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Da obra "Um Homem uma obra uma gesta, homenagem das TFPs a Plinio Corrêa de Oliveira"

Da obra "Um Homem uma obra uma gesta, homenagem das TFPs a Plinio Corrêa de Oliveira"

 

Entrevistando Plinio Corrêa de Oliveira

 

 – Dr. Plinio: Inicialmente, o Sr. poderia descrever qual a situação interna da Igreja, no Brasil, por ocasião do Congresso da Mocidade Católica, em 1928, data na qual o Sr. ingressou no Movimento Católico?

 

– Plinio Corrêa de Oliveira: O movimento católico começava então seu período ascensional. Tinha ele se tornado mais pujante, precisamente pelo grande desenvolvimento das Congregações Marianas.

Até essa época, a situação fora bem diversa. Ficava mal para um homem proceder como católico, e os raros congregados marianos eram considerados pelo comum das pessoas como cidadãos extravagantes, algum tanto postos à margem da vida comum.

A situação começou a se inverter lentamente no início dos anos 20, e a tal ponto que, por volta de 1930, se tornara prestigioso fazer parte das fileiras de Nossa Senhora. Basta dizer que a Federação Mariana de São Paulo foi obrigada a mover processos judiciais a comerciantes que vendiam contrafações do distintivo de congregado mariano, para pessoas que achavam decorativo ostentá-lo na lapela, mas que não pertenciam à associação.

O movimento mariano se caracterizava por uma intensa sede da autenticidade e fervor religiosos, uma devoção crescente à Santíssima Virgem e uma decidida atitude anticomunista. Além disso, de maneira difusa mas efetiva, era ele hostil a todas as facetas anticristãs da Revolução Francesa e de seus efeitos ideológicos e culturais que frutificaram ao longo do século XIX e das primeiras décadas do século XX.

É de se notar, ademais, que as crises internas, então incipientes em núcleos diretivos dos meios religiosos da Europa e dos Estados Unidos, ainda não haviam chegado ao Brasil. A Igreja vivia numa paz religiosa completa, numa confiança inteira de uns católicos nos outros, numa concórdia total das associações religiosas entre si, na reunião filialmente submissa de todo o laicato à Sagrada Hierarquia. Em suma, a paz religiosa que São Pio X conseguira para a Igreja à custa de heróicos esforços contra a heresia modernista, pairava ainda suave e fecundamente sobre o Brasil. A ninguém ocorria que um católico praticante tivesse uma intenção desleal, malévola, anticatólica, e que estivesse fazendo um trabalho de sapa, dentro da Igreja, em prol dos inimigos desta.

Não é objetiva a noção que hoje se difunde de que a grande novidade do movimento católico, no fim dos anos 20, teria sido o surgimento de certos cenáculos semi-corpusculares de literatos e intelectuais católicos, os quais publicavam revistas de circulação restrita e faziam conferências. Estes cenáculos possuíam algum prestígio muito menos como resultado do valor --aliás inegável– de alguns de seus componentes, do que pela repercussão que sua voz tinha sobre a multidão das organizações religiosas que, pari passu com as Congregações Marianas, então se difundiam céleremente pelo Brasil.

Esses corpúsculos de intelectuais católicos eram então, todos ou quase todos, de direita, alguns com simpatias pelo nazismo e pelo fascismo. Muitos deles haveriam de se tornar depois católicos de esquerda ou católicos progressistas, segundo a expressão correntemente adotada.

O grande sopro de renovação procedia, portanto, sobretudo do movimento mariano e das associações congêneres. Ali refulgiam o entusiasmo, o número multitudinário, a ortodoxia sem jaça. Em poucos anos esse movimento tornou-se uma força nacional, e é fácil demostrá-lo com base nos acontecimentos que se deram em torno da Constituinte de 1934.

 

– Foi nesse contexto que surgiu a idéia da Liga Eleitoral Católica (LEC)?

 

– Sim. Embora mais de 90% da população pertencesse então à Igreja, havia razões pelas quais não se podia cogitar na fundação de um partido político católico, tal como existiu em outros países. Mas eu sentia que alguma coisa deveria ser feita contra o laicismo, que dominava toda a legislação e toda a vida oficial do Estado e abstraía olimpicamente do fato básico que era a esmagadora predominância católica da população. E propulsionei a fundação da Liga Eleitoral Católica (LEC).

 

– O Sr. afirma que teve uma participação marcante na fundação da LEC, mas não foi possível encontrar essa informação nos historiadores que trataram da matéria. Eles se referem, isto sim, a Alceu Amoroso Lima e a Heitor Silva Costa, que foi o arquiteto do monumento ao Cristo Redentor.

 

– (Dr. Plinio sorrindo) Um dia, lendo o jornal católico "La Croix", de Paris, conheci a existência da Fédération Nationale Catholique, dirigida pelo General de Castelnau, o qual se notabilizara por sua atuação na I Guerra Mundial, e era católico praticante. Escrevi à FNC pedindo-lhe os estatutos. Soube então que tal associação mandava a todos os candidatos, antes das eleições, um questionário indagando a posição de cada um face às reivindicações da Igreja, e depois publicava as respostas, que serviam como orientação para o voto católico. Propus ao escritor Alceu Amoroso Lima (Tristão de Athayde) – com que eu iniciava, então, uma amizade que mais tarde se tornaria intima, e que as polêmicas a respeito da Ação Católica, do maritainismo e do liturgicismo haveriam de romper no começo da década de 40 – uma adaptação de tal sistema. Ele me disse que estava cogitando em algo do gênero, junto com o Eng. Heitor Silva Costa, no Rio de Janeiro, e que D. Leme já havia sido ouvido sobre o tema.

As sugestões por mim apresentadas foram tomadas como pano de fundo do projeto elaborado. como resultados de várias conversas entre nós três, a LEC foi constituída. Sua Emcia. o Cardeal enviou circular a todos os Arcebispos e Bispos, recomendando a ereção da LEC nas respectivas circunscrições eclesiásticas. O Arcebispo de São Paulo, D. Duarte Leopoldo e Silva, convidou-me para ser o Secretário de Junta estadual da organização.

Quando foram convocadas as eleições para a Constituinte, o Vigário Geral de São Paulo, Mons. Gastão Liberal Pinto – depois Bispo de São Carlos – procurou-me para contar uma novidade estritamente confidencial: D. Duarte fora sondado por políticos paulistas, e com eles resolvera constituir uma chapa única de todas as correntes que se opunham a Getúlio Vargas. Dela deveria participar também a LEC.

 

– A adesão à Chapa quiçá, desejada por D. Duarte, não comprometia o caráter suprapartidário da LEC?

 

– Derrubando o Governo Washington Luiz, Getúlio Vargas tornara-se o senhor do Poder. Em vez de proceder de imediato à democratização política – que era a finalidade declarada da revolução por ele chefiada – tentou ir se perpetuando na Presidência da República.

Sua atuação à testa do Governo foi sentida pelos elementos representativos de São Paulo como fundamentalmente anti-paulista. Era de ampla liberalidade para com outras unidades da Federação, ao passo que se revelava muito restritivo para com São Pulo. E isto até de modo afrontoso.

Por exemplo, soou como depreciativa em  São Paulo a nomeação de um ex-líder tenentista do exército revolucionário, João Alberto Lins de Barros, para as altas funções de interventor federal. E, portanto, como representante máximo do Chefe de Estado nesta unidade da Federação. Tanto mais quanto, ainda muito jovem, ele se pôs desde logo a tratar com displicência os principais chefes dos dois partidos políticos, o Partido Republicano Paulista (PRP) e o Partido Democrático (PD). Além da liderança que exerciam sobre a vida pública do grande Estado brasileiro, é de notar que esses próceres possuíam considerável prestígio individual, quer na vida intelectual, quer na vida social ou econômica de São Paulo. A maneira desenvolta e até arrogante do jovem interventor não poderia deixar de chocá-los, produzindo neles a impressão de que João Alberto Lins de Barros não agiria dessa maneira se não contasse com o apoio do Presidente da República.

Aos olhos dos chefes políticos, da imprensa e das principais figuras do Estado, foi tomando corpo a convicção de que o Presidente Getúlio Vargas desejava eternizar-se no poder, enquanto ditador. E que, para chegar a esse resultado, queria quebrar antes de tudo o poder político e econômico de São Paulo, Estado líder do ponto de vista produtivo.

Numerosos episódios da atuação do interventor João Lins de Barros, como do próprio Governo federal, foram dando infelizmente ensejo a que essa opinião se consolidasse. E o mal-estar profundo daí originado na população paulista teve conseqüências gravíssimas.

Assim foi que eclodiu em São Paulo a Revolução Constitucionalista de 32. Mesmo derrotada, criou ela em todo o País um ambiente que tornava impossível ao Governo Federal não efetuar, por fim, a eleição de uma Constituinte.

Embora profundamente divididos entre si, os dois maiores partidos políticos paulistas julgaram que deveriam esquecer suas disputas e se unir, no interesse do Estado, pois consideravam que São Paulo continuava ameaçado, e tão profundamente ameaçado, que uma lamentável tendência separatista já despontava em alguns setores da população.

Em conseqüência, operaram uma coligação que, de momento, ia muito além do objetivo partidário de repor no Poder suas equipes políticas.

 

– Considerava-se que o bem comum estava em perigo?

 

– Sim. Embora não seja meu propósito emitir um juízo sobre a objetividade das impressões que assim se acumulavam no espírito e no coração paulistas, é indispensável dizer que não era apenas a classe política que caminhava nessa direção, mas toda a sociedade de São Paulo. A massa  da população, profundamente traumatizada com os acontecimentos, vibrava à uma com os fautores da Revolução, à qual ela deu um apoio entusiástico.

Nessa perspectiva, compreenderam os dirigentes dos partidos que uma frente meramente partidária não representaria de fato toda a amplitude do verdadeiro sismo de descontentamento público que se delineava no Estado bandeirante. E cuidaram de engajar na sua atuação pós-revolucionária todas as forças representativas de expressão. Foi assim que passaram a fazer parte da Chapa quiçá a Associação Comercial e a Federação dos Voluntários da Revolução de 32, bem como a Liga Eleitoral Católica.

Os partidos que integravam a Chapa quiçá participavam dela em nível de inteira igualdade com as grandes forças sociais de São Paulo.

Desta forma, essa coligação representava São Paulo quase em sua totalidade. A adesão da LEC à "Chapa quiçá por São Paulo Unido" não tomava o caráter partidário que alguns hoje em dia imaginam. Não era um partido em São Paulo, mas era São Paulo inteira que se manifestava em favor dela. Aliás, o resultado nas urnas o provou de sobejo na eleição do dia 3 de maio de 1933.

É importante notar que a "Chapa quiçá" aceitava as reivindicações católicas.

 

– Como foi que a LEC lançou seu nome na Chapa quiçá, e qual a explicação para a votação como que plebiscitária que o Sr. então obteve?

 

– Algum tempo depois da adesão da LEC à Chapa quiçá, Mons. Gastão Liberal Pinto me comunicou ter D. Duarte indicado quatro nomes para se candidatarem pela Liga, e que entre estes estava o meu. Foi convocada então uma reunião da diretoria da Junta Arquidiocesana da LEC, não participando eu da mesma para evitar constrangimentos. Os nomes foram aprovados por unanimidade.

Minha indicação, aliás, fora motivo de um problema de consciência para mim. Sendo eu muito jovem, pois tinha apenas 23 anos, pareceu-me que o venerado Arcebispo se inclinara por minha candidatura por causa da notoriedade que eu adquirira entre os congregados marianos. Pensei: "Se D. Duarte me nomeia só por casa disto, talvez ele prefira lançar outro nome". Eu me perguntava se não deveria pedir ao Sr. Arcebispo que nomeasse em meu lugar alguém que fosse de sua preferência. Trabalharia eu por este, como o faria por mim mesmo, pois o importante era, não minha pessoa e minha eleição, mas que fosse bem servida a Igreja, prevalecessem as reivindicações católicas e fosse perfeitamente obedecida a orientação eclesiástica.

Fui consultar um insigne sacerdote jesuíta, o Pe. José Danti, Reitor do Colégio São Luís. Expus o caso a ele, que me disse: o Sr. faltará para com seu dever de católico se não se candidatar. Vejo no Sr. tanta vontade de seguir seu Arcebispo que, se ficar vago o lugar, um outro menos fiel à Hierarquia poderá vir a ocupá-lo.

Aceitei, então.

A votação que obtive, e que representava quase a décima parte de todo o eleitorado do estado de São Paulo, foi um triunfo do movimento católico, pois só fiz propaganda nas associações religiosas.

 

– Quais os frutos que a Constituinte de 34 trouxe para o Brasil católico?

 

– A nova Constituição, promulgada em nome de Deus, restabelecia o ensino religioso nos colégios do Estado, proibia o divórcio, atribuía ao casamento religioso efeitos civis e introduzia capelanias nas Forças Armadas e nas prisões. Todas as reivindicações católicas foram acolhidas.

 

– Dir-se-ia que a Igreja, no Brasil, caminhava para dias esplendorosos, quiçá para o apogeu de sua influência. Foi o que aconteceu?

 

– Esta crise enorme em que a Igreja se debate hoje, essa crise que a convulsiona por inteiro, evidentemente não se fez de um momento para outro, como num estampido. Ela foi preparada. E enquanto se davam os acontecimentos que descrevi há pouco, tal preparação começava a ter curso.

A magnífica concórdia entre todos os católicos, de que falei, ia sendo minada por idéias que hoje seriam qualificadas de "progressistas". Sua difusão era feita por propagandistas europeus e norte-americanos, de ambos dos sexos, bem como por brasileiros que faziam viagens de estudo ao Exterior e voltavam imbuídos de uma nova mentalidade religiosa. Isto era apresentado como um sopro novo e vital, capaz de dar à Igreja dias de ainda maior brilho. Em nome do princípio da liberdade, lançava-se uma espécie de luta de classes entre os leigos e o Clero. A pretexto de apostolado, as fronteiras entre os católicos e os ambientes mundanos tendiam a se relativizar, com reflexos desfavoráveis no plano moral.

Essa situação é descrita e denunciada em meu livro Em defesa da Ação Católica, que contou com expressiva carta-prefácio de aprovação de D. Bento Aloisi Masella, Núncio Apostólico no Brasil, mais tarde Cardeal da Santa Igreja; e depois foi louvado por documentos da Secretaria de Estado de S.S. Pio XII, assinado em nome do Sumo Pontífice pelo futuro Paulo VI, Mons. J.B. Montini.

Sobre esse livro não é o caso de alongar aqui. Limito-me a dizer que as apreensões dele estavam longe de serem infundadas. Assim, Gramsci, insuspeito por ser um dos maiores teóricos da tática comunista – senão o maior – se perguntava, logo depois da I Guerra Mundial: "Como, e por quais vias, a concepção socialista do mundo poderia dar forma a este tumulto, a este fervilhar de forças elementares?" (*). E ele mesmo dá a sugestiva resposta: "O catolicismo democrático faz o que o socialismo não poderia: amalgama, ordena, vivifica e se suicida" (**).

 

 

(*) Gramsci se refere à fermentação da questão social no primeiro pós-guerra.

(**) Antonio Gramsci, Scritti politici – Il `bienio rosso', la crisi del socialismo e la nascita del partito comunista (1919-1921), II.

 

 

De fora dos muros católicos, e com intenções radicalmente opostas às minhas, Gramsci via a mesma realidade que eu considerava.

Criada a Igreja por Nosso Senhor como sociedade hierárquica, a democratização desejada pelo teórico comunista realmente seria um serviço em ordem ao suicídio, se Ela pudesse morrer.

 

– Há historiadores que dizem que o Sr., em seu livro, aponta os abusos, mas não dá "nenhuma indicação" de onde eles ocorreram.

 

– A luta foi particularmente árdua porque nosso intuito era tenta extinguir o mal, porém de forma a causar o mínimo possível de ressentimentos e de divisão nos meios católicos. Para isso era preciso conduzir o combate na ordem das idéias, poupando as pessoas tanto quanto possível. E, pois, mencionando só os opositores que tivessem matéria publicada sobre o assunto. Foi o que fiz.

Se tivesse descido ao plano concreto em meu livro, indicando nomes e lugares, acusar-me-iam, na época, de descer a "minúcias desnecessárias". Quiçá a mesma acusação de "falta de caridade" fariam os que hoje exigem essas "minúcias"...

É preciso notar que, enquanto a polêmica estava acesa, eu não recebi, o Legionário não recebeu uma só interpelação, uma só carta dos meios evidentemente visados por minha crítica – que todos conheciam quais eram – pedindo especificações. Isto é sintomático e concludente. Por que foi assim? Evidentemente, havia da parte de nossos opositores o receio de perguntar e de receber uma resposta mais precisa do que a desejada por eles.

Esse vazio de indagações mostra bem que a acusação tinha fundamento, e que se sabia perfeitamente que assim era.

O prefácio do próprio Núncio Apostólico no Brasil, já mencionado, indica que ele – a quem cabia, de certa forma, a supervisão de todo o movimento católico no País – conhecia esses erros e os via como muito perigosos.

Ademais, se as minhas referências a erros circulando nos meios católicos não passassem de acusações malévolas, e até caluniosas, não é possível que, seis anos depois, quando já a tranqüilidade se estabelecera a respeito do assunto, a Santa Sé ma escrevesse, de motu proprio, a carta tão expressiva em que positivamente elogia meu livro. Pois todos sabem como a Santa Sé costuma estar bem informada do que se passa no mundo católico.

 

– Não faltou quem negasse alcance a essa carta, sob a alegação de que o Vaticano dá respostas semelhantes a muitas das missivas que lhe são enviadas...

 

– Eu ouvi pessoalmente de Mons. Montini – depois Paulo VI – em audiência que me concedeu em Roma, em 1950, a afirmação de que cada uma das palavras daquela carta fora pesada cuidadosamente.

Mas prossigo no assunto anterior. Há quem faça aproximações entre o Cardeal Ratzinger escreveu em seu célebre Rapporto sulla fede e o que escrevia eu nos longínquos anos 40 sobre o progressismo teológico, moral e sócio-econômico que despontava em âmbito brasileiro. Como teria sido melhor para a Igreja se eu me tivesse equivocado e aqueles erros não existissem, nem se tivessem propagado por todo o orbe...

 

– Dr. Plinio, hoje, que a História traz de volta o eco dessas lutas, como o Sr. as vê? E, tomando como ponto de referência tais primórdios, como encara o futuro?

 

– Todo esse passado remoto e próximo, eu o vejo com a tranqüilidade de consciência do dever cumprido.

Falo em passado "remoto e próximo", pois as polêmicas e as pugnas que culminaram com a publicação do Em defesa da Ação Católica não se encerraram com a difusão desse livro. Com efeito, do conjunto de congregados marianos que comigo trabalharam na redação do Legionário, uma parte continuou fiel à orientação tradicional por mim sustentada. E, mesmo quando fomos privados da direção do conhecido órgão, constituímos um grupo que continuou a estudar com dedicação as matérias sobre as quais versaram as controvérsias. Era um grupo restrito de pessoa, três das quais Deus já chamou a si. Menciono-lhes os nomes com especiais saudades: o Eng. José de Azeredo Santos, o Professor universitário Fernando Furquim de Almeida e o advogado José Carlos Castilho de Andrade.

Esse grupo do Legionário continuava em estreitas relações de amizade com dois sacerdotes que se haviam destacado nas colunas do semanário católico. Eram eles Mons. Antonio de Castro Mayer, então Vigário Geral e Assistente da Ação Católica, e o Pe. Geraldo de Proença Sigaud S.V.D, na época professor no Seminário do Divino Espírito Santo em Santo Amaro (SP), e diretor da Juventude Estudantil Católica, um dos ramos da Ação Católica.

Quando o grupo do Legionário se retirou desta folha, também o deixaram os dois eclesiásticos. As relações deles conosco continuaram íntimas e calorosas.

Cogitou-se, entre todos esses elementos, da fundação de um órgão de cultura que retomasse nos quadros da imprensa católica brasileira o grande vazio deixado pelo Legionário. Assim, em 1951, foi lançado o mensário Catolicismo, sob os auspícios de D. Antonio de Castro Mayer, já então bispo de Campos. E nele colaboraram D. Geraldo de Proença Sigaud – que também fora promovido ao episcopado – bem como todos os elementos remanescentes do antigo grupo do Legionário. Os leigos pertencentes à redação de "Catolicismo", que outrora haviam sido designados como "grupo do Legionário", passaram a ser chamados "grupo do Catolicismo".

Sem deixar de se interessar pelos problemas antigos, Catolicismo apontava para o Brasil inteiro a evolução que esses problemas haviam tido, e o feitio peculiar que vinha assumindo o conjunto dos acontecimentos durante o longo período de silêncio do "grupo do Legionário".

Por sua vez, do grupo de “Catolicismo” nasceu a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade – TFP, sempre impostada na mesma direção, embora acompanhando o curso continuamente renovado dos fatos.

A História da TFP, a bem dizer o Brasil inteiro a conhece. A situação da entidade repercutiu fora de nossas fronteiras, dando essa repercussão origem à fundação de 14 outras TFPs, além de vários Bureaux. A controvérsia atingiu proporções superiores às que qualquer cálculo humano de probabilidades poderia autorizar.

Para onde iremos? – Só Deus o sabe. Quem cumpre seu dever faz a vontade de Deus. Quem faz a vontade de Deus sob os auspícios de Maria Santíssima, só pode considerar o futuro com confiança.

 

Plinio Corrêa de Oliveira

 

(cfr. op. cit., Edições Brasil de Amanhã, São Paulo, 1988, , ps. 50-57)

 

 

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