Reforma Agrária - Questão de Consciência


Secção II

Capítulo IV

Proposição 35

 

Impugnada

Não valia a pena levantar essa celeuma. A Igreja sempre se conservou à margem das lutas e dos tumultos, o que lhe tem dado bons resultados.

Ela compreende, com efeito, que, em vez de irritar a opinião pública e combate-la, é melhor fechar os olhos a seus erros e docemente dirigi-la.

Afirmada

É falso que a Igreja se tenha conservado sempre à margem de lutas e tumultos. Se assim tivesse procedido, teria traído sua missão de Igreja militante.

Jesus Cristo não fugiu aos tumultos e à luta, mas os enfrentou a ponto de ser crucificado. É o exemplo que a Igreja segue.

É falso que cumpra não irritar jamais a opinião pública. No interesse do próprio povo, é preciso enfrentá-la por vezes.

É, aliás, também falso imaginar que a opinião pública nacional está toda a favor da "Reforma Agrária".

 

Comentário

O exemplo de Jesus Cristo não é consoante com a proposição impugnada. Pelo contrário. Ele disse ao povo judaico tudo quanto devia. Notando que seus ouvintes se irritavam, não Se calou.

"Docemente dirigir"... eufemismo que neste caso significa "viver comodamente, sem amolações".

Não. O Evangelho não é escola de covardia (259).

 

Textos Pontifícios

 

A Igreja, no cumprimento de sua missão, suscitará sempre ódios

"Quanto mais a Igreja emprega o seu zelo no bem moral e material dos povos, tanto é maior o ódio que lhe votam esses filhos das trevas que por todos os meios tentam ofuscar-lhe a divina beleza, e entravar-lhe a obra vital e redentora. De quantos sofismas lançam mão, de quantas calúnias!" (260).

A combatividade, um dever da Igreja Militante

"... negar-se a combater por Jesus Cristo é combater contra Ele, e o mesmo Senhor protesta que renegará nos Céus perante seu Pai dos que não o tiverem confessado perante os homens na terra (Lc. 9, 26)" (261).

Leão XIII censura os que não querem combater por Jesus Cristo

"Há efetivamente quem pense que não convém resistir de frente à iniquidade quando poderosa e dominante, com medo, dizem, de que a oposição assanhe ainda mais os inimigos. Os homens que assim falam, não se sabe se são a favor da Igreja ou contra ela. Por um lado afirmam que professam a doutrina católica; mas ao mesmo tempo quereriam que a Igreja deixasse livre curso a certas teorias que dela discordam. Lamentam o decaimento da fé e a corrupção dos costumes, mas não tratam de aplicar-lhe remédio, se é que com sua excessiva indulgência, ou com perniciosa dissimulação, não agravam muitas vezes o mal" (262).

Recuar ou calar-se diante do inimigo: covardia

"Recuar diante do inimigo, ou calar-se, quando de toda parte se ergue tanto alarido contra a verdade, é próprio de homem covarde ou de quem vacila no fundamento de sua crença" (263).

Recuar ou calar-se ante os maus: estímulo ao mal

"... nada tanto afoita a audácia dos maus, como a pusilanimidade dos bons" (264).

"... os que seguem a prudência da carne e fingem ignorar que todo cristão deve ser um bom soldado de Cristo, os que pretendem prêmios de vencedores com uma vida mole e sem combate, esses tais não só não atalham o passo aos maus, mas antes vão-lhes aplanando o caminho" (265).

Pio XI adverte contra a indolência e a timidez dos bons

"... a indolência e a timidez dos bons que se abstém de toda resistência, ou resistem com moleza, donde provém, nos adversários da Igreja, novo acréscimo de pretensões e de audácia" (266).

A combatividade pela causa de Cristo, tradição do Papado

"Nossos predecessores, ..., querendo prover à felicidade dos povos, empreenderam lutas de todo gênero, suportaram rudes fadigas e nunca hesitaram em se expor a ásperas dificuldades; de olhos fitos no céu, não abaixaram a fronte ante as ameaças dos maus, nem cometeram a baixeza de se deixaram desviar do seu dever, fosse pelas lisonjas, fosse pelas promessas" (267).

O bom católico não foge à perseguição

"A Igreja sabe que contra ela não hão-de prevalecer as portas do inferno; mas tampouco ignora que no mundo sobrevirão vicissitudes, que seus apóstolos andarão quais cordeiros no meio de lobos, que seus seguidores serão sempre o alvo dos ódios e escárnios, como o foi seu Divino Fundador" (268).

"Que disse Ele (Nosso Senhor)... aos seus discípulos, enviando-os à espalharem o tesouro de sua doutrina a todos os povos? Ninguém o ignora: "Sereis perseguidos de cidade em cidade, sereis odiados e vilipendiados pelo meu nome, sereis arrastados aos tribunais e condenados ao suplício". E, querendo encorajá-los à prova, apresentou-Se como exemplo: "Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro que a vós, Me odiou a Mim" (Jo. 15, 18)" (269).


Notas:

(259) Cfr. Plinio Corrêa de Oliveira, "Em Defesa da Ação Católica", Editora "Ave Maria", S. Paulo, 1943, págs. 283 ss.

(260) Leão XIII, Encíclica "Parvenu", de 19 de março de 1902 – "Editora Vozes Ltda.", Petrópolis, pág. 18.

(261) Leão XIII, Encíclica "Sapientiae Christianae", de 10 de janeiro de 1890 – "Editora Vozes Ltda.", Petrópolis, pág. 30.

(262) Idem, págs. 22-23.

(263) Idem, pág. 11.

(264) Idem, pág. 11.

(265) Idem, pág. 23.

(266) Pio XI, Encíclica "Quas Primas", de 11 de fevereiro de 1925 – "Editora Vozes Ltda.", Petrópolis, pág. 18.

(267) Leão XIII, Encíclica "Inscrutabili Dei Consilio", de 21 de abril de 1878 – "Editora Vozes Ltda.", Petrópolis, pág. 7.

(268) São Pio X, Encíclica "Il Fermo Proposito", de 11 de junho de 1905 – "Editora Vozes Ltda.", Petrópolis, pág. 7.

(269) Leão XIII, Encíclica "Parvenu", de 19 de março de 1902 – "Editora Vozes Ltda.", Petrópolis, pág. 6.


Índice  Adiante Atrás Página principal