Plinio Corrêa de Oliveira

 

Sou Católico: posso ser contra a reforma agrária?

 

Ed. Vera Cruz - Fevereiro de 1981

Secção K – O IPT, novo cavalo de Tróia do comunismo

TEXTO DO IPT

Conclusão

105 . Fazemos esse pronunciamento exatamente quando se defere hoje à agricultura uma grave responsabilidade no atendimento às exigências energéticas alternativas e à urgência de aumentar nossas exportações.

106 . Receamos que o desempenho dessas tarefas sirva de novo pretexto para atropelar os direitos dos humildes, em cuja defesa assumimos o nosso compromisso de pastores. Esse receio não é infundado. Entre as formas de neocolonialismo denunciadas por João Paulo II, aparece hoje como ameaçadora uma organização da economia internacional que defere ao Brasil e a outras nações subdesenvolvidas a função de fornecedoras de alimentos e matérias-primas de origem agrícola às nações que controlam aquela economia. Nesse contexto, grandes estratégias intensivas de capital reforçariam a condição de dependência da economia brasileira e haveria de precipitar o processo de proletarização dos nossos homens do campo.

107 . Entendemos que a problemática dos trabalhadores rurais e urbanos e a problemática da terra só terão solução verdadeira se forem mudadas a mentalidade  e a estrutura em que funciona a nossa sociedade. Enquanto o sistema político-econômico estiver a favor dos lucros do pequeno número de capitalistas, e enquanto o modelo educacional servir de instrumento de manutenção desse sistema, inclusive desestimulando a vida rural e seus valores, então não terá solução verdadeira a situação de injustiça e de exploração de trabalho da maioria.

COMENTÁRIO

Quem ler a primeira frase deste tópico conceberá a esperança de que os oportunos ensinamentos de João Paulo II, em Puebla (cfr. Secção G, nota 25) tenham por fim a merecida repercussão no IPT: a frase fala, com efeito, não só em mudança de “estrutura”, como também de “mentalidade”. Parece ser a porta aberta para valorizar a missão religiosa e moral do Clero.

Mas a desilusão vem logo depois.

Esta mudança de mentalidade é focalizada especificamente do ponto de vista dos problemas sociais e econômicos, com subestima ou preterição dos magnos assuntos espirituais e religiosos para os quais, sobretudo, foi instituída por Jesus Cristo a Santa Igreja Católica Apostólica Romana.

TEXTO DO IPT

108 . Por outro lado, reconhecemos que a experiência e a criatividade de nosso povo que cultiva a terra podem indicar caminhos novos para o aproveitamento de tecnologias alternativas e de formas comunitárias e cooperativas de uso dos instrumentos de trabalho.

109 . Essa sociedade será construída com o esforço de todos, com a necessária participação dos jovens, com a união e organização dos fracos, aqueles que o mundo tem por desprezíveis e que Deus escolheu para confundir e julgar os poderosos (cfr. 1 Cor 1, 26 ss).

110 . Finalmente, expressamos nosso especial apoio e estímulo a todos os animadores de comunidade, agentes pastorais e membros de organismos e entidades que, ao longo dos últimos anos, realizaram tarefas de Pastoral da Terra, Pastoral Indigenista, Pastoral Operária e outras formas de Pastoral junto aos marginalizados e somamos nosso trabalho ao das outras Igrejas Cristãs unidas pelo mesmo ideal.

111 . Pedimos ao Senhor que nos ilumine, e nos dê força e coragem para pôr em prática os compromissos que fizemos.

112 . Pedimos aos nossos irmãos na fé e na esperança, os cristãos todos de nossas comunidades, que assumam conosco esses compromissos. A tarefa será de toda a Igreja. Que o Senhor nos fortaleça e nos ajude a darmos aquele testemunho de unidade que Ele mesmo pediu na hora de oferecer sua vida por nós (cf. Jo 17).

COMENTÁRIO

Encerrada a análise do IPT, cumpre dizer, não mais quanto a este ou àquele texto, mas aos tópicos todos considerados em seu conjunto: suas omissões, lacunas, ambigüidades ou erros jogam sistematicamente em favor de uma concepção do que ele chama o “problema da terra”, em que o papel do trabalho é hipertrofiado a ponto de se tornar exclusivo, ou (talvez!) quase tanto. E o papel da propriedade é explanado de maneira a que ele se torne inteira ou (talvez!) quase inteiramente vazio.

Assim, o IPT é, a seu modo, um novo cavalo de Tróia. Na aparência anódino, ele contém no bojo o inimigo armado, pronto a atacar, a saquear e a incendiar. Ou seja, seu texto está inçado de imprecisões, lacunas, omissões e erros que, difundidos com a chancela da CNBB em todo o País, tende a derrubar, em nome da Religião Católica, a propriedade privada.

O que os comunistas, desde 1917 até nossos dias, jamais conseguiram, nem haveriam de conseguir em nome do ateísmo...

 

Textos Pontifícios

Os ensinamentos de Leão XIII sobre os problemas sociais e econômicos: síntese promulgada pelo Papa São Pio X

Tendo em vista a dramática confusão de idéias sobre problemas sociais e econômicos, a qual se vai alastrando pelos meios católicos com evidente vantagem para a expansão do comunismo, é oportuno divulgar uma síntese dos princípios ensinados sobre a questão por Leão XIII. Condensou-os o grande e santo Pontífice Pio X em seu Motu proprio Fin dalla prima de 18 de dezembro de 1903, sobre a Ação Popular Católica:

Na sociedade deve haver ricos e pobres unidos por um laço comum de amor

“I – A sociedade humana, tal qual Deus a estabeleceu, é formada de elementos desiguais, como desiguais são os membros do corpo humano; torná-los todos iguais é impossível: resultaria disso a própria destruição da sociedade humana (Encíclica Quod Apostolici Muneris).

II – A igualdade dos diversos membros sociais consiste somente no fato de todos os homens terem a sua origem em Deus Criador; foram resgatados por Jesus Cristo e devem, segundo a regra exata dos seus méritos, ser julgados por Deus e por Ele recompensados ou punidos (Encíclica Quod Apostolici Muneris).

III – Disto resulta que, segundo a ordem estabelecida por Deus, deve haver na sociedade príncipes e vassalos, patrões e proletários, ricos e pobres, sábios e ignorantes, nobres e plebeus, os quais todos, unidos por um laço comum de amor, se ajudam mutuamente para alcançarem o seu fim último no Céu e o seu bem-estar moral e material na terra (Encíclica Quod Apostolici Muneris).

IV – O homem tem sobre os bens da terra, não somente o simples uso, como os brutos, mas também o direito de propriedade, tanto a respeito das coisas que se consomem com o uso, como das que o uso não consome (Encíclica Rerum Novarum).

V – A propriedade particular, fruto do trabalho ou da indústria, de cessão ou de doação, é um direito indiscutível na natureza, e cada um pode dispor dele a seu arbítrio (Encíclica Rerum Novarum).

VI – Para resolver a desarmonia entre os ricos e os proletários é preciso distinguir a justiça da caridade. Só há direito de reivindicação, quando a justiça for lesada (Encíclica Rerum Novarum).

VII – O proletário e o operário têm as seguintes obrigações de justiça: fornecer por inteiro e fielmente todo o trabalho contratado livremente e segundo a eqüidade; não lesar os bens nem ofender as pessoas dos patrões; abster-se de atos violentos na defesa dos seus direitos e não transformar as reivindicações em motins (Encíclica Rerum Novarum).

VIII – Os capitalistas e os patrões têm as seguintes obrigações de justiça: pagar o justo salário aos operários; não causar prejuízo às suas justas economias, nem por violências, nem por fraudes, nem por usuras evidentes ou dissimuladas; dar-lhes liberdade de cumprir os deveres religiosos; não os expor às seduções corruptoras e aos perigos do escândalo; não os desviar do espírito de família e do amor da economia; não lhes impor trabalhos desproporcionados às suas forças ou pouco convenientes para a idade ou para o sexo (Encíclica Rerum Novarum).

IX – Os ricos e os que possuem têm obrigação de caridade de socorrer os pobres e indigentes, segundo o preceito evangélico. Este preceito obriga tão gravemente que dele serão exigidas contas de maneira especial no dia do Juízo, como disse o próprio Jesus Cristo (Mt. 25) (Encíclica Rerum Novarum).

X – Os pobres, por conseqüência, não se devem envergonhar da indigência, nem desprezar a caridade dos ricos, olhando para Jesus Redentor, que, podendo nascer entre as riquezas, Se fez pobre para enobrecer a pobreza e enriquecê-la de méritos incomparáveis para o Céu (Encíclica Rerum Novarum).

XI – Para a solução da questão operária muito podem contribuir os capitalistas e os operários com instituições destinadas a socorrer as necessidades e a aproximar e reunir as duas classes. Tais as sociedades de socorros mútuos e de seguros particulares, os patronatos para crianças e, sobretudo, as corporações de artes e ofícios (Encíclica Rerum Novarum).

XII – A este fim visa especialmente a ação popular cristã ou democracia cristã, com as suas obras múltiplas e variadas. Mas esta democracia cristã deve ser compreendida no sentido já fixado pela autoridade, o qual está muito afastado do sentido da social democracia [nome com que se designavam então a si mesmos, conjuntamente, o socialismo e o comunismo] e tem por base os princípios da fé e da moral católica e sobretudo o princípio de não prejudicar de maneira nenhuma o direito inviolável da propriedade particular (Encíclica Graves de Communi)”.

[Actes de S.S. Pie X, Bonne Presse, Paris, tomo I, pp. 109-110]. – S. Pio X.

·        Destaque em negrito e subtítulos do autor

 


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