Plinio Corrêa de Oliveira

 

Projeto de Constituição angustia o País

 

1987

Capítulo III – Em 1986, uma eleição-sem-idéias: demonstram-no as explicações geralmente dadas da ampla vitória do PMDB

Mesmo antes das eleições, as pesquisas eleitorais feitas por institutos especializados, como pelos grandes órgãos de imprensa, já prognosticavam uma vitória maciça e generalizada do PMDB, em quase todos os Estados, não só para os cargos de Governador, como para a Constituinte.

1. Receio de “mexicanização” do País

Entretanto, a amplitude da vitória do PMDB levou alguns analistas políticos ao receio de “mexicanização” do País, isto é, a introdução de um sistema de partido único que se perpetuasse no Poder. Jayme Brener, da equipe de redação da “Folha de S. Paulo” (18-11-86), registra esse receio: A ampla vitória do PMDB nas últimas eleições levou Antônio Ermírio de Morais ... e diversos analistas a apontarem o perigo da ‘mexicanização’ do país, com o partido majoritário assumindo um papel semelhante ao Partido Revolucionário Institucional (PRI), que dirige a vida política do México desde 1929.

2. O Plano Cruzado deslumbrou e iludiu o eleitorado

A grande maioria dos analistas políticos aponta como causa principal da vitória do PMDB a aprovação do Plano Cruzado pelo povo, naturalmente certo de que esse Plano teria duração normal. Daí decorreu, por ocasião das eleições, a tão generalizada simpatia do eleitorado para com o Presidente Sarney e o principal Partido político que o apoiou, isto é, o PMDB. Tal popularidade entraria em rápido declínio seis dias depois do pleito, com a publicação das novas medidas econômicas, as quais tornaram notório o fracasso do Plano Cruzado.

Assim, “O Estado de S. Paulo” (22-11-86) comenta: Agora ficou meridianamente claro que o Plano Cruzado visava um único objetivo: ganhar, por via da mendacidade, as eleições de 15 de novembro.

Gilberto Dimenstein, editorialista da “Folha de S. Paulo” em Brasília observa: Como os ajustes [no Plano Cruzado] foram divulgados logo após as eleições, pairou a suspeita de que o governo fora o astuto; mais do que suspeita, revolta  (“Folha de S. Paulo”, 23-11-86).

O líder do PDS na Câmara, Amaral Neto (RJ), fez um contundente discurso contra as medidas econômicas do Governo: Moralmente, seria o caso de a Justiça Eleitoral anular essas eleições, porque o povo foi vítima de uma chantagem eleitoral e de um estelionato político  (“O Estado de S. Paulo”, 25-11-86).

Também a revista “Veja” (26-11-86) levanta o problema ético posto por uma eleição feita nessas condições:

É comum que os governantes esqueçam as promessas dos candidatos, mas o que aconteceu no Brasil na semana passada foi um recorde universal. No sábado dia 15, o PMDB obteve a maior vitória já dada a um partido numa eleição livre em toda a História do país. ....

Ainda que toda a ciência econômica esteja do lado dos economistas do PMDB, sobra um gigantesco problema ético. Se o pacote era necessário e inevitável, por que em vez de baixá-lo no dia 21, com as urnas abertas, o governo não o atirou no dia 10, quando elas estavam fechadas?

3. Outras causas da vitória do PMDB

Além do Plano Cruzado, outras causas são apontadas para o êxito eleitoral do PMDB: ser ele o partido mais bem estruturado em todo o País e ter alcançado forte enraizamento político nas  camadas mais pobres da população. Para o Governador Brizola, porém, a causa dessa vitória está na “onda misteriosa que tomou conta do país (Dora Tavares Lima, “Jornal do Brasil”, 17-1-87).

Ninguém, ou quase ninguém procura explicar a vitória do PMDB pela solidariedade da maioria do eleitorado com o programa do Partido:  a tal ponto foram a-ideológicos os votos dados nestas eleições à corrente governista, como aliás também aos Partidos oposicionistas.


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