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Capítulo V

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Não é raro que pais de cooperadores da TFP não compreendam a castidade, nem o celibato praticado por seus filhos. Parece-lhes estranha essa conduta, dissonante dos hábitos da avassaladora maioria dos jovens, e temem que a castidade seja causa – ou, conforme o caso, efeito – de alguma deformação física ou psíquica deles. Tendo em vista elucidar a tal respeito esses pais, publica-se aqui uma breve seleção de fichas sem a preocupação de ser um desenvolvimento exaustivo dos diferentes aspectos da doutrina católica sobre questões morais de fundo religioso.

 Os ensinamentos abaixo contidos são muito abundantes em todos os períodos da vida da Igreja. Há quem pretenda que, depois do Concílio Vaticano II, caíram em desuso. Esta breve seleção de fichas servirá também para desmentir esta versão.

 * * *

65. "O Evangelho nos mostra um Cristo muito exigente, que chama a uma conversão radical do coração"

 Na recente viagem que João Paulo II fez à Holanda, durante o encontro, em Amstersfoort, no dia 14 de maio de 1985, que teve com jovens que lhe fizeram várias perguntas relativas à conduta moral, Sua Santidade afirmou:

 "Vocês me fazem saber que vêem a Igreja como um instituto que nada mais faz do que promulgar regras e diretrizes. Vocês pensam que Ela levanta barreiras em demasia, especialmente no terreno da sexualidade, da estrutura da Igreja, do lugar da mulher na Igreja. E vocês chegam à conclusão de que uma fenda profunda se abre entre a alegria da Mensagem de Cristo e a pressão que o rigor da Igreja exerce sobre vocês.

 "Caros amigos e amigas, permitam-me que lhes fale com franqueza. Eu sei que vocês estão inteiramente de boa-fé. Mas estão vocês assim tão seguros de que a imagem que fazem de Cristo corresponde inteiramente à realidade? Pois o Evangelho nos mostra um Cristo muito exigente, que chama a uma conversão radical do coração (Mc. I, 5), ao desapego dos bens terrenos (Mt. VI, 19-21), ao perdão àqueles que nos fizeram mal (Mt. VI, 14 ss.), ao amor aos inimigos (Mt. V, 44), a suportar pacientemente a injustiça (Mt. V, 39), e até ao oferecimento da própria vida por amor ao próximo (Jo. XV, 13). No campo da sexualidade, encontramos sobretudo sua enérgica tomada de posição em favor da indissolubilidade do matrimônio (Mt. XIX, 3-9) e a condenação que Ele pronunciou contra o adultério, ainda que só cometido no coração (Mt. V, 27 ss.). E seria possível não nos impressionarmos com o preceito "arranque seu olho' e "corte sua mão' se estas partes do corpo derem "escândalo'? (Mt. V, 29).

 "Com esses dados do Evangelho diante dos olhos, seria revelar realismo representar um Cristo indulgente no campo do amor conjugal, com relação ao aborto, a relações sexuais antes ou fora do casamento, ou a relações homossexuais?

 "A primeira comunidade cristã, que foi instruída por aqueles que conheceram o próprio Cristo, seguramente não foi permissiva. Sobre isto, basta-me referir aos numerosos textos das cartas de Paulo que tratam desses temas (Rom. I, 26; I Cor. VI, 9; Gal. V, 19, etc).

 "As palavras do Apóstolo são claras e severas. E são palavras inspiradas por Deus. Elas continuam a ser normas para a Igreja em todos os tempos. A permissividade não faz o homem feliz, e nem a sociedade de consumo. O homem só se realiza verdadeiramente quando sabe aceitar as exigências que lhe são impostas pela dignidade que advém do fato de ser criado "à imagem e semelhança de Deus' (Gen. I, 27).

 "Se a Igreja diz coisas que não agradam, Ela o faz porque se sente obrigada a isto. Ela o faz por lealdade. De fato, seria muito mais fácil ficar em generalidades. Mas às vezes Ela deve, em conformidade com o Evangelho, insistir em altos ideais, ainda que vão contra opiniões correntes" (Bolletino, Sala Stampa della Santa Sede, Pontificia Commissione per le comunicazioni sociali, Città del Vaticano, n. 208, 14-5-1985, pp. 5-6). 

66. A experiência sexual pré-matrimonial opõe-se à doutrina cristã...

 A Declaração sobre alguns pontos de Ética Sexual, da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, de 29 de dezembro de 1975, mostra a contradição com a doutrina católica das teorias sobre as relações sexuais pré-matrimoniais: 

"São numerosos aqueles que em nossos dias reivindicam o direito à união sexual antes do matrimônio, pelo menos naqueles casos em que uma intenção firme de o contrair e uma afeição de algum modo já conjugal existente na psicologia de ambas as pessoas demandam esse complemento que elas reputam conatural; isso, principalmente, quando a celebração do matrimônio se acha impedida pelas circunstâncias e essa relação íntima se afigura necessária para que o amor seja conservado.

"Uma tal opinião opõe-se à doutrina cristã, segundo a qual é no contexto do matrimônio que se deve situar todo o ato genital do homem. Com efeito, seja qual for o grau de firmeza de propósitos daqueles que se entregam a estas relações prematuras, permanece o fato de tais relações não permitirem garantir na sua sinceridade e na sua fidelidade a relação interpessoal de um homem e de uma mulher, e principalmente o fato de os não protegerem contra as veleidades e caprichos das paixões.

"Na verdade, é uma união estável aquela que Jesus quis e da qual ele restabeleceu as primigênias exigências, tendo como ponto de partida as diferenças sexuais: "Não lestes que o Criador, desde o princípio, os fez homem e mulher, e disse: – Por isso deixa o homem pai e mãe e une-se com a sua mulher e os dois formam uma só carne? – Portanto, já não são dois, mas uma só carne. Não separe, pois, o homem o que Deus uniu' (Mt. XIX, 4-6).

"São Paulo é ainda mais explícito, quando se detém a explicar que, se os celibatários e as viúvas não podem viver em continência, eles não têm outra alternativa senão optar pela união estável do matrimônio: "É melhor casar-se do que abrasar-se' (I Cor. VII, 9). Pelo matrimônio, de fato, o amor dos esposos é assumido naquele amor com que Cristo ama irrevogavelmente a Igreja (Eph. V, 25-32), ao passo que a união corporal na imoralidade profana o templo do Espírito Santo que o cristão se tornou (*). A união carnal, por conseguinte, não é legítima se entre o homem e a mulher não se tiver instaurado, primeiro e de maneira definitiva, uma comunidade de vida.

(*) A união sexual fora do matrimônio é formalmente condenada: I Cor. V, 1; VI, 9; VII, 2; X, 8; Eph. V, 5; I Tim. I, 10; Hbr. XIII, 4; e, com razões explícitas: I Cor. VI, 12-20. 

"Foi isto o que a Igreja sempre entendeu e ensinou (Cf.: Inocêncio IV, Ep. Sub catholicae professione, de 6 de março de 1254: DS 835; Pio II, Propos. damn. in Ep. Cum sicut accepimus, de 14 de novembro de 1459: DS 1367; Decretos do Santo Ofício, de 24 de setembro de 1665: DS 2045; de 2 de março de 1679: DS 2148; Pio XI, Enc. Casti Connubii: AAS 22, 1930, pp. 558-559) encontrando também na reflexão ponderada dos homens e nas lições da história uma concordância profunda com a sua doutrina.

"Como ensina a experiência, para que a união sexual possa corresponder verdadeiramente às exigências da sua finalidade própria e da dignidade humana, o amor tem de contar com uma salvaguarda na estabilidade do matrimônio. Tais exigências demandam um contrato conjugal sancionado e garantido pela sociedade, contrato este que instaura um estado de vida de capital importância tanto para a união exclusiva do homem e da mulher quanto para o bem da sua família e da comunidade humana. O mais das vezes, efetivamente, as relações pré-matrimoniais excluem a perspectiva da prole; o que se pretende fazer passar como um amor conjugal não poderá assim – ao passo que o deveria absolutamente – vir a desenvolver-se num amor paterno e materno. Ou então se o faz, isso será certamente com detrimento dos filhos que se verão privados de um ambiente estável, em que eles deveriam criar-se e desenvolver-se como convém e poder encontrar a via e os meios para a própria inserção na sociedade.

"O consenso que se dão mutuamente as pessoas que desejam unir-se em matrimônio, portanto, deve ser manifestado exteriormente e de uma forma que o torne válido perante a sociedade. E quanto aos fiéis, é segundo as leis da Igreja que deve ser expresso o seu consentimento para a instauração de uma comunidade de vida conjugal, consentimento que fará do seu matrimônio um Sacramento de Cristo" (Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, Declaração sobre alguns pontos de Ética Sexual, Vozes, Petrópolis, 1976, 2ª. ed., pp. 8 a 10). 

67. ...e é fonte de graves consequências para a saúde

O Professor Carlo Rizzo, livre-docente de Clínica de enfermidades nervosas e mentais na Universidade de Roma, escreve:

"A iniciação sexual pré-matrimonial não encontra nenhuma justificação moral. Sua condenação, também do ponto de vista estritamente médico, provém da consideração de que a iniciação sexual, na prática, é frequentemente fonte de enfermidades venéreas, com graves consequências para a saúde individual e a da prole, assim como de vida dissoluta, de abortos, de infanticídios e de outros gravíssimos delitos.

"A medicina, por esta mesma razão, não pode deixar de se associar à Igreja, a qual sempre insistiu, e em especial através da augusta palavra dos últimos Sumos Pontífices, sobre o valor ético-religioso e a conveniência inclusive higiênico-biológica da castidade pré-matrimonial (AAS 22, 1930, 558 ss.; Discorso alle ostetriche, 29-10-1951: AAS 43, 1951, 835 ss.). Saibam os jovens e as jovens que o chegar às núpcias puros de corpo e de coração não só é uma nobre expressão de elevada consciência moral e de virtude cristã, como também a melhor garantia para uma vida matrimonial feliz e para uma prole sã, posto que a castidade é o verdadeiro fundamento eugênico pré-matrimonial" (Prof. CARLO RIZZO, in Dizionario di Teologia Morale, Ed. Studium, Roma, 1968, 4ª. ed., revista à luz do Concílio ecumênico Vaticano II, p. 827 / Imprimatur: Sac. Marius Iacovelli, Vic. Gen., Tibure, 25-2-1968). 

68. A concupiscência, "pela veemência de suas paixões, pode produzir notáveis distúrbios"

O Dizionario di Teologia Morale, publicado sob a direção do Cardeal Francesco Roberti, com a colaboração do então Arcebispo (hoje Cardeal) Mons. Pietro Palazzini, assim discorre sobre a castidade:

"A castidade, parte subjetiva da virtude da temperança, é a virtude moral que leva o homem a moderar o uso e o apetite da deleitação venérea segundo as normas da reta razão. A esta norma natural, que regula o uso da faculdade procreativa dentro dos limites de seu fim, se acrescenta na fé cristã a consideração da dignidade do corpo humano que pelo batismo foi elevado a membro de Cristo e templo do Espírito Santo (I Cor. VI, 15-20). O objeto material desta virtude é o ato e o prazer sexual propriamente dito, enquanto a pudicícia se refere aos atos periféricos. Como toda virtude, a castidade comporta facilidade no exercício de seus atos; portanto, a abstenção, do uso ilegítimo do prazer sexual à custa de grandes esforços não é ainda castidade, mas simplesmente continência. 

Castidade perfeita e imperfeita 

"A castidade se divide em perfeita e imperfeita. É imperfeita em quem se abstém do uso desordenado do prazer venéreo, sem porém excluir o uso legítimo seja presente (para os cônjuges), seja futuro (para os jovens), seja passado (para os viúvos). É perfeita quando, além da abstenção presente do uso ilegítimo, exclui também o legítimo, no passado e no presente com o propósito (com ou sem voto) de manter este estado também no futuro. 

A castidade preserva o homem da tirania da concupiscência 

"Se bem que na hierarquia das virtudes a castidade ocupe um grau inferior a muitas outras, na prática muito justamente é-lhe atribuída uma função preponderante na vida cristã; porque é esta virtude que preserva o homem da tirania da concupiscência, a qual, pela veemência de suas paixões, pode produzir notáveis distúrbios nas funções morais das faculdades superiores (inteligência e vontade), criando, com os defeitos e vícios que daí seguem, grande dificuldade e muitas vezes a impossibilidade de uma vida virtuosa conformada à caridade (Sum. Theol., II-II, q. 153, art. 5). 

Vantagens da castidade tanto para o indivíduo como para a sociedade em geral 

"A castidade aperfeiçoa o homem individualmente e é útil à sociedade não apenas indiretamente, enquanto perfeição individual que se reflete sobre a vida social, mas também diretamente, pois regula a procriação, que é um bem de todo o gênero humano. Ela faz isto: a) de modo negativo, ao limitar o ato sexual às únicas circunstâncias que, segundo a reta razão, tornam possível uma adequada educação (matrimônio); b) de modo positivo, contribuindo para o incremento do gênero humano ao não permitir o ato sexual completo também no matrimônio, se não for realizado no modo adequado à geração". (...) (Mons. GIUSEPPE PALAZZINI e Pe. CORNÉLIO DAMEN CSSR, in Dizionario di Teologia Morale, Ed. Studium, Roma, 1968, 4ª. ed., revista à luz do Concílio ecumênico Vaticano II, pp. 257, 265 / Imprimatur: Sac. Marius Iacovelli, Vic. Gen., Tibure, 25-2-1968). 

69. "São Paulo condena a luxúria como um vício particularmente indigno para o cristão e que exclui do Reino de Deus"

Reafirmando a excelência da prática da castidade, a já citada declaração sobre Ética Sexual, da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, chama a atenção sobre o comportamento que exige, e que inspira, a virtude da castidade:

"A virtude da castidade, porém, não se limita a evitar as faltas indicadas; ela tem ainda exigências positivas e mais elevadas. É uma virtude que marca toda a personalidade no seu comportamento, tanto interior como exterior.

"A castidade há de distinguir as pessoas segundo os diferentes estados de vida: umas, na virgindade ou no celibato consagrado, maneira eminente de se dedicar mais facilmente só a Deus, com um coração não dividido (I Cor. VII, 7, 34; Conc. Ecum. de Trento, Sess. XXIV, can. 10: DS 1810; II Conc. Ecum. do Vaticano, Const. Dogmática sobre a Igreja, Lumen Gentium, n. 42, 43-44: AAS 57, 1965, pp. 47-51; Synodus Episcoporum, De Sacerdotio Ministeriali, pars II, 4: AAS 63, 1971, pp. 915-916); outras, de maneira que determina para elas a lei moral, conforme forem casados ou celibatários. Entretanto, em todo e qualquer estado de vida a castidade não se reduz a uma atitude exterior; ela deve tornar puro o coração do homem, segundo aquelas palavras de Cristo: "Ouvistes o que foi dito: "Não cometerás adultério'. Eu, porém, digo-vos: – todo aquele que olhar uma mulher com mau desejo já cometeu adultério com ela em seu coração' (Mt. V, 28)".

"A castidade está incluída naquela "continência' que São Paulo menciona entre os dons do Espírito Santo, ao mesmo tempo que condena a luxúria como um vício particularmente indigno para o cristão e que exclui do Reino de Deus (Cf. Gál. V, 19-23; I Cor. VI, 9-11). "Esta é a vontade de Deus: que vos santifiqueis, que vos abstenhais da fornicação, que saiba cada um possuir o próprio corpo em santidade e em honra, sem se deixar levar por paixões desregradas, como fazem os gentios, que não conhecem a Deus; que ninguém nesta matéria use de fraude ou de violência para com o próprio irmão... Deus, de fato, não nos chamou a viver na impureza, mas na santidade. Quem despreza estes preceitos, portanto, não despreza um homem, mas aquele Deus que também difunde o seu Espírito Santo em vós' " (1Tess 4,3-8; cf. Col 3,5-7; 1Tim 1,10). (...)

"Quanto mais os fiéis compreenderem o valor da castidade e a função necessária da mesma, nas suas vidas de homens e de mulheres, tanto melhor eles captarão, por uma espécie de instinto espiritual, as exigências e os conselhos e melhor saberão aceitar e cumprir, dóceis ao ensino da Igreja, aquilo que a consciência reta lhes ditar nos casos concretos" (Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, Declaração sobre alguns pontos de Ética Sexual, 29-12-1975, Vozes, Petrópolis, 1976, 2ª. ed., pp. 16 a 18). 

70. "Os fiéis, também hoje, e mesmo mais do que nunca, devem empregar os meios que a Igreja sempre recomendou para levar uma vida casta"

Convidando à prática da castidade, a mesma Declaração afirma com ênfase:

"Na linha destes convites instantes, os fiéis, também hoje, e mesmo mais do que nunca, devem empregar os meios que a Igreja sempre recomendou para levar uma vida casta: a disciplina dos sentidos e da mente, a vigilância e a prudência par evitar as ocasiões de quedas, a guarda do pudor, a moderação nas diversões, as ocupações sãs, o recurso frequente à oração e aos sacramentos da Penitência e da Eucaristia. Os jovens, sobretudo, devem ter o cuidado de fomentar a sua devoção à Imaculada Mãe de Deus e propor-se como modelo a vida dos Santos e daqueles outros fiéis cristãos, particularmente dos jovens, que se distinguiram na prática da virtude da castidade.

"Importa, em particular, que todos tenham um conceito elevado da virtude da castidade, da sua beleza e da sua força de irradiação. É uma virtude que enobrece o ser humano e que capacita para um amor verdadeiro, desinteressado, generoso e respeitoso para com os outros" (Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, Declaração sobre alguns pontos de Ética Sexual, 29-12-1975, Vozes, Petrópolis, 1976, 2ª. ed., pp. 19-20). 

71. Quem deixa de fugir de uma ocasião de pecado sem razão suficiente, comete um pecado da mesma espécie daquele a cujo perigo se expõe

Dom Gregório Manise OSB, Professor de Teologia Dogmática de Affligen, assim discorre sobre esta importante questão:

"Noção – A palavra ocasionário designa aquele que se encontra em perigo de pecar, devido a uma pessoa ou a uma coisa (ocasião de pecar). 

Ocasião próxima e remota 

"As ocasiões de pecado se dividem em próxima e remota. Uma ocasião é dita próxima quando provoca um perigo grave; remota quando cria apenas um perigo leve de pecar. Segundo uma sentença bastante comum, deve-se reputar próxima a ocasião que torna solidamente provável o pecado, embora não ocorra culpa de cada vez, ou quase de cada vez em que o ocasionário se encontra em contato com a ocasião. Pela experiência, pelas contingências comuns e pelas disposições individuais poder-se-á saber se uma ocasião é próxima ou apenas remota. A respeito disso é preciso se submeter ao juízo do confessor. 

Ocasião absoluta e relativa 

"É necessário, além disso, dividir as ocasiões em absolutas e relativas, conforme criem perigo para todos, ou somente para alguns, devido a particulares disposições subjetivas. Existem ocasiões que estão sempre presentes, e outras que o estão apenas por intervalos.

"De si é obrigatório fugir das ocasiões de pecado (afastando-as ou evitando-as): obrigação grave toda vez que haja ocasião próxima de pecar mortalmente. Esta obrigação cessa quando é totalmente impossível afastar a ocasião; cessa também quando o fato de não afastar ou de não evitar uma ocasião de pecado, não é de si pecaminoso, e produz, independentemente do perigo de pecar, um efeito bom, ao qual a vontade considera exclusivamente, que não se pode obter de outro modo, e que compensa o perigo que o acompanha. É óbvio que, em tais casos, existe a obrigação de empregar os meios oportunos para tornar o mais possível inofensiva a ocasião de pecar. Sem embargo, no caso de não permanecer nenhuma esperança fundada de evitar a culpa, as condições mencionadas não seriam mais todas realizadas, e se deveria a todo custo fugir da ocasião. Em hipótese, tratar-se-ia sempre de uma ocasião da qual é possível fugir.

"Quem, sem razão suficiente, deixa de fugir de uma ocasião de pecado, por este próprio fato comete um pecado da mesma espécie da culpa em cujo perigo se põe ou permanece. A culpa é mortal quando se trata de um perigo grave de pecar mortalmente. Há uma nova culpa cada vez que a ocasião é desejada ou admitida com renovada vontade. 

Corolários práticos 

"É importante ser muito vigilante no fugir das ocasiões de pecado, e não se persuadir com demasiada facilidade de que existem razões suficientes para não ter de afastar ou evitar uma ocasião. Meios para tornar inofensiva uma ocasião da qual não se é obrigado a fugir são, antes de tudo: a oração, a frequência aos Sacramentos, o ter em vista a presença de Deus e os novíssimos, a devoção a Maria Santíssima, a mortificação dos sentidos, uma grande abertura de consciência com o confessor, ao qual se deve recorrer nas possíveis dúvidas" (Dom GREGÓRIO MANISE OSB, in Dizionario di Teologia Morale, Ed. Studium, Roma, 1968, 4ª. ed., revista à luz do Concílio ecumênico Vaticano II, p. 1121 / Imprimatur: Sac. Marius Iacovelli, Vic. Gen., Tibure, 25-2-1968). 

72. A fuga das ocasiões, bailes, praias, piscinas é o pressuposto para conservar a castidade, especialmente devido aos costumes modernos

Ainda do Dizionario di Teologia Morale (revisto à luz dos ensinamentos do Concílio Vaticano II):

"Os meios e as armas para conservar a pureza podem-se resumir genericamente em duas palavras-programa: fuga (= vigiar) e agir (= oração e luta).

"A fuga das ocasiões e do perigo é o pressuposto para que se possa cultivar o pudor e a modéstia, último baluarte da castidade. (...)

"As diversões não devem, nem por sua natureza nem pelas circunstâncias, ofender de qualquer forma (...) normas morais (de religião, de pureza, de honestidade, de caridade etc.), ou seja, não devem dar ocasião a pecados próprios ou de outros por causa de escândalo. (...)

"O baile não é, de si, um ato ilícito: é uma expressão elegante de alegria, que consiste, especialmente nas danças modernas, em um gozo dos próprios movimentos rítmicos suscitados e conduzidos pela música. Entretanto, em toda a história do Cristianismo, desde os antigos Padres até hoje, as admoestações contra o baile têm sido inumeráveis, porque as circunstâncias desta espécie de diversão, sobretudo a aproximação dos sexos, trazem consigo perigos graves para a moralidade. (...)

"A questão se agrava com as danças mais modernas, que por sua própria natureza e configuração (às vezes quase expressões de comoções e atos sexuais) parecem quase inventadas para provocar o pecado. (...)

"Na prática, feita abstração de qualquer outro perigo imediato de pecado ou de comoção sexual, o hábito frequente do baile é fortemente reprovável, especialmente o do tipo mais moderno, porque exerce uma influência deletéria sobre a saúde moral (promove uma enorme liberdade de costumes) e psíquica (arruína os nervos e às vezes perturba o equilíbrio mental). (...)

"Os banhos em comum (...) se são entre pessoas de sexo diferente, dificilmente (especialmente hoje em dia) estão isentos do perigo de pecado, sendo, portanto, ilícitos. O excesso de liberdade, comum em tais banhos, constitui um forte incentivo ao mal. Tampouco se pode crer que o perigo diminua com o hábito, conforme o axioma "ab assuetis nulla fit passio', posto que no homem, especialmente nos jovens, o contínuo ver, mesmo que proximamente não suscite os baixos estímulos do mal, debilita todavia o pudor natural e faz com que a pessoa se permita facilmente qualquer leviandade. Portanto, as paixões não diminuem, pelo contrário aumentam, especialmente nas praias,  piscinas etc., onde ao relaxamento físico se acrescenta o do espírito" (Mons. GIUSEPPE PALAZZINI, Pe. CORNÉLIO DAMEN CSSR, Pe. IGINO TAROCCHI OFM, in Dizionario di Teologia Morale, Ed. Studium, Roma, 1968, 4a. ed., pp. 180, 181, 183, 258, 548 / Imprimatur: Sac. Marius Iacovelli, Vic. Gen., Tibure, 25-2-1968). 

73. O mundanismo, inclusive dos que se consideram bons católicos, pode ser pecado mortal por causa do escândalo, do perigo de pecado ou da oposição à lei moral

A definição de mundanismo, que o já mencionado Dom Gregório Manise OSB apresenta, não é desprovida de interesse:

"Mundanismo pode significar um modo de viver totalmente alheio aos princípios cristãos; por esta palavra se entende, todavia, também o modo de comportar-se daqueles que não renunciam a toda prática religiosa e que, pelo contrário, se dizem e se consideram bons católicos, mas que, entretanto, em seu comportamento externo, particularmente no modo de se vestirem, se adornarem e se divertirem, se inspiram sinceramente não nos princípios do Evangelho, mas, ao menos em parte, nas máximas do mundo.

"O mundanismo é um excesso pecaminoso. É pecado grave quando é estimulado ao ponto de admitir costumes ou práticas moralmente pecaminosas; em especial: quando causa grave escândalo, quando origina um perigo grave de pecar mortalmente, quando tem em vista um fim que é gravemente oposto à lei moral" (Dom GREGÓRIO MANISE OSB, in Dizionario di Teologia Morale, Ed. Studium, Roma, 1968, 4ª. ed., revista à luz do Concílio ecumênico Vaticano II, p. 1058 / Imprimatur: Sac. Marius Iacovelli, Vic. Gen., Tibure, 25-2-1968). 

74. Hoje em dia os jovens de ambos os sexos vivem em uma camaradagem aparentemente assexual; de fato, essa espontaneidade degenera frequentemente em desabusos, e no amor livre

Analisando com profundidade e concisão os argumentos utilizados para permitir a espontânea convivência entre os sexos, o Prof. Rizzo, da Universidade de Roma, afirma:

"Infelizmente a sociedade moderna, especialmente nas nações que se têm subtraído à influência espiritual da Igreja Católica, vai aceitando cada vez mais os princípios propugnados por Hirschfeld e por seus seguidores: daí a difusão, especialmente em certos círculos intelectuais, da homossexualidade; daí o amor livre, o neo-maltusianismo, o pavoroso crescimento dos contágios venéreos, divórcios etc., com as graves e notórias consequências morais, sociais e patológicas para toda a humanidade civilizada.

"Um dos corolários desses deletérios princípios é a promiscuidade sexual: mal que à primeira vista pode parecer sem gravidade, mas que, de fato, se torna frequentemente pernicioso já que pode constituir facilmente a premissa, a ocasião e o incentivo para aqueles males maiores já mencionados.

"A todos é notório como a prudente separação entre os jovens e as jovens, que existia até há alguns decênios, praticamente desapareceu atualmente. Nas escolas, nas fábricas, nos escritórios e em toda sorte de agrupações, os jovens de ambos os sexos costumam viver juntos em uma camaradagem aparentemente assexual; encontram-se a qualquer hora do dia e da noite, e se reúnem em bailes, excursões, acampamentos etc., sem nenhum acompanhamento de parentes, e assim por diante; e isto pode favorecer qualquer irregularidade moral.

 "Tal situação é indiscutivelmente o aporte dos tempos modernos, que – sob a pressão das exigências econômicas e com o favor de duas longas guerras, as quais, subtraindo os homens de seus trabalhos habituais, tornaram necessário o contributo feminino – incitou a mulher à conquista permanente de ocupações rentáveis, que outrora estavam reservadas ao homem, afastando-a de seu reino legítimo, o lar. (...)

"Tenta-se justificar tal costume com as poucas vantagens que dele se podem esperar; ou seja, que os jovens adquiram uma maior espontaneidade e desenvoltura no trato com seus coetâneos do outro sexo e as jovens aprendam a defender-se dos galanteios masculinos bem melhor do que quando viviam isoladas.

 "O fato, pelo contrário, é que a espontaneidade degenera frequentemente em desabuso, e a maior liberdade se transforma em incentivo para as reprováveis condescendências das quais falamos a propósito da iniciação sexual" (Prof. CARLO RIZZO, in Dizionario di Teologia Morale, Ed. Studium, Roma, 1968, 4ª. ed., revista à luz do Concílio ecumênico Vaticano II, pp. 1525-1526 / Imprimatur: Sac. Marius Iacovelli, Vic. Gen., Tibure, 25-2-1968). 

75. "O namoro facilmente se torna um grave perigo" – Alguém só deve começar o namoro quando está em condições de se casar em breve

O Pe. Damen CSSR, professor de Teologia Moral no Pontifício Ateneu Urbaniano de Roma, afirma:

"Dado que o amor e a íntima familiaridade entre homem e mulher tendem quase naturalmente às relações sexuais, o namoro facilmente se torna um grave perigo de pecado, que deve ser afastado com rigorosa cautela: por exemplo, só começar o relacionamento quando exista a possibilidade de se casar em um tempo razoavelmente breve (por exemplo dentro de um ano), evitar ficarem a sós, usar os meios sobrenaturais etc." (Pe. CORNÉLIO DAMEN CSSR, in Dizionario di Teologia Morale, Ed. Studium, Roma, 1968, 4ª. ed., revista à luz do Concílio ecumênico Vaticano II, p. 670 / Imprimatur: Sac. Marius Iacovelli, Vic. Gen., Tibure, 25-2-1968). 

76. Um contato social extra-familiar muito frequente entre pessoas de sexos diferentes não é isento de perigos

No verbete Sexo, do citado Dizionario di Teologia Morale, dirigido pelo Cardeal Roberti, pode-se ler:

"O contato social entre pessoas dos dois sexos tem influência benéfica e educativa. Este contato o oferece, de uma maneira mais natural e equilibrada, a vida da família numerosa, na qual há pai e mãe e a prole quase sempre é composta de irmãos e irmãs. Um contato fora da família, demasiado grande e frequente, não está isento de perigos. Por isso, deve-se evitar tanto quanto possível a co-educação de jovens de sexo diferente nas mesmas escolas" (Dizionario di Teologia Morale, Ed. Studium, Roma, 1968, 4ª. ed., revista à luz do Concílio ecumênico Vaticano II, pp. 1524-1525 / Imprimatur: Sac. Marius Iacovelli, Vic. Gen., Tibure, 25-2-1968). 

77. A Igreja tem declarado constantemente ser contrária à educação mista

O Cardeal Palazzini, Prefeito da Sagrada Congregação para a Causa dos Santos, escreve:

"Co-educação é a educação de meninos e meninas feita em comum com o fim de favorecer um pretenso encontro natural e progressivo entre os dois sexos.

"Além dos propugnadores do naturalismo e de alguns protestantes, que julgaram encontrar na co-educação um elemento favorável para a sanidade dos costumes em contraposição aos perigos do auto-erotismo, tal método tem sido elogiado também por alguns católicos. Estes têm sustentado ver nele uma forma de imunização gradual contra o mal, um incentivo para a gentileza e a emulação e uma expressão análoga à vida de família.

"Porém a Igreja tem-se declarado constantemente contrária a tal método, porque tem visto nele um grave perigo para a pureza e para a formação dos jovens. Com efeito, a comparação com a vida familiar é claramente forçada, e uma vez mais se abusa na aplicação do princípio da imunização produzida pelo hábito ("ab assuetis non fit passio'), esquecendo-se de que o hábito pode eliminar o choque da impressão nova, mas não elimina, pelo contrário aumenta o perigo proveniente do contato contínuo, constituindo um estímulo natural para as paixões, não só pela novidade, como também por seu conteúdo. E a experiência só faz confirmar a observação" (Cardeal PIETRO PALAZZINI, in Dizionario di Teologia Morale, Ed. Studium, Roma, 1968, 4ª. ed., revista à luz do Concílio ecumênico Vaticano II, p. 323 / Imprimatur: Sac. Marius Iacovelli, Vic. Gen., Tibure, 25-2-1968). 

78. Deus chama à castidade como algo superior ao próprio plano dEle para a maioria dos homens, que é o matrimônio

Em alocução de 7 de abril de 1982, João Paulo II afirmou:

"Do contexto do Evangelho de São Mateus (Mt. XIX, 10-12), fica suficientemente claro que não se trata de diminuir o valor do matrimônio ante as vantagens da continência, nem tampouco de ofuscar um valor com outro. Trata-se, pelo contrário, de "sair' com consciência plena daquilo que no homem, pela vontade do próprio Criador, o leva ao matrimônio e de caminhar rumo à continência, que se desvenda ante o homem concreto, homem ou mulher, como chamado e dom de eloquência particular e de significado particular "para o Reino dos Céus'. (...) Escolhendo a continência em ordem ao Reino dos Céus, o homem está consciente de poder, desta maneira, realizar-se de um modo "diferente', e, em certo sentido "maior' que no matrimônio. (...)

"Aquela "superioridade' da continência sobre o matrimônio não significa nunca, na autêntica Tradição da Igreja, uma desvalorização do matrimônio ou um menosprezo de seu valor essencial. Não significa tampouco um deslizamento, nem sequer implícito, a posições maniquéias. (...)

"A superioridade evangélica e autenticamente cristã da virgindade, da continência, tem como motivo o Reino dos Céus. Nas palavras de Cristo, que nos transmitiu Mateus (Mt. XIX, 11-12) encontramos uma base sólida para admitir somente tal superioridade; não encontramos, pelo contrário, base alguma para qualquer desprezo do matrimônio, que entretanto teria podido encontrar-se no reconhecimento de tal superioridade" (JOÃO PAULO II, Insegnamenti di Giovanni Paolo II, Libreria editrice Vaticana, 1982, vol. I, pp. 1127-1128, 1130-1131). 

79. A continência tem tal valor, que o próprio Jesus Cristo Nosso Senhor a escolheu para Si

S.S. João Paulo II, na audiência geral de 31 de março de 1982, assim comentou as palavras de Nosso Senhor aos Apóstolos, que Lhe perguntavam se não era melhor não casar-se:

"Jesus Cristo (...) disse que a via da continência, da qual Ele próprio dá testemunho com sua própria vida, não só existe e é possível, mas que é particularmente válida e importante ‘para o Reino dos Céus’. E assim deve ser, dado que o mesmo Jesus Cristo a escolheu para Si. E se esta via é tão válida e importante, à continência para o Reino dos Céus deve corresponder um particular valor" (JOÃO PAULO II, Insegnamenti di Giovanni Paolo II, Libreria Editrice Vaticana, 1982, vol. I, p. 1047). 

80. A castidade é "um traço particular de semelhança com Jesus Cristo"

Afirma João Paulo II, em sua alocução de 24 de março de 1982:

"A continência "para o Reino dos Céus' leva sobretudo a marca da semelhança com Cristo, o qual, na obra da Redenção, fez, Ele mesmo, esta escolha "para o Reino dos Céus'. (...)

"Quando Jesus Cristo falava daqueles "que se fizeram eunucos pelo Reino dos Céus' (Mt. XIX, 12), os discípulos só eram capazes de entendê-lo com base em Seu exemplo pessoal. Tal continência devia imprimir-se em sua consciência como um traço particular de semelhança com Jesus Cristo, o qual, Ele próprio, permanecera célibe ‘pelo Reino dos Céus’.

"A separação da tradição da Antiga Aliança, na qual o matrimônio e a fecundidade procreativa "no corpo' haviam sido uma condição religiosamente privilegiada, devia efetuar-se sobretudo com base no exemplo do próprio Cristo. Apenas pouco a pouco pôde lançar raízes a consciência de que para "o Reino dos Céus' tem particular significado essa fecundidade espiritual e sobrenatural do homem, que provém do Espírito Santo (Espírito de Deus) e a qual, em sentido específico e em determinados casos, serve justamente a continência, e que é esta, exatamente, a continência "para o Reino dos Céus' " (JOÃO PAULO II, Insegnamenti di Giovanni Paolo II, Libreria Editrice Vaticana, 1982, vol. I, pp. 979 e 981). 

81. Nosso Senhor Jesus Cristo chama alguns para a continência perfeita, para que participem de modo especial na instauração do Reino de Deus sobre a terra

Da alocução de 21 de abril de 1982, de João Paulo II:

"Cristo chama a este Reino e, em certo sentido, convida a todos (cf. parábola do banquete de núpcias, Mt. XXII, 1-14). Se alguns são chamados à continência "para o Reino dos Céus', do conteúdo desta expressão fica claro que Ele os chama para participar de modo especial na instauração do Reino de Deus sobre a terra, graças aos quais começa e se prepara a fase definitiva para o "Reino dos Céus'. (...)

Na continência para o Reino de Deus se põe em evidência, como já dissemos, a negação de si mesmo, o tomar a própria cruz cada dia e seguir a Cristo (cf. Lc. IX, 23), que pode chegar a implicar na renúncia ao matrimônio e a uma família própria. (...)

"(Cristo diz) que tal continência às vezes é requerida, se não indispensável, para o Reino de Deus. E com isto indica que esta constitui, no Reino que Cristo prega e para o qual chama, um valor particular em si mesma" (JOÃO PAULO II, Insegnamenti di Giovanni Paolo II, Libreria Editrice Vaticana, 1982, vol. I, pp. 1270 a 1272). 

82. O celibato é uma vocação importante e necessária

João Paulo II, em sua audiência geral do dia 7 de abril de 1982, relembra, sobre a vocação para o celibato:

"Certamente Ele (Cristo) diz que esta é uma vocação "excepcional', não "ordinária'. Afirma, além disso, que é particularmente importante e necessária para o Reino dos Céus. Se entendemos a superioridade sobre o matrimônio neste sentido, devemos admitir que Cristo a aponta implicitamente; no entanto, não a expressa de modo direto. Apenas Paulo dirá daqueles que escolhem o Matrimônio que fazem ‘bem’ e, de quantos estão dispostos a viver na continência voluntária, dirá que fazem ‘melhor’ (I Cor. VII, 38).

"Tal é também a opinião de toda a Tradição, seja doutrinária ou pastoral" (JOÃO PAULO II, Audiência geral de 7-4-1982, "La Traccia", n. 4, p. 484). 

83. A perfeita continência sempre tem sido considerada pela Igreja "como um manancial extraordinário de espiritual fecundidade no mundo"

A constituição dogmática Lumen Gentium, promulgada pelo Concílio Vaticano II, ao referir-se às vias e meios para chegar à santidade, afirma:

"A santidade da Igreja se fomenta também de uma maneira especial nos múltiplos conselhos que o Senhor propõe no Evangelho para que seus discípulos os observem (De consiliis in genere, cf. Orígenes, Comm. Rom. X, 14: PG 14, 1275 B; Santo Agostinho, De s. virginitate 15, 15: PL 40, 403; São Tomás, Summa Theol. I-II q. 100 a.2C; II-II q. 44 a.4 ad 3), entre os que sobressai o precioso dom da graça divina, que o Pai dá a alguns (cf. Mt XIX, 11; I Cor. VII, 7) de se entregar mais facilmente só a Deus na virgindade ou no celibato, sem dividir com outro seu coração (cf. I Cor. VII, 32-34) (De praestantia sacrae virginitatis, cf. Tertuliano, Exhort. Cast. 10: PL 2, 925 C; São Cipriano, Hab. virg. 3 e 22: PL 4, 443 B e 461 AS; Santo Atanásio, De Virg.: PG 28, 252 ss; São João Crisóstomo, De Virg.: PG 48, 533 ss). Esta perfeita continência pelo Reino dos Céus, sempre tem sido considerada pela Igreja em grandíssima estima, como sinal e estímulo da caridade e como um manancial extraordinário de espiritual fecundidade no mundo" (Lumen Gentium, Concílio Vaticano II – Constituciones, Decretos, Declaraciones, BAC, Madrid, 1965, p. 84). 

84. "O celibato constitui uma excelsa culminância e o ápice da via de perfeição"

O Cardeal Palazzini, escrevendo no conceituado Dizionario di Teologia Morale, afirma:

"O célibe é aquele que deliberou abster-se para sempre dos prazeres da carne. (...)

"O celibato assim considerado constitui, portanto, uma excelsa culminância e o ápice da via de perfeição, o qual o homem não pode alcançar só com suas forças, razão pela qual Deus não ordenou, mas somente aconselhou; é, por isso mesmo, um dom de Deus (Mt. XIX, 12; I Cor. VII, 7)" (Cardeal PIETRO PALAZZINI, in Dizionario di Teologia Morale, Ed. Studium, Roma, 1968, 4ª. ed., revista à luz do Concílio ecumênico Vaticano II, p. 265 / Imprimatur: Sac. Marius Iacovelli, Vic. Gen. Tibure, 25-2-1968). 

85. "A castidade é um valor nobilíssimo" de que foi exemplo Santa Maria Goretti, mártir da castidade aos 11 anos

S.S. João Paulo II, na alocução de 18 de outubro de 1980, afirmou:

"Maria Goretti foi uma mártir da castidade, ou seja, de um específico comportamento moral virtuoso, que na história do Cristianismo tem sido sempre altamente homenageado, ainda que em nosso tempo, como em outros, tenham-lhe sido cometidos muitos atentados para desprezar seu valor. Evidentemente, a mensagem que provém da história de Maria Goretti não é de ordem maniquéia, de desvalorização do corpo e da sexualidade. (...)

"O cristão não cultiva a castidade ou qualquer outra virtude apenas por ela mesma, fazendo dela um fim isolado ou um ideal absoluto. São Paulo nos adverte: ‘E, ainda que (...) entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tivesse caridade, nada (disto) me aproveitaria' (I Cor. XIII, 3). A castidade é um valor nobilíssimo se está ordenada a Cristo e inserida em todo o contexto da típica vida cristã, à qual o Espírito Santo confere seu próprio selo fundamental e inconfundível, tendo entre os frutos próprios também ‘o domínio de si mesmo’ (Gal. V, 22), precedido e circundado por muitos outros.

"Por isso, o convite que Maria Goretti nos faz a todos, e de modo particular aos jovens e às jovens, é de cuidar em profundidade da própria identidade batismal e de inserir no quadro desta formação, como um de seus componentes, também o cultivo nutrido e cioso da dignidade própria e íntegra, não só cristã mas também humana, da qual a castidade é uma expressão de primeira importância" (JOÃO PAULO II, Alocução aos peregrinos de Senigallia, 18*1980, "La Traccia", n. 9, pp. 843-844). 

86. "Não podemos deixar de assinalar as multidões de religiosos, de religiosas e também de jovens e leigos, fiéis ao seu compromisso de perfeita castidade"

Refutando opositores do celibato, afirma Paulo VI em sua encíclica Sacerdotalis Caelibatus:

"Talvez este coro de objeções pareça cobrir a voz secular e solene dos Pastores da Igreja, dos mestres espirituais, do testemunho vivo duma legião incontável de santos e de fiéis ministros de Deus, que fizeram do celibato a realidade íntima e o sinal visível de sua doação total e alegre ao mistério de Cristo. Não! esta voz conserva a sua força e serenidade; não nos chega apenas do passado, mas ainda hoje ela fala.

"Sempre atento a observar a realidade, não podemos Nós fechar os olhos a esta realidade impressionante e magnífica: ainda em nossos dias há na santa Igreja de Deus, em todas as partes do mundo em que plantou suas tendas, inumeráveis ministros sagrados – subdiáconos, diáconos, presbíteros, bispos – que vivem em total pureza o celibato voluntário e consagrado; e ao lado desses, não podemos deixar de assinalar as multidões de religiosos, de religiosas e também de jovens e leigos, fiéis ao seu compromisso de perfeita castidade. Esta é vivida não por depreciação do dom divino da vida mas por um amor mais elevado à vida nova que jorra do mistério pascal. É vivida em corajosa austeridade, com alegria espiritual, com integridade exemplar e também com certa facilidade. Este impressionante fenômeno demonstra a presença da realidade insigne do Reino de Deus vivo no seio da Sociedade moderna; nela desempenha o humilde e benfazejo papel de ‘luz do mundo’ e ‘sal da terra’ (Mt. V, 13-14). É-Nos impossível calar Nossa admiração: indiscutivelmente aí sopra o Espírito de Cristo" (PAULO VI, Sacerdotalis Caelibatus, Documentos Pontifícios, n. 170, Vozes, Petrópolis, 1967, p. 8). 

87. A castidade é mais fácil de conservar quanto mais se evitem as possíveis ocasiões

O Dr. Carlo Rizzo, professor na Universidade de Roma, assim descreve os cuidados que se devem tomar para a conservação da castidade:

"A abstinência (sexual) absoluta, ditada por motivos superiores de perfeição cristã, só por isto é atributo de uma minoria e, como já foi dito, se preserva com tanta maior facilidade quanto mais o indivíduo, caminhando na vida da pureza interior, tenha evitado qualquer ocasião e qualquer desejo" (Prof. CARLO RIZZO, in Dizionario di Teologia Morale, Ed. Studium, Roma, 1968, 4ª. ed., revista à luz do Concílio ecumênico Vaticano II, p. 132 / Imprimatur: Sac. Marius Iacovelli, Vic. Gen., Tibure, 25-2-1968). 

88. O celibato não é contrário à natureza

Da encíclica Sacerdotalis Caelibatus, de 24 de junho de 1967, de Paulo VI:

"De acordo com as definitivas aquisições da ciência, não se tem o direito de ainda repetir: o celibato é contrário à natureza pelo fato de se opor a exigências físicas, psicológicas e afetivas legítimas, a que se deveria necessariamente satisfazer para permitir a completa maturidade da pessoa humana. O homem, criado à imagem e à semelhança de Deus (Gn. I, 26-27) não é composto somente de carne, e o instinto sexual não é tudo nele. O homem é também e antes de tudo inteligência, vontade, liberdade: tais faculdades o tornam superior ao Universo e o obrigam a considerar-se como tal; dão-lhe o poder de dominar suas tendências físicas, psicológicas e afetivas" (PAULO VI, Sacerdotalis Caelibatus, Documentos Pontifícios, n. 170, Vozes, Petrópolis, 1967, pp. 26-27). 

89. A completa abstenção de qualquer ato sexual não contradiz a natureza e não acarreta nenhum dano para a saúde

É o que afirma o Dizionario di Teologia Morale, no verbete castidade:

"A castidade não está em contradição com a natureza do homem; a completa abstenção de qualquer ato sexual, seja antes do matrimônio, seja também durante toda a vida, não acarreta nenhum dano para a saúde, como nos ensina a experiência e como tem sido afirmado por numerosos estudiosos" (Mons. GIUSEPPE PALAZZINI e Pe. CORNÉLIO DAMEN CSSR, in Dizionario di Teologia Morale, Ed. Studium, Roma, 1968, 4ª. ed., revista à luz do Concílio ecumênico Vaticano II, p. 257 / Imprimatur: Sac. Marius Iacovelli, Vic. Gen., Tibure, 25-2-1968). 

90. O preconceito a respeito da nocividade da continência sexual "já foi completamente desmantelado por uma massa imponente de investigações"

O já mencionado Prof. Carlo Rizzo, especialista em enfermidades nervosas e mentais, afirma:

"As objeções que habitualmente se levantam contra a abstinência sexual são duas: a) a impossibilidade de praticá-la; b) seu caráter nocivo.

"a) Que o homem (ao contrário da mulher) não possa praticar a abstinência é um preconceito vulgar, baseado na circunstância de que uma grande porcentagem de homens se entrega – mais ou menos frequentemente – à satisfação do prazer sexual, e de que cada indivíduo procura invocar este difundido costume para escusar um comportamento que a própria consciência lhe denuncia como reprovável. (...)

"É preciso ter presente que a castidade é praticável mais facilmente (...) quando é exercida segundo os ditames da moral cristã; ou seja, tomando todos os cuidados para evitar as ocasiões e distraindo a mente dos pensamentos e dos desejos impúdicos. (...)

"O direito natural também condena a luxúria e justifica plenamente a abstinência relativa. A periodicidade das funções sexuais mostra, de fato, que também entre os seres vegetais e animais existe um freio para esta função, que disciplina seu uso com pleno benefício para a finalidade biológica.

"Além disso, o prazer, ligado não apenas ao ato reprodutivo, mas também a todas as outras funções exercidas fisiologicamente, tem o fim manifesto de induzir o indivíduo ao exercício dessas funções, tanto mais quanto – como acontece precisamente na reprodução – os pesados ônus que delas derivam dificilmente seriam aceitos por todos sem o forte estímulo do prazer preliminar. Mas a subversão lógica dos termos da questão, trocando o que é meio pelo que é fim – como faz quem queira entregar-se ao mero gozo sexual, desligado de qualquer intenção procreativa – constitui uma grave desordem, justamente no plano natural, uma vez que a generalização dela levaria à extinção da espécie.

"b) Quanto ao preconceito a respeito da nocividade da continência, ele já foi completamente desmantelado por uma massa imponente de investigações histológicas, biológicas, clínicas e neuropsiquiátricas: investigações que demonstram como, tanto no animal como no homem, a abstinência sexual não incide de nenhum modo nem sobre a atividade fisiológica (...), nem sobre a saúde física e nem sequer sobre o equilíbrio nervoso e mental dos indivíduos. (...)

"Nenhuma desordem neuropsíquica, nenhuma psiconeurose e – menos ainda – nenhuma psicose pode provir da abstinência. Se alguns poucos estudiosos, ainda que modernos, são de opinião contrária, isto deriva exclusivamente do fato que eles observam tais distúrbios em pessoas que, ou por temor dos contágios ou por outros motivos de ordem bem pouco espiritual, praticavam materialmente a castidade, porém, ao mesmo tempo, se entregavam a suas fantasias sexuais. Nós, pelo contrário, entendemos a continência como princípio moral voluntariamente adotado e acompanhado por uma sadia regra de vida e de pensamento, que evita toda e qualquer entrega à fantasia extravagante e impura. (...)

"A abstinência sexual, portanto, não é nociva nem impossível de ser praticada, e aquelas moléstias – essencialmente funcionais – às quais nos referimos anteriormente, podem ser curadas eficazmente sem necessidade de interrompê-la. (...)

"A abstinência (sexual) relativa, praticada pelo jovem que pretenda formar uma família alegrada por uma prole florida e sã, é também esta facilitada por uma castidade fundamental da mente e, longe de favorecer a impotência ou as psiconeuroses, é garantia de um desenvolvimento somático e intelectual eficaz e equilibrado" (Prof. CARLO RIZZO, in Dizionario di Teologia Morale, Ed. Studium, Roma, 1968, 4ª. ed., revista à luz do Concílio ecumênico Vaticano II, pp. 131-132 / Imprimatur: Sac. Marius Iacovelli, Vic. Gen., Tibure, 25-2-1968). 

91. É próprio dos indivíduos que se abandonam à luxúria o declinar precoce das energias vitais

Refutando os preconceitos sexuais que se opõem à continência, o citado Professor Rizzo escreve:

"Sobre a pretensa impossibilidade da continência, e da nocividade física e psíquica que acarretaria para o indivíduo que a pratica, remetemos a quanto dissemos no verbete Abstinência e Continência. De resto, numerosos jovens se conservam castos sem que isto incida de nenhum modo sobre sua saúde ou seu rendimento de trabalho, e sem nenhuma repercussão nociva sobre seu futuro matrimônio. Aliás, é próprio dos indivíduos que se entregam à luxúria o verificar-se um declínio precoce das energias vitais, com fenômenos de impotência que, além de tornar estéreis as núpcias, perturbam profundamente a vida conjugal e repercutem sobre a saúde psicossomática da própria pessoa. Sem contar os perigos de doenças venéreas que incidirão fatalmente sobre ambos os cônjuges, sobre sua fecundidade e sobre o bem-estar da prole" (Prof. CARLO RIZZO, in Dizionario di Teologia Morale, Ed. Studium, Roma, 1968, 4ª. ed., revista à luz do Concílio ecumênico Vaticano II, p. 1281 /  Imprimatur: Sac. Marius Iacovelli, Vic. Gen., Tibure, 25-2-1968).

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