Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

Guerreiros da Virgem

 

A Réplica da Autenticidade

 

A TFP sem segredos

CAPÍTULO VI

O terror na formação do sócio ou cooperador da TFP

Ao mostrar, nos Capítulos anteriores (IV e V), a inteira inocuidade da acusação de "lavagem cerebral", foi propositadamente deixada de lado, por comodidade de exposição, uma pergunta entretanto relacionada com o tema: porventura utiliza a entidade, na formação que dá aos jovens que nela ingressam, o método de aterrorizá-los para os tornar mais flexíveis à sua ação educadora?

O sr. JAP o sugere, por exemplo na seguinte passagem de seu livro: "Quanto mais me entusiasmava pelas coisas que descobria ou me ensinavam na Organização, mais temia ser incapaz de atingir a perfeição que me era exigida. Ao mesmo tempo, sentia medo: medo das Forças Secretas, medo do pecado, medo das pessoas que não compactuavam com nosso ideal. Medo também dos castigos previstos para a humanidade pervertida, medo de sucumbir antes da Bagarre, medo de perder-me durante ela. Medo de mim. Medo de todos. Medo até de Dominus Plinius, o profeta que podia, pela graça de Deus, discernir os espíritos" (GV pp. 161-162) [1].

E o timorato autor de Guerreiros da Virgem realça, ao longo de seu livro, os temas nos quais a TFP deitaria, para esse efeito, uma ênfase especial:

1º) Interpretação da História Moderna e Contemporânea como um grande combate ideológico de pequenas forças residuais da Cristandade contra uma conspiração de forças secretas, com a maçonaria e o judaísmo à frente, invisivelmente dirigidas pelo demônio, que tentam extirpar da terra a Igreja e a civilização cristã, e obter assim a vitória do Mal.

2º) Uma concepção sombria da presente situação do mundo, concepção esta correlata com o dito acima: a humanidade vive sob a égide do demônio, e está quase toda ela conquistada pela sensualidade e pelo orgulho igualitário. Caminha ela assim para uma catástrofe cultural, sócio-econômica e política sem precedentes, no decurso da qual os pecadores que se mantiverem impenitentes serão mortos, e suas almas precipitadas no Inferno.

É, em linguagem da TFP, a Bagarre.

Depois disso brilharão, para toda a humanidade punida e purificada, dias de santidade, de ordem e de esplendor sem precedentes. Será o Reino de Maria.

3º) Referência insistente da TFP às revelações feitas por Nossa Senhora, em 1917, aos três pastorinhos de Fátima – Lúcia, Francisco e Jacinta – que reforçam a impressão aterradora produzida pela expectativa de um castigo para todo o gênero humano.

4º) Por fim, a lembrança do Inferno, e a consideração do perigo que representa, para todo homem, a possibilidade de morrer em estado de pecado mortal e ser, assim, condenado ao fogo eterno [2].

* * *

Bem entendido, o sr. JAP, ao expor esses temas, e especialmente os três primeiros, não o faz nos seus verdadeiros termos. Mas freqüentemente distorce o pensamento da TFP, acrescentando ou omitindo pormenores de importância, exagerando certos aspectos ao sabor de sua fecunda imaginação, embaralhando fontes de referência etc. – tudo de modo a causar, no leitor não familiarizado com o assunto, a impressão mais desfavorável da TFP.

Na realidade, o sr. JAP parece insinuar que esses medos exerceriam na TFP um papel substitutivo ao do pânico produzido pelas crueldades nos processos "clássicos" de "lavagem cerebral".

Mas entre uma coisa e outra não há termo de comparação. Por mais que os terrores supostamente usados na TFP fossem levados a um grau de exacerbação quase inconcebível (o que o sr. JAP também não afirma), seria disparatado atribuir a eles efeitos tão dramaticamente avassaladores quanto os do método "clássico" de "lavagem cerebral".

Essa temática comporta vários esclarecimentos:

1. Atuação das "Forças Secretas": noção que a TFP não fabricou

A noção de que uma gigantesca conspiração de forças ocultas bafejada pelo demônio, se veio espraiando na Europa, e depois na América, não é corrente no público brasileiro. Os meios de comunicação social, por exemplo, sobre ela silenciam inteira ou quase inteiramente. Quem lê de chofre, por exemplo, as páginas 33-34 de Guerreiros da Virgem, facilmente pode ficar, pois, com a impressão de que tudo quanto o sr. JAP atribui à TFP naquelas páginas não passa de invencionice desta.

O sr. JAP se abstém ardilosamente de esclarecer os leitores a este respeito.

Na realidade, essa noção de forças ocultas não é “fabricada” pela TFP, nem é, como pretende o sr. JAP (GV p. 148), baseada nos Protocolos dos Sábios de Sião. Ela se fundamenta em sucessivos documentos dos Romanos Pontífices.

A mais antiga condenação papal da Maçonaria data de 28 de abril de 1738 – há quase 250 anos! É a Carta Apostólica In eminenti, do Papa Clemente XII.

Muitos outros documentos pontifícios renovaram depois essa condenação e premuniram os católicos contra a atuação das forças secretas que tramam contra a Igreja e a civilização cristã.

À condenação de Clemente XII seguiram-se a Constituição Apostólica Providas, de Bento XIV (18-5-1751), a Constituição Ecclesiam a Jesu Christo, de Pio VII (13-9-1821), a Constituição Quo graviora, de Leão XII (13-3-1825), a Encíclica Traditi humilitati, de Pio VIII (24-5-1829) e a Encíclica Mirari Vos, de Gregório XVI (15-8-1832).

Sob Pio IX (1846-1878), as sociedades secretas foram condenadas em nada menos do que 116 documentos, sendo 11 Encíclicas, 53 Cartas e Breves, 33 Alocuções e Discursos, e 19 documentos de Cúria. São desse Pontificado a Encíclica Qui pluribus (9-11-1846), a Alocução Quibus quantisque (20-4-1849), a Encíclica Quanta Cura (8-12-1864) e a Alocução Multiplices inter machinationes (25-9-1865).

Nos 25 anos que durou o pontificado de Leão XIII (1878-1903), pelo menos 226 documentos foram exarados pela Santa Sé condenando a Maçonaria, a Carbonária e as sociedades secretas em geral; destes, o mais conhecido é a Encíclica Humanum Genus, de 20 de abril de 1884 (cfr. JOSÉ A. FERRER BENIMELI, Bibliografía de la Masonería – Introducción Histórico-Crítica, co-edição Universidad Católica Andrés Bello de Caracas/Universidad de Zaragoza, Zaragoza, 1974, 385 pp.; e JOSÉ A. FERRRER BENIMELI/GIOVANNI CAPRILE, Massoneria e Chiesa Cattolica - ieri, oggi e domani, Ed. Paoline, Roma, 2ª. ed., 1982, 287 pp. Embora tais obras sejam excelentes do ponto de vista da documentação bibliográfica, o pensamento nelas expresso discrepa em vários pontos do professado pela TFP).

O Código de Direito Canônico até recentemente em vigor, que foi elaborado durante o pontificado de São Pio X (1903-1914) e promulgado em 1917 pelo Papa Bento XV, punia com pena de excomunhão o católico que se filiasse à Maçonaria (cfr. cânon 2335).

Embora o novo Código de Direito Canônico que entrou em vigor em 1983 tenha suspenso a pena de excomunhão, continua proibido para o católico filiar-se às associações maçônicas, conforme esclarece recente Declaração da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé [3].

A bibliografia de autores católicos sobre essas forças secretas é tão numerosa, que seria impossível elencá-la aqui por inteiro. Talvez a melhor obra teológica e histórica de conjunto sobre esta matéria ainda seja a A conjuração anticristã, de Mons. Henri Delassus, Cônego da Diocese de Lille[4]. Cabe lembrar, a propósito, as célebres pastorais antimaçônicas de D. Fr. Vital Maria Gonçalves de Oliveira (1844-1878), Bispo de Olinda, cujo processo de beatificação foi introduzido junto à Santa Sé [5]. Por vezes algum tanto desigual na escolha dos seus colaboradores, mas apresentando habitualmente matéria de grande interesse para o estudo do antimaçonismo nas primeiras décadas deste século, não pode ser omitida a conhecidíssima “Revue Internationale des Sociétés Secrètes” (boletim bimensal da “Ligue anti-judeo maçonnique ‘La France Catholique’”), publicada a partir de 1911, sob a direção de Mons. E. Jouin, Cônego honorário de Notre Dame de Paris e Protonotário Apostólico.

Também não é possível passar em silêncio sobre os livros fortemente impugnados pelo Pe. Ferrer Benimeli, mas dignos de nota, de Léon de Poncins [6].

Seria ridículo atribuir indistintamente a inspiração de tão numerosos documentos pontifícios, e de toda essa larga e rica corrente de pensamento, ao nazi-fascismo, pois que as mais antigas obras sobre o tema datam ainda do século XVIII, como as célebres Mémoires pour servir à l'histoire du Jacobinisme, do Abbé Barruel, publicadas em Londres, em 1797, as quais responsabilizam a maçonaria pela eclosão da Revolução Francesa.

O nazismo e o fascismo não fizeram senão deformar e desdourar, por seus evidentes exageros, as teses antimaçônicas[7].

2. Atuação do demônio no mundo: outra matéria que a TFP não inventou

 "O mundo está todo posto sob o jugo do Maligno", adverte o Evangelista São João (I Jo. V, 19).

E São Pedro conclama à vigilância: "Sede sóbrios e vigiai, porque o demônio, vosso adversário, anda ao redor, como um leão que ruge, buscando a quem devorar" (I Pt. V, 8).

Quanto à ação do espírito das trevas neste mundo, há também incontáveis referências em textos litúrgicos e nos documentos pontifícios.

É célebre, por exemplo, o Exorcismo que Leão XIII, em 1884, prescreveu fosse rezado no final das Missas[8].

O mesmo Pontífice escreve na Encíclica Humanum Genus: “Desde quando, pela inveja do demônio, miseravelmente se separou de Deus, a quem era devedor do seu chamado à existência e dos dons sobrenaturais, o gênero humano dividiu-se em dois campos inimigos, que não cessam de combater, um pela verdade e pela virtude, o outro por tudo o que é contrário à virtude e à verdade. – O primeiro é o Reino de Deus na terra, a saber, a verdadeira Igreja de Jesus Cristo .... O segundo é o reino de Satanás. Sob o seu império e em seu poder se acham todos os que, seguindo os funestos exemplos de seu chefe e de nossos primeiros pais, recusam obedecer à lei divina e multiplicam seus esforços, aqui para prescindir de Deus, ali para agir diretamente contra Deus" (Documentos Pontifícios, n° 13, Vozes, Petrópolis, 1960, 4ª ed., p. 3).

Não falta nos documentos do Supremo Magistério a noção da crise contemporânea devastadora, e dos castigos que ela pode acarretar, conjugada com a atuação do príncipe das trevas em nossos dias.

Assim, o Papa São Pio X (1903-1914), na primeira encíclica que dirigiu ao orbe católico, após descrever a impiedade já impressionante em seu tempo, ponderava que talvez tivessem chegado os dias do Anticristo, supremamente aflitivos para os católicos: "Quem pesa estas coisas tem direito de temer que uma tal perversão dos espíritos seja o começo dos males anunciados para o fim dos tempos, e como que a sua tomada de contacto com a terra, e que verdadeiramente o filho de perdição de que fala o Apóstolo (II Tess. II, 3) já tenha feito o seu advento entre nós, tamanha é a audácia e tamanha a sanha com que por toda parte se lança o ataque à religião, com que se investe contra os dogmas da fé, com que se tende obstinadamente a aniquilar toda relação do homem com a Divindade!" (Encíclica E Supremi Apostolatus, de 4-10-1903, Documentos Pontifícios, no 87, Vozes, Petrópolis, 1958, 2ª. ed., p. 6).

Mais recentemente, analisando as perturbações ocorridas na Igreja no período pós-conciliar, Paulo VI afirmou ter a sensação de que “por alguma fissura tenha entrado a fumaça de Satanás no templo de Deus” (Alocução de 29 de junho de 1972, Insegnamenti di Paolo VI, Tipografia Poliglotta Vaticana, vol. X, p. 707).

E no dia 26 de março de 1981, durante a homilia na Basílica Vaticana, diante de professores e estudantes universitários, João Paulo II dissertou longamente sobre a luta entre o Reino de Deus e o de satanás, em nossos dias:

“Cristo confirma a existência do espírito maligno e de seu reino, que se deixa guiar com um programa próprio. Este programa exige uma estrita lógica de ação, uma lógica tal que o ‘reino do mal’ possa durar. Aliás, que possa desenvolver-se nos homens aos quais é dirigido. Satanás não pode agir contra o próprio programa, não pode o espírito maligno expulsar o espírito maligno. Assim diz Cristo.

“A luta entre o reino do mal, do espírito maligno e o Reino de Deus ainda não cessou, não terminou. Entrou apenas em uma nova etapa, aliás em uma etapa decisiva. Nesta etapa a luta continua nas gerações sempre novas da História humana.

Será preciso talvez demonstrar que essa luta continua também em nossos dias? Sim! É certo que ela ainda continua. E ela até se desenvolve, passo a passo com a História da humanidade, nos diversos povos e nações. E ela continua igualmente em cada um de nós. E acompanhando essa História, inclusive a História de nossa época, podemos também constatar como o reino do espírito maligno não está dividido, mas por vários modos busca uma ação unificada no mundo, procura atuar sobre as pessoas, sobre os ambientes, as famílias, as sociedades. Como no início, também agora centra seu programa sobre a liberdade do homem... sobre a sua liberdade aparentemente ilimitada. ....

“A atividade do espírito maligno em nós e entre nós .... seduz o homem com uma liberdade que não lhe é própria. Seduz ambientes, sociedades e gerações inteiras. Seduz para manifestar, por fim, que esta liberdade não consiste em outra coisa senão em se adaptar a uma coerção múltipla: à coerção dos sentidos e dos instintos, à coerção da situação, à coerção da informação e dos vários meios de comunicação, à coerção dos esquemas correntes de pensamento, de avaliação e de comportamento, nos quais se silencia sobre a questão fundamental, que é se um tal comportamento é bom ou mau, digno ou indigno.

“Gradualmente, o mesmo programa julga e sentencia a respeito do bem e do mal, não segundo o valor autêntico das obras e das questões, mas segundo as vantagens e as circunstâncias momentâneas, segundo o "imperativo' do prazer e do sucesso imediato.

“Pode o homem ainda despertar? Pode ele dizer claramente a si mesmo que esta "liberdade ilimitada' se torna, no fim das contas, uma escravidão? ....

“Aprendei a pensar, a falar e a agir de acordo com os princípios da simplicidade e da clareza evangélicas: ‘Sim, sim. Não, não’. Aprendei a chamar o branco de branco e o preto de preto – o mal de mal e o bem de bem. Aprendei a chamar o pecado de pecado e a não chamá-lo de libertação e de progresso, ainda que toda a moda e a propaganda se oponham a isso” (Insegnamenti di Giovanni Paolo II, Libreria Editrice Vaticana, 1981, vol. IV, 1, pp. 788 a 791).

3. As revelações de Fátima, outro motivo de terror?

As revelações de Fátima falam realmente de um tremendo castigo que assolaria a humanidade, caso esta não abandonasse as vias do pecado em que se havia atolado. O anúncio desse castigo consta do famoso segundo Segredo, revelado aos três pequenos videntes – Lúcia, Francisco e Jacinta – no dia 13 de julho de 1917. São palavras de Nossa Senhora, conforme o relato da Irmã Lúcia, a única vidente ainda viva:

 “Vistes o inferno, para onde vão as almas dos pobres pecadores. Para as salvar, Deus quer estabelecer no mundo a devoção ao meu Imaculado Coração.

“Se fizerem o que Eu vos disser, salvar-se-ão muitas almas e terão paz.

“A guerra vai acabar, mas se não deixarem de ofender a Deus, no reinado de Pio XI começará outra pior. Quando virdes uma noite alumiada por uma luz desconhecida, sabei que é o grande sinal que Deus vos dá de que vai punir o mundo de seus crimes, por meio da guerra, da fome e de perseguições à Igreja e ao Santo Padre.

“Para a impedir, virei pedir a consagração da Rússia ao meu Imaculado Coração e a comunhão reparadora nos primeiros sábados. Se atenderem a meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz; se não, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja; os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas; por fim, o meu Imaculado Coração triunfará. O Santo Padre consagrar-Me-á a Rússia, que se converterá, e será concedido ao mundo algum tempo de paz.

“Em Portugal se conservará sempre o Dogma da Fé, etc."[9].

Como é sabido, Nossa Senhora comunicou aos três pastorinhos, na mesma Aparição de julho de 1917, um terceiro Segredo, cujo texto se encontra em poder da Santa Sé desde fins de 1958 ou princípios de 1959.

Segundo a Irmã Lúcia, essa terceira parte do Segredo versa sobre matéria distinta das duas partes já reveladas, e poderia ser divulgada só a partir de 1960, quando, então, seu conteúdo se tornaria “mais claro”, conforme afirmou ela ao Cardeal Alfredo Ottaviani, Prefeito da Sagrada Congregação do Santo Ofício (cfr. "La Documentation Catholique", Paris, n° 1490, 19-3-67, p. 542).

A Santa Sé não divulgou, até o momento, esse terceiro Segredo, e um texto dele que circula amplamente nos meios católicos não goza de nenhuma garantia quanto à autenticidade.

Sem embargo, uma análise contextual das duas partes já reveladas (a primeira trata da visão do Inferno; a segunda anuncia o castigo) permite conjecturar plausivelmente que a terceira parte do Segredo, distinta das anteriores, versa sobre a crise da Igreja, que justamente a partir da década de 60 se vem tornando cada vez mais clara [10].

O sr. JAP menciona sumariamente essas revelações (GV pp. 77-78). Ele comete incorreções graves, como o atribuir a elas a profecia de que dois terços da humanidade perecerão durante o castigo. Haverá talvez revelações particulares que falem disso, não porém as de Fátima.

O castigo que Nossa Senhora previu em Fátima, a TFP vê nele um ato supremo de misericórdia de Deus para com o mundo pecador, pois muitas almas, nesse sofrimento extraordinário, poderão se arrepender de seus pecados e expiar suas culpas. Precisamente como o dilúvio que, segundo São Pedro, foi motivo de salvação eterna para muitos que, entretanto, haviam permanecido incrédulos enquanto Noé fabricava a arca. Porém, quando desabou sobre eles o tremendo castigo, se arrependeram e pediram perdão a Deus, aceitando a morte como expiação de seus pecados [11].

Sobre as revelações de Fátima cumpre dizer que, tendo se encerrado com a morte do último Apóstolo o ciclo das revelações oficiais, elas, como as de Lourdes e tantas outras, se incluem definidamente na categoria das revelações privadas. Ora, se às primeiras o católico deve dar assentimento sob pena de pecar contra a Fé, às últimas ele pode livremente dar ou recusar crédito, segundo seu prudente critério.

No entanto, o católico que creia nas revelações de Fátima está longe de poder ser acoimado de crédulo, leviano ou heterodoxo. Pois tal tem sido o apreço manifestado pelos Romanos Pontífices, bem como por incontáveis Prelados do mundo inteiro, ao culto de Nossa Senhora de Fátima, que torna descabidas tais inculpações [12].

Em sua homilia de 13 de maio de 1982, durante a peregrinação a Fátima para agradecer a Nossa Senhora o fato de ter sobrevivido ao sacrílego atentado que sofreu na Praça de São Pedro, exatamente no dia 13 de maio do ano anterior, João Paulo II pronunciou estas palavras que atestam quanto a mensagem de Fátima continua atual:

“À luz do mistério da maternidade espiritual de Maria, procuremos entender a extraordinária mensagem (grifo do original) que, daqui de Fátima, começou a ressoar pelo mundo todo, desde o dia 13 de maio de 1917. ....

“Se a Igreja aceitou a mensagem de Fátima, é sobretudo porque esta mensagem contém uma verdade e um chamamento que, no seu conteúdo fundamental, são a verdade e o chamamento do próprio Evangelho. ....

“Este chamamento foi feito nos inícios do século vinte e, portanto, foi dirigido, de um modo particular, a este mesmo século. A Senhora da mensagem parecia ler, com uma perspicácia especial, os ‘sinais dos tempos’, os sinais do nosso tempo. ....

“Esta mensagem é dirigida a todos os homens. O amor da Mãe do Salvador chega até onde quer que se estenda a obra da salvação. E objeto do Seu desvelo são todos os homens da nossa época (grifo do original) e, ao mesmo tempo, as sociedades, as nações, os povos. As sociedades ameaçadas pela apostasia, ameaçadas pela degradação moral. A derrocada da moralidade traz consigo a derrocada das sociedades. ....

“O conteúdo do apelo de Nossa Senhora de Fátima está tão profundamente radicado no Evangelho e em toda a Tradição, que a Igreja se sente interpelada por essa Mensagem (grifo do original)”.

 Mais adiante, depois de indagar como é que se apresenta, diante de Nossa Senhora de Fátima, o sucessor de São Pedro, o Pontífice responde:

 “Apresenta-se com ansiedade, a fazer a releitura daquele chamamento materno à penitência e à conversão, daquele apelo ardente do Coração de Maria, que se fez ouvir aqui em Fátima, há sessenta e cinco anos. Sim, relê-o, com o coração amargurado, porque vê quantos homens, quantas sociedades e quantos cristãos foram indo em direção oposta (grifo do original) àquela que foi indicada pela mensagem de Fátima. O pecado adquiriu assim um forte direito de cidadania e a negação de Deus difundiu-se nas ideologias, nas concepções e nos programas humanos!

“E precisamente por isso, o convite evangélico à penitência e à conversão, expresso com as palavras da Mãe, continua ainda atual (grifo do original). Mais atual mesmo do que há sessenta e cinco anos atrás. E até mais urgente” (Insegnamenti di Giovanni Paolo II, Libreria Editrice Vaticana, 1982, vol. V, 2, pp. 1570 a 1575).

* * *

É concebível que o Segredo de Fátima suscite antipatias e até queixas na família de almas dos comunistas e socialistas explícitos, bem como de sua vasta congérie de “inocentes úteis”, "companheiros de viagem" etc. E que, em conseqüência, a esquerda católica deite todo o empenho em desprestigiar as aparições de Fátima, e os que as divulgam e comentam. As "armas" aqui brandidas pelo sr. JAP parecem tiradas desse arsenal forjado em Moscou [13].

* * *

Em conseqüência de tudo isso, o católico que dê crédito às revelações de Fátima, as difunda e as comente, tem o direito de não ser criticado nem impugnado simplesmente por isto. Essa divulgação, Nossa Senhora a pediu, Ela mesma, em Fátima. E o comentário que se atenha escrupulosamente ao conteúdo da Mensagem, sem o ampliar nem deformar, outra coisa não faz senão aumentar a eficácia da divulgação, tornando-a mais fácil de ser entendida e avaliada nas suas justas proporções. É o que faz a TFP.

Se tal conduta levasse implícita e necessariamente ao terror, como pretende o sr. JAP, seria o caso de responsabilizar por isso... a própria Mãe de Deus!

Não é admissível que o conteúdo de todos os documentos citados nos tópicos anteriores e neste seja próprio a criar um terror desequilibrado... em espíritos equilibrados. Pois não é de crer que ensinamentos da Igreja e revelações de Nossa Senhora sejam nocivos para as almas.

Se uma tensão nervosa se seguir ao estudo dessas matérias, o mal não está nelas, porém nas deficiências psíquicas ou nervosas destes ou daqueles dentre os que as estudem.

Se, pois, daí decorreu algum mal para o sr. JAP, a causa está nele, e não no que aprendeu na TFP.

4. A recordação das penas do Inferno, sempre oportuna em todos os tempos

 O mesmo se diga quanto ao temor do Inferno, que o sr. JAP parece relacionar especialmente com sua crise de pureza.

É certo que, já antes do Concílio Vaticano II, se fazia notar em muitos pregadores uma tendência a falar cada vez menos do Inferno. Tendência esta em uma mútua relação de causa e efeito com o desinteresse (quando não a antipatia crescente) de certo público mundano, ou então sofisticadamente “intelectualizado”, para com pregações sobre esse tema.

Não espanta. Pois o pecador é habitualmente infenso a que se lhe fale da punição de seus pecados, como o mau pagador evita conversar sobre suas dívidas. De outro lado, os pregadores imediatistas e utilitários evitam tratar de temas que desagradam seus ouvintes. Isto não obstante, continuam válidas para todos os homens, em todos os tempos, e em todos os lugares, as palavras da Sagrada Escritura: “Em todas as tuas obras lembra-te dos teus novíssimos, e nunca jamais pecarás” (Eccli. VII, 40).

Como se sabe, os novíssimos são: Morte, Juízo, Inferno e Paraíso.

Por isto, documentos do Magistério eclesiástico dos mais graves, tratados e sermões de teólogos, moralistas e pregadores dos mais eminentes, escritos de incontáveis Santos têm versado o tema per longum et latum, para o maior proveito dos fiéis.

Diz em outro lugar o Eclesiástico: "O temor do Senhor expulsa o pecado; quem não tem este temor não poderá ser justo" (I, 27-28). E ainda: "Não há coisa melhor do que o temor de Deus, e nada há mais doce do que observar os mandamentos do Senhor" (XXIII, 37).

A idéia de que o temor de Deus é o princípio da sabedoria, aparece não menos que sete vezes nas Sagradas Escrituras (Ps. CX, 10; Prov. I, 7; IX, 10; XV, 33; Eccli. I, 16; I, 25; XXI, 13).

Em princípio, pois, falar sobre as penas do Inferno, usando, ao fazê-lo, de proporcionada insistência, só pode ser benfazejo.

São famosas, por exemplo, as missões populares organizadas por Santo Afonso Maria de Ligório, e postas em prática na Igreja pelos Redentoristas, com grande concurso de povo, pelo menos até o fim da chamada “era pré-conciliar”. Segundo as normas de Santo Afonso, os pregadores deveriam dirigir-se às ruas e praças no cair da noite e exortar o povo a comparecer à Missão. O próprio Santo traça as normas de como devem ser feitas essas “exortações noturnas”:

“Sem estas exortações, pelo menos nos primeiros quatro ou cinco dias, ver-se-á a igreja freqüentada apenas por aqueles que menos necessitam da Missão. A experiência tem demonstrado com evidência que as exortações da noite conseguem de modo maravilhoso acordar essas almas preguiçosas e levá-las à Igreja.

“Essas exortações, é de se notar, devem ser de curta duração e até mesmo bem curta, não devendo ir além de quinze minutos. ....

“Serão feitas em tom veemente, não faltarão aí palavras de terror, que firam com freqüência o coração e os ouvidos dos assistentes. ....

“Não devem elas terminar com o ato de contrição, mas sim com uma sentença aterradora. ....

“É bom retornar sempre ao argumento, assim: "Ouviste, pecador? Se vens ao Senhor, tu o encontrarás clemente e misericordioso; se recusas seu abraço paternal, Ele te fugirá, não te chamará novamente...' ....

“Finalmente se conclui com uma sentença aterradora, que deve estar em conexão com o argumento, com a proposição. Sentença curta em termos graves, aterradores, que façam profunda impressão e toquem o coração do ouvinte. Por exemplo: "Treme, pecador, treme! Quiçá esta noite ainda Deus te mandará a morte, quando não queres mudar de vida! E serás assim um condenado!' Ou: "Geme, lamenta teus pecados, faze-o agora para não o teres que fazer na eternidade!' Ou: "Continua, na tua vida desregrada, continua a ofender a Deus; escuta, porém: no Vale de Josafá hás de ouvir a sentença de Jesus Cristo: Ide, malditos, para o fogo eterno...' Poder-se-á terminar também com as palavras do cântico, caso elas se prestem a isso, assim:

“De um dia para outro? Assim morres, pecador!” (Santo AFONSO MARIA DE LIGÓRIO, Os exercícios da Missão, Vozes, Petrópolis, 1944, pp. 9 a 14).

Quem ousaria dizer que o fruto das Missões Redentoristas foi encher os manicômios ou os hospitais de doentes nervosos? A prática de mais de 200 anos indica exatamente o contrário. Elas sempre foram ocasião de grandes conversões e de recuperação moral, criando assim condições propícias para a sanidade mental.

* * *

Em síntese, nenhuma censura merece a TFP por alertar seus sócios e cooperadores para os perigos que as almas deles correm especialmente nos dias de hoje.

Se nisso houvesse algo de nocivo, seria impossível evitar de dizer que também nociva é a maternal mensagem da Mãe de Deus à humanidade pecadora de nossos dias. Pois a TFP, nessa matéria, não faz senão implícita ou explicitamente difundir, explicar e comentar a mensagem de Fátima.

Convém lembrar, a esse propósito, que na terceira aparição de Nossa Senhora em Fátima, no dia 13 de julho de 1917, a Santíssima Virgem mostrou o Inferno aos três pastorinhos, visão essa que constitui a primeira parte do célebre Segredo. Narra a Irmã Lúcia: “Ao dizer estas últimas palavras, [Nossa Senhora] abriu de novo as mãos como nos dois meses passados. O reflexo [de luz que elas expediam] pareceu penetrar a terra e vimos como que um grande mar de fogo e mergulhados nesse fogo os demônios e as almas como se fossem brasas transparentes e negras ou bronzeadas, com forma humana, que flutuavam no incêndio levadas pelas chamas que delas mesmas saíam juntamente com nuvens de fumo, caindo de todos os lados – semelhante ao cair das fagulhas nos grandes incêndios – sem peso nem equilíbrio, entre gritos e gemidos de dor e desespero que horrorizavam e faziam estremecer de pavor. Os demônios distinguiam-se por formas horríveis e asquerosas de animais espantosos e desconhecidos, mas transparentes como negros carvões em brasa” (apud ANTONIO AUGUSTO BORELLI MACHADO, As aparições e a Mensagem de Fátima conforme os manuscritos da Irmã Lúcia, Ed. Vera Cruz, São Paulo, 1984, 20ª  ed., pp. 43-44).

Comentando o terror que essa visão causou às três crianças - e especialmente à menor delas, Jacinta - assim se exprimiu a Irmã Lúcia em suas memórias (III): “Algumas pessoas, mesmo piedosas, não querem falar às crianças do inferno, para não as assustar; mas Deus não hesitou em mostrá-lo a três e uma de 6 anos apenas e que Ele sabia se havia de horrorizar a ponto de, quase me atrevia a dizer, de susto se definhar” (Memórias da Irmã Lúcia, edição da Postulação dos Processos de Beatificação de Francisco e Jacinta Marto, Fátima, 1978, 3ª. ed., p. 97).

Sem dúvida, como também outros temas religiosos, o temor do Inferno pode levar a um rigorismo desequilibrado as pessoas que meditem sobre ele, não segundo as regras da sabedoria, mas segundo as suas meras preferências pessoais. O que acontece também, por exemplo, com a meditação sobre a misericórdia de Deus, que, feita inadequadamente, pode favorecer o laxismo.

Mas esses possíveis abusos não impedem que tais temas sejam desenvolvidos – ou assimilados - equilibradamente pela generalidade das almas. “Abusus non tollit usum” (o abuso não impede o uso)  essa a norma do Direito que tem aplicação também no campo religioso.

Aliás, até que ponto chega a normalidade e onde começa o abuso, em pregações do gênero? Depende isso de tal maneira das peculiaridades de quem disserta, de quem ouve, da ocasião e do modo em que o tema é tratado, que resulta dificílimo, em considerável número de casos, dizer exatamente qual é a linha demarcatória entre uma coisa e outra.

Nesse particular, só caberia alguma crítica se o modo de tratar o assunto fosse censurável pela excessiva insistência, ou por sua dramaticidade charlatanesca.

* * *

Algo disso o sr. JAP parece insinuar quando, ao tratar da visita que realizou ao “mosteiro secreto” da TFP, relata longamente a audição de uma fita magnética contendo a gravação de um exorcismo (GV pp. 116 a 119).

Ora, essa fita foi realmente ouvida no auditório da TFP, em reunião plenária, sem que em ninguém tivesse causado o pânico verdadeiramente desproporcionado que o sr. JAP descreve em si, e - sempre tendente a se julgar paradigmático - imagina tenha sido a reação dos outros: “Meus companheiros e eu, lívidos todos, trêmulos alguns, esforçâmo-nos para recobrar a respiração normal, e outros, mais tensos que os demais, tinham a pele úmida de suor” (GV p. 119).

A ver dramaticidade charlatanesca nesse episódio, ela estaria unicamente no modo pelo qual o sr. JAP o relembra...

Aliás, é de notar que o sr. JAP não menciona, ao narrar esse episódio, conversas com seus companheiros, mas apenas o que julga ter notado nas expressões fisionômicas deles. Para um observador subjetivista como ele, e propenso a imaginar nos outros o que ele mesmo sentiu, é bastante compreensível.

Veja-se, ademais, o seguinte trecho:

“De repente, o homem [o exorcizado], estirado no sofá, dava sinais de recuperar lentamente os sentidos adormecidos; porém, ao contrário de demonstrar normalidade, despertava com aspecto sombrio, pálido, balbuciando palavras incompreensíveis. Aos poucos, seus músculos tornavam a contrair-se e o homem, esbugalhando assustadoramente os olhos a ponto de dar a impressão de que os faria saltar das órbitas, alinhava-se na poltrona, cravava as unhas no estofado e adquiria porte altivo e desafiador, aumentando sucessivamente o volume de um gemido desesperado e acabrunhador.

“ - Vade retro, Satana! - bradava o sacerdote, procurando, às pressas, o crucifixo e o frasco de água benta. Os amigos e parentes do homem, assustados, aproximavam-se dele, na expectativa de ter de contê-lo mais uma vez ....” (GV pp. 118-119).

Dir-se-ia que o narrador assistiu a um filme tecnicolor. Pois é preciso ter muita imaginação para compor, a partir de uma simples gravação, um relato tão vivo, tão rico em pormenores...

* * *

Devidamente explicados esses vários “terrores”, vê-se cair mais uma coluna em que se apoiava a acusação vazia e inócua de que na TFP se praticaria uma “lavagem cerebral”.


 

[1] A palavra "terror" não figura no livro do sr. JAP. Mas é tal o papel que ele atribui ao medo, na rocambolesca "lavagem cerebral" de que acusa a TFP, que evidentemente esse medo opressivo, contínuo e onipresente toma vulto de uma obsessão, de um terror.

Poderia algum defensor do sr. JAP alegar que tal comentário carrega as tintas.

Para obviar tal ressalva, convém lembrar que a já citada notícia de "OESP" de 2 de julho de 1985 se refere expressamente ao "ambiente de terror" que o livro "conta" [sic] existir na TFP.

[2] O sr. JAP menciona ainda, em Guerreiros da Virgem, duas outras formas de incutir terror, que se usariam dentro da TFP: a consideração dos castigos individuais que Deus pode mandar, ainda nesta vida, aos que abandonem a TFP (cfr. GV pp. 99 e 183-184), e as punições disciplinares em vigor na entidade (cfr. GV pp. 167 e 168).

Quanto às punições de Deus ainda nesta vida, segundo a Sagrada Escritura e a doutrina católica, elas ocorrem de quando em vez. E a consideração delas, desde que feita com equilíbrio, só pode fazer bem às almas. É o caso, por exemplo, da punição impressionantíssima infligida por Deus a Ananias e Safira. Se o fato está narrado nos Atos dos Apóstolos (V, 1 a 11), é por evidente intuito da Providência de que o tenham em vista todos os homens até a consumação dos séculos.

No tocante às punições disciplinares mencionadas pelo sr. JAP, ele omite dizer que elas só se aplicam a jovens, em proporção de cuja natural resistência física nada têm de excessivo.

[3] É a seguinte a íntegra do documento:

“Declaração sobre as associações maçônicas. – Pôs-se a pergunta se teria mudado o juízo da Igreja acerca das associações maçônicas, em vista de que no novo Código de Direito Canônico não se faz menção expressa delas, como no Código antigo.

“Esta Sagrada Congregação pode responder que tal circunstância se deve atribuir ao critério empregado na redação, o qual foi observado também no tocante a outras associações igualmente passadas sob silêncio pelo fato de estarem incluídas em categorias mais amplas.

“Continua pois inalterada a sentença negativa da Igreja acerca das associações maçônicas, porque os princípios delas sempre foram considerados inconciliáveis com a doutrina da Igreja, e por isso a inscrição nas mesmas permanece proibida pela Igreja. Os fiéis cristãos que dão seu nome às associações maçônicas incorrem em pecado grave e não podem aproximar-se da Sagrada Comunhão.

“As Autoridades eclesiásticas locais não gozam da faculdade de proferir um juízo acerca da natureza das associações maçônicas que implique a derrogação da supradita sentença, segundo o disposto na Declaração desta Sagrada Congregação de 17 de fevereiro de 1981 (cfr. AAS, 1981, vol. 73, pp. 240-241).

Deliberada a presente declaração na Reunião ordinária desta S. Congregação, o Sumo Pontífice João Paulo II, na Audiência concedida ao abaixo-assinado Cardeal Prefeito, aprovou-a e ordenou que fosse publicada.

“Roma, na Sede da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, em 26 de novembro de 1983. – Joseph, Card. RATZINGER, Prefeito; Fr. Hieronymus Hamer, O.P., Arc. tit. de Lorium, Secretário” (AAS, 1º de Março de 1984, no 3, vol. LXXVI, p. 300).

[4] Mons. HENRI DELASSUS, La conjuration antichrétienne – Le temple maçonnique voulant s'élever sur les ruines de l'Église catholique, Desclée, Lille, 1910, 3 volumes; com uma carta congratulatória escrita, em nome do Papa São Pio X, pelo Cardeal Merry del Val, Secretário de Estado da Santa Sé.

[5] Carta pastoral do bispo de Olinda contra as ciladas e machinações da Maçonaria, Recife, 1873, 45 pp.; e Instrução pastoral sobre a maçonaria e os jesuítas, Rio de Janeiro, 1875/Petrópolis, Ed. Vozes, 1957, 197 pp.

[6] Obras de LÉON DE PONCINS: La Franc-Maçonnerie anglo-saxonne, "Mercure de France", 15-8-1931, 62 pp.; Les forces secrètes de la révolution – La Franc-Maçonnerie – Puissance occulte, Ed. Bossard, Paris, 1932; La Dictature des puissances occultes – La Franc-Maçonnerie, Beauchesne, Paris, 1934, 319 pp.; La Franc-Maçonnerie d'après ses documents secrets, Paris, 1934; La Société des Nations – Super-État maçonnique, Paris, 1936; La mystérieuse internationale juive, Paris, 1936; Histoire secrète de la révolution espagnole, Beauchesne, Orleáns-Paris, 1938, 286 pp.; La Franc-Maçonnerie contre la France, Paris, 1941; Freemasonry and the Vatican, Britons, London, 1967; Christianisme et Franc-Maçonnerie, L'Ordre Français, Versailles, 1969, 272 pp.

[7] Nas páginas 151 a 155 de seu livro, o sr. JAP se estende longamente sobre assuntos que são comentados nas "Reuniões de Recortes" da TFP. Em outros pontos do livro, ele menciona também essas reuniões (GV pp. 84, 107), que têm por fim analisar, com base no noticiário de imprensa, os acontecimentos nacionais e internacionais, à luz dos princípios expostos no já citado ensaio Revolução e Contra-Revolução.

Sem perder tempo na crítica da descrição, impugnável em vários pontos, do sr. JAP, a impressão que ela transmite ao leitor é a de que a TFP se aventura sistematicamente a dar explicações pretensiosas sobre problemas que estão acima da capacidade de informação e análise da entidade.

Tal impressão desfavorável se baseia num pressuposto errôneo, cujo primarismo salta aos olhos. Pois o essencial dele consiste em considerar inadmissível que um observador de política nacional ou internacional, com longa experiência pessoal da vida pública, e mesmo servido por especiais conhecimentos de História e de Filosofia, possa traçar idoneamente conjecturas ou prognósticos com o mero noticiário de imprensa.

A tal respeito, cabe perguntar: não adverte o sr. JAP que inculcando esse pressuposto ele nega a razão de ser do próprio jornal que tão amplamente lhe abre espaços? Pois, se a leitura do noticiário internacional dos diários não proporciona aos seus leitores formar conjecturas ou prognósticos, é o caso de se perguntar se serve para grande coisa.

Quanto à qualidade de tais conjecturas e prognósticos, depende em parte do noticiário, e em parte da experiência e da aplicação da formação cultural e do senso político de cada qual.

Negando isto, o sr. JAP reduz o papel do leitor do jornal ao de mero carneiro, cujas conjecturas e prognósticos – cujas opções, portanto – estão na estrita dependência dos “bancos de pensamento”, ou “bancos de informações” monopolizados pelo macrocapitalismo publicitário...

Se assim se forma a opinião pública, o que é então a democracia, da qual o sr. JAP por certo é um entusiasta, pelo menos na presente conjuntura em que ela está tão na moda?

Poderia ele responder que os assuntos sobre os quais se opina na TFP são por demais complexos para que quanto a eles forme opinião um simples particular.

Ora, em nossos dias, o gigantismo da crise contemporânea projeta no interior de cada país problemas de uma gravidade não raras vezes insondável. Entretanto a decisão deles é confiada a essa imensa soma de simples particulares, que se chama eleitorado, e ainda há quem, ademais, pleiteie que sobre esses temas sejam convocados a votar os analfabetos! O que ocorreu sem provocar maiores estranhezas, nas últimas eleições para o preenchimento dos cargos de prefeito municipal...

[8] É o seguinte o texto desse Exorcismo: “São Miguel Arcanjo, defendei-nos no combate, sede nossa proteção contra a maldade e as ciladas do demônio. Ordene-lhe Deus, instantemente o pedimos; e vós, príncipe da milícia celeste, pela força divina, precipitai no Inferno a satanás e aos outros espíritos malignos que vagueiam pelo mundo para perder as almas. Amém”.

[9] Cfr. ANTONIO AUGUSTO BORELLI MACHADO, As aparições e a Mensagem de Fátima conforme os manuscritos da Irmã Lúcia, Ed. Vera Cruz, São Paulo, 1984, 20ª  ed., pp. 44 a 47).

[10] Interessantes considerações sobre o assunto se encontram no artigo A mensagem de Fátima e a crise na Igreja, de A. A. BORELLI MACHADO, in “Catolicismo”, no 317, maio de 1977. 

[11]Ele [Nosso Senhor Jesus Cristo] também foi pregar aos espíritos que estavam no cárcere [do Limbo]; os quais outrora tinham sido incrédulos, quando nos dias de Noé a paciência de Deus estava esperando [a sua conversão], enquanto se fabricava a arca, na qual um pequeno número, isto é, oito pessoas apenas se salvaram sobre a água. à qual figura corresponde o batismo, que agora vos salva” (I Pt. III, 19 a 21).

Sobre a interpretação habitualmente dada a esse trecho, cfr. JOSÉ SALGUEIRO OP, Bíblia Comentada, BAC, Madrid, 1965, vol. VII, pp. 129-130.

[12] Deixando de lado os atos e documentos de Bispos do mundo inteiro que de um modo ou outro preconizam a devoção a Nossa Senhora de Fátima - porque só o elenco deles formaria um volume -, já é bem ampla a relação das manifestações de apoio provenientes da Santa Sé e de altos Prelados romanos à devoção de Nossa Senhora enquanto se tendo manifestado na Cova da Iria, e ao Santuário de Fátima:

1926, 1º  de novembro. - O Núncio Apostólico em Lisboa, Mons. Nicotra visita o local das Aparições.

1927, 21 de janeiro. - A Santa Sé concede o privilégio de uma Missa votiva em Fátima.

1929, 9 de janeiro. - Pio XI oferece a professores e alunos do Colégio Português, em Roma, estampas de Nossa Senhora de Fátima.

1929, 6 de dezembro. - Pio XI benze a Imagem de Nossa Senhora da Fátima destinada ao Colégio Português em Roma.

1930, 13 de outubro. - O Bispo de Leiria publica uma carta pastoral que aprova o culto de Nossa Senhora de Fátima e declara dignas de crédito as Aparições.

1931, 13 de maio. - Grande peregrinação do Episcopado português, tendo à frente o Cardeal Patriarca de Lisboa e o Núncio Apostólico; Consagração de Portugal a Nossa Senhora de Fátima.

1942, 31 de outubro. - Encerram-se as comemorações do 25° aniversário das Aparições de Fátima. O Santo Padre Pio XII fala em português para Portugal e faz a Consagração do mundo ao Coração Imaculado de Maria.

1946, 13 de maio. - O Cardeal Aloisi Masella, Legado Pontifício, coroa, na Cova da Iria, a Imagem de Nossa Senhora de Fátima, como "Rainha da Paz e do Mundo". O número de peregrinos ascende a cerca de um milhão.

1950, 8 de maio. - Pio XII declara: "Já passou o tempo em que se podia duvidar de Fátima".

1951, 13 de outubro. - O Cardeal Tedeschini, como Legado do Papa, encerra em Fátima, na presença de 50 Bispos, o Ano Santo Universal, e revela que no final do Ano Santo de 1950 Pio XII presenciara por quatro vezes, nos jardins do Vaticano, o “Milagre do Sol”, tal como ocorrera na Cova da Iria, em 13 de outubro de 1917.

1952, 7 de julho. - Pio XII consagra os povos da Rússia ao Imaculado Coração de Maria (Carta Apostólica Sacro Vergente Anno).

1955, 13 de maio. - Preside às cerimônias da peregrinação ao Santuário de Fátima o Cardeal Ottaviani.

1956, 13 de maio. - Iniciam-se no Santuário as comemorações do 25° aniversário da Consagração de Portugal ao Coração Imaculado de Maria, sob a presidência do Cardeal Roncalli, futuro João XXIII.

1956, 13 de outubro. - O Cardeal Eugênio Tisserant, Decano do Sacro Colégio, preside à peregrinação do encerramento do 25° aniversário da Consagração de Portugal ao Coração Imaculado de Maria, e benze a sede do Exército Azul de Nossa Senhora de Fátima.

1957, 15 de outubro. - Peregrinação presidida pelo Cardeal Cicognani.

1959, 8 de fevereiro. - Despede-se de Fátima o Cardeal Fernando Cento, Núncio Apostólico em Lisboa, há pouco nomeado membro do Sacro Colégio.

1960, 13 de maio. - Mons. Giovanni Panico, Núncio Apostólico em Lisboa, acende no Santuário o círio oferecido pelo Papa, dizendo: "Este círio representa a alma, o coração do Santo Padre, que veio rezar ao Santuário de Fátima, ao pé de Vós".

1960, 12 e 13 de outubro. - Esta peregrinação fica na história de Fátima como uma das maiores manifestações coletivas de oração e penitência. Preside a mundial manifestação de fé o Cardeal Lercaro, Arcebispo de Bolonha (Itália).

1961, 12 e 13 de maio. - A peregrinação é presidida pelo Cardeal Luigi Traglia, Vigário-Geral de Roma.

1961, 13 de outubro. - O Santo Padre João XXIII manda uma carta, assinada de próprio punho, ao Cardeal Patriarca de Lisboa, "por saber e imaginar o ardor espiritual que prepara a segunda Peregrinação Nacional a Fátima".

1963, 28 de agosto. - Com grande luzimento, foi benzida a Capela bizantina do Exército Azul pelo Cardeal Tisserant.

1963. – Além da visita de cinco Cardeais, o ano ficou assinalado pelo legado do falecido Papa João XXIII – a sua Cruz Peitoral – feito ao Santuário de Fátima, onde ele uma vez foi peregrino, e pela concessão de Missa própria.

1964, 12 a 13 de maio. - A peregrinação é presidida pelo Cardeal Agostino Bea.

1964, 21 de novembro. - Ao fim da III Sessão do Concílio Vaticano II, Paulo VI, depois de declarar Nossa Senhora "Mãe da Igreja", confia o gênero humano ao Imaculado Coração de Maria e anuncia que enviará a Rosa de Ouro ao Santuário de Fátima.

1965, 13 de maio. - A entrega da Rosa de Ouro ao santuário é o acontecimento inolvidável desta peregrinação. É Legado do Santo Padre o Cardeal Fernando Cento e assistem 25 Bispos portugueses, além do Cardeal Patriarca de Lisboa.

1966, 21 de janeiro. - Visita de Mons. Mario Nasalli Rocca, Mestre de Câmara de Sua Santidade o Papa Paulo VI.

1966, 12 e 13 de maio. - A peregrinação é presidida pelo Cardeal José António Ferreto.

1967, 13 de maio. - Paulo VI visita o Santuário de Fátima e se associa à comemoração do 25° aniversário do ato de Pio XII, que ocorreria a 31 de outubro desse ano.

1982, 20 de abril. - Carta do Cardeal Casaroli, Secretário de Estado, a todos os Bispos, comunicando que João Paulo II visitaria Fátima no dia 13 de maio seguinte, ocasião em que tinha a intenção de renovar, em união espiritual com todos os Bispos do mundo, os dois atos realizados por Pio XII.

1982, 13 de maio. - João Paulo II visita o Santuário de Fátima e consagra o mundo ao Imaculado Coração de Maria, renovando os atos de Pio XII de 1942 e 1952.

1983, 8 de dezembro. - Carta de João Paulo II aos Bispos do mundo inteiro convidando-os a se unirem a ele no ato de entrega e consagração do mundo que iria realizar em 25 de março do ano seguinte.

1984, 25 de março. - Em Roma, João Paulo II faz um ato de entrega e consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria, e especialmente dos homens e das nações que têm mais necessidade dessa entrega e dessa consagração.

Os dados do presente elenco, até o ano de 1966, foram extraídos de Fátima – Guia histórico e turístico, organizado pelo Pe. José Domingues Fernandes Silva, 1967, 112 pp.

[13] É digna de nota esta crítica a Fátima que fez o ideólogo comunista francês Roger Garaudy, quando, em 19-5-1970, debateu com o Cardeal Jean Daniélou diante das câmeras da TV francesa: "Não esqueça que quando Marx escreveu: "A religião é o ópio do povo', ele se situava naquela parte do século XIX em que o espírito da Santa Aliança ainda subsistia, e devo dizer que este espírito não morreu ainda em todos os lugares, e até acontece algumas vezes ser ele encorajado. Para não citar ninguém, evocarei simplesmente Fátima" (ROGER GARAUDY, Chrétiens et marxistes devant le monde moderne, "La Documentation Catholique", no 1564, 7-6-70, pp. 546-547).

 


 

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