São Pio X, sua profecia sobre a conversão da França – A pretensão é a grande tentação do contra-revolucionário

Santo do Dia, 3 de setembro de 1968

A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de exposição verbal do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira para sócios e cooperadores da TFP, tendo portanto estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.

 

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Hoje é festa de São Pio X, Papa e Confessor [no calendário atualmente em vigor, sua festa é no dia 21 de agosto, n.d.c.]. Sua relíquia se venera em nossa capela.

Os senhores sabem que São Pio X pode ser considerado um dos nossos protetores especiais, pelo fato dele ser um herói na luta contra o Modernismo. Este último é a forma avoenga do progressismo. E se lermos os documentos de São Pio X contra o Modernismo, vemos ali descrito completamente o progressismo.

São Pio X – como não raramente os santos recebem de Deus – teve alguns vislumbres proféticos. E há uma sua frase com um certo caráter profético que nos faz pensar no Reino de Maria, é verdade que visando uma determinada nação. Porém o mundo hoje está de tal maneira que o Reino de Maria não pode vir para uma só nação, mas pelo menos para várias, rumo a tomar conta de todas. E isso de maneira tal que profetizar o Reino de Maria para uma nação é profetizá-lo, de um modo ou de outro, para todas.

É bonita essa frase de São Pio X dirigida, no dia 29 de Novembro de 1911, ao povo francês, em um de seus documentos pontifícios [alocução consistorial “Vi ringrazio”, Acta Apostolicae Sedis, Typis Polyglottis Vaticanis, Roma, 1911, p. 657]:

Dia virá, e esperamos que não esteja muito distante, em que a França, como Saulo no caminho de Damasco, será envolta por uma luz celeste e ouvirá uma voz que lhe dirá novamente: ‘Minha filha, por que me persegues?’ E à resposta: ‘Quem és tu, Senhor?’, a voz replicará: ‘Sou Jesus, a Quem persegues. Duro te é recalcitrar contra o aguilhão, porque em tua obstinação te arruínas a ti mesma’’. E ela, trêmula e atônita, dirá: ‘Senhor, que queres que eu faça?’ E Ele: ‘Levanta-te, lava as manchas que te desfiguraram, desperta em teu seio os sentimento adormecidos e o pacto de nossa aliança, e vai, filha primogênita da Igreja, nação predestinada, vaso de eleição, vai levar, como no passado, meu nome diante de todos os povos e de todos os reis da terra”.

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Para compreender estas palavras é preciso tomar em consideração que o governo de São Pio X foi de duras lutas com a República francesa.

Eu li, em documentos do Papa Leão XIII, uma sua carta ao Presidente da República da França dizendo:

[copiamos aqui trecho publicado na última obra do Prof. Plinio, em 1993: Nobreza e elites tradicionais análogas nas alocuções de Pio XII ao Patriciado e à Nobreza romana, pág. 238):

“Os factos não justificaram as esperanças de Leão XIII, como este reconheceu amargamente na carta ao Presidente da França, Emile Loubet, em Junho de 1900:

“Quisemos, Sr. Presidente, abrir-vos a Nossa alma, confiando que – com a nobreza do vosso carácter, a elevação das vossas vistas, e o desejo sincero de pacificação religiosa do qual sabemos que estais animado – tomareis a peito colocar em acção a influência que vos dá a vossa alta posição para afastar qualquer causa de novas perturbações religiosas. Seria para Nós, chegado ao entardecer da vida, uma dor e uma amargura demasiadamente grandes ver evanescerem-se, sem darem os seus frutos, todas as Nossas intenções benevolentes a respeito da nação francesa e do seu governo, aos quais Nós demos testemunhos reiterados não apenas das Nossas mais delicadas atenções, como também da Nossa eficaz e particular afeição” (apud EMMANUEL BARBIER, Histoire du Catholicisme Liberal et du Catholicisme Social en France, L’Imprimerie Yves Cadoret, Bordeaux, 1924, t. II, p. 531).

[Abaixo, retomamos com os comentários feitos neste “Santo do Dia”]

Pouco depois subiu ao trono São Pio X, e começou com uma política intransigente de defesa dos direitos da Igreja. A França então explodiu numa investida contra a religião. Essa investida, naturalmente, encontrou uma parte do povo francês fiel à Igreja. Mas a França oficial, a França das cúpulas voltou-se toda ela contra São Pio X. Inclusive houve quem, a título de obter uma pacificação, de fato convidava o Papa a fazer concessões que ele não podia aceitar. Foi uma verdadeira miséria!

Nessa luta São Pio X teve lances de um heroísmo admirável! Uma ocasião ele ordenou, juntos, vários bispos franceses, sendo que era proibido pelas leis francesas sagrá-los sem licença do Governo. Pois bem, São Pio X mandou vir para Roma e os sagrou ele mesmo na Basílica de São Pedro, investindo-os nas dioceses.

Também preparou um discurso vigoroso contra os erros do governo francês, mas não disse nada a ninguém. Era a beatificação de Santa Joana d’Arc [13 de dezembro de 1908]. Quando os fiéis estavam todos reunidos, ele proferiu o discurso

Nesse clima de luta admirável, São Pio X teve aquelas palavras a respeito da França, anteriormente citadas.

Os senhores estão vendo que até a linguagem é interessante! É uma afirmação: “dia virá”. Depois, uma conjectura e uma incerteza: “e esperamos que não esteja muito distante”. Aí já não fala o homem que afirma, mas é um desejo, um cálculo de probabilidade. Esse discurso é de 1911. Estamos em 1968. Portanto, há 57 anos que isso foi previsto e não se deu. Entretanto, os senhores estão vendo que esse é o desfecho para a França.

Quando Nossa Senhora anunciou em Fátima “por fim Meu Imaculado Coração triunfará”, afirmou, portanto, que esse triunfo se dará no mundo inteiro. E entre outros fatos deverá haver, com a conversão geral das nações, a conversão da França também, que vemos aqui predita por São Pio X.

Mas vejam bem a questão, hein! Predita como?

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A conversão de Saulo, a caminho de Damasco (pintura de Caravaggio, que se encontra na igreja de Santa Maria del Popolo, em Roma)

Saulo, para ter recebido o raio de luz, precisou cair do cavaloÉ bem evidente que a França terá que passar por humilhações sem nome. Não só humilhações como as que está sofrendo atualmente [era o ano de 1968, poucos meses após a Revolução da Sorbonne, n.d.c.], que ela finge não perceber. Mas humilhações tais que não possa deixar de reconhecer que está humilhada ao extremo. E aí, nesse momento, quando a prosápia [orgulho] francesa for quebrada, quando a pretensão francesa for destruída, então podemos ter uma França convertida e que será a França do Reino de Maria.

Eu disse a palavra “pretensão” e a mencionei de propósito. Quanto mais analiso a vida da TFP; quanto mais analiso a história e a vida dos contra-revolucionários de que tenho notícia, mais chego a essa convicção: a pretensão é a grande tentação do ultramontano [contra-revolucionário, n.d.c.]!

O que vem a ser a pretensão?

É o indivíduo pretender atribuir todas suas qualidades exclusivamente a si, não querendo recebê-las da graça, não querendo ver nelas um dom sobrenatural ao qual a vontade humana tem que corresponder.

E chamo de pretensão outra coisa também: o indivíduo querer mostrar diante dos outros suas qualidades reais ou aumentadas, inautênticas, falsas, ou seja, algo que de fato ele não é.

Os senhores me dirão: “Dr. Plinio, isso parece “heresia branca” da mais pura! A gente vê tantos problemas: falta de energia, isso, aquilo e aquilo outro e o Sr. vem falar de pretensão?”

Eu repito o que disse uma tarde, conversando com alguns amigos aqui na Sede: combatamos a pretensão com toda a nossa alma e o resto nos será dado por acréscimo. É preciso ser despretensioso, não querer bancar nunca, não querer ter saliência nunca! Estar normal e natural no seu lugar e, na dúvida, preferindo até se apagar, entre os contra-revolucionários.

Lá fora no mundo da Revolução, no embate com o adversário, é preciso desfraldar o estandarte de Maria e a coisa é outra. Mas, aqui dentro, é necessário proceder assim.

Eu vos direi: dai-me uma alma despretensiosa e vos darei uma alma que está na via de resolver todos seus problemas. Dai-me uma alma pretensiosa: todos os conselhos que lhe forem dados não surtem resultado enquanto a pretensão estiver em jogo.

Aqui está uma reflexão que diz respeito à França, mas que se aplica a nós também, e a todo mundo: combater a fundo a pretensão é criar as condições para resolver os problemas espirituais insolúveis.

Inclusive, meus caros, o problema da pontualidade. Sei que os impontuais não estão aqui presentes… Mas sei também que o Grupo é muito poroso, muito transonoro e o que é dito aqui repercute em todos outros. Não estou mandando recado a ninguém, mas se chegar aos ouvidos de outrem, também não será mal… Até na pontualidade que queiramos ter, procuremos ser despretensiosos e teremos a pontualidade.

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