Reforma Agrária - Questão de Consciência


Secção II

Capítulo IV

Proposição 32

Impugnada

Cumpre à Igreja apoiar a "Reforma Agrária", sob pena de se expor aos maiores riscos. Com efeito, se as classes dirigentes não tomarem a iniciativa pacífica dessas transformações, as classes oprimidas as levarão a cabo pela revolução. E será mil vezes pior.

De outra parte, se a Igreja não levantar essa bandeira, parecerá solidária com os abusos do regime agrário atual e atrairá contra si o furor da massas. Com isso, haverá apostasias, perseguições e calamidades sem conta.

À Igreja compete, em vez de enfrentar as situações, adaptar-se a elas para as influenciar.

Afirmada

A Igreja não pode calar-se ante a injustiça e menos ainda fazer-se paladina desta, quaisquer que sejam as conseqüências daí decorrentes.

Ela pode e deve agir contra os abusos da estrutura agrária atual, sem contudo condenar suas linhas-mestras, que são boas.

Às classes dirigentes compete orientar o País e não ceder frente aos demagogos.

Os trabalhadores rurais brasileiros não são, aliás, chacais sedentos de sangue, dos quais é necessário recear tudo.

 

Comentário

Algumas considerações de menor relevo sobre a proposição impugnada.

A Igreja não é "classe dirigente" porque ela não é classe. Por sua natureza e sua missão, abrange em si todas as classes.

O Clero, sim, pode ser chamado uma classe. Mas sua posição é, enquanto tal, muito peculiar. Pois se o Clero, como as outras classes, forma um meio bem definido, e pela dignidade de sua missão se situa nas esferas dirigentes, deve entretanto conviver intimamente com todas as classes. À mesa do grande como do pequeno, é natural que ele se sente, ocupando sempre o mesmo lugar: de ministro e representante de Jesus Cristo.

Isso lhe facilita a sublime missão de pregar e promover a paz entre as diversas camadas sociais. Aquela paz que Santo Agostinho definiu muito bem como sendo, não uma tranqüilidade qualquer, mas a tranqüilidade da ordem (233).

* * *

Essa missão, o Clero deve desempenhá-la, não para evitar o "furor das massas", mas para seguir a Jesus Cristo, Príncipe da Paz. E isto ainda que no cumprimento dela seja necessário enfrentar a sanha feroz da demagogia.

Haverá quiçá em tal caso "apostasias, perseguições e calamidades". Esta perspectiva não amedronta o bom Sacerdote, ciente de que em meio a elas a Igreja nasceu e como uma árvore frondosa cobriu toda a terra.

 

Textos Pontifícios

Erro condenado por São Pio X: a Igreja deve adaptar-se à vida civil para a influenciar

Proposição modernista: "Deve mudar-se a atitude da autoridade eclesiástica nas questões políticas e sociais, de tal sorte que não se intrometa nas disposições civis, mas procure amoldar-se a elas, para penetrá-las do seu espírito" (234).


Notas:

(233) Cfr. XIX "De Civ. Dei", c. 13.

(234) São Pio X, Encíclica "Pascendi Dominici Gregis", de 8 de setembro de 1907 – "Editora Vozes Ltda.", Petrópolis, pág. 42.


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