Reforma Agrária - Questão de Consciência


Secção II

Opiniões socializantes que preparam o ambiente para a "Reforma Agrária": exposição e análise

Proposição 17

Impugnada

Por sua vez, a formação de oligarquias dá origem a uma atmosfera e a uma cultura marcadas por preconceitos de classe, etiquetas e fórmulas incompatíveis com a igualdade e o espírito dos tempos atuais.

Afirmada

A formação de verdadeiras elites familiares e tradicionais dá origem a uma sociedade constituída de níveis culturais e economicos diversos. A existência dessa diferença de níveis influencia naturalmente os usos e costumes. A sociedade se assemelha assim a um corpo com órgãos diversos, dos quais a cabeça é constituída pelas mais altas elites tradicionais.

Se algo há hoje de oposto a essa justa ordem de coisas, merece chamar-se de defeito dos tempos atuais. Não devemos adaptar a sociedade aos defeitos dos tempos, mas corrigir os defeitos para que não deformem a sociedade.

Por isto recomendou Pio XII que as crianças de hoje fossem educadas num espírito hierárquico (194).

 

Comentário

Ainda nesta proposição errada, o ressaibo evolucionista é patente. O supremo critério de julgamento consiste em estar de acordo com "o espírito dos tempos atuais".

E qual é este "espírito"? É o que se desprende de tudo quanto há de mais recente. O que é mais novo é por isto mesmo melhor.

A igualdade sendo a nota dominante dos tempos atuais, é boa por isto mesmo que atual...

* * *

A diferença entre a proposição impugnada e a proposição afirmada resulta, em boa parte, de que a primeira, que é igualitária, vê em toda e qualquer elite uma oligarquia, constituída em detrimento do corpo social; enquanto a segunda considera que, se há oligarquias, há também elites verdadeiras, que são a cabeça do corpo social…

Em outros termos, a proposição impugnada se inspira no princípio marxista da luta de classes, enquanto a proposição afirmada encontra base na doutrina católica da harmonia entre elas.

 

Textos Pontifícios

 

A hierarquia social é desejada pela Igreja

"Mostramos como a sã prosperidade deve ser reconstruída de conformidade com os verdadeiros princípios de sadio corporativismo, que respeite a devida hierarquia social" (195).

Nada de mais sagrado do que a defesa da propriedade e da hierarquia social

"Importa... que nada lhe seja (à democracia cristã) mais sagrado do que a justiça que prescreve a manutenção integral do direito de propriedade e de posse; que defende a distinção de classes que, sem contradição, são próprias de um Estado bem constituído" (196).

A classe alta não é em si oligarquia inimiga, mas elite amiga

"O erro capital na questão presente é crer que as duas classes são inimigas natas uma da outra, como se a natureza tivesse armado os ricos e os pobres para se combaterem mutuamente num duelo obstinado. Isto é uma aberração tal, que é necessário colocar a verdade numa doutrina contrariamente oposta, porque, assim como no corpo humano os membros, apesar de sua diversidade, se adaptam maravilhosamente uns aos outros, de modo que formam um todo exatamente proporcionado e que se poderá chamar simétrico, assim também, na sociedade, as duas classes estão destinadas pela natureza a unirem-se harmoniosamente e a conservarem-se mutuamente em perfeito equilíbrio. Elas têm imperiosa necessidade uma da outra: não pode haver capital sem trabalho, nem trabalho sem capital. A concórdia traz consigo a ordem e a beleza; ao contrário, dum conflito perpétuo só podem resultar confusão e lutas selvagens" (197).

As pessoas de menor posição social ou fortuna devem acatar a hierarquia social

"Os que ocupam situações inferiores quanto à posição social e à fortuna devem convencer-se bem de que a diversidade de classes na sociedade vem da própria natureza, e de que se deve procurá-la, em última análise, na vontade de Deus: "porque ela criou os grandes e os pequenos" (Sap. 6, 8), para o maior bem dos indivíduos e da sociedade. Essas pessoas humildes devem compenetrar-se desta verdade: qualquer que seja a melhora que obtenham para a sua situação, tanto pelos seus esforços pessoais como com o concurso dos homens de bem, sempre lhes ficará, como aos demais homens, uma pesada herança de sofrimentos. Se tiverem essa visão exata da realidade, não se esgotarão em esforços inúteis para se elevarem a um nível superior às suas capacidades, e suportarão os males inevitáveis com a resignação e a coragem que a esperança de bens eternos dá" (198).

O espírito cristão é contrário à luta de classes

"... o espírito cristão traz consigo a submissão, por consciência, à autoridade legítima, e o respeito dos direitos de quem quer que seja; e esta disposição de ânimo é o meio mais eficaz para cercear, dessarte, toda desordem, as violências, as injustiças, as sedições, o ódio entre as diversas classes sociais, que são os principais móveis e, conjuntamente, as armas do socialismo" (199).

A luta de classes, objetivo do comunismo

"Insistindo sobre o aspecto dialético do seu materialismo, os comunistas pretendem que o conflito, que leva o mundo para a síntese final, pode ser acelerado pelos homens. Esforçam-se, assim, por tornar mais pungentes os antagonismos que surgem entre as diversas classes da sociedade; e a luta de classes, com seus ódios e destruições, toma aspecto de cruzada em prol do progresso da humanidade" (200).

É necessário fomentar nos jovens o espírito de hierarquia

"Desenvolvei nas almas das crianças e dos jovens o espírito hierárquico, que não recusa a cada idade seu devido desenvolvimento, a fim de dissipar, tanto quanto possível, esta atmosfera de independência e de excessiva liberdade que em nossos dias respira a juventude, e que a levaria a repelir toda autoridade e todo freio; procurai, ao mesmo tempo, suscitar e formar o senso da responsabilidade e relembrando que a liberdade não é o único entre todos os valores humanos, ainda que seja contado entre os primeiros, mas que tem seus limites intrínsecos nas normas incontestáveis da honestidade, e extrínsecos nos direitos correlativos dos demais, tanto de cada um em particular quanto da sociedade tomada em seu conjunto" (201).


Notas:

(194) Cfr. Textos Pontifícios desta Proposição.

(195) Pio XI, Encíclica "Divini Redemptoris", de 19 de março de 1937 – "Editora Vozes Ltda.", Petrópolis, pág. 17.

(196) Leão XIII, Encíclica "Graves de Communi", de 18 de janeiro de 1901 – "Editora Vozes Ltda.", Petrópolis, págs. 6-7.

(197) Leão XIII, Encíclica "Rerum Novarum", de 15 de maio de 1891 – "Editora Vozes Ltda.", Petrópolis, pág. 14.

(198) Bento XV, Carta "Soliti Nos", de 11 de março de 1920, ao Bispo de Bérgamo – "Les Enseignements Pontificaux – La Paix Intérieure des Nations – par les moines de Solesmes" – Desclée & Cia, págs. 293-294.

(199) Leão XIII, Encíclica "Auspicato Concessum", de 17 de setembro de 1882 – "Editora Vozes Ltda.", Petrópolis, pág. 13.

(200) Pio XI, Encíclica "Divini Redemptoris", de 19 de março de 1937 – "Editora Vozes Ltda.", Petrópolis, pág. 7.

(201) Pio XII, Radiomensagem de 6 de outubro de 1948, ao Congresso Interamericano de Educação Católica, de La Paz – "Discorsi e Radiomessaggi", vol. X, pág. 247.


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