Santo do Dia, 11 de fevereiro de 1974
A D V E R T Ê N C I A
O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.
Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério tradicional da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:
“Católico apostólico romano, o autor deste texto se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto, por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.
As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.
Eu escolhi uma ficha, uma biografia um pouco longa, mas em todo o caso, com dados muito interessantes, sobre a vida do general romano São Plácido.
“No começo do segundo século da Igreja, quando Trajano governava o Império Romano, notava-se um brilhante general chamado Plácido, que se tinha distinguido nos combates e levava gloriosas cicatrizes. Rico, inteligente, corajoso, ele era amado pelo governador. Os soldados gostavam de combater sob suas ordens e seu nome era terror dos inimigos”.
Vejam, os senhores como pode evoluir a história de um nome. O nome Plácido ser terror dos adversários, para o português de hoje parece uma brincadeira porque o “plácido” é o calmo, tranquilo, sossegado. Aqui é um general romano, portanto a ideia que se tem é de um leão, que era o terror dos inimigos. “Aí vem Plácido…” todo o mundo foge! Os senhores veem como evoluem as coisas.
“No meio de tanta glória, era suave e cheio de misericórdia e como outrora fazia o centurião Cornélio, ele se comprazia em distribuir as suas esmolas em favor dos indigentes. Tinha esposa digna de si, chamada Taciana e dois jovens filhos. Que faltava a esta feliz família? Lamentavelmente, faltava-lhe tudo, faltava-lhes conhecer Jesus Cristo”.
Vem agora a conversão milagrosa da família.
Miniatura do século XIII
“O lazer que lhes deixava a carreira das armas, Plácido gostava de se consagrar à caça, esta imagem de guerra. Um dia ele se consagrava a esse exercício com um séquito numeroso quando surpreendeu um cervo magnífico com uma estatura extraordinária. Montado sob um cavalo tão intrépido quanto seu dono, Plácido perseguiu durante muito tempo, deixando todos os companheiros longe atrás de si. Enfim, apresentou-se um grande rochedo que devia deter o animal fugaz na sua carreira. Mas, esse com salto prodigioso se lançou até o alto do rochedo e ali parando bruscamente, voltou-se e olhou com segurança para o caçador espantado. Plácido pensava nos modos de vencer os obstáculos, quando por sua vez percebeu entre a galharia do veado uma cruz brilhante e luminosa e nessa cruz Jesus Cristo crucificado.
“Uma voz saia dessa visão: “Plácido, por que me persegues? Eu sou Jesus Cristo, as tuas boas obras me agradam, eu não quero que tua alma esteja por mais tempo maculada pelo culto dos ídolos, nem que ela pereça como a dos pagãos”. Plácido tomado ao mesmo tempo de surpresa e de susto saltou do seu cavalo e prosternado contra a terra disse: “Senhor, onde estais?” A voz respondeu: “Eu sou Jesus Cristo, Eu que criei o universo, Eu fiz o homem com minhas próprias mãos e levei a clemência e a bondade a tal ponto de reerguer depois de ele ter quebrado com o pecado… “
É a Redenção que reergueu o homem do pecado original.
“Depois ele falou da sua Encarnação, de Sua Paixão, de Sua morte, de Sua Ressurreição e de sua Ascensão aos céus. “Senhor, retomou Plácido, eu quero crer daqui em diante em Vós, em Vossos benefícios”. A voz então respondeu: “vai então à Cidade Santa, procura os padres dos cristãos, ele te purificará pelo santo batismo a ti e a tua esposa e teus filhos. Tu voltarás em seguida e Eu te ensinarei de novo para te revelar o futuro e o mistério da salvação”.
“Imediatamente tendo voltado à sua casa, Plácido comunicou a sua esposa a visão maravilhosa. “Eu também – disse Taciana – durante esse tempo vi o Cristo dos cristãos, que os cristãos adoram a um título tão justo. Durante a noite inteira Ele me disse em sonhos: “amanhã, tu, teu marido, teus filhos vireis a mim, vós sabereis que eu sou Jesus Cristo e que Eu tenho o poder de salvar àqueles que me amam”.
“Não demoremos, pois, quando tal benefício nos está prometido, disse ela vivamente, nós andaríamos mal em andarmos negligentes ou medrosos. Desde esta noite procuremos um padre dos cristãos e que ele nos confira este misterioso batismo que nos deve purificar.
“Na noite mesmo, seguido de seus filhos e de seus mais fiéis servidores, eles foram à casa de um padre que Deus tinha ornado com suas graças e que se chamava João. O padre ouviu com alegria a narração dos apelos de Deus a essas almas retas, ele bendisse o autor de todo bem, ele terminou de lhes instruir e lhes conferiu o batismo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
“Para figurar a vida inteiramente nova para a qual eles acabavam de nascer, ele lhes mudou o nome. Ele deu a Plácido o nome de Eustáquio, que quer dizer “ramo com belos frutos”, a Taciana ele deu o nome de…”
Muito singular para os nossos ouvidos de hoje…
“…de Teopista, que quer dizer “aquela que crê em Deus” e aos dois meninos de Agápios, quer dizer “pleno de caridade” e Tepistos, “filho de Tepista”.
“Em seguida ele celebrou os mistérios, o Santo Sacrifício da Missa e fez com que todos participassem do Corpo, e do Sangue de Jesus Cristo. Ó noite feliz e verdadeiramente iluminada por esses novos cristãos, com que alegria e santo entusiasmo eles retomaram o caminho de sua casa depois que o padre os mandou de volta na paz de Cristo e recomendando-se às orações dele.
“Entretanto os primeiros fogos do dia começaram a brilhar sobre a terra. Plácido que de agora em diante lhes chamaremos com o nome de batismo de Eustáquio, que tinha pressa de voltar à visão maravilhosa. Ele reuniu os seus companheiros de caça e deixando-se perseguir à sua vontade os animais através das montanhas, ele correu só junto ao lugar da aparição e prostrou-se de joelhos. “Senhor, mostrai-me, fazei-me conhecer o que Vós me prometeste”, e a voz de Cristo lhe fez entender como na véspera: “Tu és bem-aventurado Eustáquio por ter recebido a regeneração de vida do batismo, ela lhes deu a garantia da imortalidade, tu te tornaste uma ovelha de meu redil, pois bem, agora consente que tua fidelidade seja posta à prova.
“O demônio, que acaba de deixar-te, prepara para desfechar contra ti uma terrível batalha, mas se depois de ter perdido tudo o que fazia a tua felicidade neste mundo, continuares fiel na fé e no amor que tu me prometeste, se tua capacidade de sofrer, ficar invencível e afastar de ti tanto o desespero quanto a blasfêmia, eu saberei te recompensar um dia por toda essas prosperidades passageiras que perdes. Eu farei mais ainda, eu chamarei a ti e aos teus a honra de me prestar testemunho diante dos homens ao preço do vosso sangue”.
“Senhor Jesus Cristo, respondeu Eustáquio agradecendo ao Salvador, eu agradeço, que Vossa vontade se cumpra, mas dai-me a força para suportar tudo aquilo que Vós anunciais. Que o demônio não me possa surpreender em meus lábios nenhuma palavra de iniquidade, que ele não me faça decair na fé”.
“Ele desceu da montanha e de volta à sua casa, ele contou à Teopista tudo que a visão lhe tinha revelado. Então os dois esposos se prostraram por terra e suplicaram com lágrimas ao Senhor de lhes conceder todas as graças nas provações que Ele lhes dava agora como outra tinha dado prosperidade. A provação, com efeito, foi pronta a vir: a peste se abateu sobre a casa deles e levou seus escravos e escravas, todo gado pereceu, suas imensas riquezas não foram dentro em breve senão uma recordação. Eustáquio e Teopista resolveram então deixar este país que os tinham visto tão magníficos e tão prósperos e para o qual eles passariam a ser objetos de comiseração.
“Durante uma noite eles partiram em segredo, com seus filhos e algumas bagagens. Seu desígnio era de irem para o Egito. Quando os vizinhos se aperceberam de seu desaparecimento, eles saquearam tudo quanto tinham deixado. Entretanto, nosso viajante tendo atingido um ponto de mar, tomaram lugar num navio que ia aparelhar os mastros para embarcar. O mar foi tão calmo e o vento tão favorável, mas infelizmente o capitão do navio era pagão feroz, hábil talvez em lutar contra as tempestades do mar, mas inteiramente entregues às tempestades de suas paixões. A rara beleza de Teopista atraiu os seus olhares e quando chegou a hora do desembarque, ele declarou que ele a seguraria como preço de passagem. Em vão Eustáquio protestou e suplicou que ele obteria a soma suficiente para pagar tudo.
“O bárbaro nada quis ouvir e tomando de sua esposa ele ameaçou de matá-la se Eustáquio não se afastasse. Eustáquio partiu, portanto, com seus dois filhos. As pobres crianças iam amparando o pai pela mão, eles se voltam para ver ainda sua mãe durante todo o tempo que eles puderam vê-la. Eustáquio fazia o mesmo e as lágrimas dos três se misturavam. Ele continuou durante algum tempo seu caminho adorando a Deus e submetendo-se a Seus desígnios impenetráveis.
“Um dia ele chegou à beira de um lago profundo e não encontrou para franqueá-lo nem uma ponte nem um navio. Não podendo se expor no meio das ondas com seus dois filhos ao mesmo tempo, ele tomou um sobre os ombros e chegou felizmente ao outro lado. Ele já estava no meio do rio para pegar o segundo, quando ele viu chegar junto de si um leão que se jogou sobre a criança e fugiu. Eustáquio levou as mãos aos céus dando um grito, mas o leão e a criança tinham desaparecido.
“Ele voltou junto então àquele que ficou, daí por diante a sua única esperança e seu único afeto aqui embaixo, mas espetáculo terrível para seus olhos de pai, um lobo furioso se jogou nesse momento com as fauces abertas sobre seu único filho. O pai infeliz não tinha podido alcançar a margem e já o animal feroz tinha ido ao bosque com sua vítima. Esse terrível golpe parecia renovar todos os outros”.
* * *
E agora vem um golpe para os senhores: é que eu não trouxe o resto da ficha…
E que nós ficamos portanto num suspense. Isto se explica pelo seguinte: eu tomei muito apressadamente as fichas e vi aqui: general romano Plácido, e depois mais adiante vi Eustáquio, pensei então: esse já é o Santo de outro dia. Peguei as três fichas e de fato a outra parte da vida ficou em casa.
Os fatos aqui contados são tão numerosos, são tão cheios de significado que se prestam a diversos comentários. Um primeiro comentário: quando o homem moderno vê narrações tão extraordinárias, sua primeira reação é perguntar se são verdadeiras, porque parece tão inverossímil que uma série de coisas tenha acontecido que a pessoa se pergunta se alguém não se comprouve em fazer um romance maravilhoso.
Essa reação mostra bem o espírito positivista do homem moderno que só acredita naquilo que está absolutamente provado. E como as coisas provadas à saciedade, com a evidência de estourar, são raras e são triviais, acaba sendo que o homem moderno acredita na maior parte das vezes apenas em coisas triviais.
De fato, há existências que são assim. Basta os senhores folhearem os anais de polícia por exemplo, para os senhores verem quanta aventura o submundo da polícia contém. Também isto pode ser nos anais da santidade. A vida dos santos são frequentemente não um romance, mas um encadeamento de “romances” um depois do outro. Há tantos, que há três, quatro vidas por assim dizer sucessivas: muda de estado, de país, fazem proezas diversas e morrem velhos, tendo deixado atrás de si uma trajetória ao mesmo tempo atormentada e luminosa.
De maneira que não há uma razão especial para duvidarmos da autenticidade desses fatos. Nós devemos considerar aqui algumas cenas dessa biografia que são de uma grande beleza.
A primeira delas é Nosso Senhor Jesus Cristo que não quer aparecer ao pagão logo de início. Então, chama o pagão, que é uma pessoa reta, um pagão bom, cuja alma estava pronta para se converter, pagão que já não tinha quase nenhuma das manchas do paganismo, pode-se dizer que era um católico em gérmen, Ele atrai de um modo maravilhoso este homem para se afastar de seus outros companheiros. É um cervo magnífico, com uma galharia estupenda que corre tanto que só o grande general tem afoiteza suficiente e destreza suficiente para fazer o seu cavalo correr atrás do cervo.
Então podemos imaginar a bonita cena de um cavalo da cavalaria romana, um cavaleiro revestido com aquele elmo, com aquela couraça indo para uma luta com a espada e assim como ia de encontro aos adversários do império, ia de encontro a esse cervo. Então, a floresta, os regatos, os montes etc., etc., e o cervo que corre e o cavaleiro que vai atrás. Ele não sabia que aquilo era uma espécie de visão, pois que era Nosso Senhor Jesus Cristo que dispunha para afastá-lo completamente, para levá-lo a um lugar ermo onde ele não pudesse ser visto por ninguém, porque era evidente que se estava ainda no tempo das perseguições.
Afinal, em determinado momento o milagre se produz: quando tinha encurralado o veado contra o rochedo, e que pensou que a caça estava liquidada, o veado dá um pulo inexplicável, vai para o alto do rochedo e fica tranquilo ali, longe de seu alcance e olha para ele. No meio da galharia a visão: um crucifixo, uma cruz e na cruz o Crucificado, é Nosso senhor Jesus Cristo que aparece. E é o Céu que se abre no isolamento em que o homem está no meio da floresta, no alto de um rochedo. Que lindo quadro uma cena dessas poderia dar! E começa o diálogo: Nosso Senhor fala, ele pergunta onde está a voz, a voz lhe responde, ele não sabe onde está, mas compreende desde logo que é Deus que lhe fala, ele acredita e volta para casa para dar uma boa notícia à mulher.
Ele a encontra pressurosa, pois a noite inteira tinha sonhado com o fato que o marido ia lhe contar. O sonho fora veículo da graça como aconteceu com São José quando sonhou e teve a revelação da virgindade de Nossa Senhora. O sonho foi o veículo, foi uma ocasião para uma revelação divina.
Os dois vão então falar com o padre e depois desta cena bonita em que ele entra transfigurado pela graça, mas perguntando-se a si mesmo que faria sua mulher e se o acompanharia nesse passo, ele olha para ela e ela olha para ele e os dois se sentem transformados pela mesma luz interior e compreendem que o mesmo Deus tinha falado a ambos.
Então, os senhores podem imaginar a emoção dela ouvindo contar aquilo. Depois a emoção dele ouvindo o que a esposa lhe conta aquilo mesmo que ele tinha visto, a revelação que se fecha como os dois braços de uma ogiva, o fato está confirmado, está demonstrado: ela sonhou, ele viu, Deus mostrou.
Os senhores podem imaginar depois a noite caindo e eles apressados para irem à casa do padre, que vive num regime de perseguição e que, portanto, atende com cuidado. Eles batem à porta, entram com seus filhos. O padre pergunta o que é – desconfiança… -, eles explicam, o padre percebe que se trata de uma graça insigne; começa imediatamente a catequizar aquela gente. E são tais os progressos que fazem na hora que ele os batiza aquela noite. Mais ainda, ele celebra diante deles o santo sacrifício da Missa em casa.
Os senhores podem imaginar a cena numa casinha simples de Roma, uma mesa servindo de altar, um crucifixo, talvez uma pintura representando Nossa Senhora, o silêncio da noite, todo o mundo falando baixinho para não despertar suspeita da polícia romana e eles compreendendo que a Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo se renovava ali de modo incruento… Eles estão assistindo a Missa e participando dela. Depois voltam para casa pelas ruas escuras de Roma, carregando uma lanterna, andando devagar, parando… passa a cavalaria que está rondando pela cidade à noite, eles se escondem à sombra, depois entram, afinal chegam em casa. E o dia já estava nascendo, é a aurora que vem, eles encantados, a família transbordando de contentamento!
Aí vem o aviso do sofrimento. Isto é sempre assim. Vemos como Nosso Senhor foi disponho aquelas almas: primeiro lhes deu muitos bens e os tornou esmoler. Depois que ele se firmou no desapego de seus bens, Deus levou os dons ao cúmulo chamando para ser batizado. A seguir, Deus lhe fez a pergunta clássica: “meu filho, tu me dás os bens que Eu te dei? Tu me amas como Eu te amei? Tu estás disposto ao sacrifício? Eu sou um Deus crucificado e quero os que se querem crucificar comigo; muita felicidade terrena, muita prosperidade, pode conduzir a Deus; quando conduz, ela prepara as almas para se desapegarem e não ficarem cada vez mais apegadas. Tu estás disposto, meu filho, a renunciar a teus bens?” Ele diz “sim”.
Pouco depois a peste, a pobreza, a fuga, a separação da esposa, coisa pungente ver a esposa deixada no navio nas mãos de um bandido que quer se apossar dela. Ela com sua virtude para defender. Perece um filho, perece outro filho, ele no meio das águas… O caso faz lembrar o profeta Jó que perdeu tudo depois de ter sido cumulado de graças e a quem Deus preparava, entretanto, uma grande glória.
O significa isto, meus caros? Quer dizer o seguinte: quando a gente é convertido, quando se é chamado para uma grande vocação, a gente é carregado nos primeiros tempos na alegria e na felicidade. Mas vem um momento em que Nossa Senhora nos pede a luta, nos pede sacrifício, em que Ela quer encontrar as nossas almas dispostas, resolutas: “aconteça o que acontecer, eu hei de ser fiel!”
Estamos vivendo numa época de incertezas, ninguém de nós sabe o que os jornais de amanhã vão noticiar, que degringoladas, que catástrofes, que ameaças. Qualquer coisa é possível e se amanhã por exemplo estourar uma guerra mundial por exemplo, se há uma coisa que nenhum de nós tem o direito de dizer é: “que surpresa!” Ninguém ousaria dizer o seguinte: “e eu que não imaginava…” Ninguém tem o direito de dizer isto, porque não há entre os homens mais sossegados do mundo os que não acreditam que uma coisa dessas possa acontecer de um momento para o outro, o que viria a partir disto? Logo de início, uma comoção econômica que poria as economias da América do Sul de pernas para o ar…
Esta guerra seria uma guerra ideológica e como tal haveria de trazer um conflito entre uma corrente e outra, teria forçosamente uma repercussão em nossos países. Muito normalmente ela se transformaria aqui dentro em uma guerra civil e estaríamos numa vietnamização de nosso continente, com todas as desgraças que isto significa.
Quando não é uma guerra, é uma doença que pode bater em nossas portas, é uma coisa qualquer. Qual de nós que não está certo que durante esta noite não vai passar mal e que amanhã os médicos não vão ordenar exames e que estes tragam uma surpresa catastrófica qualquer? Quem de nós pode ter certeza disto? Nós, hoje mais do que nunca, vivemos à beira de um abismo.
Pois bem, Nossa Senhora escolhe exatamente para estas grandes lutas, para estas grandes catástrofes a quem ama mais especialmente e Ela os escolhe para provarem seu amor. Provarem a sua fé.
A vida é uma luta e os mais amados são os que mais devem lutar. Por isso os verdadeiros católicos devemos imitar São Plácido: quando Nosso Senhor lhe anunciou tudo que ia sofrer, ele fez uma oração parecida com a de Nosso Senhor no Horto: “se possível for, afaste-se de mim este cálice, mas faça-se a Vossa vontade e não a minha”. O fato é que São Plácido pediu graças do Céu, essas vieram. Estamos no meio da leitura de sua vida. Nós veremos na sexta-feira… se Deus quiser e então poderemos ver o restante.
Os senhores verão que será uma sublimação através de peripécias e de graças para fazer dele um grande santo da Igreja Católica. Amemos este caminho e peçamos a Nossa Senhora a graça de segui-lo.