Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

Minha

 

Vida Pública

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Parte X

Livros e Campanhas de grande repercussão na década de 1970

 

Capítulo IX

O anticomunismo-surpresa de altos Prelados (1976)

1. Um anticomunismo confuso e genérico

Após correr a notícia de que o livro da TFP andina estava ateando fogo no Chile, vimos aqui no Brasil uma série de Cardeais (praticamente todos, menos Dom Arns, Cardeal Arcebispo de São Paulo, que fez declarações numa linha claramente favorável à esquerda), e Bispos começarem a se pronunciar a respeito do problema comunista, com frases confusas e genéricas contra este, não indo porém além do palavreado [145].

Essas numerosas declarações de importantes prelados vindas a público simultaneamente e com grande destaque surgiam juntas e de súbito, não se sabe por que naquele momento, depois de tantos anos de expansão do mal, impune de sanção eclesiástica. E o público católico, por isto, não sabia explicá-las [146].

Há quanto tempo viam eles o comunismo se espalhando sem dizer uma palavra? Por que mudaram? Que dado novo tinha havido? E por que estavam agindo agora do mesmo jeito, com exceção de Dom Arns, e aparecendo de público dizendo mais ou menos as mesmas coisas? De repente aparecem como atores que entram em um palco de teatro segurando-se pela mão e dizendo coisas de um vago perfume anticomunista [147].

Esses Bispos brasileiros evidentemente ficaram sabendo da acusação que pesava sobre o Episcopado chileno. E, sobretudo, os Bispos brasileiros certamente perceberam que a denúncia chilena era a primeira de uma série análoga que poderia sair em outros países.

Então, a atitude dos Cardeais brasileiros em parte se explicava: antes de sair um livro brasileiro mostrando a conivência deles com o comunismo, por antecipação colocavam-se em uma posição que tornasse um pouco mais difícil a transposição do caso chileno para o caso brasileiro. Eles poderiam retrucar: “Nós já tomamos uma atitude contra o comunismo”... [148]

2. Pronunciamentos dúbios, mas favorecedores de certo comunismo

Mas os pronunciamentos episcopais tinham sido extremamente dúbios, ambíguos ou até mesmo simpáticos ao comunismo.

Alguns falavam do “comunismo ateu”. Ora, dos tempos de Pio XI para cá, as coisas haviam mudado muito, e o new look era o comunismo procurar em vários lugares tomar ares de “católico”.

Falar contra o “comunismo ateu” significava atacá-lo apenas debaixo de um de seus aspectos, deixando certa escapatória para ele.

Outra coisa que chamava a atenção: eles davam a entender que o comunismo nascia da fome e da miséria, o que não condiz com a verdade. O comunismo pode ser agravado pela fome e pela miséria, mas ele nasce da corrupção dos costumes, nasce da maldade dos homens, nasce da irreligião.

O Cardeal Dom Eugênio Sales, em sua declaração, tinha ido além, afirmando claramente que não ia se engajar numa campanha anticomunista “insana”.

O que era uma campanha anticomunista insana? Numa campanha sã, ele também não se engajaria? Por que ele não fazia anticomunismo? A posição do Pastor não é ser antilobo? Se o comunismo é o lobo, por que ele não era antilobo?

Era portanto uma forma de declarar um anticomunismo que dava oportunidade, em última análise, para uma meia penetração comunista.

3. O pronunciamento da TFP

Um velho provérbio ensina: “Quando se vê a barba do vizinho pegar fogo, põe-se a sua de molho”.

Todas essas declarações acentuavam em mim a impressão de que eles estavam pondo a barba de molho, tomando preventivamente umas atitudes por onde a TFP não poderia dizer que eles eram uns Silva Henriques brasileiros.

Diante dessa manobra, nossa tomada de atitude teria de provar ao público que não poderíamos levar a sério esse anticomunismo deles.

Uma publicação nos jornais seria o meio adequado para essa atitude..

Lembro-me até do lugar em que ditei o manifesto, ao qual dei o título de Anticomunismo-surpresa de altos Prelados.

Fac-símile da publicação do manifesto em O Estado de São Paulo de 7 de março de 1976 [clique sobre a imagem para aceder ao texto]

Saindo de casa, quando cheguei próximo ao Estádio do Pacaembu, pedi que conduzissem o automóvel a um ponto calmo daquele bairro. Mandei parar e ali ditei essa declaração que depois saiu em nome da TFP.

Essa declaração eu a limei quanto pude e a entreguei a Dr. Castilho, que possuía limas e lixas super-especializadas.

No dia seguinte, comecei a ler o jornal e deparei-me com um mundo de novas declarações no mesmo sentido. Então adaptei um pouco o que eu já havia escrito.

Telefonei em seguida para Dom Mayer, porque eu nunca tomava uma atitude pública desse gênero sem antes ouvi-lo. Li o documento para ele e ele o aceitou com toda a facilidade.

Esse documento foi levado por Dr. Plinio Xavier e Dr. Borelli Machado a O Estado de S. Paulo e foi publicado na edição de 7 de março de 1976, na 5ª página, o que, para uma edição de domingo, era uma página muito boa* [149].

* Esta declaração foi depois reproduzida em 53 jornais das principais capitais do País e também do interior. Nesse manifesto Dr. Plinio dizia:

“O ambiente que, de 1960 até hoje, os comunistas mais têm procurado infiltrar, no Brasil, é o ambiente católico: Seminários, noviciados, Universidades e colégios católicos, associações religiosas, meios de comunicação social etc. [...] Isto não teria chegado a ser assim se não fosse a colaboração pública e ativa de bom número de eclesiásticos, a colaboração discreta e sabiamente dosada de um número maior deles, e a abstenção comodista da maioria.

“Estas considerações levam a TFP a tomar atitude diante de numerosas declarações de importantes Prelados vindas a público simultaneamente e com grande destaque, nos últimos dias. [...] Carece de seriedade que esses pronunciamentos, reconhecendo a periculosidade do comunismo, fiquem em generalidades. [...] Não, Eminências. Não, Excelências. Isso não basta. Os católicos só tomarão a sério pronunciamentos anticomunistas de fonte eclesiástica que deem especialíssimo relevo à denúncia do perigo que avulta de modo escandaloso no campo imediatamente confiado à vigilância e à ação defensiva dos Bispos, isto é, no campo católico. [...] Tranquilizem o público anunciando-lhe um plano amplo e eficaz de erradicação do mal. E sobretudo anunciem que já teve início a execução desse plano. Então, e só então, o rebanho de Nosso Senhor Jesus Cristo reconhecerá no que digam tais pronunciamentos, a autêntica voz do Pastor”.

4. Desconfiança do público

Pelo efeito de nossa declaração e dos pronunciamentos que se lhe seguiram, abriu-se no público uma desconfiança, e uma desconfiança particularmente dura, porque criava uma atitude de expectativa.

Se os Bispos quisessem esmagar a nossa declaração, bastava serem sinceros, tomando uma série de providências contra o Clero esquerdista [150]. Como podia a CNBB ignorar que havia uma séria e perigosa infiltração comunista não só no laicato católico como ainda no Clero? [151]

Então, diante de nosso manifesto, o público ficou a perguntar: “São sinceros? Querem realmente combater o comunismo? Há vários clérigos esquerdistas que estão debaixo da autoridade deles. E eles não fazem nada? Eles mesmos estão se denunciando”. E ficou criada essa perplexidade.

 


NOTAS

[144] RR 13/3/76.

[145] RR 13/3/76.

[147] SD 6/3/76.

[148] RR 6/3/76.

[149] SD 6/3/76.

[150] SD 27/3/76.

[151] Desconcerto desconcertante, Folha de S. Paulo, 26/4/77.

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