Plinio Corrêa de Oliveira
EM DEFESA DA AÇÃO CATÓLICA |
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O presente texto é transcrição da edição fac-símile comemorativa dos quarenta anos de lançamento do livro, editada em Março de 1983 pela Artpress Papéis e Artes Gráficas Ltda - Rua Garibaldi, 404 - São Paulo - SP - Brasil |
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CONCLUSÃO
Desenvolvendo a longa enumeração
de doutrinas, que aqui ficaram expostas, quisemos pôr em relevo o nexo
íntimo que as prende, fazendo delas um só conjunto ideológico. Todas elas
se ligam, próxima ou remotamente, aos seguintes princípios: uma negação
dos efeitos do pecado original; uma conseqüente concepção da graça, como
fator exclusivo da vida espiritual; e uma tendência de prescindir da
autoridade, na esperança de que a ordem resulte da conjugação livre,
vital, e espontânea das inteligências e das vontades. A doutrina do
mandato, sustentada aliás por autores europeus, dos quais muitos são
dignos de consideração por vários títulos, encontrou um terreno fértil em
nosso ambiente, onde deitou frutos que muitos de seus autores não previam,
e outros que, talvez, até nem se pudessem logicamente dela deduzir.
É evidente que muitas pessoas não
percebem as conseqüências profundas, que estão implícitas nas ideias que
professam, e outras nem sequer professam estas idéias na sua totalidade,
aceitando pelo contrário apenas uma ou outra. A História da Filosofia nos
demonstra, porém, que sendo o homem naturalmente lógico, ele jamais aceita
uma ideia sem experimentar a necessidade de aceitar as conseqüências que
dela decorrem. Este trabalho de frutificação ideológica é feito em geral
lentamente; mas se examinarmos as razões mais profundas das grandes
transformações que às vezes ocorrem em um homem, encontrá-las-emos
freqüentemente neste amadurecer paulatino de conclusões, nem sequer
suspeitadas em seus princípios remotos.
Assim, as pessoas que aceitaram
algumas destas idéias costumam apoiar e aplaudir as que caminharam mais
avante no mesmo terreno, revelando singular entusiasmo pelos que chegaram
às posições ideológicas mais radicais, e uma real desprevenção de espírito
para perceber os erros flagrantes que nestas posições se notam. Em outros
termos, estamos em presença de uma idéia em marcha, ou melhor, de uma
corrente de homens em marcha atrás de uma idéia, nela se radicando cada
vez mais, e de seu espírito cada vez mais se intoxicando.
Se, como no início dissemos,
nosso trabalho puder concorrer para despertar as atenções adormecidas,
prevenir contra o erro os espíritos incautos e arrancar de suas garras as
almas retas, terá produzido todo o fruto que dele esperamos.
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Mas, dir-se-á, se é certo que
estes erros existem, não é também certo que nosso livro, preocupando-se
exclusivamente em os refutar, revelou uma tendência unilateral para uma
ordem de verdades, com olvido de outras?
Voltemos mais uma vez ao que
dissemos na
Introdução.
A doutrina católica compõe-se de
verdades harmônicas e simétricas, e a perfeição do senso católico consiste
em que saibamos abraçá-las todas de tal maneira que, em lugar de se
comprimirem ou diminuírem umas às outras, pelo contrário se harmonizem em
nosso espírito como se harmonizam na mente da Igreja. Assim, estas
verdades, como as ondas de uma melodia bem executada, devem vir cada qual
no lugar próprio, na ordem conveniente, e com a sonoridade adequada.
Se este livro tivesse por
objetivo dar uma ideia panorâmica do que a A.C. deve ser, certamente seria
unilateral. Mas, como já dissemos, nossas pretensões são mais modestas.
Não pretendemos executar toda a melodia, mas acentuar simplesmente certas
notas, que não têm sido tocadas, e cancelar outras, que prejudicam a
harmonia do conjunto.
Em uma formosa oração pronunciada
na Cúria Metropolitana, narrou o Exmo. e Revmo. Mons. Antonio de Castro
Mayer, Vigário Geral preposto à Ação Católica de São Paulo um fato que vem
a propósito.
Certa paróquia italiana inaugurou
durante o pontificado de Pio XI um formoso carrilhão, em que cada sino
tinha o nome de uma Encíclica do grande Pontífice. O conjunto constituía,
pois, uma representação da obra doutrinária por ele levada a termo. Nessa
obra, alguns sinos deixaram de agradar a alguns ouvidos. Aqui ensaiamos
defendê-los, não porque entendamos que só neles consiste todo o carrilhão,
mas porque sabemos que sem eles estaria o carrilhão irremediavelmente
prejudicado.
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Os eventuais contendores que
encontrarmos, poderão tomar diversas atitudes. Uns dirão que não pensam
assim, que exageramos e que nosso zelo nos levou a ver com cores negras o
que terá sido uma realidade inócua. A estes, pedimos desde já que, com a
clareza de quem ama a verdade, e a exatidão de quem ama a clareza, digam
precisamente o que pensam sobre o assunto, e que formem ao nosso lado,
calorosamente, para o combate às ideias que não professam. Outros,
certamente, discordarão de nós de modo claro. Não lhes pedimos senão que
externem inteiramente seu modo de pensar, “ut revelentur ex multis
cordibus cogitationes”. Será o maior serviço que prestarão à verdade.
Outros, finalmente, perseverarão no erro, mas procurarão mudar de fórmulas
e, até certo ponto, de doutrinas, porque o erro é necessariamente um
camaleão, quando procura medrar à sombra da Igreja. Mas nossas palavras
terão servido ao menos de aviso para os espíritos argutos.
De qualquer maneira, o que acima
de tudo desejamos é que a diletíssima A.C. possa prosseguir na realização
dos desígnios providenciais que sobre ela tem a Igreja, imaculada na
doutrina, ilibada na obediência, invencível na luta e gloriosa na vitória. LAUS DEO VIRGINIQUE MARIAE
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