humana. Ele põe ao serviço da sociedade humana aqueles dois motores admiráveis de que Deus dotou o homem, que são o amor de si mesmo e a vontade de possuir e de se enriquecer. Esta vontade é legítima e, ficando nos limites da razão, da justiça e da caridade, é louvável e virtuosa. Naturalmente o capitalismo pode levar a abusos, e tem levado. Os Papas e Bispos têm denunciado tais abusos. Mas o sistema do capital, da iniciativa privada, da posse privada dos meios de produção, tem sido defendido energicamente pelos Sumos Pontífices contra a tese socialista de que o capitalismo é essencialmente mau. Ao invés, os Santos Padres afirmam que o comunismo é intrinsecamente mau. O capitalismo pode ser mau acidentalmente, mas é intrinsecamente lícito. O comunismo é intrinsecamente mau, e sua ação é sempre má e deletéria.

* Teoria marxista — Refutação

O marxismo ensina que o particular que possui meios de produção rouba ao operário o que lhe pertence. Marx procurou estabelecer uma esdrúxula teoria econômica. Diz ele que todo o lucro de uma empresa pertence aos operários, e nada aos donos da empresa. A base de sua argumentação é que só o trabalho manual dá direito a remuneração.

Não é difícil refutar estas asserções.

Vimos que o capital é «trabalho cristalizado». No capital o trabalho trabalha. Uma vez pago um salário que permita ao operário viver dignamente com sua família, educar seus filhos e fazer uma reserva para o futuro, a justiça está satisfeita. O empresário pode ser generoso e pagar mais, conforme a natureza do trabalho realizado e os rendimentos da empresa. Mas ai não fala mais a justiça, e sim a caridade.

«Erram, certamente, os que não receiam enunciar este princípio, que tanto vale o trabalho e tanto deve ser a paga quanto é o valor do que se produz; e que, por isto, na valoração do próprio trabalho tem o operário direito de exigir para ele tudo o que produzir» (Pio XI, Encíclica «Quadragesimo Anno», Edit. Vozes, p. 27).

Assim, pois, do produto do trabalho de um operário que opera as máquinas de uma empresa, isto é, do produto desta conjugação «trabalho + capital», justamente se pode destinar uma parte à remuneração do trabalho e uma parte à remuneração do capital (trabalho cristalizado).

Além de impugnar a legitimidade do lucro do capital (que acusa de roubo, quando em mãos de um particular, mas que considera justo, quando nas mãos do Estado), Marx afirmava que, no processo capitalista, os operários ficarão cada vez mais miseráveis e os ricos cada vez mais ricos. Isto não é verdade, e os fatos desmentiram o falso profeta. Na Europa e na América do Norte os operários hoje têm um nível de vida alto, incomparavelmente mais folgado do que cem anos atrás. O Santo Padre João XXIII o verifica na Encíclica «Ad Petri Cathedram», de 29 de junho de 1959.

Capítulo II

A dialética em ação — A tese

Muitas vezes, amados Filhos, ficais perplexos diante das mentiras e contradições dos comunistas. Se vos lembrardes de que o critério supremo da verdade e da moral é o interesse do Partido Comunista, isto é, da Revolução, compreendereis como o comunista pode afirmar hoje uma coisa e negá-la amanhã, louvar hoje uma ação e condená-la depois. A razão é que no processo da Revolução as coisas e os interesses vão mudando conforme as etapas do processo.

É a aplicação da lei hegeliana da tese e da antítese. Para julgar da atitude do comunismo diante de alguma instituição, deveis considerar em que etapa se encontra o processo revolucionário em determinado país.

1. A seita comunista

No século passado, num movimento de apostasia total do Cristianismo ou do Catolicismo, grandes massas de operários, burgueses e intelectuais se uniram numa organização -mundial: a «Associação Internacional dos Trabalhadores», a chamada «Primeira Internacional» (Genebra, 1866). Tendo-se ela dissolvido por dificuldades internas, os marxistas se constituíram em partidos comunistas, e se organizaram em uma nova «Internacional», denominada de «Terceira» (1921), que nos anos seguintes passou por várias transformações. Sob outro nome ela é a cabeça de uma imensa seita comunista. É uma seita que tem sequazes fanáticos, tem organização centralizada nacional e internacional, e luta pelo poder político e pelo domínio do mundo.

2. O Partido Comunista

Durante a fase de luta pelo poder em dado país, os comunistas se organizam em partido político, a que pertence apenas a elite. Seu quadro eleitoral costuma ser dez, vinte vezes maior do que o quadro partidário. O partido é como a Hierarquia, o eleitorado é como o laicato na Igreja Católica.

3. A tese

A oposição total e a destruição do estado de coisas existente, em tudo o que lembra Deus, lei natural, Cristo e sua Igreja, civilização cristã e tradição, é a tese marxista. É o período da demolição. Para chegar à Revolução é necessário demolir, e para isto é preciso desenraizar o homem e lançá-lo violentamente contra a sociedade cristã.

A. A propriedade

O primeiro alvo da fúria comunista é a propriedade. Ela nega todo o direito de propriedade, negando a existência mesma do Direito. Mas não é só este o aspecto da propriedade que a seita abomina. Nesta fase da Revolução, o comunismo ataca toda propriedade, mesmo «de facto». Ele abomina a propriedade particular. Por quê?

Tem boas razões para abominá-la. Eis algumas:

a. A propriedade defende a liberdade do indivíduo diante da coletividade, e o comunismo quer que todo individuo esteja nas mãos do Partido, sem vontade própria, como uma rodinha de engrenagem.

b. A propriedade cria laços que prendem o homem à terra, à natureza, ao passado, a si mesmo, à família, e a Revolução quer quebrar todos estes laços.

c. A propriedade faz o homem pensar em si, em seus interesses, e a Revolução quer absorver todo o interesse do indivíduo.

d. A propriedade acaba gerando a desigualdade das classes sociais, e a Revolução excita no coração humano a paixão da inveja, que não quer que um seja mais do que o outro.

Por isto, nesta fase, a Revolução confisca toda propriedade, dizendo que tudo é de todos.

B. Igualitarismo

Para levar os proletários e muitos intelectuais e burgueses às suas fileiras, os comunistas, nesta fase de tese, pregam o igualitarismo. Apregoam: «Todos serão iguais, não haverá ricos nem pobres, não haverá classes sociais. Todos serão operários, e nada mais, e assim todos serão irmãos».

E conseguem que inúmeros burgueses se comovam até as lágrimas ante a perspectiva de uma sociedade sem propriedades. Este episódio hodierno lembra os nobres da Revolução Francesa que, entre lágrimas de alegria, renunciaram a seus privilégios feudais, para pouco depois serem decapitados pelos seus «irmãos».

Este igualitarismo, amados Filhos, não só é uma utopia, mas é uma revolta contra os planos de Deus. No entanto, as paixões que ele desencadeia são tão violentas, que são capazes de levar até católicos ao delírio, chegando tais pessoas a ajudar o comunismo a destruir a sociedade cristã para preparar o advento de uma «sociedade sem classes».

C. Proletarização

O caminho da Revolução é a destruição da propriedade privada, da iniciativa particular, e uma crescente coletivização e proletarização. Quanto mais o capitalismo mal orientado concentrar a riqueza nas mãos de uns poucos, e espalhar a miséria nas multidões, ou quanto mais o comunismo conseguir, por meio de greves, distúrbios, transtornos, empobrecer um povo, tanto mais fácil será a tarefa da Revolução de conquistar o poder. Quanto maior o número dos proprietários, pequenos, médios e grandes, quanto maior o apego à propriedade, ao passado, tanto mais difícil o caminho da Revolução. Em contra-partida, a concentração excessiva da terra em mãos de um pequeno número de proprietários, bem como o hipercapitalismo facilitam o advento da Revolução, porque já realizam a concentração da fortuna nas mãos de uns poucos. Bastará suprimir estes poucos, e estará transferida a fortuna nacional para o Partido.

D. "Reforma Agrária"

a. No mundo: Nos países onde há uma grande população agrícola o comunismo vê na «Reforma Agrária» um elemento essencial na luta pelo poder. O homem do campo, seja o grande proprietário, seja o médio ou o pequeno, é um enorme obstáculo para a Revolução. Seu senso agudo de dono da terra, seu espírito religioso, seu aferro às tradições, fazem dele um inimigo tenaz da Revolução. Mas ao lado do obstáculo, o comunismo vê as possibilidades que o campo oferece. No campo existe necessariamente o assalariado. Existe o minifundiário e o pequeno proprietário. A tática comunista da luta de classes procura lançar os assalariados contra os patrões, e os sem-terra, ou donos de pequenas glebas, contra os médios e grandes proprietários. Grita-se até cansar os pulmões: «Latifúndio! Latifúndio! Reforma agrária! Reforma agrária!» Cria-se um clima emotivo, irracional, açulam-se os assalariados, prometem-se-lhes terras e prosperidade, envolvem-se os legisladores numa gritaria nacional. Não se define o que é a tal «Reforma Agrária», não se estudam as condições que tornam indispensável a grande e media, propriedade, e numa ação revolucionaria conjunta atiram-se os lavradores contra os lavradores, e procura-se escamotear leis que sancionem o avanço sobre as terras alheias. Desta ação o comunismo obtém triplo proveito: lança à ação revolucionária a classe mais tradicional, destrói o caráter sagrado do direito de propriedade, e atira a nação no caos e na miséria. Nenhuma nação do mundo fez tal tipo de «Reforma Agrária» sem cair no comunismo ou chegar à beira do abismo. Em nenhuma nação tal «Reforma Agrária» deixou de trazer a miséria e a fome. Porém isto entra justamente nos planos da Revolução.

b. No Brasil: Também em nossa Pátria, amados Filhos, os comunistas agitam histericamente o chavão da «Reforma Agrária». Fechai-vos a esta campanha. Ela não tenciona melhorar a vossa situação; pelo contrário. Os fautores desta «Reforma Agrária», que a preconizam «na lei ou na marra», «reforma agrária ou Revolução», querem a vossa desgraça. Ouvi o que diz um dos grandes mestres do comunismo: «A reforma agrária é uma luta sistemática e selvagem contra o feudalismo... Sua meta não é dar terra aos camponeses pobres, nem aliviar a sua miséria. Isto é ideal de filantropos e não de marxistas... O verdadeiro objetivo da reforma agrária é a libertação das forças do país» (Lin-Chao-Tchi, Secretário Geral do Partido Comunista Chinês — mensagem de 14 de julho de 1950).

c. «Reforma agrária conosco, sem nós, ou contra nós»: No Brasil houve época em que a propaganda da «Reforma Agrária» foi feita obedecendo ao slogan: «reforma agrária conosco, sem nós, ou contra nós». Procurava-se alarmar os católicos e fazê-los crer que a «Reforma Agrária» viria inevitavelmente, e seria melhor que nós a fizéssemos, antes que outros a fizessem contra nós. Tratando-se da «Reforma Agrária» socialista, que é confiscatória, que fere o direito de propriedade, este slogan é mentiroso. A verdade é a seguinte: «Reforma Agrária sempre contra nós (os católicos). Resta saber se será feita conosco ou sem nós». Na dinâmica da ação marxista, a «Reforma Agrária» socialista é um passo indispensável. Mas é preciso conseguir que a Igreja se deixe enganar, e Ela mesma, pensando impedir a Revolução, coopere para a própria destruição. Ouvi, amados Filhos, com que cinismo diabólico o marxismo segue esta tática: «Devemos basear-nos no princípio férreo que ensina: esmagar o inimigo servindo-se do próprio inimigo...» (ordem secreta do Partido Comunista Chinês, de 12 de fevereiro de 1957).

Vede, amados Filhos dos campos e das cidades, a diabólica maldade com que os comunistas brandem a bandeira da «Reforma Agrária». Tencionam eles apenas o desencadear das forças revolucionarias do País. Uma vez em marcha a Revolução, todos os lavradores perderão as suas terras, tanto os grandes, como os pequenos, e todos, antigos e novos fazendeiros, antigos e novos sitiantes, antigos empregados ou arrendatários, todos serão meros escravos, se não forem fuzilados ou enforcados, como está acontecendo na desgraçada ilha de Cuba, e aconteceu na Rússia, na Hungria e na China.

E. Reformas urbana, industrial, comercial e bancária

Não só as propriedades rurais são atacadas pelo Partido Comunista e, uma vez ele no poder, são confiscadas. Todos os meios de produção e toda a propriedade imóvel e móvel deve pertencer ao Estado comunista. Reduzida à miséria, dependendo do Estado em tudo, não podendo trabalhar, viajar, comer, vestir-se, estudar, ou tratar a saúde sem a intervenção dos funcionários do Partido, a população inteira do país será escrava na mão dos mais cruéis senhores que o mundo já viu, os tiranos comunistas. Vede Cuba!

F. Religião

Não precisamos vos dizer, amados Filhos, que o maior inimigo que a Religião Católica jamais teve é o comunismo. Em comparação com estes perseguidores, os mais cruéis carrascos romanos, os mais sanguinários algozes da China antiga eram crianças furiosas. O comunismo quer a total destruição do Catolicismo. Enquanto luta para conseguir o poder, ele às vezes aplica a tática da «mão estendida». Procura atrair os católicos para, enganando-os, com seu apoio conquistar o poder. Chega a afirmar, blasfemando, que Jesus Cristo foi um revolucionário, foi comunista, e que o marxismo realiza a doutrina do Evangelho. Vistes, amados Irmãos, como ele nega a Deus, a alma, o Céu, a verdade, a moral, o direito, a Igreja, tudo enfim que constitui nossa fé. E no momento que admitisse uma ou outra destas verdades deixaria de ser comunismo marxista. Mas nem assim poderia ser aceito por um católico. Disto, porém, falaremos mais tarde. Para Lenine «toda ideia religiosa é uma abominação». «A Religião é ópio do povo».

G. Exército — Pátria

Quando está no período da tese, da conquista do poder e da demolição da sociedade cristã, o comunismo tem interesse de enfraquecer a resistência da sociedade, e de destruir os laços que ligam o homem às tradições cristãs. Ora, as Forças armadas são um grande obstáculo à Revolução, tanto por se oporem a ela pelas armas, como por criarem um respeito ao direito, à hierarquia, à moral, que é incompatível com a Revolução. Igualmente o amor da pátria suscita energias magníficas que se opõem à entrega dela à Rússia. Por isto, o comunismo leva o cidadão a desprezar seu país e ver na Rússia a sua única pátria. É isto o que explica que um de seus chefes, ex-oficial do nosso Exército, tenha declarado na Câmara dos Deputados que, em caso de guerra entre o Brasil e a Rússia, ele tomaria armas contra o Brasil.

H. Família

O comunismo destrói pela base a família. E eis a razão. Não havendo Deus, nem moral, nem direito, o contrato indissolúvel não existe. Mas, além disso, o comunismo tem dois motivos de lutar contra a família e procurar dissolvê-la pelo divórcio e pela imoralidade. A família se opõe à imoralidade. Ora, uma das paixões mais úteis à Revolução para criar homens sem raízes, sem escrúpulos, é a sensualidade desenfreada. De outro lado, a família é o foco das tradições, do amor dos pais, do culto dos antepassados, das virtudes cristãs, do amor de Deus. Pois bem, estas vantagens da família são, aos olhos do comunismo, abomináveis. Ele detesta a família, e a procura destruir pela base, abolindo a sua indissolubilidade, separando os cônjuges pelo trabalho, afastando os filhos do lar, e injetando no coração dos filhos o ódio aos pais não revolucionários.

Capítulo III

A antítese

Depois de tomar o poder, continua o comunismo sua luta implacável contra seus inimigos.

1. A ditadura do proletariado

Conquistado o poder, o Exército revolucionário destrói pela violência toda resistência que não pode ser vencida pela astucia. Em nome do proletariado organiza-se um partido único, comunista, que esmaga ou absorve todos os demais partidos. Confiscam-se todas as propriedades, todos os meios de produção, transporte, crédito. Abole-se a iniciativa particular, a liberdade de imprensa e de locomoção, a justiça é transformada em arma de opressão revolucionária. Usando habilmente de duas armas, astucia e violência, o Partido constrói o Estado totalitário. A ditadura do proletariado, amados Filhos, é um eufemismo que esconde a tremenda realidade. Não são os proletários que governam livremente.

Uma quadrilha de malfeitores — o Partido Comunista — domina toda a máquina do Estado, dizendo-se representante e porta-voz do proletariado. Os operários, porém, são escravos. Não tem direito algum. São obrigados a trabalhar exageradamente, recebem um salário miserável, não podem escolher o local de trabalho, moram em condições precaríssimas, não podem reclamar. O perigo de serem denunciados e sumariamente fuzilados ou deportados paira continuamente sobre eles.

2. A nova classe

Em oposição ao proletariado e a todos os remanescentes das antigas classes da sociedade, os membros do Partido, que são funcionários, policiais, técnicos ou militares, gozam do maior conforto e de uma riqueza nababesca. Têm ótimas casas, ordenados astronômicos, casas de campo, vilas à beira-mar, com todo o luxo e conforto. São a Nova Classe, baseada no crime e na violência. São a quadrilha dos bandidos que mandam. O resto da nação tem de sujeitar-se ao seu domínio, sob pena de morte. Mas, analisando-se o que se passa nesta classe aparentemente tão poderosa, vê-se que ela mesma nada é. Seus membros vivem sujeitos continuamente à incerteza do dia de amanhã. Uma luta de grupos internos, um expurgo pode a todo momento precipitar a qualquer deles no abismo do maior infortúnio, na prisão e até na morte. Não é difícil vislumbrar por detrás desta confusão a onipotência despótica de um poder invisível e supremo, perante o qual valem tão pouco como qualquer mujique os gigantes de ontem, um Stalin, um Beria, um Malenkov, um Molotov, exatamente como um Kruchev.

3. Polícia

Um serviço imenso de polícia ostensiva e secreta domina toda a nação. A espionagem penetra as fábricas, os escritórios, os lares, os campos, e o indivíduo e a família podem, a cada momento, ser colhidos nas malhas desta máquina infernal.

4. "Abundavit iniquitas"

Nosso Senhor emprega no Evangelho (Mat. 24, 12) relativamente aos últimos tempos esta expressão. Podemos aplicá-la em uma medida sem precedentes na História ao poderio técnico, militar, científico e político que a «ditadura do proletariado» realizou no mundo em quarenta anos de tirania e de sangue. É difícil dar o balanço exato do número de pessoas que o comunismo assassinou. A ele não interessa saber sobre quantos cadáveres passou o carro da Revolução. Os homens são reses. Que interessa saber quantas reses morrem no mundo? Mas a nós, amados Filhos, interessa saber, ainda que aproximadamente, o número de irmãos nossos, pela fé ou pela natureza, que a Besta vermelha matou. Na Rússia foram assassinados ou mortos de fome mais de vinte milhões de cristãos, no período de conquista do poder. No período de destruição da resistência, calcula-se que Stalin matou cerca de dezesseis milhões de cristãos nos campos de concentração e nos trabalhos forçados. Dizem muitos conhecedores que foram realmente 46 milhões os cristãos assim assassinados. No momento devem estar gemendo nos trabalhos forçados mais de doze milhões de cristãos na Rússia. Os comunistas chineses fuzilaram talvez quinze milhões de homens, ao tomarem o poder. Hoje, na China, os escravos que trabalham nas obras públicas chegam a quarenta ou cinquenta milhões. Quando conquistaram o poder na Espanha, os comunistas lá estabeleceram o «Governo Republicano». Pois bem, amados Filhos, aqueles sequazes de Satanás martirizaram e assassinaram onze Bispos, 16.852 Sacerdotes e Religiosos, e muitos milhares de pais de família católicos. O poderio dos países comunistas é realmente «abundantia iniquitatis».

5. Reconstrução do mundo depois da destruição da cristandade — caminho inverso

Uma vez completamente senhora da situação, quebradas todas as resistências, a seita comunista se dedica a fortificar-se, fortificando o país dominado. É este o período da antítese, em que se encontram a Rússia e a China.

Então vemos, amados Filhos, como certas instituições que antes eram combatidas voltam a ser prestigiadas, mas em bases completamente arbitrarias.

A. Forças armadas

As Forças armadas passam a ser glorificadas, os militares são proclamados heróis. O Estado comunista precisa ser forte, e para isto precisa de tropas numerosas, disciplinadas. A autoridade dentro do Exército, antes combatida, é restaurada. Uma disciplina de ferro caracteriza as Forças armadas comunistas. A hierarquia militar é reconstituída, são restabelecidos os graus e as condecorações, a separação entre oficiais e soldados e o acatamento às patentes militares voltam a existir. Mas o fundamento não é o mesmo que na sociedade católica. Na sociedade católica a missão das Forças armadas e a autoridade da hierarquia militar vêm de Deus. Na seita comunista, tanto a função como a autoridade têm sua origem na necessidade e utilidade da Revolução.

B. Religião a serviço da Revolução - A técnica: matar pela colaboração

No período de consolidação do poder comunista a luta contra a Religião Católica tem um andamento bem estabelecido.

No período revolucionário de conquista do governo, a seita comunista procura o apoio dos católicos para lograr seu objetivo. Uma vez instalada no poder, procura primeiro estabelecer seu regime coletivista, dominando toda a vida econômica da nação. Nesta luta, o comunismo normalmente liquida a Hierarquia, expulsando os Bispos e Sacerdotes estrangeiros, e encarcerando os nacionais. Mas, às vezes, não tem força para encarcerar todo o Clero, como é o caso da Polônia. Então procura liquidar os lideres leigos em que o Clero se apoia. Destrói as Ordens Religiosas, priva a Igreja da imprensa, e aniquila seus meios econômicos de ação. Mas, se as condições o permitem, a seita comunista, em geral, liquida toda a Hierarquia católica, e os Padres mais influentes. Depois começa a conquista do povo. Obriga o Clero e o povo a tomarem parte nos movimentos «patrióticos», sociais, políticos, e, se encontra líderes que resistam, liquida-os sob a acusação de antipatriotas. Privados dos Sacerdotes mais firmes e dos líderes leigos, o povo e o Clero menos capaz são obrigados a participar das atividades do Partido, que devem ser intensas. Em nome do patriotismo levam-se os católicos e seus Padres a proclamar os supremos direitos da pátria. Daí passa-se a considerar o Vaticano como potência estrangeira e aliada ao imperialismo norte-americano e europeu. Em nome da pátria, quando razões demagógicas o pedem, rompe-se com o Vaticano. Proclama-se a igreja nacional. E a apostasia se consuma quando a seita consegue que Sacerdotes católicos abracem o comunismo e sejam em seguida sagrados bispos da igreja nacional. Foi este o caminho seguido na China e é o caminho preconizado para Cuba agora. A igreja separada russa se encontra nas mãos dos soviets.

Ouvi, amados Filhos, como a seita comunista pretende aniquilar na Rússia, com a colaboração da igreja local, qualquer vestígio de religião. Aparentemente a seita tolera a religião. Na realidade, ela está empenhada em aproveitar desta aparente tolerância para conseguir destruí-la totalmente.

Vede o que diz Nikita Kruchev a respeito da conduta que os comunistas devem manter para com os russos que ainda são cristãos: «O Partido tem exigido sempre (o que não é verdade), e exigirá daqui por diante, uma atitude compreensiva para com tais cidadãos. É tanto mais estúpido e nocivo abrigar suspeitas políticas sobre tais cidadãos soviéticos por causa de suas convicções religiosas, quanto é certo que uma propaganda cientifica e ateia a fundo, com a devida paciência, conduzida com circunspecção entre os crentes, os ajudaria a se livrarem de seus extravios religiosos. Pelo contrário, toda classe de medidas administrativas e de ataques ultrajantes contra o clero e os crentes somente poderá causar prejuízo e levá-los à consolidação e aumento dos seus preconceitos religiosos» (decreto de 10 de novembro de 1954).

Assim, pois, passada a luta sangrenta de destruição dos líderes que se opunham ao Partido, a seita procura «lavar o cérebro» dos católicos e dos cristãos, e desse modo levá-los à apostasia do total esquecimento de Deus. E Galderine dá a norma a seguir: «O Partido não deve apresentar-se ante a juventude cristã com proposições de luta anti-religiosa. Seria um erro psicológico. Mas é fácil arrastá-la por qualquer coisa, pela conquista do pão quotidiano, pela liberdade, pela paz, pela sociedade ideal... Na medida em que atrairmos os jovens cristãos a esta luta por objetivos precisos, arrancá-los-emos da Igreja».

Tanto no período da tese, quando procura conquistar o poder, como no período da antítese, o comunismo destrói a fé não tanto pela argumentação teórica, como antes pela ação materialista conjunta. De maneira que ele não deseja nada mais ardentemente do que ver os católicos, principalmente os jovens, colaborarem com ele, em campos aparentemente neutros. O resultado é sempre o mesmo: a apostasia lenta mas real dos católicos. Podemos estabelecer o princípio: «colaborou? apostatou!»

Os comunistas sabem muito bem que o melhor meio para destruir a fé de um cristão é envolvê-lo em seus movimentos e bombardeá-lo com afirmações cuidadosamente dosadas. A Instrução secreta de 12 de fevereiro de 1957, dada aos comunistas chineses relativamente à luta contra o Cristianismo, diz: «Todo camarada que ocupa um posto de comando deve ter compreendido que a Igreja Católica, a serviço do imperialismo, deve ser destruída desde a cúpula até o alicerce. Quanto ao protestantismo (chinês), que comete o erro de seguir uma política de coexistência, é necessário impedi-lo de fazer novas conquistas; mas, entrementes, podemos deixá-lo morrer de morte natural».

A técnica mais segura de combate à Religião é esvaziar o homem de todo sentimento, de toda preocupação religiosa. Isto leva a Religião à morte total.

A razão profunda é a seguinte: «Não tem nenhum sentido alguém dizer que colabora ou se alia à ação marxista rejeitando ao mesmo tempo a doutrina marxista. Uma vez que o marxismo se identifica com a ação marxista, colaborar ou se aliar à ação marxista é colaborar ou se aliar ao próprio marxismo» (Jean Daujat, «Connaitre le Communisme», p. 25).

«Os asseclas de Marx jamais trabalham senão para favorecer a sua causa. Se há um movimento totalitário no mundo no qual não se desperdiça força alguma, no qual tudo, absolutamente tudo, é calculado em função do fim colimado, é o dos comunistas. Assim, onde quer que haja ação destes, há aí um interesse do comunismo, e é infantil pretender desviar-lhes a atividade, uma vez que o comunista, enquanto permanece tal, não abandona seu ponto de mira, habitualmente não se engana nos seus cálculos. Não por outro motivo condenou Pio XI qualquer colaboração com os marxistas» (D. Antonio de Castro Mayer, Bispo de Campos, «Carta Pastoral prevenindo os diocesanos contra os ardis da seita comunista», Edit. Vera Cruz, 2ª edição, p. 8, — cuja leitura e estudo recomendamos vivamente a Nossos Sacerdotes e fiéis).

C. A pátria

Em seu período de tese, o comunismo combate todo sentimento de pátria. Com todos os meios procura enfraquecer o patriotismo das classes armadas e do povo que pretende conquistar e subjugar.

Mas, uma vez consolidada a sua posição no governo de um país, como é o caso da Rússia e da China — isto é, no período da antítese — havendo necessidade de entusiasmar o povo para a guerra ou para grandes empreendimentos que requerem grandes sacrifícios, o Partido Comunista prega o mais acendrado patriotismo, e apela para todos os motivos que antes condenava como «burgueses», para excitar o amor da pátria. Vemo-lo então enaltecer os heróis do passado, exaltar capítulos gloriosos do «famigerado período capitalista», descobrir ou inventar gênios nacionais, que acabam tendo sido autores das mais sensacionais descobertas cientificas. Cria-se uma imensa onda irracional de amor à «grande pátria socialista». Por quê? Porque é do interesse da Revolução que assim seja.

Mas, se amanhã for interesse desta mesma Revolução que este patriotismo desapareça, os mesmos cidadãos que hoje enaltecem a pátria combaterão amanhã o patriotismo como um fenômeno «burguês e divisionista», oposto ao autêntico tipo revolucionário.

D. A família

Coisa análoga acontece com a família. Quando a família era fundada sobre a Religião ou ao menos sobre o direito natural, representava um entrave para a marcha da Revolução. O Partido resolveu demoli-la. Neste estagio encontramo-nos no Brasil e nos países ocidentais. Mas os comunistas sabem que para um povo ser forte, precisa de famílias numerosas e sadias. Por isto pode acontecer que o supremo interesse da Revolução indique como necessária uma política de volta ao tipo de família tradicional, naturalmente sem o cunho de sociedade baseada no direito natural ou divino. Assistimos assim hoje a dois espetáculos. Na China o comunismo está demolindo a vida de família, obrigando os cônjuges a longas separações, a trabalhar em locais distantes um do outro. Mas na Rússia passou o período dos divórcios por qualquer motivo, das uniões passageiras. O interesse da Revolução exige o fortalecimento do país, e por isto se protege a união estável dos casais, e se combate a imoralidade pública.

E. A propriedade

Até a propriedade, que durante o período da tese foi execrada pelo comunismo, pode passar a ser tolerada, por razões de estratégia revolucionaria, no período da antítese.

Estamos assistindo a um espetáculo que poderia desnortear-vos, amados Filhos, relativamente à permanência da teoria comunista da coletivização dos bens de produção, enfim do comunismo. Lemos nos jornais que na Rússia foram permitidas as pequenas propriedades dentro das fazendas coletivas, e que até o maquinário passou à propriedade dos grupos de camponeses. Qual a razão? É a seguinte: vendo o fracasso catastrófico da agricultura coletivizada, e necessitando de aumentar a produção de alimentos, o Partido não trepidou em permitir a pequena propriedade no campo. Mas não reconhece o direito de propriedade do camponês, e vê apenas a conveniência da Revolução. No dia em que o Partido julgar que não convém mais tolerar ou permitir tais propriedades, ele as tomará sem a menor contemplação. Não por razões morais, mas simplesmente por razões táticas ou estratégicas, e no interesse da Revolução, permite-se a propriedade «de facto», mas nunca «de jure».

F. Conclusão

Da leitura de notícias da Rússia que falam da existência de uma igreja separada que chamam de «ortodoxa», da existência de granjas particulares, ou eventualmente de pequenas oficinas particulares, da luta contra o divórcio, a imoralidade ou as danças modernas, não deveis concluir, amados Filhos, que o comunismo abrandou seus rigores, ou mudou de doutrina. Todas estas aparentes contradições são realmente a execução de um plano revolucionário implacavelmente realizado, e que tem por fim imutável e indiscutível a criação de uma imensa ditadura mundial, totalitária, anticatólica, contra Deus e a ordem por Ele estabelecida, e que pretende o esmagamento completo da Igreja Católica e a destruição total da Cristandade. 

Capítulo IV

Socialismo: cavalo de Tróia a serviço do comunismo

1. Socialismo e comunismo

O socialismo ensina a mesma doutrina marxista que o comunismo. Tem o mesmo objetivo, a Revolução, e quer a mesma organização econômica da sociedade. É materialista, rejeita a Religião, a moral, o direito, Deus, a Igreja, os direitos da família, do indivíduo. Quer que todos os meios de produção estejam nas mãos do Estado, e igualmente toda a educação, todos os transportes, as finanças, e que o Estado seja o soberano senhor de todas as forças da nação. Deseja a supressão da diferença entre as classes sociais. Também para o socialismo, a pessoa existe para o Estado, não o Estado para a pessoa (cf. Leão XIII, Encíclica «Rerum Novarum», Edit. Vozes, pp. 5 e 6).

A diferença que há entre os socialistas e os comunistas é uma diferença de método. Os comunistas desejam a implantação imediata da ditadura do proletariado para realizar a Revolução. Os socialistas recorrem a meios «legais» para obter o mesmo objetivo. Recorrem às eleições, às greves legais, às agitações sem derramamento de sangue, para conseguir leis de nacionalização, de ensino laico. Vão fazendo a nação deslizar para o comunismo, em geral sem convulsões violentas. O socialismo é uma rampa pela qual as nações vão resvalando para o comunismo quase sem perceberem.

2. Socialismo e seus matizes

A vantagem tática do socialismo, para os que dirigem a seita comunista, é que o socialismo pode tomar coloridos mais suaves. O comunismo é vermelho-sangue. O socialismo pode ir do rubro ao cor-de-rosa. O comunismo tem dificuldade de se fazer passar por cristão. O socialismo arranja modos de se dizer cristão, e assim realizar a Revolução paulatinamente e por etapas.

3. Socialismo cristão

Os fautores da Revolução realizaram esta proeza de enfeitarem o socialismo com o rótulo de cristão. Com um semblante comovido tais socialistas cristãos condenam o capitalismo como intrinsecamente mau, pior do que o comunismo. E com comoção dizem que no comunismo há muita coisa boa. Seu ódio à América do Norte é violento. Suas simpatias pela Rússia são difíceis de esconder. Consideram o capital uma abominação quando nas mãos daquele que o amealhou com seu suor, mas o acham admirável quando nas mãos do Estado. Têm uma confiança cega no Estado, e uma desconfiança irremediável da iniciativa particular. Têm antipatia à ordem desigual e hierárquica de uma sociedade de classes, e têm prazer de se proletarizar. Mas confessam-se e comungam, e se dizem católicos progressistas.

É possível um socialismo cristão? Sua Santidade o Papa Pio XI já respondeu a esta questão na Encíclica «Quadragesimo Anno»: «Se este erro, como todos os mais, encerra algo de verdade, o que os Sumos Pontífices nunca negaram, funda-se contudo numa concepção da sociedade humana diametralmente oposta à verdadeira doutrina católica. Socialismo religioso, socialismo católico são termos contraditórios: ninguém pode ser ao mesmo tempo bom católico e verdadeiro socialista» (Edit. Vozes, p. 44, n° 119). E se o socialismo for muito moderado? Mesmo neste caso continua incompatível com o Catolicismo. Pio XI é explicito também neste ponto. Ouçamo-lo: «E se o socialismo estiver tão moderado no tocante à luta de classes e à propriedade particular, que não mereça nisto a mínima censura? Terá por isto renunciado à sua natureza essencialmente anticristã? Eis uma dúvida que a muitos traz suspensos. Muitíssimos católicos, convencidos de que os princípios cristãos não podem abandonar-se nem jamais obliterar-se, volvem os olhos para esta Santa Sé e suplicam instantemente que definamos se este socialismo repudiou de tal maneira as suas falsas doutrinas, que já se possa abraçar e quase batizar, sem prejuízo de nenhum princípio cristão. Para lhes respondermos, como pede a Nossa paterna solicitude, declaramos: o socialismo, quer se considere como doutrina, quer como fato histórico, ou como «ação», se é verdadeiro socialismo, mesmo depois de se aproximar da verdade e da justiça nos pontos sobreditos, não pode conciliar-se com a doutrina católica, pois concebe a sociedade de um modo completamente avesso à verdade cristã» (Encíclica «Quadragesimo Anno», Edit. Vozes, p. 43, n.° 117).

Realmente, Deus estabeleceu uma ordem natural, que não é licito ao homem violar, a esta ordem pertencem dois pontos que todo socialismo viola. São os seguintes:

a) O papel subsidiário do Estado. O Estado não existe para absorver ou substituir os indivíduos, as famílias e as associações, mas para realizar as tarefas que estes elementos não podem realizar por si mesmos. Assim João XXIII, na Encíclica «Mater et Magistra»: «Essa ação do Estado, que protege, estimula, coordena, supre e complementa, apoia-se no «princípio de subsidiariedade» (A. A. S., XXIII, 1931, p. 203), assim formulado por Pio XI na Encíclica «Quadragesimo Anno»: «Permanece, contudo, firme e constante na filosofia social aquele importantíssimo princípio que é inamovível e imutável: assim como não é licito subtrair aos indivíduos o que eles podem realizar com as próprias forças e indústria para confiá-lo à coletividade, do mesmo modo passar para uma sociedade maior e mais elevada o que sociedades menores e inferiores poderiam conseguir, é uma injustiça ao mesmo tempo que um grave dano e perturbação da boa ordem. O fim natural da sociedade e de sua ação é coadjuvar os seus membros e não destruí-los nem absorvê-los» (ibid., p. 203)» (apud «Catolicismo», n° 129, de setembro de 1961).

b) O indivíduo, as famílias, as associações têm direito de possuir bens de raiz, bens moveis e bens produtivos. O Estado não pode açambarcar estes bens para si.

Os homens têm o direito e o dever de proverem às suas necessidades, e o Estado não pode se arvorar em Providência e suprimir este direito ou substituir-se a este dever.

Por isto tudo, o socialismo é condenado pelo direito natural, e não pode haver socialismo cristão.

4. A Igreja primitiva foi comunista? As ordens religiosas são comunistas?

Amados Filhos, provavelmente já tereis ouvido ou lido afirmarem que a Igreja primitiva foi comunista e que as atuais Ordens Religiosas o são.

Depois do que dissemos a respeito do marxismo, compreendereis que somente um ignorante ou uma pessoa de má fé pode afirmar uma monstruosidade tal.

Mas, mesmo se abstrairmos do marxismo, nem a Igreja primitiva praticou, nem as Ordens Religiosas praticam o comunismo. Vede bem que o essencial do comunismo é a negação do direito de propriedade.

Ora, examinemos sob este aspecto a Igreja primitiva. Levadas da vontade de seguir de perto o exemplo do Divino Mestre e realizar os conselhos evangélicos, várias famílias cristãs de Jerusalém resolveram viver no voto de pobreza. Para isto venderam tudo o que tinham e entregaram o dinheiro aos Apóstolos para que com ele fosse mantida a comunidade. Notai bem: os indivíduos desta comunidade renunciavam a seus bens porque queriam. Quem não quisesse viver na pobreza, não precisava. Assim disse São Pedro a Ananias: «Conservando o campo, ele não ficava teu? e vendendo-o, não dependia de ti o que farias com o dinheiro?» (At. 5, 4).

A Igreja permitia que os que quisessem viver sem possuir nada pessoalmente, o fizessem. Mas, de um lado, isto era livre; de outro, o imóvel ou o dinheiro apurado passava a ser propriedade da comunidade. Ficava pois de pé o direito de propriedade da comunidade; não era negado nem transferido ao Estado.

Para desiludir os comunistas utópicos, devemos dizer que a primeira tentativa de realizar o ideal da pobreza não foi bem sucedida. Consumidos os capitais apurados na venda dos imóveis, criou-se em Jerusalém uma situação difícil, e foi preciso as outras comunidades cristãs enviarem periodicamente esmolas para Jerusalém à fim de sustentarem os irmãos que tinham renunciado a seus bens. Verificou-se que o voto de pobreza só é possível junto do voto de castidade, e que o estado de pobreza evangélica não é possível quando há família, mulher e filhos. Para pessoas casadas o caminho da santidade está no trabalho e na reta administração das riquezas temporais. Mais tarde a Igreja retomou a experiência, primeiro com indivíduos isolados, os anacoretas, depois com pequenas comunidades de eremitas, os cenobitas; só depois que raiou a liberdade para o Cristianismo é que dois grandes Santos organizaram a vida de pobreza evangélica aliada à obediência e à castidade: no Oriente, São Basílio; no Ocidente, São Bento. Mas, se o monge renuncia a toda propriedade pessoal, o mosteiro passa a ser o proprietário. Verifica-se o que se dá muitas vezes na família: se os indivíduos não são donos, a família é a proprietária.

Vejamos agora o valor que tem a afirmação de que as Ordens Religiosas são comunistas ou socialistas.

Ninguém afirmará que as doutrinas filosóficas, sociologias, teológicas do comunismo se encontram realizadas nas Ordens Religiosas. Tal afirmação é tão absurda, que ninguém a tomaria a sério. Restaria então o tipo de vida econômica das Ordens Religiosas. Perguntamos: o tipo de vida econômica que o comunismo pretende implantar é aquele que as Ordens Religiosas realizam há tantos séculos? Para respondermos com clareza a este absurdo, que no entanto se repete com enfadonha monotonia, vamos analisar um pouco mais de perto o tipo de vida econômica das Ordens Mendicantes. É sabido que são elas que realizam o ideal de pobreza evangélica mais absoluto entre as comunidades religiosas. Verificado que nelas não há sombra do tipo econômico comunista, fica provado que as outras Ordens e Congregações, em que o tipo de pobreza é mais suave, a fortiori não podem ser tachadas de comunistas.

Nas Ordens Mendicantes mais rigorosas, não só os Religiosos individualmente nada possuem de próprio, mas nem mesmo a Ordem, as Províncias ou conventos são os titulares das propriedades. Em lugar deles a Santa Sé ou a Diocese são os proprietários formais. A administração dos bens destinados à Ordem, à Província ou ao convento é realizada por pessoas nomeadas pela Santa Sé ou pela Diocese. Mas, se a propriedade não é nominalmente da Ordem, etc., os frutos do patrimônio que existir, ou as esmolas dadas pelos fiéis, se aplicam formalmente à manutenção daquele convento e daquela comunidade para que são destinados. Assim, os Religiosos não têm os ônus da propriedade e de sua administração, caridosamente suportados pela Autoridade Eclesiástica, mas têm as rendas necessárias para se manterem. É a realização da pobreza de Cristo e da fé na Providência. É o «nihil habentes, et omnia possidentes» de São Paulo (2 Cor. 6, 10). Assim, as Ordens Mendicantes são a mais formal refutação do comunismo. Porque:

a) A renúncia às propriedades é uma afirmação clara da existência do direito de propriedade, pois ninguém renuncia seriamente ao que não existe.

b) Cada comunidade e cada Religioso tem o direito de viver dos frutos do patrimônio e das esmolas que tocam ao convento, e que são administrados pela Autoridade Eclesiástica em favor da comunidade, e não arbitrariamente.

c) O Religioso renuncia ao direito de propriedade voluntariamente. O comunismo nega este direito e confisca as propriedades violentamente.

d) O Religioso abraça a pobreza voluntaria para melhor seguir a Nosso Senhor Jesus Cristo e santificar melhor sua alma na esperança da vida eterna. O comunismo diz que destrói a propriedade particular para proporcionar a todos os homens a maior soma de prazeres nesta terra, uma vez que não existe a vida eterna.

e) Na realidade, a pobreza voluntaria dos Religiosos os leva a maior liberdade no serviço de Deus. O comunismo, prometendo a maior soma de prazeres, realmente tem por fim escravizar os homens, e depois, por meio da fome, obrigá-los à total apostasia de Deus.

f) A pobreza voluntaria das Ordens Religiosas serve a Deus. O comunismo serve a Satanás.

Concluindo, devemos pois dizer que a afirmação de que as Ordens Religiosas realizam o tipo econômico do comunismo é uma verdadeira blasfêmia.

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