São Luís Gonzaga (21/6), Padroeiro da juventude – Os preconceitos freudianos refutados por sua vida

Auditório São Miguel, 3 de abril de 1990

A D V E R T Ê N C I A

Gravação de conferência do Prof. Plinio com sócios e cooperadores da TFP, não tendo sido revista pelo autor.

Se Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá Dr. Plinio em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.

 

Qual foi o papel da devoção à Santa Casa de Loreto, professada pela senhora Marquesa e Mãe daquele futuro Santo jesuíta, para que o nascimento de seu filho fosse bem sucedido? Quais foram as primeiras palavras que ela lhe ensinou a pronunciar? Qual a educação que recebera de seu pai? Por que São Luís Gonzaga dizia que sua “conversão” se dera aos 7 (sete) anos de idade? Neste “Santo do Dia”, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira comenta numerosos trechos da excelente biografia “Vida de S. Luis Gonzaga, Patrono de La Juventud“, do P. VIRGILIO CEPARI, S.J. e que se encontra disponível na internet.
Para ouvir ou ler o “Santo do Dia” em continuação ao presente, clique aqui.

***

Leitura de trechos do libro “Vida de San Luís Gonzaga, Patrono de la juventud”, do P. Virgilio Cepari. S.J., Einsiedeln, Benziger & Co., Nueva-York/Cincinnati/Chicago, 1891:

[pp. 4-8]

“Recém casados – o Marquês de Castiglioni, D. Ferrante, com Dª Marta Tana de la Rovere – obtiveram licença do rei Felipe II e de sua esposa Dª Isabel para retornar a seus estados.

“Achando-se a marquesa livre das ocupações e encargos da corte, começou, mais do que nunca, a aplicar se às coisas espirituais, e sentiu um desejo muito vivo de ter algum filho que servisse a Deus como religioso. Perseverando neste desejo, pedia com frequência a Nosso Senhor que lhe concedesse esta mercê. E o que aconteceu mostrou que foram ouvidas suas orações, pois o primeiro filho que concebeu, viveu e morreu santamente na Companhia de Jesus.

“Não é algo novo que um filho tão santo e desejado com tanto zelo tenha sido fruto não menos das orações que do ventre da mãe. Ana, mãe de Samuel, sendo estéril pediu a Deus um filho que servisse no templo, e logo o obteve. São Nicolau Tolentino foi fruto das orações de sua mãe estéril, São Francisco de Paula nasceu de pais estéreis, que o obtiveram depois de um voto; e outros mil exemplos disto“.

É preciso notar de passagem, porque não diz respeito à biografia de São Luís o que vou dizer, mas diz respeito ao comentário que esse padre está fazendo.

Se os filhos eleitos com frequência nascem das orações dos pais, também é verdade que as obras e frutos eleitos dos homens que se consagram a Nossa Senhora, e que não vão ter filhos, nascem das orações deles. Assim como uma mãe que quer ter um filho reza a Deus para que o filho seja dela, assim também uma pessoa que abrace o estado de celibato, e, portanto, não vai ter filhos, pode pedir a Nossa Senhora (o seguinte): “Minha Mãe, eu vos peço que a fecundidade da minha vida seja tal obra”.

Aplicando ao caso o princípio dado aqui pelo padre. Quer dizer, a Deus é agradável que se peça isso. Às vezes, Ele faz com que uma longa esterilidade tenha depois como consequência um nascimento extemporâneo, mas que é um nascimento esplêndido, que longos e longos anos de espera fizeram germinar.

Assim se pode passar com o apóstolo: ele pode passar anos e anos estéril nas suas ocupações; mas por mais que dure essa aridez, em determinado momento o “filho” nasce.

Devemos rezar intensamente a Nossa Senhora para que Ela dê a nossas vidas essa forma de fecundidade, que vale mais do que ter “n” filhos. E que linda obra considerar o Reino de Maria como feito ou fruto da ação e da fecundidade apostólica de toda uma coorte de gente, existente hoje já nos cinco continentes. Então, o século XX terá produzido todas as abominações que os senhores conhecem, mas pela misericórdia de Nossa Senhora, terá gerado o Reino de Maria.

Vamos adiante…

“De maneira que aquele Senhor que deu à marquesa desejos de pedir instantemente esta graça, pôde também ouví-la, e escolheu para Si as primícias do fruto de seu ventre. E verdadeiramente parece que Deus quis tomar posse de nosso Luís, antes que saísse do ventre de sua mãe.

“Contava a marquesa que, quando chegou o tempo do parto as dores foram tais que esteve a ponto de morrer, sem poder dar à luz a criatura. Convocou o marquês uma junta de médicos, e recomendou-lhes muito que, se não houvesse jeito de o menino viver, pelo menos procurassem salvar sua alma, e que vivesse a marquesa. Depois de terem tentado muitos remédios declararam-se vencidos, e desenganaram o filho e a mãe.

“Soube a boa senhora o perigo, e mandou chamar o marquês, e pediu licença para fazer voto à Rainha dos céus; deu-lha o marquês de muito bom grado, e ela fez voto de ir pessoalmente, se escapasse com vida, visitar a Santa Casa de Loreto, levando consigo o menino, se ele também sobrevivesse”.

* A longa experiência da minha vida ensina uma regra quase infalível

Vejam o bonito exemplo de disciplina conjugal. Ela manda chamar o marquês que pede licença para isso. Como isso é bonito e diferente desse mulherio desatado que há hoje, que só quer de saber de igualar-se com o homem. E, como sempre acontece, quando dois desiguais se igualam, o mais pífio é o que fica dominando. É uma regra que eu chamo a atenção dos senhores para observar. Sobretudo no caminho da virtude ela é verdadeira: se há dois, sendo um deles notavelmente mais virtuoso do que o outro, é o menos virtuoso que tem mais probabilidade de dominar, do que o contrário.

Se há dois, dos quais um é muito mais inteligente, por incrível que sejaa, a possibilidade de influência é maior da parte do mais burro do que do mais inteligente. E daí para fora. Dir-se-ia que não é. Eu digo: “Está bom. Preste atenção e veja!” Seria lógico que não fosse, porém a longa experiência de minha vida me ensina que a maior parte das vezes – não quero dizer em cada caso concreto – mas o mais das vezes é isso [que se dá].

“Feito o voto cessou o perigo, e em pouco tempo nasceu o filho. Porfiavam ainda os médicos que não era possível que o menino ficasse vivo, e o marquês instava a que se procurasse salvar a alma do filho, e a experimentada parteira logo que viu o menino o suficiente para poder receber a água do batismo, antes que nascesse totalmente, batizou-o, de maneira que pelo favor e mediação da Santíssima Virgem viveram a mãe e o filho: o qual, por este caminho não tinha nascido inteiramente á luz deste mundo, que já se via renascido para invisível graça e amizade de Deus; e sem nenhuma dúvida foi um particular favor de Deus, que desde o ventre de sua mãe quis ter por Seu tal servo. Mercê muito semelhante à que fez Nossa Senhora a Santa Matilde, à qual revelou que com especial providência acelerara o batismo com um perigo semelhante, para que, santificada a alma desde o instante do nascimento, fosse digna morada e templo, pela graça, em que morasse o Criador.

“Foi isto a 9 de março de 1568, uma terça-feira, ao pôr do sol”.

* Batizar tão cedo quanto possível

O comentário desse padre é sério, e muito verdadeiro. Estou muito “comentante” hoje… Mas são coisas sobre o que não se tem muita oportunidade de comentar. O comentário é este:

Uma criança em vias de nascer, e que está, portanto, apenas com a cabeça de fora do claustro materno, para poder ser batizada. Dir-se-ia que do ponto de vista da graça esse fato não tem importância nenhuma, porque a criança ainda não tem uso da razão, portanto não pode pecar, portanto não pode rezar, logo não é capaz de atos de virtude ou de atos maus, e o Batismo é inteiramente prematuro, não havendo razão para esse açodamento. Mas, a verdadeira Teologia católica acha que desde que a criança comece a nascer, há uma pressa em que Deus tome conta da criança logo. Razão pela qual todo o instante que a criança viveu anteriormente ao Batismo é considerado instante perdido. Não é pecaminoso, porque não há pecado, mas instante perdido.

Deus poderia ter baixado àquela alma, ter feito ali seu templo, mas cedo. Não fez. E o tempo perdido seria mais ou menos como seria o caso de uma igreja na qual o Santíssimo Sacramento entrasse pela primeira vez um, dois ou três dias depois de inaugurada. Não há pecado nisso, mas a glória da igreja diminuiu. Teve menos dias de existência com o Santíssimo Sacramento lá dentro.

Assim é com a graça de Deus na nossa alma. Os senhores veem por aí como é precioso que a graça de Deus habite em nossas almas.

De outro lado tem o seguinte – eu estou menos seguro do comentário que vou fazer agora, mas parece-me que é muito razoável – é que não é inteiramente garantido que, sem culpa da criança, e por artes do demônio, este não possa adquirir uma certa influência maior na criança no tempo em que ela ainda é pagã. Portanto, há vantagem em batizá-la quanto antes, para evitar isso.

Eu digo isso com base num fato da liturgia católica que sempre me impressionou: em certas Missas solenes, o padre começa por incensar o altar. O povo acha que é um ato de referência do padre para com o altar. De fato, tem esse sentido e um outro mais profundo: é o de exorcizar o altar, expulsando o demônio que ali possa estar. Junto ao altar! Se um demônio pode estar junto a um altar consagrado, em que todos os dias se rezam várias missas etc., não pode estar exercendo uma ação sobre uma pobre criança inocente? E depois, a vida inteira ficar com um certo império sobre essa criança?

O açodamento do marquês era que a criança morresse antes da hora e fosse para o Limbo. A alegria do padre era ver que desde logo a criança fora habitada pela graça. Este é o ponto. Bem, vamos adiante.

“[p. 9] Desejava a Marquesa, como senhora tão cristã que era, que seu filho desde a mais jovem idade, se habituasse a fazer os atos de devoção; assim, apenas começou a dar mostras de falar, ela pessoalmente o ensinou a fazer o sinal da cruz e a pronunciar gaguejando os santíssimos nomes de Jesus e de Maria”.

 Não há remédio, é mais um comentário…

Em geral, as crianças aprendem, antes de tudo, a dizer “papai e mamãe”. Parece tão bonito… Há muito melhor! Para frente!

“Também ensinou-lhe a rezar o Pai-nosso, a Ave-Maria e outras orações.

“[pp. 10-11] O Marquês, como era soldado e pelas armas alcançara do rei católico tão honrados cargos, quisera que seu filho o fosse também; com este fim, tendo ele quatro anos, mandou fazer uns arcabuzes e outras armas tão pequenas que pudesse carregá-las o menino”.

Na maior parte dos países de hoje, os brinquedos que os meninos de meu tempo tinham eram armas que, evidentemente, não disparavam: fuzizinhos e coisas assim desapareceram. Ouvi dizer que nas casas de brinquedos não há mais, para alimentar o pacifismo.

Vejam aqui numa geração de heróis, como a coisa era outra…

“Além, disso, quando se preparava a armada contra Tunes, aonde o rei católico o mandou ir com três mil infantes italianos, levou consigo Luís ao local onde deveriam se reunir, para que tomasse gosto pelas coisas de guerra. E assim, nos dias em que tinha parada, fazia-o ir à frente das tropas, com as armas pequenas que mandara fazer”.

Podem imaginar que encanto: um menino que tinha uma alma de lírio, marchando ufanozinho à testa de uma tropa; e a tropa encantada vendo ali o filho do marquês de Castiglione desfilando. Comparem…

“Desta sorte, andando com armas, principalmente com arcabuzes, esteve muitas vezes em perigo de vida, que o livrou a Providência de Deus, que para outro estado e outras armas o guardava”.

“Uma vez, disparando com um arcabuz queimou-se todo no rosto com pólvora.

“Outra, durante o verão, estando o marquês fazendo sesta, e dormindo também outros soldados, tomou pólvora dos frascos dos soldados e ele, sozinho, carregou um canhão pequeno que estava no castelo, e atirou. Pouco faltou para que o recuo da peça não o esmagasse embaixo das rodas. Acordou o marquês com o estrépito, e temendo alguma revolta dos soldados quis saber o que tinha acontecido”.

Que marquês de truz! Não era nhonhô, não! Logo uma desconfiança: estão revoltados.

“Informado do que houve, quis castigar Luís, mas os soldados, que tinham grande contentamento em vê-lo tão brioso com aquela idade, intercederam por ele, e obtiveram que fosse livre.

“Luís ficou com algum escrúpulo de ter tirado aquela pólvora dos soldados, no entanto consolava-se ao pensar que, se lhes pedisse, sem dúvida dar-se-lha-iam.

“Quando partiu o marquês para Tunes, enviou de volta Luís para Castiglione.

“Tinha aprendido, pelo trato em conversação com os soldados, algumas palavras livres e descompostas que eles de ordinário empregam, por tê-las ouvido muitas vezes, e começou a empregá-las ele em Castiglione, ainda que não soubesse seu significado. Um dia seu preceptor repreendeu-lhe por causa disso, de tal modo que, desde aquela hora, nunca mais saiu palavra descomposta de sua boca, e, se escutava a outros dizê-las, baixava os olhos de vergonha, ou virava o rosto, ou mostrava seu profundo desagrado”.

É claro! Quem foi habituado a brincar com armas de fogo não tem respeito humano.

“De onde se vê que, se ele mesmo soubesse o que dizia, não o teria dito de modo algum. Estas palavras, ditas naquela idade, são o maior pecado da vida de Luís. Doeu-se delas a vida toda…”

Ou que quer dizer que como não teve pecado.

“…como se tivesse feito um pecado gravíssimo.

[pp. 12-14] Chegado aos sete anos, que é quando começa a amanhecer a luz da razão…”

* O que vem a ser escrúpulo?

Aqui pode caber uma coisa que vale a pena comentar.

O que houve da parte de São Luís: um escrúpulo tonto? O escrúpulo é uma deformação da alma. Na linguagem corrente se diz “tenho escrúpulo de tal coisa” no sentido de dizer que minha consciência retamente orientada me levante dúvidas sobre a liceidade de algo. O escrúpulo (no sentido próprio da palavra) não é uma dúvida varonil sobre a liceidade de algo, é um treme-treme imbecil a respeito do qual não há razão para se ter dúvidas, nem nada.

O fato concreto é que no caso de São Luís não é nem podia ser escrúpulo, porque se vê que ele foi um menino admirável desde o começo, e que não poder ter tido essa molera especial que é o escrúpulo. Então, como se justifica que ele se acusasse disso?

Uma hipótese é esta: ele se acusava de ter notado que essas eram palavras vulgares, sem lhes conhecer o sentido sórdido ou imoral. Mas como palavras vulgares, eles as pronunciou, de algum modo aderindo ao estado de espírito vulgar  da soldadesca. Embora não tivesse cometido um pecado contra a castidade, teria cometido um pecado que, de longe, raspava no primeiro Mandamento. Porque quem gosta do que é vulgar, enquanto vulgar, não pode gostar de Deus que é a perfeição infinita.

“…e a ser a pessoa capaz de mérito e de culpa, decidiu dedicar-se inteiramente ao serviço de Deus; de maneira que ele chamava a este tempo o de sua conversão…”

Que conversão, hein!

“…e quando ele dava conta de sua consciência a seus padres espirituais, contava como um dos mais assinalados benefícios que tinha recebido de Deus, que aos sete anos o tivesse convertido do mundo a Seu serviço”.

O que prova que a criança pode ter a alma já deformada muito mais cedo. E que essa mania de dizer que é um “anjinho”, porque não atingiu ainda a idade da razão, não pecou, isso é uma lorota. É verdade que pecado mortal não comete. O pecado propriamente dito não comete, enquanto não tiver a idade da razão. Mas daí a dizer que não possa ter adquirido maus hábitos, é muito diferente!

“O Pe. Mucio Vitelleschi, Geral da Companhia, depõe com juramento na informação canônica, que conversando um dia com Luís sobre a opinião de Santo Tomás, de que quando o menino chega ao uso da razão tem obrigação sob pena de pecado mortal de dedicar-se logo ao serviço de Deus, e encaminhar todas suas ações ao último fim; com grande sinceridade disse este santo moço que neste ponto não tinha escrúpulo nenhum, por estar certo que, no instante em que amanheceu a luz da razão, Deus o preveniu com sua graça, e com ela se tinha ele oferecido e dedicado de todo coração”.

* Importância da idade da razão

Nós vemos como é fecundo em sugestões de meditação este livro aqui. Então, São Tomás diz que a criança, quando chega à idade da razão, deve racionalmente, e motivada pela fé e pela graça, ele deve resolver levar a sua vida no serviço de Deus. Quer dizer, a primeira razão para viver é dar glória a Deus. Depois podem vir outras razões.

Eu pergunto aos senhores: quantos são aqueles dos senhores a quem um padre disse isto alguma vez a respeito de si próprio? Se houver um, levante o braço.

Os senhores estão vendo como estamos distantes do Reino de Maria. Seria uma coisa desejável, no Reino de Maria, que no dia em que a criança fizesse sete anos, fosse um dia especial, pois é o pórtico porque ela entra na arena. Em vez de se fazer uma festa para dar a entender à criança que é um passo a mais no gozar a vida, e por isso vem uma festinha gostosinha, é outra coisa que se deve fazer: “Agora você vai começar a lutar. E lutar pelo seu Senhor e Deus; pela sua Senhora, a Mãe de Deus; pela sua Mãe, a Santa Igreja Católica. Prepare-se! E faça desde já o enunciado de seu propósito: viver para servir a Deus.”

Os senhores não teriam muito surpresa em encontrar o contrário: uma criança que faz sete, num lar rico de vastas disponibilidades financeiras, recebe um presente maravilhoso, que não esperava. O pai e a mãe dizerem-lhe: “Isso é só o primeiro passo, papai é rico e mamãe também, você vai ver o que é a vida”… Quer dizer: goze!

Se algum dos senhores acha impossível que isso aconteça, levante o braço.

“A abundância de graças e luz do céu com que Deus o ajudou neste tempo pode se coligir pelo testemunho de quatro padres graves, que em diferentes lugares e tempos o confessaram geralmente, um dos quais, o Ilmº Cardeal Roberto Bellarmino, com quem fez a última confissão geral de toda sua vida antes de morrer”.

* Minha Mãe, essas maravilhas já existem de novo

É Santo e Doutor da Igreja: São Roberto Belarmino. Era jesuíta também. Imaginem o aroma de vida espiritual: na cela de São Roberto Belarmino, sentado em uma cadeira, o grande Santo, o terror dos protestantes, sobretudo na Alemanha – se um terço da população da Alemanha é católica, deve-se ao combate de São Roberto Belarmino. Pois bem, esse herói, sentando, ouvindo a confissão desse menino; e se enternece ndocom tudo quanto havia na alma dele. O menino admirando aquele herói da fé, como se tivesse em presença de um anjo.

Nós não tivemos ocasião de ver coisas dessas. É uma das razões pelas quais queremos o Reino de Maria: para que antes de fechar os olhos – nós os cerraremos em ocasiões tão diferentes – possamos olhar para o mundo, e dizer: “Minha Mãe, essas maravilhas já existem de novo. Eu Vos dou graças!” E entreguemos a alma à Ela para que apresente a Nosso Senhor Jesus Cristo.

“Todos depõem por escrito, sem saber um o que o outro disse, que em toda sua vida não cometeu pecado mortal, nem perdeu jamais aquela graça que ao nascer lhe foi dada pelo Batismo.

“Sem dúvida digno de admiração, pois não passou os primeiros anos de sua idade perigosa fechado num mosteiro de religiosos, onde pela falta de ocasiões, com a conversação e exemplos de tantos servos de Deus, e com a ajuda de muitas pessoas espirituais é mais fácil conservar-se em estado de graça do que no mundo. Nosso Luís esteve desde sua infância vivendo em meio às cortes, nascido e criado na de seu pai, depois muitos anos na do Grão Duque de Florença, na do Duque de Mântua e na do Rei d’Espanha…”

São cortes das mais brilhantes daquele tempo.

“…tendo sempre que tratar com príncipes e senhores, e com todo gênero de pessoas quanto o pediam as ocasiões; e sem embargo do que, entre as comodidades da casa de seus pais, no meio das ocasiões e tentações que trazem consigo as cortes, conservou sempre pura e limpa a vestidura branca da inocência batismal”.

* Cortes do Reino de Maria

É outra coisa que esperamos que não exista no Reino de Maria: cortes das quais se posa dizer que habitualmente tragam tentações. Não. Devem ser cortes que, habitualmente, levem a pessoa a ter os olhos postos nas cortes celestes.

São Luís viveu entre a I e a II Revolução, quando, portanto, todo o horror da Revolução Protestante, Humanista e da Renascença espalhava seu mau odor sobre a Europa inteira.

A corte é por definição um lugar ao qual convém que tudo seja belo, elevado e nobre. Se for verdadeiramente belo, elevado e nobre – segundo o espírito católico – os objetos, a casa e as coisas, mas sobretudo os homens pela suas maneiras, trajes, e sobretudo por suas almas, estarão todos voltados para o Céu, e impregnados da graça de Deus, de maneira que se possa comparar, de algum modo, a uma linda igreja, em que os objetos lindos são numerosos e tudo conduz do belo para Deus. Os vitrais, as imagens, as esculturas, os altos relevos dos objetos sagrados, a forma do cálice são muito belos, mas resplandeçam de convites e sejam simbologia para a virtude. Os ritos, todo o cerimonial da Liturgia conduza para isso.

Analogamente, num plano mais temporal, contudo inferior, a corte também deve ser assim. Ela deve o tempo inteiro elevar as almas para Deus.

“Sem dúvida foi uma particular graça de Deus, e com razão o cardeal Bellarmino, falando um dia das assinaladas virtudes de Luís, que ainda vivia, e ouvindo muitos, e eu entre eles, chegou a dizer, argumentando com muito boas razões, que provavelmente se pode crer que a Divina Providência em todos os tempos tem na sua Igreja alguns santos confirmados em graça enquanto estão vivos”.

Confirmado em graça é uma coisa extraordinária. Não quer dizer que uma pessoa seja somente santa, mas Deus deu àquela santidade um tal vigor que a pessoa não pecará mais! Mais precisamente, não perderá o estado de graça. Não cometerá pecado mortal. É a excelsitude das excelsitudes.

“Nestes termos se expressou o Santo Cardeal: “Eu para mim acho, que um destes confirmados em graça é nosso irmão Luís Gonzaga, porque sei quanto se passa na sua alma“.

[pp. 17-19] Com idade de nove anos, seu pai montou para ele uma casa em Florença, para que continuasse a educação na corte do Grão Duque”.

Os senhores mediram o alcance disso? Montou uma casa para ele, da qual era o doninho, hem! O pai e a mãe estavam longe, na Espanha, na Itália, enfim noutros lugares para onde os deveres de cortesãos os conduziam. São Luís estava em Florença, uma das capitais da arte do mundo daquele tempo, e era o monarcazinho daquela casa. Imaginem manter a casa toda santamente como uma miniatura do Céu… Que força não é preciso ter! Força sobre os outros, mas sobretudo sobre si mesmo…

“Luís costumava chamar Florença, a mãe de sua devoção. Em especial foi grandíssima a que logrou à Santíssima Virgem. Ajudou-lhe deveras uma imagem muito devota de Nossa Senhora da Anunciata, e um livrinho sobre os mistérios do Rosário do P. Gaspar Loarte, da Companhia; lendo o qual, sentiu-se abrasado de desejos de fazer algo por esta sua Senhora”.

Como seria interessante se se pudesse, hoje em dia, mandar vir uma cópia xerox desse livro, para ver se não tem coisas muito interessantes para nosso uso.

“Veio-lhe o pensamento que seria serviço muito grato, se ele, por imitá-La quanto fosse possível na sua pureza, Lhe consagrasse com particular voto sua virgindade. Com este pensamento, estando um dia em oração diante da imagem da Annunciata, em honra da Virgem fez voto a Deus Nosso Senhor de perpétua virgindade, a qual conservou durante a vida toda, inteira e perfeitamente”.

* Virgindade

Notem aqui a palavra “virgindade” como vem a propósito. Fala-se hoje muito pouco de virgens, e é uma coisa razoável, porque se fala pouco a respeito do que existe pouco. Enfim, digamos… digamos, quando se fala de virgens, pensa-se sempre no sexo feminino. Não se tem ideia da beleza da virgindade no sexo masculino. Eu, por exemplo, em minha longa vida, nunca ouvi um sermão a respeito da virgindade do homem. Não sei se algum dos senhores ouviu, levante o braço.

Eu vou dizer mais – pode ser que tenha ouvido – não me lembro de ter ouvido um sermão uma só referência à virgindade do homem como um fato muito elogioso. Virgindade é para mulher. O que deixa entender que o homem pode fazer o que quiser. É uma abominação uma coisa dessas!

Os senhores estão vendo aqui que o voto de São Luís é de virgindade.

“Afirmam seus confessores, e em particular o Ilmº cardeal S. Roberto Bellarmino, que São Luís em toda sua vida não sentiu jamais nem o mínimo estímulo ou movimento carnal em seu corpo, nem um pensamento ou representação lasciva na mente contrária ao propósito e voto que fizera”. 

Isso fala muito em favor da confirmação em graça.

“Quão grande privilégio é, saberá ponderá-lo quem souber que o apóstolo São Paulo pediu por três vezes a Deus que lhe tirasse o estímulo da carne. São Jerônimo esteve por muito tempo ferindo o peito desnudo com uma rocha, São Bento revolveu-se despido nos espinhos, São Francisco na neve durante o inverno, São Bernardo meteu-se num tanque gelado até a garganta. Poucos são os santos que saibamos tenham chegado a tão perfeito estado de insensibilidade.

“De nosso Luís, não poderemos dizer que esta insensibilidade de seu corpo e a pureza de sua alma proviessem de frieza natural, nem menos de defeito que tivesse, sendo como era de natural sanguíneo, vivo, esperto e avisado, como sabem bem os que o conheceram e trataram; e assim, forçoso é confessarmos que procedia de uma extraordinária graça de Deus e de um particular favor da Santíssima Virgem, de quem sempre foi tão devoto e com tanto afeto filial, que o fazia recorrer a Ela com notável confiança.

“Bem é verdade que cooperou ele de sua parte para a guarda desta rica jóia com aquele cuidado contínuo que tinha na guarda dos sentidos. Ainda que ele não tivesse batalhas nesta matéria, mas a estima e o grande amor por esta virtude fazia-lhe estar sempre de vigilância, feito um guarda e sentinela dos sentidos, especialmente dos olhos, tendo-os sempre controlados para que não olhassem nem a mil léguas de onde pudesse haver algo inconveniente.

“Mas especialmente fugia, durante a vida toda, onde quer que estivesse, de falar com mulheres. Aborrecia tanto sua vista, que quem o visse pensaria que tinha por elas alguma natural antipatia”.

Os srs. podem imaginar hoje a máfia [calúnias]… A máfia viria com infâmias de toda a ordem, que nem preciso mencioná-las.

“Se acontecia alguma vez, estando em Castiglione, que a Marquesa, sua mãe, enviasse algum recado por alguma de suas damas, ele saía à porta de seu aposento sem deixá-la entrar; fixos os olhos em terra respondia ao recado, e com isto a despedia sem olhá-la na face.

“Nem mesmo com sua mãe gostava de falar a sós; e se alguma vez acontecia que, estando a falar com ela, os presentes saíam, logo ele procurava uma ocasião para também sair, e se não achava, cobria seu rosto de um desagrado e uma vergonha virginal, indício do recato com que andava na guarda desta virtude”. 

Se um membro da TFP agisse assim, encontraria pencas de pessoas que diriam: “Isso é escrúpulo, freudismo, absurdo, ideia fixa sexual etc.” Exemplo de um santo, dado como modelo (de castidade).

“Com idade de onze anos e oito meses, mandou o marquês, seu pai, que, deixando a corte de Florença, viesse para a de Mântua, onde continuasse sua educação, e aqui ele tomou uma nova resolução, que foi a de deixar a Rodolfo, seu irmão menor, o marquesado de Castiglione, do qual ele, como primogênito, já recebera a investidura do Imperador. Foi isto a 9 de março de 1568, uma 3ª feira, ao pôr do sol.

[pp. 26-29] Em 1580 esteve São Carlos Borromeo, arcebispo de Milão visitando a diocese de Bréscia…”

Vejam os senhores as coisas: São Roberto Belarmino, São Carlos Borromeu, São Luís Gonzaga encontram-se… Pensem nos dias de hoje… E entendam bem com que ardor devemos desejar o Reino de Maria.

“…e chegou a Castiglione. Depois do sermão, visitou-o Luís, então com doze anos e quatro meses. Estiveram a sós, em práticas espirituais tão longo tempo, que ficaram espantados todos os que aguardavam”. 

Um santo conversando com outro têm muita coisa para dizer!

“Consolava-se o cardeal de ver a tenra planta tão forte no meio dos espinhos da corte, sem indústria de hortelão, mas só com as influências do Céu”.

“Indústria de hortelão” não é uma linguagem muito contemporânea. “Indústria” quer dizer aqui jeito, habilidade, arte. Hortelão é o jardineiro. Sem arte de jardineiro, era uma planta muito viçosa.

“O menino alegrava-se de ver o cardeal, e como sempre ouvira falar dele como de um santo, tomava suas palavras e avisos como vindos do próprio Deus. Foi então que fez sua primeira comunhão.

[pp. 30-34] Em 1580, mandou-lhe o marquês vir até junto dele, em Casal de Monteferrato, pois queria vigiar de perto a convalescência de uma penosa doença que tivera, e ele começou a frequentar, por devoção o convento dos Barnabitas, onde confessava e comungava.

“Um dia, meditando sobre a felicidade dos religiosos que tinham deixado o mundo e os cuidados das coisas temporais para servir a Deus com maior liberdade começou a pensar, como ele próprio contou a seu confessor em Roma, nas seguintes razões:

“Olha, Luís, que grande bem o da religião. Estes padres estão livres dos laços do mundo, afastados de ocasiões de pecar. O tempo que os do mundo gastam sem proveito em procurar bens transitórios e prazeres vãos, eles empregam com grande mérito em procurar os bens do céu, e têm a certeza que seus esforços não ficarão malogrados.

“Os religiosos são, verdadeiramente, os que vivem segundo a razão, e não se deixam tiranizar pelas paixões. Não pretendem as honrarias vãs, não fazem caso dos bens da terra, caducos e frágeis, não estão em comparações uns com outros, não têm inveja uns dos outros, mas estão contentes de servir a Deus: Cui servire regnare est – [A Quem servir é reinar].

“Porque estranhar que estejam alegres e sem medo, nem sequer da própria morte, do juízo e do inferno, se trazem sempre a consciência limpa, se dia e noite acumulam novos tesouros, e estão sempre ocupados ou com Deus ou por Deus?

“O testemunho da boa consciência dá-lhes aquela paz e tranquilidade interior de onde provem a serenidade que transparece por fora; aquela esperança bem fundada que eles têm dos bens dos céu; aquele lembrar-se a Quem servem, e em cuja corte estão, a quem não alegrará?

“E tu, Luís, o que fazes? O que dizes? O que pensas? Por que não tomas um estado tão feliz?

“(…) Se não tens trato com mulheres, nem visitas a parentes, serás apontado; se cumpres com elas, eis teu propósito que vai por terra; se queres aceitar dignidades e bispados, ficas mais no mundo do que agora estás; se não aceitas, dirão que és pouca coisa e que desonras tua casa, e por mil caminhos te apartarão para te fazer aceitar.

“Entrando em religião de um golpe cortas todos estes empecilhos, ficas livre de todos os respeitos do mundo e atinges um estado no qual gozes de quietude e podes servir a Deus com perfeição”.

Estas e outras razões se dava ele a si próprio, segundo ele contou, e finalmente, depois de ter-se encomendado a Deus com grande afinco, para que Sua Majestade o iluminasse, depois de muitas comunhões oferecidas para este fim, julgando que Deus o chamava para esse estado, resolveu-se a deixar o mundo e entrar em alguma ordem religiosa em que, além do voto de castidade que fizera, pudesse guardar os de obediência e pobreza evangélica. Mas, tinha tão somente treze anos não cumpridos…” 

Os senhores imaginem a maturidade desse menino. Naturalmente, não era um menino voltado a dizer coisas engraçadas o tempo inteiro, nem bobagens, nem brincadeiras. Desde pequeno lhe foi ensinado a ser sério.

“Sem embargo de ser Luís pobre para consigo e sua pessoa, não o era para com os outros; antes permitia que os criados que o acompanhavam fossem bem tratados, segundo seu estado e condição.

Na corte, suas conversas eram tão graves e religiosas que, chegando Luís, todos ficavam compostos em sua presença (…) 

Isso é autoridade moral e é força! Empurrar o mal para trás!

“Depois de estar um ano e meio na corte de Madrid achou ser chegado o tempo de escolher em qual ordem religiosa entraria, segundo a resolução que tomara na Itália. Depois de rogar muito a Deus, procurou e acabou escolhendo a mínima Companhia de Jesus, pois parecia-lhe que para ela o chamava Deus.

“Na festa da Assunção de Nossa Senhora, no ano de 1583, tendo ele quinze anos e meio de idade, comungou pois e retirou-se para fazer a ação de graças pedindo a Nosso Senhor, por intercessão de Sua Mãe, que lhe descobrisse Sua vontade. E então escutou uma voz clara que lhe disse para entrar na Companhia de Jesus, e acrescentou ainda, como ele contou a sua mãe e depois a outros irmãos de religião, que informasse de tudo rapidamente a seu confessor.

“Era uma imagem, entalhada em madeira, de Nossa Senhora do Bom Conselho, de origem desconhecida, e que alguns acham ter sido levada da Itália a Madrid, e era venerada na igreja do Colégio Imperial da Companhia de Jesus. Muito venerada pelo povo, sua festa comemorava-se no dia da Assunção. Ela falou em outras ocasiões a vários santos. Foi queimada pelos comunistas em 1936. Atualmente há uma cópia que se cultua no mesmo local.

“Ficará para o próximo Santo do Dia o relato das dificuldades de São Luís de Gonzaga com alguns de seus familiares, para a defesa de sua vocação”.

Contato