Carta de um dos grandes
teólogos contemporâneos, Pe. Victorino Rodríguez y Rodríguez, O.P.
Madri, 25 de janeiro de 1993
Caro amigo e admirado Professor:
Li com toda a atenção o
original da sua magnífica obra «Nobreza e elites tradicionais análogas nas alocuções
de Pio XII ao Patriciado e à Nobreza romana», que teve por bem enviar-me para
ser revisto. Sinto-me muito honrado pela confiança que deposita na minha
apreciação e possíveis observações. Por outro lado, admiro o seu ardente desejo
de acertar ao querer levar avante esta causa tão nobre, e ao mesmo tempo a sua
humildade ao pedir o parecer de quem sabe muitíssimo menos do que o senhor
sobre este tema, tanto no aspecto doutrinário como no aspecto histórico.
Devo dizer-lhe que não
encontrei absolutamente nada censurável, nem sequer melhorável no seu
empreendimento. Desejo, isso sim, sublinhar aquilo que considero como grandes
acertos:
Primeiro, por escrever uma obra
sobre este tema. Era necessária; e o ponto de partida e principal base de
argumentação não podia ter sido melhor escolhido: as alocuções de Pio XII ao
Patriciado e à Nobreza romana pronunciadas no início de anos sucessivos. Aquele
excepcional Papa Pacelli, que tinha a nobreza na sua mente, no seu coração e no
seu sangue, singularmente atento aos problemas e expectativas do seu tempo, não
podia deixar de preocupar-se com os da nobreza, à qual dirigia estas alocuções,
tão oportunamente dadas a lume agora por um nobre brasileiro, cuja
personalidade está tão marcada pela devoção à Sede Apostólica e pelo amor à
Civilização Cristã.
Segundo, pela sua oportunidade,
porque os autênticos valores da nobreza estão muito eclipsados no
«igualitarismo» pós-revolucionário e nas modernas democracias inorgânicas. São
mais notórios («nobile»"noscibile», preclaro, excelente, famoso) os
números (de votos ou de dólares) do que as qualidades dignificantes (ciência,
virtude, arte). No entanto, como ouvi várias vezes dizer o grande teólogo
Santiago Ramirez, «a verdade não é democrática, mas aristocrática». Espero que
a sua obra, tão cuidadosamente documentada e pensada, traga ao primeiro plano a
nobreza tradicional, portadora de dignidade, de honestidade, de humanismo
aberto a Deus e ao bem comum social.
Terceiro, parece-me, por outro
lado, muito justa e cristã a complementaridade harmônica que estabelece entre
«opção preferencial pelos pobres», tão acentuada na nova evangelização, e «a
opção preferencial pelos nobres». Trata-se efetivamente de duas perspectivas,
não exclusivistas, mas complementares. Penso que a clave é esta: deve-se amar
mais aos melhores, e deve-se ajudar mais aos mais necessitados. Aí se
harmonizam as duas opções preferenciais. A opção caritativa pelos indigentes
não há de ser com prejuízo da singular estima que a nobreza merece, máxime
quando essa estima está em crise em épocas de igualitarismo massivo. Com muito
acerto se recolhe o dado da elevada percentagem de santos canonizados da
nobreza. Foi Pio XII que canonizou, em 1943, Santa Margarida da Hungria, O.P.,
filha do Rei da Hungria e neta do Imperador de Constantinopla.
Quarto, também é interessante
deter-se, numa época de «pacifismo» (=a paz a qualquer preço), no tema da
guerra justa, na qual tantas vezes se empenhou a nobreza, tanto militar como
civil e eclesiástica. O Magistério e a Teologia tiveram e têm muito a dizer a
esse respeito, como se lembra no Documento XI.
Quinto, finalmente, é oportuno
recordar neste tempo em que a democracia é para muitos o único dogma político,
sem discernimentos nem ulterior resolução ética, a doutrina social da Igreja
sobre as formas de governo. O Magistério Pontifício fez sua a matizada doutrina
de São Tomás, tantas vezes reassumida pelos pensadores católicos, e agora pelo
Dr. Plinio Corrêa de Oliveira no Apêndice 3 da sua obra.
Poderia ressaltar muitos outros pontos interessantes
da sua obra, mas não quero alongar-me, nem repetir o que o leitor encontrará
exposto melhor e mais profusamente. Com essas observações, depois de ter lido
com gosto o original, acredito ter correspondido a seu gesto amistoso.
Victorino Rodríguez, O.P.