Plinio Corrêa de Oliveira
A TFP: uma vocação na crise espiritual e temporal do século XX
Prefácio
Fevereiro de 1986 |
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A família
A família cristã, nascida do pacto conjugal elevado por Nosso Senhor Jesus Cristo à dignidade de sacramento, tem como características: 1 – a indissolubilidade do vínculo conjugal e a fidelidade dos esposos entre si; 2 – a autoridade do esposo sobre a esposa, e de ambos sobre os filhos; 3 – a observância da castidade perfeita, tanto das filhas como dos filhos, antes do matrimonio. No lar cristão bem constituído, tudo conduz a que, se algum dos filhos receber a vocação para o sacerdócio ou o estado religioso, seja ela tida como uma alta honra, e acolhida pressurosamente, não só pela pessoa desta maneira favorecida, mas pelos pais e por todos os que constituem o lar. A família e a sociedade temporal em crise De que forma a sociedade contemporânea, vista como um todo, costuma cooperar – em nossos dias – para que assim sejam as famílias cristãs? A pergunta faria sorrir ironicamente, se fosse formulada com seriedade. Pois é evidente que dos mais variados modos, com o maior afinco, essa sociedade trabalha a todo momento para a desagregação da família. Ou seja, para sua descristianização. A seguirem no mesmo rumo as mentalidades e os costumes reinantes, em breve a família autenticamente cristã terá passado a constituir exceção rarissima e mal vista, no seio de uma sociedade descristianizada. De uma sociedade anticristã, portanto. “Quem não está coMigo está contra Mim”, ensina Nosso Senhor no Evangelho (1). Tal vai sucedendo, em suprema instância, pela ação das forças preternaturais engajadas na perdição do mundo (2), as quais tão bem sabem mover em sua conspiração os agentes naturais – individuais, sociais e outros. Vão elas dispondo assim de um crescente poder sobre as massas. Era inevitável que chegasse a esse cúmulo de desgraças o gênero humano? De nenhum modo. Com efeito, outro poderia ter sido o curso das coisas se todas as pessoas e instituições especialmente prepostas para o combate contra a corrupção das idéias e dos costumes tivessem tido sempre, face a esse ruinoso curso de coisas, a conduta militante, ininterrupta e desassombrada, que seu dever lhes impunha. A tal respeito, a atitude não só omissa mas até fortemente propulsora, de tantos dos poderes públicos, nos Estados contemporâneos, tem favorecido largamente a obra das trevas. De onde decorre que, pelo desdobrar lógico das conseqüências, e por merecida punição de Deus, todas as nações – sem excetuar as mais poderosas e prósperas – se encontram à beira de riscos de uma gravidade sem nome, e sob vários aspectos já se pode afirmar que vão rolando precipício abaixo, rumo à sua desagregação total. É isso de tal maneira notório, que dispensa provas ou exemplificações. A família e a Igreja em crise A responsabilidade por essa situação desastrosa não toca apenas ao Estado. A Santa Igreja Católica, a única verdadeira Igreja de Deus, se vê envolta hoje em uma crise cuja gravidade já foi discernida por Paulo VI, bem insuspeito, entretanto, de pessimismo ou animadversão para com o mundo moderno, ao qual fez aberturas que surpreenderam por vezes não poucos dentre os melhores (3). João Paulo II, entretanto tão benévolo – ele também – em relação ao mundo moderno, expendeu reflexões análogas (4); e um Prelado eminente pelo saber e pelas altas funções que ocupa na Santa Igreja, o Cardeal Joseph Ratzinger, Prefeito da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, publicou em 1985 seu famoso “Rapporto sulla Fede”, no qual se deve louvar a nobre franqueza com que descreve sintomas altamente expressivos da crise que lavra como um incêndio no interior da Santa Igreja. O valor deste autorizado testemunho cresce ainda de ponto considerando-se que o Purpurado, quer no conjunto de sua obra de intelectual, quer em sua atuação à testa do ex-Santo Ofício, vem seguindo uma linha que não permite incluí-lo honestamente entre os que as “mass-media” qualificam de reacionários, saudosistas, extremistas da intolerância etc. Ora, de onde procede essa dolorosa crise na Igreja? Sem dúvida, e em larga medida, de agentes do Leviatã comunista que, de fora da Cidade Santa, se empenham com esforço total em destruí-La. Mas uma pesquisa dos fatores dessa crise não seria lúcida nem proba se se limitasse a olhar para além dos muros dEla. Cumpre indagar se também entre os católicos – entre os leigos bem entendido, mas também nas fileiras augustas da Sagrada Hierarquia – há propulsores de tal crise. A pergunta pode surpreender a alguns… dia a dia menos numerosos. Não faltará ainda quem brade, alarmado, que ela é escandalosa, revolucionária, blasfema. Adriano VI (1522-1523), nascido em Utrecht (atualmente Holanda, mas naquela época fazia parte do Sacro Império Romano Alemão), cognominado também como o “último Pontífice alemão” até que fosse elevado à Sé de Pedro o Papa Bento XVI (19-4-2005 até 28-2-2013) É explicável que a tais reações conduza a crassa ignorância religiosa em que estão imersos tantos fiéis neste triste ocaso do século XX. Na realidade, se conhecessem melhor a doutrina e a História da Igreja, a reação deles seria bem outra. A fim de evitar digressões doutrinarias, destinadas a aplacar tal estranheza, as quais se afastariam por demais do eixo central das presentes considerações, basta lembrar aqui um documento memorável, a instrução do Papa Adriano VI (1522-1523), lida pelo Núncio pontifício Francisco Chieregati aos Príncipes alemães reunidos em dieta, em Nuremberg, em 3 de janeiro de 1523. Transcreve largos trechos desse documento o historiador austríaco Ludwig von Pastor em sua obra célebre “Geschichte der papste” – História dos Papas (5). A conjuntura em que essa instrução foi ditada pelo Pontífice se insere na terrível crise protestante do século XVI, tão semelhante e ao mesmo tempo tão menos profunda do que a de nossos dias (6). Dessa Instrução destacamos os seguintes tópicos: “Deves (dirige-se o Pontífice ao Núncio Chieregati) dizer também que reconhecemos livremente haver Deus permitido esta perseguição a sua Igreja, por causa dos pecados dos homens, e especialmente dos Sacerdotes e Prelados, pois de certo não se encurtou a mão do Senhor para nos salvar; mas são nossos pecados que nos afastam dEle, de modo que não nos ouve as suplicas. “A Sagrada Escritura anuncia claramente que os pecados do povo tem origem nos pecados dos sacerdotes, e por isto, como observa (São João) Crisóstomo, nosso Divino Salvador, quando quis purificar a enferma cidade de Jerusalém, dirigiu-se em primeiro lugar ao Templo, para repreender antes de tudo os pecados dos sacerdotes; e nisso imitou o bom médico, que cura a doença em sua raiz. “Bem sabemos que, mesmo nesta Santa Sé, ha já alguns anos vem ocorrendo, muitas coisas dignas de repreensão; abusou-se das coisas eclesiásticas, quebrantram-se os preceitos, chegou-se a tudo perverter. Assim, não é de espantar que a enfermidade se tenha propagado da cabeça aos membros, desde o Papa até aos Prelados. “Nós todos, Prelados e Eclesiásticos, nos afastamos do caminho reto, e já há muito não há um que pratique o bem. Por isso devemos todos glorificar a Deus e nos humilharmos em sua presença; que cada um de nós considere por que caiu, e se julgue a si mesmo, ao invés de esperar a justiça de Deus no dia de sua ira. “Por isto (igualmente) deves tu prometer em nosso nome que estamos resolvidos a empregar toda a diligencia a fim de que, em primeiro lugar, seja reformada a Corte romana, da qual talvez se tenham originado todos esses danos; e acontecerá que, assim como a enfermidade por aqui começou, também por aqui comece a saúde. “Nós nos consideramos tanto mais obrigados a levar isto a bom termo, quanto todo o mundo deseja semelhante reforma. “Porém não procuramos nossa dignidade pontifícia (o Papado que Adriano VI exerce), e de mais bom grado teríamos terminado na solidão da vida privada nossos dias; de bom grado teríamos recusado a tiara, e só o temor de Deus, a legitimidade da eleição e o perigo de um cisma nos determinaram a aceitar o supremo munus pastoral. Em conseqüência, queremos exerce-lo não por ambição de mando, nem para enriquecer nossos parentes, mas para restituir à Santa Igreja, Esposa de Deus, sua antiga formosura, prestar auxilio aos oprimidos, elevar os varões sábios e virtuosos, e genericamente fazer tudo o que compete a um bom pastor e verdadeiro sucessor de São Pedro. “Não obstante, que ninguém se surpreenda, se não corrigirmos todos os abusos de um só golpe; pois as doenças estão profundamente enraigadas e são múltiplas; pelo que é preciso proceder passo a passo, e opor primeiramente os oportunos remédios aos danos mais graves e perigosos, para não perturbar ainda mais a fundo por meio de uma precipitada reforma de todas as coisas. Com razão diz Aristóteles que toda mudança repentina é muito perigosa para uma sociedade” (7). Quantos ensinamentos profundos há a deduzir dessas nobres e sábias considerações! Ninguém as pode tachar de irreverentes para com a Santa Igreja, de escandalosas, revolucionarias, blasfemas, como de bom grado o fariam certos católicos de vistas estreitas. E quantos exemplos concretos haveria que citar em cada país da Cristandade contemporânea em confirmação desses ensinamentos de Adriano VI! (8) Para não alongar demais essa triste lista, bastaria mencionar a desconcertante indolência – para dizer só isto – de tantos Prelados católicos diante da exibição recentissima do filme blasfemo de Jean-Luc Godar “Je vous salue Marie”. Indolência esta em que se assinalou de modo especial o Episcopado francês (9). Túmulo do Papa Adriano VI, na igreja Santa Maria dell’Anima, em Roma A família, fator da crise do mundo contemporâneo Contudo, a responsabilidade pela crise da Igreja e do mundo não toca apenas ao Clero, mas à família. Responsabilidade por omissão, e também por ação. Com efeito, incontáveis são hoje as famílias cujos membros professam e até praticam a religião católica mas que, tendo sem embargo horror a toda forma de sofrimento não só físico como também moral, não querem abster-se dos prazeres corruptos deste século. Muitos membros delas se recusam normalmente a travar no seu íntimo a dura batalha contra os apetites desregrados, açulados de mil formas pelo estilo de vida contemporâneo. E, ademais, desejam com veemência cercar-se o mais possível de simpatia e consideração nos meios sociais a que respectivamente pertencem. O que só conseguirão se aceitarem largamente, e praticarem, as normas “morais” do neo-paganismo. Daí decorre que, não havendo paz possível entre os filhos da luz e os das trevas, nem entre os filhos da Virgem e os da serpente (10), eles não tardam em notar no convívio social que serão incompreendidos, marginalizados e até caluniados, se se mantiverem fiéis à moral ensinada pela Igreja. Em conseqüência, cederão à onda avassaladora da impiedade e da corrupção, pelo menos na medida em que seja indispensável para não perderem a benquerença geral. Tal é a triste situação das pessoas e das famílias que, deixando-se arrastar pela pressão da sociedade neopagã contemporânea, capitulam e dobram os joelhos perante Belial. Árdua, e não raras vezes heróica, é a resistência que deve ser desenvolvida contra essa pressão pelas pessoas ou famílias que, recusando-se a dobrar vilmente os joelhos ante o ídolo, se mantém fieis à lei de Deus. Tivemos ocasião de o expor em outra obra, intitulada “Guerreiros da Virgem – a replica da autenticidade: A TFP sem segredos“: “Cet animal est très méchant: quand on l’attaque il se défend” (“Este animal é muito mau: quando atacado, ele se defende”) – diz uma canção popular correntemente citada pelos franceses (La Menagère, 1868). Essa a estranha posição de certos críticos da TFP, que acham très méchant que sócios e cooperadores se afastem, por defesa da própria dignidade, dos ambientes em que são vilipendiados de modo desconcertante. Tanto mais desconcertante quando vivemos numa sociedade cada vez mais permissiva, na qual até o direito de cidadania para a homossexualidade encontra apaixonados propugnadores. Ambientes que chegam a esse extremo não são raros, mas, felizmente, não constituem a regra geral. Sem embargo, ainda há outros fatores que tornam explicável que deles se afastem – em medida maior ou menor, segundo as circunstâncias – os sócios e cooperadores da TFP. E não só estes, como freqüentemente os correspondentes da Sociedade esparsos por centenas de cidades do Brasil, em geral pais e mães de família que, por imperativo de consciência inegavelmente respeitável, intencionam firmemente manter-se na prática dos princípios da Moral tradicional da Igreja. Desta prática se afastou gradualmente, no decurso dos últimos vinte ou trinta anos, um impressionante número de ambientes sociais, nos quais os temas das conversas, as liberdades de trato entre os sexos, a televisão ligada de modo incessante, e difundindo tantas e tantas vezes cenas imorais, não podem deixar de entrar em dissonância profunda com a consciência de católicos não progressistas. Tais ambientes, em lugar de se adaptarem, na medida do necessário, às convicções e à sensibilidade moral dos católicos não progressistas, mantêm, em presença destes, exatamente o mesmo tônus em vigor se estes estivessem ausentes. Isto equivale a lhes dizer: “Vocês são uns atrasados, de idéias estreitas e modo de ser antipático. Para vocês, só há cidadania entre nós se consentirem em calcar aos pés os princípios morais que professam”. “Acolhidos” assim, que podem fazer os católicos não aggiornati pelo progressismo? – Romper com a própria consciência? – Sofreriam merecidamente o desprezo mudo daqueles mesmos ante quem capitulassem. – Protestar? – Desencadeariam com isto a indignação furiosa dos dominadores do ambiente, de onde se seguiriam discussões e rupturas. E, paradoxalmente, a fama de intolerantes ainda recairia sobre aqueles que o despotismo do espírito moderno não havia tolerado. – Retirar-se? – Os arautos desse mesmo espírito os acusariam de “esquisitos”. Resultado dessa situação é que, em certo número de vezes, o melhor para o católico não aggiornato consista mesmo em manter-se à distância. Tudo quanto acaba de ser dito aqui, poucos têm a coragem de o afirmar em letra de forma, com tanta franqueza e tantos pormenores. Mas, de uma vez por todas, era preciso que fosse dito. E dito fica. (PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA, op. cit., Ed. Vera Cruz, S. Paulo, 1985, pp. 105 a 107). A TFP na crise contemporânea: a) incompreensão e ódio, entre defensores naturais da tradição, da família e da propriedade Em terreno assim devastado – no qual se vê que, na esfera pública como na privada, tudo ou quase tudo que não é ódio declarado e agressivo contra a Igreja e a Civilização Cristã, é covardia, cumplicidade, traição – não espanta que a TFP, voltada para a luta em prol da preservação da tradição, da família e da propriedade entendidas segundo os ensinamentos tradicionais do Supremo Magistério eclesiástico, encontre em seu caminho tanta incompreensão e não raras vezes tanto ódio da parte de representantes qualificados da própria tradição, da própria família, e da mesma propriedade! “Incompreensão e ódio” devidos por vezes à ignorância, à contra-informação, à dor de consciência que as palavras e os exemplos dos católicos fiéis despertam no ânimo de tantos que de católicos só têm o nome “inimiga não há tão dura e fera, como a virtude falsa da sincera”, escreveu Camões (11). b) a ação raramente declarada de Moscou, fator dessa incompreensão Mas também incompreensão e ódio tantas outras vezes resultantes da articulação ardilosa promovida peio comunismo internacional, por meio de tantos agentes conscientes ou inconscientes, importados em difamar sem escrúpulos nem compaixão a quem se lhe opõe. Tudo com o fito de inutilizar a resistência de quantos se recusam a capitular ante o adversário. Isto explica que, no decurso da sua epopéia anticomunista de há já meio século a TFP brasileira (12) – como também as TFPs co-irmãs e autônomas de outros países – se tenham defrontado com relativamente poucos ataques de fonte expressamente comunista (13). Os atacantes têm sido quase sempre Bispos, Sacerdotes ou leigos progressistas, políticos de correntes ditas conservadoras, ou centristas e ainda… pais e mães de família! Sim, pais e mães de família na maior parte dos casos – diga-se de passagem – pertencentes às camadas mais abastadas da burguesia! “Roma e Pavia não se fizeram num dia” diz um velho adágio alusivo a feitos militares de antanho, cujo êxito não podia ser alcançado de um momento para outro. Por isto, em seguida à sua defesa contra as investidas provenientes de outros ambientes, as circunstâncias impõem que a TFP proceda enfim a análoga defesa contra os ataques de chefes de família progressistas, ou filo-socialistas, manipulados presumivelmente de modo inconsciente pela conspiração ou natural ou preternatural dos agentes a que nos referimos no início deste prefácio. O estrondo publicitário na Venezuela Com efeito, cada vez mais, a manipulação da santa e respeitável instituição da família contra a TFP se vai acentuando. Ela chegou na Venezuela a um auge verdadeiramente inimaginável (14), quando do fechamento da entidade co-irmã Associação Civil Resistência e do Bureau de representação das TFPs, em virtude de uma iníqua determinação do governo pró-socialista Lusinchi. “Bem-Aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça, porque deles é o Reino dos Céus” (Mt. V,10)
O Cardeal Mindszenty, Arcebispo de Esztergom e Primaz da Hungria, símbolo da resistência heróica ao comunismo, quando da sua visita à TFP da Venezuela, pouco antes de sua morte, ocorrida a 6 de maio de 1975. Nove anos mais tarde, em virtude de uma iníqua determinação do Governo pró-socialista Lusinchi, era fechada a entidade co-irmã Associação Civil Resistência e o Bureau de representação das TFPs, em conseqüência do êxito da campanha anti-TFP movida por algumas mães. Neste mundo onde as informações procedentes de todas as partes circulam por todas as partes, não temos conhecimento de uma só campanha, movida por um grupo de famílias, contra a corrupção moral dos respectivos filhos, que haja chegado, sequer de longe, aos extremos de agressividade de que deu mostras contra a TFP, através de uma diluviana campanha pela imprensa, rádio e TV, um grupo minoritário de famílias anti-TFP apoiadas pelo Governo pró-socialista Lusinchi e por inúmeros órgãos comunistas. Naquela ocasião, noticiaram órgãos de imprensa brasileiros que, em conseqüência do êxito dessa campanha tão aplaudida por Moscou, mães (todas ou quase todas de origem estrangeira) residentes na Venezuela deliberaram internacionalizar sua campanha, constituindo em Caracas uma central de alerta anti-TFP para tomar contato com as mães de sócios ou de cooperadores das TFPs de outros países (15). Ao que parece, a estranha e deselegante iniciativa não medrou. Ou talvez esteja à espreita de melhor ocasião para se mostrar novamente à luz do dia. De qualquer forma, o contraste é chocante: neste mundo onde as informações procedentes de todas as partes circulam por todas as partes, não temos conhecimento de uma só campanha, movida por um grupo de famílias, contra a corrupção moral dos respectivos filhos, que haja chegado, sequer de longe, aos extremos de agressividade de que deu mostras contra a TFP, através de uma diluviana campanha pela imprensa, rádio e TV, um grupo minoritário de famílias anti-TFP apoiadas pelo Governo pró-socialista Lusinchi e pelo semanário do Partido Comunista Venezuelano (cfr. “Tribuna Popular”, semanário do PCV, edições de 12 a 18 e 19 a 25 de outubro de 1984). Ademais, aplausos à ação do governo Lusinchi se fizeram ouvir muito significativamente em órgãos comunistas, como o “Izvestia”, órgão oficial do governo soviético e a revista “Bohemia”, editada nas gráficas do Partido Comunista de Cuba. Numerosos indícios, surgidos aqui, lá ou acolá, nos fazem vislumbrar que tramas anti-TFP análogas tentam articular-se a todo momento ora num, ora noutro país. Caráter contraditório da aliança PC-famílias Como ninguém ignora, a doutrina marxista visa abolir a instituição da família, mediante a implantação de um regime de casamento tão fácil de ser dissolvido por qualquer das partes, que equivale ao amor-livre. E pela entrega dos recém-nascidos ao poder público que lhes proverá inteiramente ao sustento, bem como à formação intelectual e moral, de modo que cesse a função educativa dos pais. Ora, para destruir a maior organização, ou mais precisamente o maior feixe de organizações civis anticomunistas do mundo contemporâneo, o comunismo vai procurar entre pais e mães de família as vítimas presumivelmente inadvertidas, ou seja, os “inocentes úteis” a quem instrumentalizar… É bem a tática comunista moderna no que ela tem de mais serpentino! Ainda bem que, para ajudar a TFP a se opor a esses ataques, a Providência vai suscitando, em número :sempre maior, cooperadores, e correspondentes e simpatizantes entusiasmados entre os quais constituem maioria chefes de família autênticos, dotados de lúcida experiência do mundo moderno, e que não se deixam ludibriar pelos artifícios sinuosos da propaganda comunista. * * * Finalidade desta obra A presente obra é uma defesa. Ficam aqui largamente explanadas as circunstâncias em função das quais esta se tornou indispensável. Apontar nela uma expressão de hostilidade à instituição da família não passaria, pois, de calúnia. E de inábil calúnia. Pois o próprio do caluniador astuto consiste em forjar uma versão que impressione os incautos em virtude da semelhança dela com a verdade. Quanto mais inverossímil uma calúnia, tanto mais é ineficaz. Em princípio, a explanação do tema à luz da doutrina da Igreja comportaria três etapas: 1° o que é uma vocação – famílias e vocação; 2° a demonstração de que pode constituir objeto de uma vocação específica o entregar-se alguém ao longo de toda a sua vida para atuar “full time” nas fileiras da TFP; 3° as famílias e a vocação-TFP, na crise da Igreja e das sociedades contemporâneas. O desenvolvimento metódico deste tema talvez ainda venha a ser feito pela TFP. Sobra-lhe para esse efeito o material, tanto doutrinário quanto histórico e documentário. Mas a urgência das circunstâncias presentes leva a TFP a fazer aqui uma publicação mais própria a atrair a atenção do leitor moderno, infelizmente pouco propenso às grandes argumentações doutrinárias, e por demais apetente do mero fato concreto. Mas, como se verá, à forma de publicidade adotada no presente volume não faltam grande riqueza e profundidade de conteúdo. Nesta obra, apresenta a TFP nada menos de 443 textos, extraídos de fontes católicas de merecida celebridade e de ortodoxia ilibada: Papas, Doutores da Igreja, Teólogos, Moralistas, Canonistas, Santos, Fundadores de Ordens ou Congregações religiosas, hagiógrafos e historiadores. Esse material inestimável vem classificado em dois grupos, respectivamente: Parte I – O relacionamento hierárquico e harmônico dos pais com os filhos, e dos esposos entre si, segundo os ensinamentos de Papas, Santos, Teólogos e Moralistas, e Parte II – A perfeita harmonia entre o I e o IV Mandamento nas vidas dos Santos que amaram intensamente a seus familiares, mas acima de tudo amaram a Deus. Por sua admirável variedade, por sua alta sabedoria, expressa entretanto em linguagem acessível, por sua clareza meridiana, enfim pela autoridade de que goza cada texto em função da específica situação do respectivo autor, constitui esse documentário uma leitura atraente. A possante unidade de pensamento de autores diversos em tudo – épocas e países em que nasceram, condições em que trabalharam e lutaram em prol da Igreja, situações concretas em função das quais escreveram as respectivas obras etc. – torna possível ao leitor encontrar sem maior esforço o “unum” admirável que liga implícita ou explicitamente todos estes tesouros de fé e de cultura aqui selecionados. Enquanto obra de defesa, é um livro de luta. Cumpre notar entretanto que quando alguém se defende a justo titulo, não pode ser definido só por isto como amigo da guerra. Ele é, pelo contrario, um artífice da paz, pois restabelece a justiça transgredida pela difamação injusta. Um prefaciador com as preocupações literárias do século XIX procuraria alguma bela imagem para dar um titulo a uma tal obra. E, como o século XIX foi eminentemente poético, mas sob outro angulo também eminentemente polemico, duas imagens que facilmente ocorreriam ao espirito do prefaciador seriam então “florilégio” e “panóplia”. Dois conjuntos de objetos bem diversos: flores e armas. Como qualificaria ele o presente trabalho? Entendo que sob certo ponto de vista estes textos são flores em cujas pétalas rebrilha a luz da fé, flores de paz, próprias a restituir a concórdia baseada na justiça e na verdade. Pois a paz é a obra da justiça, segundo a frase do Profeta Isaias (XXXII, 17), adotada por Pio XII como lema de seu pontificado: “Opus justitiae pax”. Há tantas famílias equivocadas, mas em cujo espírito o coro magnífico de um tal número de citações conseguirá trazer a clareza necessária. A TFP – em prol de quem os autores dessa opulenta coletânea se esmeraram com erudição e competência notáveis, e sob cujos auspícios esta se difunde – a oferece a tais famílias, como um florilégio. E a acompanha com as homenagens de sua simpatia e de sua consideração. Se famílias houver que, insensíveis a esta riquíssima coletânea, e sobretudo às vozes que nas paginas dela parecem ecoar com os timbres de todos os séculos, continuarem na ofensiva contra a TFP, esta última usará dessa obra como esplendida panóplia. Panóplia para a luta. Panóplia de armas incruentas mas refulgentes de luz, de cujo gume ou de cuja ponta resulta a vitória árdua da justiça. E, portanto, também faz nascer a paz. Mais uma vez, “Opus justitae pax”. Assim procederia o prefaciador do século XIX. Assim, mais ou menos, gostaria de proceder eu. * * * Mas, ao terminar o prefácio, deixo as reminiscências do século XIX, e desperto subitamente para a realidade circunstante. Esta realidade é de uma civilização que agoniza, num século que também se vai findando. Agoniza, sim, em um crepúsculo poluído por luzes dúbias, cadencias mecânicas, rápidas, inexoráveis, brados de caos, extertores que ululam e ameaçam de sentido enigmático, que cortam de ponta a ponta o ambiente. Não quero dar a este livro um título que sincronize com esse caos. Pois em meio a este não estará o público que me lerá. Só lhe posso dar, portanto, um título afim com o que reste de vivo na atual civilização industrial super-mecanizada. Quantas metáforas encontraram os homens do passado para elogiar as belezas da natureza! Para o homem da civilização industrial, essas metáforas não tem mais sentido. A água, por exemplo, tem um nome, um só, que exclui qualquer outro: H2O. Ele registra com cuidado tudo quanto sobre a matéria água se pode dizer. E ignora euforicamente tudo quanto, como símbolo, a água significa para a alma. Proponho aqui, aos queridos autores desta obra, um título segundo os estilos da civilização industrial, que dê uma espécie de inventário seco do que ela contém. E que, entretanto, não seja caótico, mas ordenativo: A TFP: uma vocação TFP e famílias TFP e famílias na crise espiritual e temporal do século XX Notas: (1) Mt. XII, 30 (2) Na alocução “Resistite fortes in fide”, de 29 de junho de 1972, Paulo VI afirma (as palavras textuais do Pontífice são as citadas entre aspas no resumo da Alocução apresentado pela Poliglotta): Referindo-se à situação da Igreja de hoje, o Santo Padre afirma ter a sensação de que “por alguma fissura tenha entrado a fumaça de Satanás no templo de Deus”. Há a dúvida, a incerteza, o complexo dos problemas, a inquietação, a insatisfação o confronto. Não se confia mais na Igreja; confia-se no primeiro profeta profano (estranho à Igreja) que nos venha falar, por meio de algum jornal ou movimento social, a fim de correr atrás dele e perguntar-lhe se tem a fórmula da verdadeira vida. E não nos damos conta de já a possuirmos e sermos mestres dela. Entrou a dúvida em nossas consciências, e entrou por janelas que deviam estar abertas à luz. Da ciência, que é feita para nos oferecer verdades que não afastam de Deus, mas nos fazem procurá-Lo ainda mais, e ainda mais intensamente glorificá-Lo, veio pelo contrário a crítica, veio a dúvida. Os cientistas são aqueles que mais pensada e dolorosamente curvam a fronte. E acabam por revelar: “Não sei, não sabemos, não podemos saber”. A escola torna-se um local de prática da confusão e de contradições, às vezes absurdas. Celebra-se o progresso para melhor poder demoli-lo com as mais estranhas e radicais revoluções, para negar tudo aquilo que se conquistou, para voltar a ser primitivos, depois de ter exaltado tanto os progressos do mundo moderno. Também na Igreja reina este estado de incerteza. Acreditava-se que, depois do Concílio, viria um dia ensolarado para a História da Igreja. Veio, pelo contrário, um dia cheio de nuvens, de tempestade, de escuridão, de indagação, de incerteza. Pregamos o ecumenismo, e nos afastamos sempre mais uns dos outros. Procuramos cavar abismos, em vez de soterrá-los. Como aconteceu isto? O Papa confia aos presentes um pensamento seu: o de que tenha havido a intervenção de um poder adverso. O seu nome é diabo, este misterioso ser a que também alude São Pedro em sua Epístola (que o Pontífice comenta na Alocução). Tantas vezes, por outro lado, retorna no Evangelho, nos próprios lábios de Cristo, a menção a este inimigo dos homens. “Cremos – observa o Santo Padre – que alguma coisa de preternatural veio ao mundo justamente para perturbar, para sufocar os frutos do Concílio Ecumênico, e para impedir que a Igreja prorrompesse num hino de alegria por ter readquirido a plenitude da consciência de si” (Insegnamenti de Paolo VI, Tipografia Poliglotta Vaticana, vol. X, pp. 707 a 709). (3) Em Alocução aos alunos do Seminário Lombardo, em 7 de dezembro de 1968, disse Paulo VI: A Igreja atravessa hoje um momento de inquietude. Alguns praticam a autocrítica, dir-se-ia até a autodemolição. E’ como uma perturbação interior, aguda e complexa, que ninguém teria esperado depois do Concílio. Pensava-se num florescimento, numa expansão serena dos conceitos amadurecidos na grande assembléia conciliar. Há ainda este aspecto na Igreja, o do florescimento. Mas posto que ‘bonum ex integra causa, maluco ex quocumque defectu’, fixa-se a atenção mais especialmente sobre o aspecto doloroso. A Igreja é golpeada também pelos que dela fazem parte (Insegnamenti di Paolo VI, Tipografia Poliglotta Vaticana, vol. VI, p. 1188 – as palavras não são textuais do Pontífice e sim do resumo que delas apresenta a Poliglotta Vaticana). Cfr. também nota 2. (4) Em Alocução de 6 de fevereiro de 1981, aos Religiosos e Sacerdotes participantes do I Congresso nacional italiano sobre o tema Missões ao povo para os anos 80, João Paulo II assim descreveu a desolação hoje reinante na Igreja: “E’ necessário admitir realisticamente e com profunda e sentida sensibilidade que os cristãos hoje, em grande parte, sentem-se perdidos, confusos, perplexos e até desiludidos: foram divulgadas prodigamente idéias contrastantes com a Verdade revelada e desde sempre ensinada; foram difundidas verdadeiras heresias, no campo dogmático e moral, criando dúvidas, confusões e rebeliões; alterou-se até a Liturgia; imersos no ‘relativismo’ intelectual e moral e por conseguinte no permissivismo, os cristãos são tentados pelo ateísmo, pelo agnosticismo, pelo iluminismo vagamente moralista, por um cristianismo sociológico, sem dogmas definidos e sem moral objetiva” (L’ Osservatore Romano, 7-2-81). (5) Logo após ter sido publicada a primeira parte de sua obra, Leão XIII honrou o autor com o seguinte Breve: “Ao amado filho Ludwig v. Pastor, professor de História na Universidade de Innsbruck Leão P. P. XIII “Amado filho. Saudação e bênção apostólica. Juntamente com tua carta, entregaram-nos o primeiro volume da História dos Romanos Pontífices que principiaste. É-nos grato o que nos escreves, sobre o fato de terem sido proveitosos para ti os documentos acerca das coisas antigas, os quais por certo conseguiste no Arquivo Vaticano; e não é possível que tão grande mostra de erudição deixe de proporcionar muita luz para a investigação da Antigüidade. Tu, na verdade, tens em mãos uma obra verdadeiramente laboriosa e, por outro lado, notável pela variedade dos acontecimentos; tendo começado pelo fim da Idade Média, pretendes prosseguir até nossa época. Mas desta primeira parte de teus estudos, à qual vemos não ter faltado a aprovação de varões idôneos, é lícito tirar uma conjectura sobre a boa qualidade das demais. Exortar-te-íamos, pois, a dar-nos ardorosamente as partes que faltam, se não soubéssemos que tua vontade é tão fervorosa, que não necessitas absolutamente de tal exortação. E, na verdade, não podias ter empregado os dotes de teu engenho mais santa e proveitosamente em qualquer outra coisa, do que em esclarecer com sinceridade e diligência os feitos dos Sumos Pontífices, cujos louvores têm costumado obscurecer com tanta freqüência, não só a incúria dos tempos, como a malévola contradição dos homens. Como augúrio, pois, dos celestes dons, e testemunho de nossa paternal benevolência, damo-te no Senhor muito amorosamente nossa bênção apostólica. Dado em Roma, apud S. Petrum, die XX Januarii anno 1887, pontificatus Nostri nono”. Na ocasião em que publicou o quarto tomo de sua obra, foi Pastor honrado com uma carta de punho e letra do Papa São Pio X, na qual lhe diz o Santo Pontífice: “Se teu importante trabalho mereceu tão extraordinário aplauso, tanto dos eruditos católicos como dos não católicos, tu o alcançaste, antes de tudo, pela extensão e profundidade de tuas investigações. Nós te felicitamos por tal êxito, obtido graças a um incansável labor, o qual redunda deste modo em louvor do Instituto que diriges; e te damos graças, já que conquistaste também, para a Santa Igreja Católica, méritos muito grandes. Com alegria alimentamos a esperança de que, servindo-te de nosso arquivo, continuarás ainda a publicar novos tomos de tua grande obra histórica, os quais servirão sem dúvida para grande bem da Igreja e difusão da verdade histórica” (Historia de los Papas, tomo I, vol. 1, pp. 55-56). (6) A corrupção era grande em Roma. Adriano VI não só apontava os males da Igreja, mas desejava uma reforma profunda que sanasse esses males, tendo-a começado por cima com decidida resolução. Onde lhe foi possível, se opôs à acumulação de benefícios, proibiu toda a espécie de simonia, e velou solicitamente pela eleição de pessoas dignas para os cargos eclesiásticos, conseguindo as mais exatas informações sobre a idade, os costumes e a instrução dos candidatos, lutando com inexorável vigor contra os defeitos morais. Com a radical reforma da Cúria Romana, empreendida por Adriano VI, não queria somente este nobre Papa por fim ao estado de coisas que lhe causava tão viva repugnância; mas esperava também, por este meio, tirar aos Estados alemães o pretexto para a sua apostasia de Roma – cfr. Pastor, Historia de los Papas, tomo IV, vol. IX). (7) LUDOVICO PASTOR, Historia de los Papas, Editorial Gustavo Gili, Barcelona, 1952, tomo IV, vol. IX, pp. 107 a 109 / Imprimase: El Vicario General José Palmarolla, por mandato de Su Señoria, L.c. Salvador Carreras, Pbro., Strio, Canc. – Os NEGRITOS são do autor deste Prefacio. (8) NOTA DO EDITOR: Só nas publicações das várias TFPs cfr: * 1943 – 0 Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, então Presidente da Junta Arquidiocesana da Ação Católica de São Paulo, publicou o livro “Em Defesa da Ação Católica”, no qual denunciava os erros do progressismo nascente e o avanço das tendências esquerdistas no seio daquela associação. Esta obra foi elogiada por determinação de Pio XII, comunicada em carta ao autor, assinada por Mons. J. B. Montini, Substituto da Secretaria de Estado, depois Paulo VI. Carta que transcrevemos em seguida: “Preclaro Senhor, “Levado por tua dedicação e piedade filial ofereceste ao Santo Padre o livro “Em defesa da Ação Católica”, em cujo trabalho revelaste aprimorado cuidado e aturada diligência. “Sua Santidade regozija-se contigo porque explanaste e defendeste com penetração e clareza a Ação Católica, da qual possuis um conhecimento completo, e a qual tens em grande apreço, de tal modo que se tornou claro para todos quão oportuno é estudar e promover tal forma auxiliar do apostolado hierárquico. “O Augusto Pontífice de todo o coração faz votos que deste teu trabalho resultem ricos e sazonados frutos, e colhas não pequenas nem poucas consolações. “E como penhor de que assim seja, te concede a Bênção Apostólica. “Entrementes, com a devida consideração me declaro teu muito devotado”. * 1960 – O Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, em colaboração com três outros autores, escreveu “Reforma Agrária – Questão de Consciência”, livro que denunciava a Reforma Agrária nitidamente socialista e confiscatória que as hostes comuno-progressistas começavam a propugnar no início da década de 60. * 1963 – O Prof. Plinio Corrêa de Oliveira denunciou a manobra do comunismo internacional que induz largos setores centristas católicos a aceitarem a perspectiva de uma eventual eliminação da propriedade privada na hipótese de uma vitória eleitoral comunista, ou de uma invasão russa, em troca de uma tal ou qual liberdade de culto. Examina ele o assunto na obra “Acordo com o regime comunista: para a Igreja: esperança ou autodemolição?” Tal obra foi publicada originariamente sob o título “A liberdade da Igreja no Estado comunista”, e foi vivamente elogiada em carta da Sagrada Congregação dos Seminários e Universidades como “eco fidelíssimo” dos documentos do Supremo Magistério da Igreja. Carta essa assinada pelo Cardeal Giuseppe Pizzardo e referendada pelo então Monsenhor, depois Cardeal, Dino Staffa, Arcebispo titular de Cesaréia da Palestina, respectivamente Prefeito e Secretário daquele Sagrado Dicastério, e da qual transcrevemos o seguinte trecho: “Congratulamo-nos com o egrégio Autor, merecidamente célebre pela sua ciência filosófica, histórica e sociológica, e auguramos a mais larga difusão ao denso opúsculo, que é um eco fidelíssimo de todos os Documentos do Supremo Magistério da Igreja”. Teve ela dez edições em português, onze em espanhol, cinco em francês, quatro em inglês, três em italiano, duas em polonês, uma em alemão, uma em húngaro e uma em vietnamita. E foi transcrita integralmente em 39 jornais ou revistas de treze diferentes países. * 1968 – Em julho de 1968 a TFP organizou um abaixo-assinado, dirigido a Paulo VI, pedindo respeitosamente medidas eficazes contra a infiltração comunista nos meios católicos. Em 58 dias, 1.600.368 assinaturas foram obtidas nas vias públicas de 229 cidades. Por iniciativa das respectivas TFPs locais, o abaixo-assinado estendeu-se à Argentina, Chile e Uruguai, alcançando o impressionante total de 2.038.112 assinaturas. * 1969 – As revistas “Ecclesia” de Madrid e “Approaches” de Londres noticiavam a existência de organismos semiclandestinos, o IDO-C e grupos proféticos, que visavam a transformação da Igreja Católica em uma Igreja-Nova, atéia, dessacralizada, desmitificada, igualitária e posta a serviço do comunismo. O Prof. Plinio Corrêa de Oliveira fez uma primeira denúncia dos dois organismos, em cinco artigos para a “Folha de São Paulo”. Depois disso “Catolicismo” publicou, em número especial a tradução da matéria de “Ecclesia” e de “Approaches”, juntamente com os artigos analíticos do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. * 1972 – A “Sociedad Argentina de Ia Defensa de la Tradición, Familia y Propriedad” lançou o livro “Los Kerenskys Argentinos” onde denunciava uma minoria revolucionária constituída por “sapos” da alta finança, clérigos esquerdistas, homens de imprensa, figuras do Governo de então e da intelligentsia, bem como por políticos profissionais, cuja atuação visava conduzir a Argentina ao socialismo populista, pela instauração de um governo esquerdista moderado – muito esquerdista e pouco moderado. * 1976 – A “Sociedad Chilena de Defensa de la Tradición, Familia y Propriedad” lançou o livro “La Iglesia del Silencio en Chile – La TFP proclama la verdad entera”, que contém uma descrição e análise do desconcertante apoio que grande parte do Episcopado e uma ponderável parcela do Clero chileno, encabeçados pelo Cardeal Silva Henriquez, de Santiago, deram ao marxista Allende para sua ascensão ao poder e desastrada permanência nele. O livro foi também publicado na Argentina, Colômbia, Espanha, França e Estados Unidos. * 1976 – Em junho de 1976, foi lançado o livro “A Igreja ante a escalada da ameaça comunista – Apelo aos Bispos silenciosos”, no qual o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira apresentava meticuloso e documentado estudo da infiltração esquerdista nos ambientes católicos brasileiros desde 1943. O livro apresentava também um resumo da obra da TFP chilena, “A Igreja do Silêncio no Chile – A TFP andina proclama a verdade inteira”. * 1976 – No livro “Izquierdismo en Ia Iglesia: ‘Compañero de ruta’ del comunismo en la larga aventura de los fracasos y de las metamorfosis”, a Comissão de Estudos da “Sociedade Uruguaya de Defensa de Ia Tradición, Família y Propriedad” mostra como uma parcela influente da Hierarquia e do Clero do respectivo país apoiaram a subversão que durante vários anos vinha convulsionando a nação uruguaia, e que teve como braço armado o tristemente célebre movimento guerrilheiro tupamaro. * 1977- No estudo, com sete edições em português, “Tribalismo indígena, ideal comuno-missionário, para o Brasil do século XXI”, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira denunciou a corrente neo-missionária “aggiornata” que faz apologia das condições de vida originária dos índios brasileiros, e fala contra a catequese bem como a civilização dos mesmos. A dita corrente prega também uma “luta de classes” entre silvícolas e brancos. Além de transcrito numa edição especial de “Catolicismo” o referido estudo foi publicado em inglês na revista “Crusade for a Christian Civilisation”. 1978- Os “Jeunes Canadiens pour une Civilisation Chrétienne” denunciaram no seu livro “Développement et paix, un socialisme multicolore au service du communisme”, editado em francês, e em inglês, as tendências marxistas da “Organisation Catholique Canadienne pour le Développement et la Paix” fundada pelo Episcopado daquele país para ajudar as nações subdesenvolvidas. * 1980 – Em julho de 1980, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira publicou o estudo “Na ‘Noite Sandinista’: o incitamento à guerrilha dirigido por sandinistas ‘cristãos’ à esquerda católica do Brasil e da América Espanhola”, no qual analisa uma desconcertante sessão da “Semana de Teologia” realizada por “teólogos da libertação” no teatro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. O estudo do Presidente do Conselho Nacional da TFP foi publicado em “Catolicismo” e difundido amplamente em todo o País. * 1981 – A CNBB retoma a envelhecida bandeira agro-reformista, tentando reerguê-la em sua Assembléia Geral de 1980, que aprovou o documento intitulado “Igreja e Problemas da Terra”. Em março de 1981 a TFP lançou o livro do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, intitulado “Sou Católico: posso ser contra a Reforma Agrária?”, no qual o autor faz exaustiva análise do documento aprovado por 172 Bispos, mostrando que o mesmo discrepa da doutrina tradicional dos Papas. Na mesma obra, o documento dos Bispos é criticado como carente de fundamento, também do ponto de vista econômico, pela penetrante análise do economista Carlos Patrício del Campo. * 1982 – Em agosto de 1982, saiu a público a obra “As CEBs… das quais muito se fala, pouco se conhece – A TFP as descreve como são”. Esta se divide em duas partes, uma da autoria do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, a outra de dois sócios da TFP, Srs. Gustavo Antônio Solimeo e Luiz Sérgio Solimeo. Nela o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira delineia largamente o panorama da situação brasileira e mostra como a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB – constitui a ponta de lança do esquerdismo no País, para o que esta se serve da extensa e tentacular organização conhecida pelo nome de “Comunidades Eclesiais de Base – CEBs”. A gênese, a organização, doutrina e ação das CEBs é tratada com opulenta documentação pelos dois sócios da TFP, Srs. Gustavo Antonio Solimeo e Luiz Sérgio Solimeo. * 1983 A “Sociedad Argentina de Defensa de la Tradición, Familia y Propriedad” publicou uma extensa análise de um documento do Episcopado platino sobre a situação política daquele país. O trabalho da TFP argentina, redigido pelo seu presidente Dr. Cosme Beccar Varela (h), levava o sugestivo título “Por parte de la Conferencia Episcopal, ambiguidad y omisión. Por parte de la TFP, reverente deploración”. * 1984 – A TFP, em novo lance contra as hostes progressistas, deu a lume, em maio de 1984, um livreto com histórias em quadrinhos, sob o título “Agitação social, violência: produtos de laboratório que o Brasil rejeita”. O opúsculo aborda temas candentes do panorama brasileiro em geral, e a atuação das “Comunidades Eclesiais de Base – CEBs”, em particular. * 1984 – Numa edição especial intitulada “Brasil em chamas?”, com base numa reportagem de seus enviados especiais a regiões afetadas pelas agitações e em informações colhidas nos noticiários de órgãos de imprensa que circulam em regiões onde se verificaram os conflitos mais graves, o mensário “Catolicismo” mostra como o largo e bem estruturado plano de agitação, que se estendeu naquela altura por todo o território nacional, foi dirigido pela esquerda “católica”, através de elementos altamente credenciados na Hierarquia eclesiástica e de organismos como a “Comissão Pastoral da Terra – CPT”, as “Comunidades Eclesiais de Base – CEBs”, entre outras. * 1984 – A TFP chilena lançou um número da revista “Tradición, Familia y Propriedad” em que denuncia a atuação da esquerda católica na periferia de Santiago, sob o título “Que prepara la izquierda católica en los barrios periféricos de Santiago?”. (9) Mons. Gaillot, Arcebispo de Evreux, concedeu entrevista a “L’Evénement du Jeudi” nos seguintes termos: – “Suponho que o Sr. não tenha ainda visto o filme ‘Je vous salve, Marie’, de Jean-Luc Godard. – “Não, mas tenho desejo de vê-lo! – “A censura incide sobre esse filme porque nele se apresenta a Virgem nua. A interdição lhe parece legítima? – “Eu tenho pouco desejo de que ele seja interditado. Dada a qualidade do cinema de Godard, parece-me interessante que ele tente exprimir o ‘Mistério’ na sua arte. Eu não vi o filme, mas a priori não gostaria que ele fosse interditado nem que se fizesse uma gritaria escandalosa em tomo dele”. Cfr. ainda o artigo “Escândalo na França: filme blasfemo elogiado até pelos que o deveriam impugnar” publicado em “Catolicismo” de maio de 1985. (10) Vejam-se, a esse respeito, as seguintes frases de Nosso Senhor Jesus Cristo: “Se o mundo vos aborrece, sabei que, primeiro do que a vós, Me aborreceu a Mim. Se vós fosseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; mas, porque vós não sois do mundo, antes Eu vos escolhi do meio do mundo, por isso o mundo vos aborrece. Lembrai-vos daquela palavra que Eu vos disse: Não é o servo maior do que o seu senhor. Se eles me perseguiram a Mim, também vos hão de perseguir a vós; se eles guardaram a minha palavra, também hão de guardar a vossa” (Jo. XV, 18-20). “Eu disse-vos estas coisas para que vos não escandalizeis. Lançar-vos-ão fora das sinagogas; e virá tempo em que todo o que vos matar, julgará prestar serviço a Deus” (Jo. XVI, 1-2). Veja-se, ainda, este trecho do célebre “Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem”, de São Luís Maria Grignion de Montfort. Nele o grande apóstolo marial comenta as palavras do Gênesis: “`Inimicitias ponam inter te et mulierem, et semen tuum et semen illius; ipsa conteret caput tuum, et tu insidiaberis calcaneo eius’ (Porei inimizades, entre ti e a mulher, e entre a tua posteridade e a posteridade dela. Ela te pisará a cabeça, e tu armarás traições ao seu calcanhar Gn. 111, 15). “Uma única inimizade Deus promoveu e estabeleceu, inimizade irreconciliável, que não só há de durar, mas aumentar até ao fim: a inimizade entre Maria, sua digna Mãe, e o demônio; entre os filhos e servos da Santíssima Virgem e os filhos e sequazes de Lúcifer; de modo que Maria é a mais terrível inimiga que Deus armou contra o demônio. (…) “Deus não pôs somente inimizade, mas inimizades, e não somente entre Maria e o demônio, mas também entre a posteridade da Santíssima Virgem e a posteridade do demônio. Quer dizer, Deus estabeleceu inimizades, antipatias e ódios secretos entre os verdadeiros filhos e servos da Santíssima Virgem e os filhos e escravos do demônio. Não há entre eles a menor sombra de amor, nem correspondência íntima existe entre uns e outros. Os filhos de Belial, os escravos de Satã, os amigos do mundo (pois é a mesma coisa) sempre perseguiram até hoje e perseguirão no futuro aqueles que pertencem à Santíssima Virgem, como outrora Caim perseguiu seu irmão Abel, e Esaú, seu irmão Jacob, figurando os réprobos e os predestinados. Mas a humilde Maria será sempre vitoriosa na luta contra esse orgulhoso, e tão grande será a vitória final que ela chegará ao ponto de esmagar-lhe a cabeça, sede de todo o orgulho” (São LUIS MARIA GRIGNION DE MONTFORT, Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, Vozes, Petrópolis, 7a. ed., pp. 54 a 57 / Imprimatur: Por comissão especial do Exmo. e Revmo. Sr. Dom Manuel Pedro da Cunha Cintra, Bispo de Petrópolis; Frei Desidério Kaiverkamp, OFM, Petrópolis, 16-1-61) (11) “Os Lusíadas”, Canto X, 113. (12) Cfr. “Meio século de epopéia anticomunista”, Editora Vera Cruz, São Paulo, 1980, 4a. ed., 474 pp. (13) Poucos, sim, se comparados aos ataques provenientes de outras fontes. Mas expressivos: * Na madrugada do dia 20 de junho de 1969, terroristas detonam uma bomba na sede da TFP à Rua Martim Francisco, n.° 669, em São Paulo. * A TFP chilena recebeu, entre 1965 e 1973, numerosos ataques por parte de “El Siglo”, órgão do Partido Comunista Chileno. * Durante o mês de fevereiro de 1976, a Rádio Moscou, em quatro emissões do seu programa “Escucha Chile”, atacou a TFP do país andino e defendeu o Episcopado, a propósito do livro “La Iglesia del Silencio en Chile”, que a entidade acabava de publicar. * Em outubro de 1985 a TFP chilena foi vítima de um ataque à bomba. Esta fazia parte de uma série de bombas colocadas numa mesma noite em vários pontos de Santiago por terroristas esquerdistas. * Em julho de 1978, em Bogotá; em março de 1980, em Medellín; e em novembro de 1981, novamente em Bogotá, a TFP colombiana teve sedes atingidas por bombas terroristas do “Ejército de Liberación Nacional”. * Em fevereiro de 1985, outra vez na sede de Medellín, nova bomba explodiu – atribuída à “Frente Ricardo Franco” das “Fuerzas Armadas Revolucionarias de Colombia” ligadas ao Partido Comunista * A propósito do Manifesto lançado por ocasião das eleições presidenciais de 1984, no Equador, a TFP daquele país recebeu numerosos ataques por parte de jornais comunistas. * A 20 de Novembro de 1984 o “Izvestia”, órgão oficial do governo soviético, patenteia sua inteira solidariedade com o estrondo publicitário de que foram alvo a Associação Civil Resistência, co-irmã das TFPs, e o Escritório de representação das TFPs em Caracas. Também fizeram eco ao dito estrondo publicitário os seguintes órgãos comunistas: – “Novedades de Moscú” (março de 85), edição espanhola do boletim oficial de informações “Moskovkie Novosti”; – Eduard KUVALIOV, no livreto “Atentado na praça de São Pedro” da Editorial da agência de imprensa comunista russa, “Novosti”; – “World Marxist Review” (abril de 85), publicada em Praga, na Checoslováquia, principal órgão de análise de política internacional do comunismo; – “O Diário” pulicado em Lisboa (11 de outubro e 21 de novembro de 1984), órgão oficioso do Partido Comunista Português; – “Bohemia” (7/12/84), revista editada nas gráficas do Partido Comunista de Cuba; – “Tribuna Popular” (12 a 18 de outubro e 19 a 25 de outubro de 1984), semanário do Partido Comunista Venezuelano; – “Unidad” (20/12/84), órgão do Partido Comunista Peruano; – “Voz Proletaria” (7 e 9 de outubro de 1984), órgão do Partido Comunista Colombiano. (14) 16 destacadas personalidades venezuelanas, entre juristas, políticos, intelectuais e colunistas de jornais, denunciaram a ilegalidade flagrante da medida, chegando alguns a levantar o problema da inconstitucionalidade do decreto de fechamento. Cfr. MARIANO ANTONIO LEGEREN, “Tirania, despotismo e perseguição religiosa na Venezuela socialista”, in “Catolicismo”, fevereiro de 1985. Sairá a lume em momento oportuno uma obra consagrada a historiar documentadamente e analisar com serenidade e coragem o conjunto de fatos tenebrosos que desfecharam em tal decreto. (15) Estados Unidos, Canadá, Colômbia, Equador, Peru, Bolívia, Argentina, Uruguai, Chile, Brasil, Portugal, Espanha, França, Itália, Bélgica, Alemanha, Austrália, África do Sul, Inglaterra e Costa Rica. |