Reforma Agrária - Questão de Consciência


Secção II

Capítulo IV

Proposição 36

Impugnada

A história ensina que, depois dos grandes transbordamentos, a ordem natural das coisas se reconstitui por si, com os corretivos de que tinha necessidade. Isso, por exemplo, se deu na França depois do Terror. É, aliás, o que está na própria força reta da natureza. Já o diziam os romanos: "Afastarás a natureza com o tridente, mas ela por fim voltará" - "naturam expelles furca, tamem usque recurret" (270). Uma reação violenta da Igreja provocaria grande derramamento de sangue e até sacrilégios, para não evitar nada. É melhor, então, não reagir; entrar num regime de concessões e orientar a Revolução de maneira que se verifique o menor número possível de abalos.

Afirmada

Está na missão da Igreja opor-se a toda forma de erro ou de mal, e não só à que for de efeitos muito duráveis.

É aliás bem certo que tudo volta por fim à ordem natural? Sem Jesus Cristo não há ordem verdadeira. E é possível que uma civilização que O abandonou se conserve assim, obstinada à graça, até o fim dos séculos.

Pactuar com a Revolução é fomentar as paixões desordenadas de que ela nasce. Não é assim, nem calando-se sobre a verdade e o erro, que se guia o povo para o bem.

É preciso contar com o auxílio divino e afirmar animosamente a verdade. Daí só podem decorrer conseqüências boas: a vitória, ou o martírio.

 

Comentário

O próprio exemplo da Revolução Francesa mostra o contrário do que diz a proposição impugnada. Seus erros não encontraram, nem na França nem no resto da Europa, reação suficiente. Desarmada a vigilância geral depois de cessado o Terror, esses erros se generalizaram pelo mundo, em meio à indolência benévola da imensa maioria.

Preparava-se assim remotamente o terreno para a disseminação universal do comunismo (271).

Tanto é verdade que as borrascas da História não são sempre efêmeras e de importância relativamente pequena.

* * *

Adaptar-se aos maus meios, para os orientar, e isto a ponto de assimilar o mal ou colaborar com ele, importa bem no erro condenado por Pio IX no "Syllabus" (272).

Não raras vezes, não é só o temor que o inspira, mas também uma simpatia, consciente ou não, com o próprio mal.


Notas:

(270) Horácio, "Epistolas" - 1, 10, 24.

(271) Cfr. Plinio Corrêa de Oliveira, "Revolução e Contra-Revolução"- "Boa Imprensa Ltda.", Campos, págs. 48 e ss.

(272) Cfr. Textos Pontifícios da Proposição 37.


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