Capítulo I

 

 

A falsa calma

 

 

 

 

 

 

 

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A calma que estou descrevendo é cheia de frescor e mobilidade, com disposição para aceitar a variedade das coisas e não ficar atarraxado viciosamente em determinado objeto, com exclusão de outros. É uma certa flexibilidade da alma, própria das articulações e da vitalidade de um organismo vivo. Diante de tudo o que acontece, vai-se aceitando, recusando, modelando, na alegria e no bem-estar da vida.

Todas as calmas ruins conduzem a pessoa a um tipo boudeur,13 melancólico, fechado, desconfiado, com uma atitude perante a vida como quem diz: “Vida, tu és tal que, em relação a ti, eu só tenho uma posição, que é a defesa e fechar as janelas. Fecho-as, e não quero que entres na minha impassibilidade, porque me fazes sofrer. Só por esta forma eu consigo viver. Não sinto nada, não sofro nada, não me alegro com nada, para viver na minha atonia olímpica e não entrar no jogo malfazejo da existência, desprezando os outros homens que se deixam levar pelo vai-vem da vida”.

No fundo dessa falsa calma há uma recusa de si mesmo, da vida e de Deus, como quem dissesse: Recuso tudo! Isto é errado. O normal é que, se acontece uma coisa boa, se aceita; se vem uma coisa ruim, fica-se desagradado; se não vem nada, não se fica boudeur. É preciso ser flexível a todo esse vai-vem.

13. Boudeur: aquele que manifesta frequentemente seu mau humor.

Adiante

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