Capítulo IV

 

 

No Quartel General do

Marechal Foch

 

 

 

 

 

 

 

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“A quietude, a paz serena reinam nessa mansão [o QG]. Paz de uma abadia beneditina, onde cada qual trabalha com fervor, na irradiação do chefe” (Gustave Babin)

Neste capítulo

O Gen. Weygand (foto abaixo) descreve, e Dr. Plinio comenta, como era o Quartel General do Marechal Foch, de onde partiu a condução vitoriosa da Primeira Guerra Mundial (1914-18).

Esse Quartel General é belo exemplo de uma grande verdade: heroísmo e calma são termos correlatos. O QG do generalíssimo era o foco da guerra, e ao mesmo tempo um modelo de calma.

A inigualável eficácia da calma

Nosso Estado Maior procurava a calma das pequenas localidades ou dos castelos isolados.38

Um Estado Maior que procura a calma, durante a guerra. Muitos podem estranhar isso: Como!? Não se tem de estar no meio do fogo? Não, não! Quem vai fazer um trabalho de comando, e agir intensamente, deve afundar na calma, ficar fora das estradas, perto de uma estradinha que comunique facilmente com as tropas, mas sem barulheira.

Esse homem, Foch, mudou várias vezes de lugar durante a guerra, porque as operações militares o exigiam. Ele procurava o lugar para instalar o Estado Maior dele, mas dir-se-ia que procurava um lugar para fazer um retiro. Havia continuidade nisso, e ele venceu assim uma das maiores guerras da História.

O artigo continua:

Se um acontecimento novo reclama uma decisão a tomar, ou uma instrução a dar, a questão é regulamentada imediatamente; e pode requerer apenas um momento, como também exigir várias horas de trabalho.

Ou seja, tudo é imprevisto e variável dentro dessa vida, mas não há nenhum apego desordenado à rotina.

É frequente também que eu seja colhido por essa frase [do marechal]: eis a ideia que eu tive, enquanto fazia a barba.

Esse homem queria uma vida sossegada para poder pensar, até mesmo enquanto fazia a barba. Isso é muito diferente do “macaco elétrico”, e acho que jamais será suficiente ressaltar essa diferença.

Calma e serenidade, condições para um trabalho sério

Essa regularidade, junto à calma imperturbável do nosso chefe, cria uma atmosfera benfazeja, de confiança e serenidade, e chama a atenção dos oficiais que nesses períodos movimentados comparecem ao nosso Estado Maior.

Eis aí como eram as coisas. Tudo cria um clima de calma e serenidade, que é apresentado como condição essencial para se fazer um trabalho sério. Ou, muito mais que um trabalho sério, uma guerra séria. Lutar é muito mais que trabalhar. Mais do que lutar, só pensar. E mais do que pensar, só rezar.

O Marechal Foch goza de um excelente apetite, e veda os assuntos de serviço durante a refeição.

O serviço de que se trata é a guerra, o mundo está explodindo, a França está rachando, mas na hora da refeição não se fala disso.

As alusões clássicas sobre a detestável qualidade da sua cozinha e a falta de imaginação de suas combinações culinárias evitam silêncios por demais pesados. O excelente tenente Boutal, que acumula suas funções com as de oficial de ordenança, sabe que valor dar a essas censuras, e as aceita de boa mente. Depois do almoço o marechal sobe um instante a seu quarto, e por volta de uma e meia está de volta ao Estado Maior. Se alguma visita ao front não está prevista, essa é a hora do passeio a pé.

Almoço calmo e bem comido, pequeno repouso. Depois, o que vai fazer esse homem? Um passeiozinho a pé. Julgo isso admirável. Note-se que o seu estilo deu certo. Se ele tivesse perdido a guerra, vários diriam: “Bem, foi vencido por causa disso”. É exatamente o contrário, pois ele ganhou a guerra.

38. Todos os textos em itálico, neste tópico, foram extraídos de artigo do General Weygand, No Estado-Maior do Marechal Foch, publicado na revista “Historia”, nº 218, de janeiro de 1965. Trata-se do Estado-Maior do marechal francês Ferdinand Foch (1851-1929), comandante em chefe das forças aliadas e um dos vencedores da Primeira Guerra Mundial (1914-1918).

Adiante

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