Capítulo I

 

 

O que é a calma

 

 

 

 

 

 

 

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Neste capítulo (resumo)

Calma não é distensão ou relaxamento, mas um estado de alma no qual se reage de modo inteiramente proporcionado ao que se tem diante de si.

A verdadeira e legítima fruição da vida começa no momento em que se ensinou à pessoa o deleite da calma. Quando ela compreende que a calma é o maior prazer da vida, compreendeu o que é a vida, e que a vida é uma partida que vale a pena jogar.

Existe também uma falsa calma, uma atitude passiva ou ausente, carente de reações enérgicas. Mas a verdadeira calma nada tem de pasmaceira, e é bem outra coisa.


Qual é a verdadeira calma? Qual a calma verdadeiramente católica? No que ela consiste?

Vou tratar da calma boa, para poder fazer a comparação com a calma ruim. Creio que não se pode fazer bem a descrição da calma ruim sem ter passado pela boa. Hoje quase ninguém sabe o que é a calma boa. Há inúmeras deformações do sentido da palavra. Muitos perderam a noção da verdadeira calma.

A noção corrente parece-me que se identifica com a de distensão. Quando o indivíduo está distendido, está calmo. A contrario sensu, quando ele está tenso, não está calmo. Esta noção é verdadeira? Não me parece. Acho que é falsa, porque insuficiente e incompleta. Segundo esta noção, a pessoa não estaria calma quando no auge de sua vitalidade, e eu contesto isto.

Parece-me que o indivíduo pode estar perfeitamente calmo, e de uma verdadeira calma, quando em plena vitalidade. Imaginemos, por exemplo, que um de nós fosse convidado a fazer um passeio no rio Loire, no Reno ou em Veneza. Não de lancha, mas de barco. Não sei por que o passeio no Reno me parece particularmente atraente, neste momento. A pessoa estaria subindo o Reno até suas origens, querendo entrar no território suíço e avançar Suíça adentro, pelo rio, até o ponto onde ele nasce.

O Reno é um rio assombroso, correndo entre aquelas encostas de montanhas verdejantes, com uvas plantadas em quantidade. De vez em quando uma aldeia bonitinha, de vez em quando um castelinho, às vezes um castelão, de vez em quando uma cidade, e a paisagem vai passando lentamente.

Durante todo o tempo a pessoa vê coisas que podem despertar muito sua vitalidade. Pode ficar alegre, pode ficar satisfeito, pode dar risada, pode estar contente, pode tirar fotos, pode fazer qualquer coisa. Com isso ele perde a calma? Pode ser que alguém a perca, mas passar por todas essas impressões não é perder a calma.

A calma, portanto, não é distensão nem relaxamento. É um estado de alma pelo qual o temperamento, os instintos, a sensibilidade reagem de modo inteiramente proporcionado àquilo que a pessoa tem diante de si. Esse é o sentido de calma.7

7. 25-9-1986.

Adiante

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