São Nicolau (6/12): uma lição sobre velha tática utilizada pela Revolução

Santo do Dia, 5 de dezembro de 1966

A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério tradicional da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.

 

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São Nicolau (270–343) de Bari, Itália, bispo de Myra, hoje na Turquia, e cuja festa se comemora a 6 de dezembro. Nesta pintura do Beato Angelico (1395 –1455) que se encontra na Pinacoteca Vaticana, o Santo é representado jogando pela janela o dote para as moças nobres pobres

Os senhores estão vendo o que aconteceu: generalizou-se o costume de estabelecer dos pais darem presentes às crianças por ocasião do Natal. E com o gosto do maravilhoso, do extraordinário, difundiu-se a ideia de que São Nicolau, que tinha sido um bispo que dava presentes à “pobreza envergonhada”. Ou seja, os pobres que não podem aceitar esmolas porque são de boa condição social e para quem fica mal estarem recebendo presentes, a esses São Nicolau arranjava mil jeitos para fazer entrar presentes em suas casas.

Assim se espalhou a ideia de que ele, lá do alto do Céu, percorria as casas das cidades das nações cristãs, indo levar presentes para as crianças. Então, na noite de 24 para 25 de dezembro, as crianças postas num sono profundo, acreditavam que São Nicolau – mas então um Santo mesmo, descido do Céu – entrava pela chaminé e trazia os brindes que as crianças queriam. E ainda sou do tempo em que as crianças acreditavam no São Nicolau.

Lembro-me ainda a impressão deliciosa que se tinha por volta das quatro, cinco, seis horas da manhã, quando acordava no desejo de receber o presente e se sentia nos pés da cama uma caixa grande com vários presentes postos lá. E eu fazia esse raciocínio de uma pessoa não desapegada dos bens da terra: se me levantar agora e vir o que está dentro da caixa, perco três horas de espera deliciosa. É mais gostoso eu não ver já e ficar sustentando esse peso nos pés, balançando essa massa de prazeres que me espera na alvorada. Porque assim tenho a esperança e tenho os prazeres. Se eu arrebentar com isso agora, depois vou dormir, porque  estou com sono, perco a esperança e não aproveito devidamente o prazer!

Porém começou a aparecer a figura completamente leiga do Papai Noel. E sobretudo na França ele era vestido exatamente como São Nicolau, mas que, entretanto, não era mais São Nicolau, era uma figura laica. E era chamado de “le Père Noel”, ou “Papa Noel”, porque existe na França o hábito de tratar assim esses homens do povo, patriarcas, que tiveram muitos filhos etc., e todo mundo chama “le père” tal, ou “la mère” tal, quando se trata de mulher. E então o “Père Noel” era um bom velho camponês, que não se sabe bem a troco de que, nem com dinheiro vindo de onde, trazia os presentes para as crianças.

Dado que a Revolução é rabugenta e carrancuda por natureza, então o “Père Noe”l era acompanhado por uma figura do “Père Fouetard”, o “pai chicoteador”. Então vinha atrás o “Père Fouetard”, com uma espécie de cesta nas costas, repleta de varas de marmelo. Quando a criança tinha se portado mal durante o ano, não tinha presente e era o “Père Fouetard” que deixava uma, duas ou três varas de marmelo que os pais exercitavam na criança, quando ela acordava. Assim, francesinho muito insuportável, muito irritadiço, muito movediço demais, o “Père Fouetard” continha…

Aconteceu que com o bonacheironismo crescente dos costumes, o “Père Fouetard” desapareceu e ficou apenas o Papai Noel. E São Nicolau foi laicizado e eliminado, e, assim, foi laicizada uma apresentação de Natal que lembrava as virtudes de um grande Santo. Os senhores observam como, por essa forma, se estabeleceu um desvirtuamento dessa formidável figura e o laicismo se esgueirou através disso.

Os senhores dirão: que consequência concreta tem isso?

Mostra como a Revolução, até nas coisas que não são de importância capital, constitui o hábito da laicidade. E de tal modo como se tivesse havido um pacto de não se falar mais de São Nicolau. Se essa tivesse sido uma imposição oficial, não teria dado resultado nenhum, as pessoas teriam dado risada. Mas introduzir “le Papa Noel” junto com o “Père Fouetard” era um meio de pôr fora São Nicolau quase sem protestos. E, por essa forma, a Revolução se esgueirou, entrou e tomou conta da situação.

Em outros termos, trata-se de um hábito velho que não nos deve espantar de ver que ela adote, por exemplo, dispondo do movimento litúrgico e de tantas outras tantas formas de adulteração da religião católica, para liminar a religião verdadeira. Essa a consideração que nos fica da festa de São Nicolau.

 

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Para conhecer fatos ilustrativos de sua, veja por exemplo a matéria “São Nicolau, a árvore maravilhosa, Santa Lucia e o pudding real“, bem como “São Nicolau, Bispo inflexível que obteve o impossível

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