Agência Boa Imprensa – ABIM, março de 1994
Crucifixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo (Fra Angelico)
Por ocasião da Semana Santa entrego à consideração dos leitores deste jornal uma grande e suprema verdade, cuja recordação deve iluminar todas as meditações que os bons católicos façam sobre o tema.
O Evangelho nos faz ver com a maior evidência quanto a misericórdia de nosso Divino Salvador se compadece de nossas dores da alma e do corpo. Basta atentar para os milagres assombrosos de sua onipotência, praticados tantas vezes para as mitigar.
Entretanto, não imaginemos que esse combate à dor tenha sido o maior benefício por Ele dispensado aos homens, nesta vida terrena.
Não compreenderia a missão de Cristo ante os homens quem fechasse os olhos para o fato central de que Ele é nosso Redentor, e de que desejou padecer dores crudelíssimas para nos remir.
Até na culminância de sua Paixão, Nosso Senhor poderia ter feito cessar instantaneamente todas essas dores, por um mero ato de sua vontade divina. Desde o primeiro instante de sua Paixão até o último, Ele poderia ter ordenado que suas chagas se fechassem, seu sangue precioso deixasse de correr, os golpes por Ele recebidos deixassem de manter cicatrizes no seu corpo divino e, por fim, uma vitória brilhante e jubilosa cortasse o passo, bruscamente, à perseguição que O ia arrastando até a morte.
Porém, Ele não o quis. Pelo contrário, Ele quis deixar-se arrastar pela via dolorosa até o alto do Gólgota, quis ver sua Mãe Santíssima entregue ao auge da dor e, por fim, quis bradar, de maneira a que O ouvissem até o fim dos séculos, as palavras lancinantes: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?” (Mt. 27,46).
Nesses fatos compreendemos que, dando-nos a graça de sermos chamados com Ele para padecermos cada qual um quinhão da sua Paixão, Ele tornava claro o papel inigualável da cruz na vida dos homens, na História do mundo e na Sua glorificação.
Não pensemos que, convidando-nos a padecer as dores da vida presente, Ele tenha querido dispensar-nos de pronunciar, cada qual, no transe da morte, o seu consummatum est (cfr. Jo. 19,30).
Sem a compreensão da cruz, sem o amor à cruz, sem ter passado cada qual por sua via crucis, não teremos cumprido a nosso respeito os desígnios da Providência. E, ao morrer não poderemos tornar nossa a exclamação sublime de São Paulo: “Combati o bom combate, concluí a minha carreira, guardei a fé. De resto, está-me reservada a coroa da justiça que o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia” (II Tim. 4, 7-8).
Toda e qualquer qualidade, por mais exímia que esta seja, de nada servirá se, como base, não houver em todas as almas o amor à Santa Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo. Com tal amor tudo conseguiremos, ainda que nos pese o fardo sagrado da pureza e de outras virtudes, os ataques e os escárnios incessantes dos inimigos da Fé, as traições dos falsos amigos.
O grande alicerce, o máximo alicerce da Civilização Cristã está em que todos os homens exercitem generosamente o amor à Santa Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo.
São estas reflexões altamente oportunas por ocasião da Semana Santa de 1994. Que a tanto nos ajude Maria, e teremos reconquistado para o Divino Filho dEla o Reino de Deus, hoje tão bruxuleante no coração dos homens.