Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

Guerreiros da Virgem

 

A Réplica da Autenticidade

 

A TFP sem segredos

CAPÍTULO X

“Guerreiros da Virgem”, livro hegeliano-freudiano que acena para a perseguição religiosa do dia de amanhã

Lido o livro Guerreiros da Virgem, talvez mais de um leitor se pergunte qual a censura mais profunda que ele contém contra a TFP. O que seria explicável, à vista de que o autor, o prefaciador e o apresentador - ao que parece - a quiseram pensadamente inexplícita. Por outro lado, é tal a abundância de dados informativos, aliás desigualmente verazes, e de acusações expressas ou insinuadas que o sr. JAP apresenta, que o leitor comum se perde no meio de tudo isso, e é perfeitamente cabível a pergunta sobre qual seja a nota mestra desse concerto de difamações.

Parece, pois, conveniente consagrar este último capítulo a uma investigação sobre este ponto.

Tal investigação parece conduzir à conclusão de que essa nota mestra existe, e constitui a crítica mais profunda de Guerreiros da Virgem. Uma verdadeira “mensagem” subliminar dirigida ao leitor, que se faz sentir em todo o livro - porém mais especialmente no prefácio do sr. Domingos Pellegrini.

1. “Esquerda e direita são como as pontas da ferradura: extremos que se julgam opostos, mas quase se tocam”

O sr. Pellegrini descreve-se a si próprio, em 1966, quando “fazia as primeiras barbas”, (GV p. VII) como o tipo do rapaz propenso a tomar uma posição definida no entrechoque das grandes forças ideológicas que se confrontavam então no mundo. Estava, segundo ele, no ponto exato para ser recrutado.

O que lhe aconteceu foi que, conforme ele narra, ambos os extremos tentaram recrutá-lo. Antes a TFP, em cuja sede ele teria estado apenas por algumas horas. Logo depois o comunismo, ao qual efetivamente aderiu.

Fala a seguir de sua “experiência” no movimento comunista, e dos remorsos que sentiu ao abandoná-lo. Tudo de maneira a causar a impressão de que a evolução dele e a de Pedriali foram análogas, embora tenham percorrido vias radicalmente opostas.

E ambos desfecharam em rupturas também análogas porque têm, um e outro, personalidades de quilate, e não se contentaram com a posição medíocre de meros robôs dentro dos respectivos movimentos.

Entretanto o sr. Pellegrini ajeita, nesta análise comparativa do ambiente comunista que freqüentou e da TFP, uma situação preferencial para o primeiro.

Afirma ele, com efeito, que “quanto menor a organização, mais fanática; mais medíocres ou oportunistas os militantes que continuam depois das desilusões juvenis; e mais descarada a dependência mútua entre líder e liderados. E, contribuindo com dinheiro e favores para pagar remorsos, há os simpatizantes” (GV p. IX).

Dado que o conceito geral, ou melhor, a ilusão geral é de que a corrente comunista (da qual o MR-8 é uma integrante mais conflitiva ou menos, conforme a Moscou convenha ir movendo as respectivas marionetes) é bastante numerosa e que a TFP em qualquer caso é menos numerosa do que ela, daí decorre que a vida nessa corrente seria bem mais humana e arejada. Como a vida nas grandes religiões pagãs dos primórdios do Cristianismo seria muito mais arejada e humana do que entre os fiéis da Igreja Católica nas catacumbas!

Aliás, que as simpatias do sr. Pellegrini propendem muito e muito para a esquerda, salta aos olhos de quem leia o seu prefácio. Basta considerar que, segundo ele, os jovens comunistas “agitam em comício a bandeira do Futuro”, enquanto os da TFP “marcham na rua com estandarte do Passado”... (GV p. IX).

O estilo do prefácio é leve, fluente, de fácil leitura. E bem adequado a um relativista, que escreve com ares de uma neutralidade cômoda e algum tanto divertida, a respeito dos grandes problemas que empolgam a mente dos homens, e não raras vezes os têm dividido ao longo da História.

E assim vê os antagonismos entre o que ele pareceria propenso a qualificar como seitas paralelas: o movimento comunista in genere, ou mais especificamente o MR-8 de um lado, e, de outro, a TFP.

Dir-se-ia que através dele fala todo um veio da opinião pública, o qual se tem em conta de “moderado”, mas é, a seu modo, tão radical ou mais do que os outros; relativista até o último ponto, inimigo radical e fanático de todas as radicalidades e fanatismos. E vendo obsessivamente radicalidade e fanatismo onde se acham e até onde não se acham. O conceito de radicalidade, aliás, está bem marcado nesse prefácio pelo emprego de uma imagem: “Como disse o general Golbery do Couto e Silva, um homem tido como de direita: Esquerda e direita são como as pontas da ferradura: extremos que se julgam opostos, mas quase se tocam” (GV p. VIII).

A tese do prefácio consiste em que as diferenças entre direita e esquerda são secundárias. Importante é o que elas têm de comum. Nesse ponto preciso se encontra o foco de desentendimento dos relativistas com os dois “extremos”.

Os moderados - chamemo-los centristas ou relativistas, indiferentemente - não acreditam realmente e a fundo na objetividade da razão humana e, em conseqüência, nas doutrinas dos sistemas e das escolas. E consideram os que, pelo contrário, afirmam essa objetividade da razão - chamemo-los absolutistas de direita ou de esquerda - como tendo nisto muito mais de comum entre si (e sem embargo das vastidões doutrinárias que os separam), do que têm de comum com os relativistas. E isto muito embora estes possam, por vezes, concordar ora com a direita, ora com a esquerda. Pois se trata de concordâncias leves e superficiais, sem implicar antagonismo real em relação à posição oposta.

Uns usam gravatas, outros jeans, mas na TFP ou no MR-8 o comportamento tem mais semelhanças que diferenças”, diz o sr. Pellegrini (GV p. VIII).

2. Será todo e qualquer extremo necessariamente exagerado?

Ainda que algum tanto à margem do curso desta exposição, não é possível deixar sem protesto a desenvoltura com que o sr. Pellegrini procura colar na TFP o epíteto ambíguo e mal sonante de “extremista”.

Em determinado “leque” ideológico, o que são precisamente os “extremos”?

A esse respeito, várias respostas são possíveis.

Uma primeira concepção é a de que extremistas são tão-só as duas posições mais opostas do leque, e ideologicamente mais distantes uma da outra.

Neste caso, suposto um parlamento todo ele constituído de centristas - moderados por definição - a gama mais próxima da direita e a mais próxima da esquerda deveriam ser qualificadas ipso facto de “extremistas”. E deveriam ser paradoxalmente tachados de “extremistas” elementos essencialmente moderados, e ademais tidos e havidos como tais.

Essa conclusão chocante é entretanto inevitável. Pois todo centro se compõe necessariamente de gamas ideológicas. E esse conjunto de gamas, pelo fato de ter indeclinavelmente uma gama inicial e outra terminal, comporta duas gamas extremas.

Nesse sentido, “extremista” nada significaria de depreciativo.

“Significaria”: o verbo “significar” acaba de ser empregado no condicional. Com efeito, esse significado sem cunho pejorativo não existe na linguagem corrente. Figura aqui como instrumento de mera hipótese de trabalho.

Numa outra concepção, “extremista” se aplicaria a algo que é marcadamente exagerado, que passa gravemente dos limites do bom senso, e que tende até a ser - ou efetivamente é - delirante, malfazejo, incompatível com todas as formas de convivência normal.

Ora, nesse sentido a TFP tem recusado mais de uma vez o epíteto injusto. E com quanta razão!

Considerem-se seus livros e suas campanhas. O que pleiteiam? Por exemplo, o respeito à propriedade privada no ager brasileiro, o repúdio do divórcio, a vigilância contra os embustes e ardis da infiltração esquerdista na Igreja etc.

Se essas posições são “extremistas”, no sentido pejorativo do vocábulo, é inelutável perguntar se também o são os incontáveis brasileiros que têm apoiado essas campanhas porque contrários ao divórcio e/ou à Reforma Agrária, à infiltração comunista na Igreja etc.

Como a resposta seria indiscutivelmente que tais brasileiros não são extremistas, será forçoso concluir que a TFP também não o é, ou então que a mesma doutrina, quando sustentada oficialmente pela TFP, merece o qualificativo de “extremista”, e quando professada a título individual pelos que apoiam as posições da entidade não merece tal epíteto.

Tal posição contraditória, só a poderá sustentar um fanático anti-TFP. E “que los hay, los hay”...

Aliás, cumpre registrar que esse epíteto de “extremistas” vai evoluindo, e por detrás de seu sentido superficial, vai transparecendo, incubado, outro sentido.

Extremista” seria todo aquele que julga possível ao espírito humano distinguir com inteira segurança e objetividade entre verdade e erro, bem e mal. “Extremista” seria, por exemplo, o católico que afirme ser a verdadeira Igreja fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo tão-só a Católica. E não serem verdadeiras igrejas de Jesus Cristo as demais, protestantes ou greco-cismáticas. E, reciprocamente, seria “extremista” o protestante ou cismático que assumisse igual posição ante sua própria igreja.

Moderado, pelo contrário, seria aquele que, diante de profissões religiosas não só opostas mas antagônicas, afirmasse estar em desacordo com todas, porque verdade e erro, bem e mal têm muito - pelo menos - de relativo. E, em conseqüência, o espírito humano deve caminhar para uma síntese destilada desses contrastes, que aliás não deveriam ser antagônicos. Um pan-cristianismo irenístico, ecumênico, capaz de os absorver ou superar processivamente, sem antagonismos, lutas ou entrechoques: isto, sim, caracteriza o verdadeiro moderantismo.

Para o moderado, irenístico, ecumênico, sequioso de ver chegar a era de todas as miscelâneas, de todos os amálgamas e de todas as confusões, em uma palavra, para os relativistas, haveria plena cidadania neste fim de século e nos séculos a vir.

Pelo contrário, para os opositores desse regime - os extremistas - já estaria preparada a estrela amarela, de uso compulsório, que o nazismo preparou para os judeus. Ou algum equivalente sinal de vitupério, de desprezo.

3. Nenhum ideal que exige dedicação e sacrifício seria próprio das pessoas verdadeiramente adultas

O sr. Pellegrini acentua que a aptidão de alma para ser recrutado reside normalmente nos adolescentes: pelo que “como muito já fez a Igreja, como ainda o Estado faz, enquanto o serviço militar for obrigatório, tanto a esquerda como a direita recrutam jovens” (GV p. VIII).

Por quê? – “Claro - responde - um cidadão maduro não vai ficar a serviço de idéias alheias com a dedicação que as organizações exigem. E tanto para quem adora a Virgem como para quem adora Lênin, as idéias a seguir, desenvolver e divulgar são as dos líderes - devidamente endeusados, nem tanto por exigência própria, mas por carência mítica dos liderados” (GV p. VIII).

Vê-se bem aqui a nota relativista. No fundo, até o serviço militar é uma afronta contra a maturidade do homem. Se o que o sr. Pellegrini diz for levado até as últimas conseqüências, os homens consentem em ir ainda moços para a guerra, porém se fossem adultos jamais aceitariam de ir.

Porque, exceção feita dos líderes – “figuras realmente excecionais, homens de idéias e de ação determinados, exemplares na teoria e na prática” (e ele, imaginando talvez ser amável para com o fundador da TFP, o coloca como uma dessas figuras excecionais... ao lado de Lênin!) - nenhum ideal elevado e transcendente, que exige dedicação e sacrifício, é próprio às pessoas verdadeiramente adultas.

4. No relativismo total, em que nada chega às suas últimas conseqüências, a suprema sabedoria de vida

Assim, a TFP e o comunismo, o fundador da TFP e Lênin seriam como que as duas pontas da ferradura, que quase se tocam. Enquanto o arco da ferradura, no mais alto, representa a curva larga, abrangente, lúcida e acomodatícia dos relativistas.

A única postura humana perfeita, que não tem exageros nem conduz a horrores, é o centrismo. Ou seja, o relativismo. Pois se a coerência total - tanto a de direita como a de esquerda - gera toda espécie de aberrações, de polêmicas, de contendas e até de derramamento de sangue, o centro, incoerente mas sensível às evoluções da vida, esse sim não apresenta inconvenientes.

E é preciso que cada qual se precavenha, dentro de si mesmo, contra o perigoso mecanismo da lógica total que trabalha a partir de verdades absolutas (preconceitos de classe, diria um marxista). Pois que leva necessariamente à formação das ideologias alienantes: “As organizações de extrema são formas muito interessantes para aprendermos a observar e desmontar as armadilhas ideológicas instaladas em nós” (GV p. IX).

Sim, porque “afinal, todo mundo que se considera de direita ou de esquerda, ou que aceita essa visagem, tem um pouco de TFP ou MR-8 - nem que seja por parentesco remoto” (GV p. IX).

O pensamento do sr. Pellegrini está bem enunciado nesta frase: “Se a coerência não estiver livre para, se quiser, ir apenas até a próxima idéia, já começa a se formar a craca dos princípios e dos preconceitos, pais das ideologias” (GV p. X). Ou seja, o pensamento humano não se deve submeter ao império da lógica, que o leva, com toda a segurança, a tirar conseqüências, conseqüências e mais conseqüências, do que resulta um corpo ordenado de princípios, isto é, uma ideologia. Pelo contrário, para ele, ser coerente significa contentar-se com o aspecto superficial e epidérmico das coisas, e nada mais.

Dessa forma, se uma idéia é porventura aceita, dela não se deve necessariamente tirar todas as conseqüências lógicas. Mas deve-se estar disposto a questioná-la e negá-la livremente no dia seguinte. “Se nossa visão da vida não pudesse mudar a cada dia que nasce, para que, diabos, nasce mais um dia?” - pergunta o prefaciador (GV p. X).

Se não se estiver disposto a negar amanhã o que se afirma hoje, essa idéia se transforma num preconceito odioso, e pode conduzir até à formação de uma ideologia, oh supremo perigo!

Essa postura parece afirmar, aos olhos do sr. Pellegrini, a liberdade total de pensamento. Contudo, na realidade nega-a. O pensamento humano, na concepção dele, seria como um barquinho que fosse capaz de se deslocar de uma ilha até outra próxima, mas que não fosse um meio de transporte seguro para atravessar o oceano das grandes cogitações intelectuais, indo seguramente de ilha a ilha, de certeza a certeza, até os últimos horizontes do cogitar humano.

Atravessar esse oceano já seria entrar no “Esquema” tão temido pelo sr. Pellegrini (GV p. IX). Como se não constituísse para ele um rígido esquema, um amplo sistema - mais do que isto, uma como que “religião” - o relativismo!

Ora, o sr. Pellegrini, que parece tão cioso da liberdade para contestar os sistemas ideológicos, não parece reconhecer com o mesmo entusiasmo a liberdade dos que querem adotar determinado sistema.

Com efeito, diz ele que “o sofrimento de Pedriali para escrever este livro parece destinado a alertar os jovens e pais” (GV p. X). Alertar os jovens, claro está, é para que não entrem na ferradura por alguma das pontas dela, e sobretudo não entrem numa das pontas, isto é, a da direita. Mas, alertar os pais, para quê?

Evidentemente ele quer que estes usem seu poder coercitivo para evitar que os jovens saiam do esquema relativista, e se deixem absorver por alguma das pontas da ferradura. Mas esse recurso à autoridade paterna em matéria ideológica, feito sem sequer tomar em consideração que o próprio menor de idade começa a ter, a partir de certo momento, uma capacidade de observar e de julgar que merece um proporcionado respeito, isso para ele não constitui autoritarismo, nem pressão indébita, nem anulação da liberdade individual!

Essa a irremediável contradição inerente a todas as escolas relativistas!

Percebe-se que, no fundo, segundo o pensamento do sr. Pellegrini, é preciso não dar importância às idéias e deixar os fatos fluírem por si. Os sistemas filosóficos não são, para ele, senão meras explicações e mitos com que os homens tentam justificar para si mesmos os impulsos que neles estuam, de forças evolutivas muito mais ricas, mais inteligentes e mais profundas do que as pobres idéias que forjam.

Nessa perspectiva, o que seria o relativista? Seria - pode-se concluir - uma espécie de profeta captador e divulgador dessas forças profundas. Ele como que as sentiria “no ar” ou “no vento”, ou então no mais profundo de si mesmo, e deveria deixar-se mover despreocupadamente por elas.

Profeta, foi dito. Não se poderia dizer robô?

O relativista despreza os comunistas, bem como os membros da TFP, por considerá-los robôs uns e outros, e escravos de sistemas ideológicos. E talvez nem se dê conta de que ele próprio se põe como robô e escravo dessas forças universais, evolutivas, que segue sem ao menos encontrar para elas uma explicação racional da qual se sinta absolutamente convicto.

No fundo, o que o relativista pratica é o menosprezo total da razão, é o culto a uma como que divindade recôndita, que ele não menciona e nem sequer deixa entrever que exista.

5. “O Senhor não faz bem nem mal a ninguém” (Soph. I, 12): a lição que a “experiência” do sr. JAP lhe ensinou

Ora, o que se passou precisamente com o sr. JAP, na perspectiva do sr. Pellegrini?

Antes de conhecer a TFP, ele era um rapaz tendente ao maravilhoso e procurava, embora sem se dar conta disso senão muito difusamente, um ideal sublime, uma verdade objetiva e absoluta para amar e servir. Não lhe bastava o ambiente confinado em que vivia. Ao conhecer a TFP, esta se lhe afigurou um foco de presença e de atração desse ideal pelo qual, desde menino, anelava.

Adere então à TFP - ou seja, fixa-se numa das pontas da ferradura - e resolve consagrar-se inteiramente às atividades da mesma, porque lhe pareciam dignas de tal sacrifício.

Com o passar do tempo, porém, e sob a ação de fatores diversos, ele vai esfriando no fervor inicial, e sente cada vez mais forte o apelo do mundo que antes o enfastiara e que ele, ao entrar na TFP, deixara com alívio.

Começa então a perder brilho diante de seus olhos o ideal que tanto almejara: “Perdia gradualmente a fé no ideal, ideal que iluminara minha adolescência e tumultuara o início de minha juventude” (GV p. 185).

E vêm as dúvidas: o triunfo do Imaculado Coração de Maria, previsto por Nossa Senhora em Fátima, o tão anelado Reino de Maria, começa a lhe parecer uma miragem do deserto:

Até quando deveríamos esperar por esse reino, sobre cujas possibilidades eu jamais ouvira falar, exceto nos recintos fechados da TFP? Não seria algum mal entendido ou a cega esperança de realização de uma hipótese remota? Não nos comportávamos como os soldados e oficiais do Forte Bastiani - os personagens criados por Dino Buzzati em O Deserto dos Tártaros -, que consumiam suas vidas, sua saúde física e mental, seus sonhos, suas ambições na expectativa do ataque dos temíveis tártaros? O ataque não vinha, nem sequer se ouvia falar dos tártaros, mas para a guarnição do Forte Bastiani não havia outro motivo para viver senão aquele: esperar, esperar, esperar...” (GV p. 185).

 “Então, qual caminho tomar? O da miragem? Ou o da realidade?[1] - pergunta-se - Ambos despontavam cheios de incógnitas, nenhum me parecia seguro. Hesitava. E, quanto mais me demorava a decidir, mais alimentava a angústia, angústia que aumentava à medida que se entrecruzavam, confusas e caóticas, as forças opostas que agiam em meu interior. Ora era atraído para um lado, ora impulsionado para outro. E não encontrava o equilíbrio que me devolvesse a serenidade. A indefinição persistia” (GV pp. 185-186).

E, como todos os que não têm coragem para tomar uma decisão importante, o sr. JAP achou melhor deixar-se levar molemente pelo sabor dos acontecimentos, pelos impulsos internos que sua vontade débil não queria vencer: “Resolvi fechar os olhos e deixar-me conduzir pelos impulsos que se fizessem mais fortes. E as forças do mundo foram, pouco a pouco, sobrepujando o que eu sempre julgara as forças divinas...” (GV p. 186).

O que a “experiência” fracassada de seis anos na TFP teria assim ensinado ao sr. JAP é que nenhum ideal merece qualquer sacrifício. Seu erro inicial teria consistido em ter-se aberto para o ideal, ter aspirado ao maravilhoso, ao absoluto. Porque nada é inteiramente maravilhoso, como também nada é inteiramente hediondo. Ele teria compreendido, afinal, que o mundo é como aquela cidade descrita pelo profeta Sofonias, onde o bem e o mal, a verdade e o erro, o belo e o monstruoso se mesclam, e tudo nele coexiste sem choque com nada, mesmo as pessoas ou as coisas mutuamente mais aberrantes, porque nada é inteiramente bom nem inteiramente mau.

E naquele tempo acontecerá isto - diz o profeta, referindo-se a Jerusalém: eu esquadrinharei Jerusalém com lanternas, e castigarei os homens .... que dizem nos seus corações: o Senhor não faz bem nem mal a ninguém” (Soph. I, 12).

A grande conquista do sr. JAP fora da TFP foi a de um horizonte em que o céu aparece baixo e plúmbeo, nenhuma aragem de fé, nem sequer de idealismo, sopra no ar estagnado. E do pantanal da terra apenas se elevam o odor e os miasmas de uma pobre humanidade entregue inteiramente ao ceticismo, à dúvida e à satisfação irrestrita de suas próprias paixões.

Sobre esse quadro desolador poder-se-ia imaginar - é o primeiro ato de imaginação contido nestas trezentas páginas - dois Anjos segurando duas faixas, cada uma contendo, à guisa de comentário explicativo de tal ruína, respectivamente dois ensinamentos do Divino Salvador: “Quem não está coMigo, está contra Mim” (Mt. XII, 30); e “Seja o vosso falar: sim, sim; não, não” (Mt. V, 37).

Em tal quadro, o sr. JAP não vê - e há quanto tempo - os dois ensinamentos evangélicos. E se sente realizado.

É na negação de qualquer contradição válida entre esses opostos, que ele encontra aquele equilíbrio que procurara anteriormente sem êxito numa ponta da ferradura, e só agora encontrou no relativismo. Isto é, na parte larga da ferradura. Sendo todo-o-mundo, e pensando como tal, ele é equilibrado como todo-o-mundo.

Guerreiros da Virgem é, no fundo, a negação do ideal e a apologia afincada da mediocridade, da entrega, da descontração, da abstenção de qualquer atitude repressiva face à sensualidade. Isso fica bem claro na descrição que o sr. JAP faz da sua última visita - em Londrina - a uma sede da TFP: “Da sacada, olhava para os edifícios do centro da cidade, e as luzes nas janelas emitiam um chamado forte, envolvente. Naqueles apartamentos, nas casas, nas ruas, tudo contrastava com a vida que levara nos últimos anos. A descontração, o sorriso, a espontaneidade, a liberdade - como isso era diferente do que se passava no interior das nossas sedes, em que cada atitude era premeditada ou decorrência de hábitos impostos! Fora, a liberdade; dentro, a submissão incondicional a um só homem - Plinio, o ‘profeta do Reino de Maria’ -, ao qual deveríamos ajustar nossa vontade, pensamento e sentimento” (GV p. 197)[2].

Por que pensar logicamente, se não há verdade nem erro? Por que coibir os impulsos, se não há bem nem mal?

O importante é não controlar as próprias idéias, e sim deixá-las soltas ao léu, sem procurar exercer o governo do que acontece dentro de si, deixando-se tocar livremente pelos influxos internos cujo efeito concreto é tornar-nos um homem como os outros, pensando, sentindo e vivendo como todo-o-mundo, partícipes, em última análise, da grande mentalidade universal. Porque, a não ser um uomo qualunque - um qualquer - a alternativa é clara: ser um desequilibrado ou ser um robô.

Se o sr. JAP agora se julga equilibrado, é porque já não o empolga nenhum ideal nobre e elevado, como também não o horroriza a sujeira. Tudo lhe é indiferente. Ele, que era uma pessoa de mentalidade seletiva antes de conhecer a TFP, e cujo espírito seletivo a TFP teria exacerbado, imagina que compreendeu agora consistir a suprema sabedoria da vida em ser um cidadão da cidade increpada pelo profeta Sofonias. Este último sim, um espírito sectário, absoluto, incompreensivo e fanático.

Essa a “mensagem” do livro. A conclusão a que ele quer conduzir o leitor. Especialmente - é de supor - se esse leitor for extirpado assim das fileiras da TFP.

6. Em Freud e em Hegel, o substractum filosófico mais profundo de “Guerreiros da Virgem”

Qual o sistema ideológico que se deixa entrever furtivamente nos refolhos dessa “mensagem”?

Não parece difícil vislumbrar que há nela um substractum freudiano, e por baixo deste, um substractum hegeliano.

Segundo Freud, a personalidade do homem se divide, como que topograficamente, em três regiões: o ego, o id e o superego.

Esquematicamente, o ego é a região onde se manifesta a parte consciente da personalidade, que aflora das regiões subconscientes e entra em contato com o mundo exterior. O id é a região do inconsciente onde estão os instintos em revolta, sempre reprimidos, dominados, sempre querendo afirmar-se e expandir-se. E o superego é uma instância repressora formada pela interiorização, na personalidade do homem, das proibições impostas pela autoridade paterna e pela sociedade civilizada. Em conseqüência, o superego escraviza o indivíduo, impedindo a livre expansão de seus instintos.

Assim, segundo Freud, a cultura e a civilização foram manuseadas pelos príncipes e pelos sacerdotes (ambos os termos entendidos num sentido muito lato: um industrial ou um banqueiro de hoje, por exemplo, seria um príncipe da ordem capitalista; um intelectual que se imponha por sua superioridade à admiração dos outros seria um sacerdote dos valores que afirma e defende). Esses príncipes e sacerdotes, para manterem os homens debaixo do jugo, elaboraram as religiões, as regras de procedimento, os princípios de estética etc. Esse conjunto de imposições em escala social constitui no interior do homem o superego, que entra em choque com o ego e com o id e, num mecanismo terrível de censuras, impede que os instintos reprimidos se expandam.

O id tem dois instintos fundamentais, eros e thanatos. Eros é o instinto da vida e do amor. E thanatos, que na concepção dualista de Freud se opõe a eros, é o instinto da agressão, da destruição e da morte. E libido é a energia psíquica que impulsiona eros e faz o homem tender para o prazer - não apenas o sexual, mas sobretudo o sexual.

O que de mais importante existe no homem é o id, porque o inconsciente é a verdadeira fonte da personalidade. Tanto o ego como o superego são formações provenientes do id, onde reside a força vital mais profunda.

A repressão do superego sobre o ego e o id é a causa dos desequilíbrios mentais. E dessa repressão malfazeja o homem só se liberta se tiver coragem de afrontar decididamente o mecanismo repressor do superego, isto é, se se entregar ao mais largo permissivismo.

No fundo, vê-se aqui aplicada ao interior do homem a mesma dialética hegeliana que Marx aplicou à sociedade. Freudismo e marxismo, em profundidade, constituem um único sistema, aplicado em campos diferentes. E Hegel é o substractum comum a ambos.

Marx vê a sociedade numa contínua luta de classes que jamais tem fim. Freud, analogamente, vê na personalidade do homem uma luta implacável do id (sede dos instintos) com o superego (representante da sociedade civilizada repressora desses instintos), da tese com a antítese. E o ego é, de certa forma, a síntese. Mas como os instintos reprimidos estão numa fermentação contínua que nunca pára, a síntese nunca é definitiva, forma-se uma nova tese, por sua vez em luta com uma nova antítese, em busca de uma nova síntese. É um aspecto do processo evolutivo universal, hegeliano, que prossegue.

A doutrina freudiana nega que o homem possa, por via de lógica, chegar ao conhecimento da verdade. Pois, sendo entranhadamente relativista, não crê que possa existir uma verdade objetiva.

Para quem aceita a existência de uma verdade objetiva, uma idéia admitida traz necessariamente suas conseqüências lógicas. Como o normal da parreira é produzir uvas, e o do trigal produzir trigo, assim também as premissas produzem suas conseqüências. Mais ou menos inevitavelmente, pois, o homem, no grosso de seu pensamento caminha nas vias da lógica.

Esse princípio é contestado pelo freudismo. Para Freud, a lógica é apenas uma concatenação aparente do pensamento. Este último não é verdadeiramente livre, mas é tão-só o fruto de apetências e tendências profundas com as quais a lógica nada, ou quase nada, tem que ver. E constitui um mero conjunto de racionalizações, sem mais realidade.

Também o livre arbítrio do homem é negado pelo freudismo. O homem pensa que é livre, porém na realidade é continuamente condicionado em sua liberdade pelo inconsciente que luta contra o mecanismo repressor do superego. De fato, o homem não passa de mero joguete dessas forças em luta, e por isso ninguém pode ser moralmente responsabilizado por seus atos.

Um homem sem livre arbítrio e incapaz mesmo de ser dono dos seus próprios pensamentos, esse o robô que o freudismo imagina ver no homem que Deus criou, entretanto, à sua imagem e semelhança, racional, livre e possuidor de uma alma imortal.

Sendo racional, pode ele compreender a lei moral, pode saber o que é bom e o que é mau. Possuindo na sua plenitude o livre arbítrio, tem ele a faculdade de optar como queira, pelo bem ou pelo mal[3]. E por toda a eternidade, com sua alma imortal, gozará ou sofrerá de acordo com o bem ou o mal que tiver praticado em sua vida terrena.

7. O relativismo, “religião” intolerante e exclusivista, ferozmente persecutória dos que ousam crer em verdades

Exposta essa doutrina, vem à tona o que há de mais velado no libelo do sr. JAP contra a TFP. Esta não seria apenas a “seita” malfazeja que fez nele uma “lavagem cerebral”. A TFP seria a organização nefasta que trabalha pelo sublime e pelo espírito seletivo, que trabalha para manter viva nos espíritos a distinção - e a oposição - entre a verdade, o bem e o belo de um lado, e de outro lado o erro, o mal, o feio. A organização que, em conseqüência, convida os espíritos para o sublime, dá-lhes um feitio seletivo - e, em dadas situações, pugnaz - que é bem exatamente o oposto do relativismo.

É aí que Guerreiros da Virgem finalmente desemboca. É uma crítica à TFP, mas que contém no fundo toda uma filosofia de vida, toda uma “religião”.

Uma “religião” relativista, de modo geral radicalmente exclusivista e ferozmente difamatória (e cumpre recordar que a difamação é autêntica forma de perseguição) de todos os não relativistas.

Certos episódios da campanha anti-seitas, aludidos no Capítulo IV, deram, aliás, mostra disso. Pois, no fundo do conceito indefinido do que hoje se qualifica de seita, está essa afirmação: seita é todo grupo que crê em verdades absolutas e procura se opor assim ao curso espontâneo das coisas, à evolução universal. O que aliás - seja dito de passagem - não corresponde à realidade de grande número das seitas, inclusive das de maior e mais escandaloso destaque.

E como poderá essa perseguição não atingir - em tempo médio pelo menos - a Santa Igreja Católica, Apostólica e Romana, da qual os sócios, cooperadores e correspondentes da TFP se honram de fazer parte? Como não ficará ela exposta, cedo ou tarde, no pelourinho dos relativistas?

Para aquilatar quanto dista essa posição irenístico-relativista da doutrina católica, do ensinamento da Igreja, veja-se, por exemplo, este trecho do célebre Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, de São Luís Maria Grignion de Montfort. Nele, o grande apóstolo marial comenta as palavras do Gênesis: “Porei inimizades entre ti e a mulher, e entre a tua posteridade e a posteridade dela. Ela te pisará a cabeça, e tu armarás traições ao seu calcanhar” (Gen. III, 15).

 “Uma única inimizade Deus promoveu e estabeleceu, inimizade irreconciliável, que não só há de durar, mas aumentar até ao fim: a inimizade entre Maria, sua digna Mãe, e o demônio; entre os filhos e servos da Santíssima Virgem e os filhos e sequazes de Lúcifer; de modo que Maria é a mais terrível inimiga que Deus armou contra o demônio. ....

 “Deus não pôs somente inimizade, mas inimizades, e não somente entre Maria e o demônio, mas também entre a posteridade da Santíssima Virgem e a posteridade do demônio. Quer dizer, Deus estabeleceu inimizades, antipatias e ódios secretos entre os verdadeiros filhos e servos da Santíssima Virgem e os filhos e escravos do demônio. Não há entre eles a menor sombra de amor, nem correspondência íntima existe entre uns e outros. Os filhos de Belial, os escravos de Satã, os amigos do mundo (pois é a mesma coisa) sempre perseguiram até hoje e perseguirão no futuro aqueles que pertencem à Santíssima Virgem, como outrora Caim perseguiu seu irmão Abel, e Esaú, seu irmão Jacob, figurando os réprobos e os predestinados. Mas a humilde Maria será sempre vitoriosa na luta contra esse orgulhoso, e tão grande será a vitória final que ela chegará ao ponto de esmagar-lhe a cabeça, sede de todo o orgulho. Ela descobrirá sempre sua malícia de serpente, desvendará suas tramas infernais, desfará seus conselhos diabólicos, e até ao fim dos tempos garantirá seus fiéis servidores contra as garras de tão cruel inimigo.

Mas o poder de Maria sobre todos os demônios há de patentear-se com mais intensidade nos últimos tempos, quando Satanás começar a armar insídias ao seu calcanhar, isto é, aos seus humildes servos, aos seus pobres filhos, os quais ela suscitará para combater o príncipe das trevas. Eles serão pequenos e pobres aos olhos do mundo, e rebaixados diante de todos como o calcanhar, calcados e perseguidos como o calcanhar em comparação com os outros membros do corpo. Mas, em troca, eles serão ricos em graças de Deus, graças que Maria lhes distribuirá abundantemente. Serão grandes e notáveis em santidade diante de Deus, superiores a toda criatura, por seu zelo ativo, e tão fortemente amparados pelo poder divino, que, com a humildade de seu calcanhar e em união com Maria, esmagarão a cabeça do demônio e promoverão o triunfo de Jesus Cristo” (SÃO LUIS MARIA GRIGNION DE MONTFORT, Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, Vozes, Petrópolis, 13ª ed., 1984, pp. 54 a 57).

Como, para um relativista, não julgar sectária, intoleravelmente sectária essa concepção do mundo como uma luta contínua entre Deus e o demônio, o bem e o mal, a raça da Virgem e a raça da serpente?

Como não condenar da mesma forma o ensinamento tradicional da Santa Igreja?

Não faltou, com efeito, entre autores que se dizem católicos, quem quisesse ver laivos da execrável heresia dos maniqueus nesta posição do grande Santo, como de tantos outros pensadores católicos, a cuja pena se devem considerações análogas. Imputação de tal maneira infundada que, aos lábios de quem a ouve, só podem ocorrer as palavras de Dante: “Non ragioniamo di loro, ma guarda e passa” (Inferno III, 51).

Mas sofrer em união com Cristo Redentor e Maria Santíssima corredentora, esta é a via sagrada dos discípulos de Cristo - que a TFP também quer palmilhar - como preveniu o próprio Divino Mestre:

Se o mundo vos aborrece, sabei que, primeiro do que a vós, Me aborreceu a Mim. Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; mas, porque vós não sois do mundo, antes Eu vos escolhi do meio do mundo, por isso o mundo vos aborrece.

“Lembrai-vos daquela palavra que Eu vos disse: não é o servo maior do que o seu senhor. Se eles Me perseguiram a Mim, também vos hão de perseguir a vós; se eles guardaram a minha palavra, também hão de guardar a vossa. Mas tudo isso vos farão por causa do Meu nome, porque não conhecem aquele que Me enviou.

“Se Eu não tivesse vindo, e não lhes tivesse falado, não teriam culpa, mas agora não têm desculpa do seu pecado. Aquele que Me aborrece, aborrece também meu Pai. Se Eu não tivesse feito entre eles tais obras, quais nenhum outro fez, não teriam culpa, mas agora viram-nas, e, contudo, aborreceram-Me a Mim e a meu Pai. Mas (isto aconteceu) para se cumprir a palavra que está escrita na sua Lei: Odiaram-Me sem motivo (Jo. XV, 18 a 25).


 

[1] O que entende ele aí por “realidade”? A miragem oposta, ou seja, a outra ponta da ferradura? Esta última, ele nem a menciona aqui. A outra alternativa na qual seus olhos se vão fixando, cada vez mais atraídos, é a da vida sem ideais nem tensões, sem sistemas ideológicos que deformam e capturam. A boa vida, ou antes, a vidinha acomodatícia, espontaneísta, prosaica e permissivista deste mundo concreto que outrora o enfastiara.

[2] As palavras finais do texto citado descrevem com deformação caricata as relações modeladas segundo uma obediência legitimamente análoga à religiosa. Ver, a respeito, ATILA SINKE GUIMARÄES, Servitudo ex caritate, Artpress, São Paulo, 1985, pp. 47 a 91.

[3] Cumpre distinguir entre a liberdade psicológica e a liberdade moral. O renomado tomista Pe. Victorino Rodríguez y Rodríguez assim esclarece a questão: “É moralmente falsa a liberdade de quem obra o mal. Quem peca, obra livremente na ordem psicológica; mas porque não tem licença moral para isso, violenta a ordem moral e incorre na ‘servidão do pecado’ (Jo. VIII, 34). São Pedro chama a tal liberdade ‘sombra da malícia’ (I Pe. II, 16). Pecar é certamente exercer a liberdade psicológica, mas não a liberdade moral, muito pelo contrário, sobretudo se se tiver em conta que, na ordem da graça, o pecado mortal destrói o princípio da vida moral, ficando o homem na mais absoluta impotência para obras livres saudáveis. Usar da liberdade para o mal é abdicar da própria dignidade e degradar-se” (VICTORINO RODRÍGUEZ OP, Temas-Clave de Humanismo Cristiano, Speiro, Madrid, 1984, p. 121).

 


 

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