Conferência para Correspondentes Esclarecedores da TFP brasileira e de outras entidades co-irmãs e autônomas, 22 de junho de 1984 (trecho)
A D V E R T Ê N C I A
Trecho de gravação de conferência do Prof. Plinio, não tendo sido revista pelo autor.
Se Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:
“Católico apostólico romano, o autor deste texto se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto, por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.
As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá Dr. Plinio em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.
Um consulente, um consulente de ilustre nome – eu poderia mencionar -, é o professor Guérius, intelectual conhecido no Brasil inteiro e que nos dá a alegria de comparecer a esta reunião, é um Correspondente de valor da TFP, me faz essa pergunta: “Condena o Sr. todo o Concílio Vaticano II? Por quê”?
Estudar todo o Concílio do Vaticano… Os senhores devem lembrar-se que o Concílio do Vaticano levou pelo menos 20 anos para ser feito. Quer dizer, para ser preparado o esquema que o Concílio aprovou. O Concílio foi rápido, mas a confecção do esquema levou pelo menos 20 anos, com a participação de uma equipe brilhantíssima de teólogos com os quais eu não concordo em quase nada.
Eu não tenho nenhuma dúvida em dizer que não tenho tempo, eu pessoalmente, para estudar o Concílio Vaticano inteiro. Com as ocupações que eu tenho com a TFP, não tenho tempo! Temos pessoas de distinção, de inteligência, de cultura – uma mais especialmente, muito mais especialmente – que está estudando o Concílio Vaticano em toda a sua periferia, mas para dar a volta nessa cidade, fazer o circuito de toda a muralha, leva tempo. E aí eu estaria em condições, conversando com esse dileto amigo – um filho -, eu estaria em condições de formar a minha opinião pessoal e de propor aos senhores uma opinião que seria sempre uma opinião de amor e de submissão à Santa Igreja Católica!
Não um amor qualquer, nem uma submissão qualquer. Mas é um amor abrasado, é um amor que vá tão longe quanto esse amor pode ir. E é o que eu peço todo o dia a Nossa Senhora: é amar a Ela, amar a Santa Igreja Católica, adorar a Sagrada Eucaristia tão longe quanto possa estar em mim pelos desígnios da graça que eu chegue. Uma obediência não apenas resignada, conformada, mas uma obediência en-tu-sias-ma-da! Ainda que a Igreja ensine algum dia algo que era contrário à minha opinião pessoal antes de conhecer o ensinamento dela, eu já estou resolvido de antemão, sem nenhuma vacilação e nenhuma dúvida, não só em dizer “sim”, mas em bater palmas, em dobrar os joelhos e, se se pudesse dizer isto, oscular os pés da Santa Igreja!
E, quando eu digo Santa Igreja, eu não digo só o conjunto que constitui a Santa Igreja, que é o conjunto da Hierarquia e dos fiéis. Mas meu pensamento, como membro da Igreja discente, como leigo, que pertenço à parte da Igreja que é feita para ser governada, para ser santificada, para ser ensinada, eu digo isto especialmente da Sagrada Hierarquia da qual eu espero e na qual eu creio que me guie, que me ensine e que me santifique. É, portanto, numa atitude de acatamento até o fundo de minha alma à Sagrada Hierarquia!
Mas, uma vez que o problema se põe: há dissonâncias entre aspetos do Vaticano II e aspetos do ensinamento tradicional, com quem ficar? Não é por uma preferência pessoal, mas é porque eu conheço a doutrina da Igreja que eu digo: nada pode ir contra o ensinamento tradicional da Igreja Católica!
A pergunta não é, portanto, essa: a Igreja está ali, eu para onde irei? Não! Se a Igreja está em certo lugar, eu já fui, eu já estou com Ela, porque é o que eu quero!
A questão é outra: onde está a Igreja? Ah! Essa é a questão! Nas trevas de hoje, ó Igreja, minha Mãe, não me escondais os vossos olhos que são a luz da minha alma!
Eu vejo homens eminentes pela situação que ocupam na Igreja, eminentes alguns pelo seu preparo teológico e que dizem coisas que coincidem com que eu sempre entendi ser o ensinamento tradicional da Igreja. Um é que a heresia não tem o direito de existir! Ela pode ser tolerada, mas ser tolerada é uma coisa. Permitir é outra coisa. Permitir não pode!
Quando eu li o contrário no Concílio, quando eu li o discurso final do falecido e famoso Cardeal (Alfredo) Ottaviani (1890-1979), dizendo que ele tinha que mudar as convicções dele até então adquiridas e conformar-se com o princípio da liberdade religiosa afirmada no Concílio, eu fechei o livro e disse: “Com isso eu não estou de acordo! Se até um homem desses teve que mudar, eu digo: eu não mudo, porque a tradição não muda!”
Ponderem bem os senhores que eu estou falando aqui no exercício da minha função de Presidente do Conselho Nacional da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade – TFP. Mas que é preciso estabelecer um matiz dentro disso.
A TFP existe como uma sociedade que visa a realização da Civilização Cristã, e que está ordenada para que a sociedade temporal se ordene de acordo com a lei de Deus. Esta TFP não é chamada, portanto, para se pronunciar a respeito de assuntos teológicos, a respeito de assuntos desta elevação.
Mas se chega um determinado momento que eu digo – como digo na TFP – a doutrina social, toda a doutrina que serve de fundamento à nossa ação é a doutrina católica, e eu vejo que este fundamento vacila em alguns pontos no Concílio, eu não posso deixar de me pronunciar sobre isto, porque é o próprio fundamento da nossa obra que está em jogo. E então eu estou certo de representar o consenso unânime de todas as TFPs dizendo: “Nós, como católicos e particulares, temos nossa opinião formada, isso repercute nas atitudes da TFP”. É natural.
Nota: 1) Para ouvir outros trechos dessa Conferência, clique em:
* O erro fundamental do ecumenismo
* Crise na Santa Igreja: como preservar sua Fé durante esta prova?
2) Para aprofundar o tema CONCÍLIO VATICANO II, conforme o que Plinio Corrêa de Oliveira considerava e publicou a respeito, três anos de seu falecimento (em 1995), consulte-se sua obra “Revolução e Contra-Revolução“, Parte III, Cap. II, n. 4 – A ofensiva psicológica da III Revolução, na Igreja – A. O Concílio Vaticano II, Comentário acrescentado em 1992: Surpreendentes calamidades na fase pós-conciliar da Igreja