Capítulo V

 

 

As Três Profundidades da

Revolução:

nas tendências, nas idéias,

nos fatos

 

 

 

 

 

 

  Bookmark and Share

1. A Revolução nas tendências

Como vimos, essa Revolução é um processo feito de etapas, e tem sua origem última em determinadas tendências desordenadas que lhe servem de alma e de força propulsora mais íntima (10).

Assim, podemos também distinguir na Revolução três profundidades, que cronologicamente até certo ponto se interpenetram.

A primeira, isto é, a mais profunda, consiste em uma crise nas tendências. Essas tendências desordenadas, que por sua própria natureza lutam por realizar-se, já não se conformando com toda uma ordem de coisas que lhes é contrária, começam por modificar as mentalidades, os modos de ser, as expressões artísticas e os costumes, sem desde logo tocar de modo direto - habitualmente, pelo menos - nas idéias.

2. A Revolução nas idéias

Dessas camadas profundas, a crise passa para o terreno ideológico. Com efeito - como Paul Bourget pôs em evidência em sua célebre obra Le Démon de Midi - “cumpre viver como se pensa, sob pena de, mais cedo ou mais tarde, acabar por pensar como se viveu” (11). Assim, inspiradas pelo desregramento das tendências profundas, doutrinas novas eclodem. Elas procuram por vezes, de início, um modus vivendi com as antigas, e se exprimem de maneira a manter com estas um simulacro de harmonia que habitualmente não tarda em se romper em luta declarada.

3. A Revolução nos fatos

Essa transformação das idéias estende-se, por sua vez, ao terreno dos fatos, onde passa a operar, por meios cruentos ou incruentos, a transformação das instituições, das leis e dos costumes, tanto na esfera religiosa quanto na sociedade temporal. É uma terceira crise, já toda ela na ordem dos fatos.

4. Observações diversas

A. As profundidades da Revolução não se identificam com etapas cronológicas

Essas profundidades são, de algum modo, escalonadas. Mas uma análise atenta evidencia que as operações que a Revolução nelas realiza de tal modo se interpenetram no tempo, que essas diversas profundidades não podem ser vistas como outras tantas unidades cronológicas distintas.

B. Nitidez das três profundidades da Revolução

Essas três profundidades nem sempre se diferenciam nitidamente umas das outras. O grau de nitidez varia muito de um caso concreto a outro.

C. O processo revolucionário não é incoercível

O caminhar de um povo através dessas várias profundidades não é incoercível, de tal maneira que, dado o primeiro passo, ele chegue necessariamente até o último, e resvale para a profundidade seguinte. Pelo contrário, o livre arbítrio humano, coadjuvado pela graça, pode vencer qualquer crise, como pode deter e vencer a própria Revolução.

Descrevendo esses aspectos, fazemos como um médico que descreve a evolução completa de uma doença até a morte, sem pretender com isto que a doença seja incurável.

Notas:

10) Cfr. Parte I - Cap. III, 3.

11) Op. cit., Librairie Plon, Paris, 1914, vol. II, p. 375.

Avante

Índice

Atrás


ROI campagne pubblicitarie