Plinio Corrêa de Oliveira

 

- VIII -

De si, o dinheiro e o vinho

não são obstáculo ao idealismo

 

 

 

 

 

 

 

O mal do ébrio está em si mesmo, e não no vinho precioso com que se embriaga. Tanto é assim, que muitos são os que bebem vinhos da melhor qualidade e deles não abusam. O mesmo se pode dizer dos outros bens terrenos.106

Plinio Corrêa de Oliveira

  Bookmark and Share

 

Neste capítulo

Muitos pensam, com engano, que o idealista vive fora da realidade e tem diante de si o espectro do fracasso financeiro. Eles advertem: “Se você quer ser idealista, renuncie a qualquer desejo de juntar dinheiro, prepare-se para ser enganado pelo primeiro espertalhão e morrer na miséria”.

Mas, para o Autor, o idealista não despreza o dinheiro por princípio: o mal não está na riqueza, mas no apego, assim como o mal do ébrio não está no vinho precioso com que se embriaga, mas em si mesmo. E se o mal não está no dinheiro, o idealista pode desejá-lo, desde que considerando os limites indicados pela moral cristã.

Santa Maria Madalena chora aos pés de Nosso Senhor e os lava com óleos preciosos e com suas lágrimas de arrependimento por sua vida passada (Lc 7, 36-50). A refeição em casa de Simão, por Philippe de Champaigne (1602–1674)

O mal do ébrio está nele, não no vinho

O Evangelho recomenda o desapego dos bens da terra. Esse desapego não significa que o homem deve evitar o uso deles, mas apenas que os deve usar com superioridade e força de alma, bem como com temperança cristã, em lugar de se deixar escravizar por eles.

Quando o homem não procede assim, e faz mau uso desses bens, o mal não está nos bens, mas nele.

Assim, por exemplo, o mal do ébrio está em si mesmo, e não no vinho precioso com que se embriaga. Tanto é, que muitos são os que bebem vinhos da melhor qualidade e deles não abusam.

O mesmo se pode dizer dos outros bens.

A música, por exemplo, tem sofrido muitas deformações abomináveis nas épocas de decadência. Não é o caso, por isso, de renunciar a ela sob pretexto de que corrompe. Cumpre fazer boa música, e da melhor, e usá-la para o bem.107

Uma das vantagens de uma harmoniosa desigualdade de bens está precisamente em permitir nas classes mais altas um florescimento particularmente esplêndido das artes, da cultura, da cortesia etc., que delas promana depois para todo o corpo social.108 

Cuba é uma empresa podre porque lhe falta “o olho do dono”, o estímulo de ganho individual crescente. Todo o mecanismo de produção da Ilha está a cargo de uma imensa pirâmide de funcionários públicos mal pagos, e sem possibilidade de enriquecer.

E não se pode pedir ao funcionário público — máxime em tais condições — mais do que a simples correção.

O dinamismo estuante, entusiasmado, heroico, este só se pode esperar, em via de regra, dos homens estimulados pelo desejo legítimo de lucro e considerável ascensão.109

Seria estúpido ver no lucro individual, comedido e legítimo, um prejuízo para o bem comum. Mas compare essa posição legítima e proveitosa com o entusiasmo desses jovens de bolso furado que lutam pela propriedade (refere-se aos caravanistas da TFP) e continuam de bolso furado. Não é verdade que eles levam a cabo uma gesta, uma epopeia?

Esses jovens, que vivem só para o ideal, foram tocados pela palavra de Nosso Senhor Jesus Cristo: “Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus”.110 

               

Acima, caravanistas da TFP brasileira que percorreram o País de Norte a Sul

Ser dono do panorama

Um literato foi levar outro para ver uma aldeia, do alto de uma montanha. Disse-lhe então: “aquela é a casa de fulano, aquela outra de beltrano, a outra de sicrano”.

O outro lhe perguntou: “E seu, o que é?”

“Eu não tenho nada, só tenho o panorama” — respondeu ele.

Mas quem tem o panorama tem muito mais do que o casario, porque tem o enlevo.

Assim se olha a paisagem sem vantagem própria, apenas pelo gosto desinteressado do panorama pelo panorama.111

Melhorar é necessário

Tender a uma melhoria é inerente a tudo quanto tem vida.

A primeira ascensão a que cada um deve tender é a espiritual e intelectual. Assim, à medida que o homem vive, deve ir crescendo em virtude e inteligência.

Ao mesmo tempo, nasce nele um desejo reto de introduzir mais decoro e bem-estar em sua existência. Pelo trabalho, consegue os meios econômicos para esse fim. E com a elevação de seu nível pessoal e do ambiente em que vive, sua consideração social também cresce.

Vezes há em que o homem, à procura de meios de subsistência, encontra abertas as vias de acesso à fortuna. É sua situação material que melhora. Mas ele deve sentir o desejo de se pôr à altura da situação granjeada, elevando-se e aos seus em virtude e cultura, que lhes servirão de base mais preciosa e respeitável que o simples fato material da posse do ouro.

Em agir assim não vai inveja, pois não há pesar pelo que os outros têm. Nem vai orgulho, porque o homem não quer mais do que lhe cabe.

Ele vai merecendo mais, e nesta medida vai tendo mais. Ou, se vai tendo mais, vai cuidando de se pôr à altura do que tem.

Na história, tal movimento ascensional é lento, profundo, fecundo. Em geral, ele se transmite de pai para filho, e assim vão subindo as famílias.112

Avante

Índice

Atrás


Bookmark and Share