Plinio Corrêa de Oliveira
Imagino um pequeno caso. Um estrangeiro com terras no Brasil verifica, surpreso, o aparecimento de um cupinzeiro em algum canto de sua propriedade. Amigo da boa ordem, antipatiza ele instintivamente com tudo quanto é calombo, excrescência inútil, bossa suspeita. E assim manda arrasar o cupinzeiro, matar os insetos que fogem e sepultar com terra nova os que se obstinam a ficar na cratera. Isto feito, sente-se vitorioso e feliz.
Dias depois, encontra ele nova bossa que se vai formando em outra parte, ainda, da mesma propriedade. Surpresa. Furor. Nova operação para arrasar o insólito e inestético calombo. Idêntica perseguição aos cupins. Nova “vitória”. E nova euforia.
De si para si, nosso estrangeiro se pergunta, entretanto, se haveria alguma causa comum entre os dois feios fenômenos. Correndo os olhos sobre a considerável distância intermediária, e nada tendo encontrado que servisse de fio condutor de um calombo a outro, respirou aliviado. Não havia nada. Aliás, como poderia haver algo entre dois cupinzeiros tão afastados?
É que, estrangeiro, e ademais ignorante do misterioso mundo dos cupins e dos cupinzeiros, não notou que os cupins também são alados, podendo assim constituir novos ninhos a uma considerável distância do ponto de origens.
De há décadas, sou entusiasta da ideia de uma crescente aproximação de nosso país luso-americano com as nações irmãs hispano-americanas. E como passo mais praticável de imediato, da aproximação dos povos ibéricos da América do Sul. Dentro de meu âmbito de ação venho trabalhando incansavelmente nesse sentido. Evidencia-o a expansão das TFPs em nossas nove nações. E não digo dez porque não temos TFP no Paraguai. Basta isto para dizer quanto quero e respeito essas nações irmãs.
Assim, e sem repisar aqui o tema da guerra das Malvinas, lembro simplesmente que, esgueirando-se ardilosamente no campo dos interesses internacionais argentinos, a atuação comunista se tornou subitamente presente sob a forma falaciosa de oferecimento de ajuda militar. E, ao mesmo tempo, os grupelhos de extrema esquerda indígena, até então perseguidos e contidos, começaram a se mostrar em conchavos na Casa Rosada e em missões exteriores de relevo. Se a opinião pública argentina, esclarecida por dois lúcidos e ágeis comunicados da TFP platina, não tivesse rejeitado bravamente a colaboração comunista, o módico cupinzeiro comunista existente em terras platinas teria intumescido desmedidamente, tentando transformar num gigantesco cupim toda a nação.
Mas até que extremo poderia nos ter levado o fato de que a velha e simpaticíssima reivindicação da Argentina em relação às Ilhas Malvinas tenha sido bruscamente reavivada pelo governo Galtieri, precisamente em circunstâncias internas e externas em que a Rússia tinha as melhores oportunidades de tirar seu proveito?
Mas, pelo menos, a Rússia saiu do episódio na postura de um batedor de carteira apanhado com a mão no bolso da vítima. Isto é, em pleno ato de intervir, por meio de pressões internas e externas, e movida por seu expansionismo ideológico, em uma nação sulamericana.
Ter-se-á dado que, já a propósito do caso Beagle tenham os comunistas andado à cata de uma oportunidade para armar uma guerra entre a Argentina e o Chile, a fim de aplicar à situação militar que então se criasse, esquema análogo ao do caso das Malvinas: oferecimento de armas a uma das partes beligerantes mediante vantagens políticas polpudas para o elemento comunista local, de modo a preparar o advento do comunismo ao longo da guerra?
O primeiro caso – o primeiro cupim – teria surgido, então, em umas ilhas nos mares antárticos, seguido pouco depois de outro em todo um Arquipélago daqueles mesmos mares. A hipótese tem sua coerência…
Nesse caso, entretanto, é indispensável não recuar ante mais outra hipótese, por sua vez coerente com a anterior. A tensão diplomática vai crescendo entre a Venezuela e a Guiana ex-inglesa, a propósito de velhas e aliás simpáticas reivindicações de Caracas sobre o território de Essequibo.
Parte mais fraca, o governo de Georgetown, marxista confesso, já pediu o apoio de “Cuba”. Ou seja, da Rússia. E conta com o do Brasil, que tem interesses relacionados com uma estrada que nosso País está ajudando aquela Guiana a construir no território petrolífero de Essequibo.
Mas sucede que a Colômbia tem, por sua vez, velhas reivindicações territoriais contra a Venezuela. E a conquista de Essequibo – alegam setores de Bogotá – desequilibraria a balança de forças naquelas regiões. De sorte que, se a Venezuela atacar a Guiana, a Colômbia avivará provavelmente sua reivindicação contra a Venezuela. Bela ocasião para o Peru reavivar sua contenda fronteiriça com o Equador. Ótima ocasião, sobretudo, para que a Rússia, em cada conflito, intervenha com o esquema que pouco faltou para que desse certo no caso das Malvinas.
Não estará então Moscou atrás de tudo isto, a agravar, a azedar, em infeccionar rixas entre povos irmãos, as quais tão bem se poderiam resolver de modo pacífico, ou protelar para melhores dias?
Vejo no Itamarati uma das mais belas e gloriosas instituições de nosso País, tão pobre delas. É, pois, de coração que faço votos por que a Casa de Rio Branco saiba ver toda a problemática, além dos meros direitos e interesses do Brasil no tocante à estrada de Essequibo. Se nosso País se mantiver inflexivelmente arredio da contenda guiano-venezuelana, e nesta só aceitar alguma tarefa conciliatória, terá sido de um peso talvez decisivo para manter a paz naquela região. E para evitar que os “cupinzeiros” comunistas intumesçam perigosamente em toda a América do Sul.
Vale a pena correr o risco de tantas calamidades por causa… da estrada de Essequibo?
Mas – dirá alguém – entre focos tão distantes como as Malvinas e Essequibo pode então haver qualquer forma de nexo? O mesmo se perguntava nosso estrangeiro, ignorante de que os habitantes dos cupins voam, quando se trata de constituir novos núcleos.
Se nexo há entre Moscou e Havana, entre Moscou e mares antárticos, por que não pode haver nexo entre os mares antárticos e o Caribe?