Santo do Dia, 21 de julho de 1966
A D V E R T Ê N C I A
O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.
Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:
“Católico apostólico romano, o autor deste texto se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto, por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.
As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.
Amanhã é a festa de São Lourenço de Brindisi (1559-1619), a respeito do qual diz Rohrbacher o seguinte:
“O imperador Rodolfo II, conhecendo a habilidade do padre Lourenço, empregou-o num trabalho bem difícil. Maomé III, tendo avançado em direção ao Danúbio, anunciava o projeto de invadir a Hungria.”
Rodolfo dizia de Maomé III que este queria penetrar através do Danúbio e da Hungria e da Áustria até a Itália. E que os cavalos de seu exército comessem no altar de São Pedro como se fosse uma manjedoura.
À direita, Rodolfo II de Habsburg (1552–1612), Imperador do Sacro Império de 1576 a 1612; à esquerda, o sultão Maomé III
Então, “Rodolfo organizou um exército e convidou todos os príncipes da Alemanha, tanto católicos quanto protestantes, para unirem-se a ele em defesa da Cristandade. Mas, temendo que seu convite não fosse bastante eficaz, enviou-lhes o Padre Lourenço. O sucesso do piedoso Capuchinho foi completo. Todos os socorros pedidos foram enviados rapidamente e o arquiduque Matias foi escolhido como generalíssimo do exército cristão.
“Mas não devia terminar aí a missão do bem-aventurado Lourenço. O Senhor lhe reservava um triunfo de outro gênero. A pedido de Matias, do Núncio e de numerosos príncipes confederados, o Papa ordenou-lhe de se unir ao exército a fim de contribuir para o sucesso da campanha com seus conselhos e com suas preces. Ele obedeceu sem resistência. Logo que chegou, postou-se diante dele o exército em ordem de batalha”.
Os senhores precisam imaginar a beleza dessa cena: ele era um Capuchinho, de aspeto venerável e que comparecia então às cortes da Europa central, algumas delas bastante pomposas, para pregar essa nova Cruzada.
É preciso se por em mente os trajes pomposos da época, o fausto das salas, de todo o ambiente e a majestade do Capuchinho que entra com suas sandálias, com seu burel, com seu rosário, com sua longa barba, com seu bastão de viandante, não tendo outra coisa para se impor a não ser a carência de tudo aquilo por onde os outros se impunham, mas com a missão de Nosso Senhor e a grandeza da pobreza franciscana. Falando então como enviado do Papa e enviado de Deus, tratando de cima para baixo com os maiores da Terra e ouvido como tal… dentro de toda a sua pobreza. Isso é que é compreender e amar!
Depois dele conseguir que os príncipes mandassem numerosas forças, é enviado como a alma do exército, que deve dar os conselhos, orientar a luta etc. Temos, então, essa cena magnífica descrita:
“O santo, logo que ele chegou ao exército, o exército em [formação de] batalha, postou-se diante dele.”
Os senhores podem imaginar a beleza do quadro. Um exército com cavalaria, com couraças, com armas reluzentes, com todos aqueles homens, com aqueles chapéus de plumas, com canhões que os senhores podem ver em gravuras, todos eles de bronze e trabalhados, naquela época da arte e de grande estilo. A batalha ainda com qualquer coisa de cavalheiresco. Chega o velho Capuchinho e o exército todo se posta diante dele em atitude de batalha: é um acontecimento! Isso é que é o esplendor da era constantiniana, que já não se conhece hoje, mas nem de longe! Entretanto, ela é a refulgência da glória de Nosso Senhor Jesus Cristo.
“O santo religioso, a cruz na mão, falou aos soldados e assegurou-lhes uma vitória certa”.
O seu verbo candente era capaz de estimular. Nele, não havia irenismo.
“Em seguida, preparou-os para o combate pela prece e pela penitência.”
Vimos isso em outra reunião a respeito da vitória de Lepanto também: preparar para a luta não é valendo-se de comedorias, mas é preparar pela penitência e pela oração. Assim é que o homem se torna verdadeiramente lutador.
“No dia da luta o chefe dos turcos apresentou oitenta mil homens em ordem de batalha. O general cristão tinha somente dezoito mil.”
Os senhores estão vendo a desproporção.
“Tocados com essa diferença, alguns oficiais do Imperador, mesmo dos mais intrépidos, aconselharam agir com prudência e retirar-se para o interior do país.”
É a teoria do “ceder não perder”: por toda parte há gente que tem esse tipo de “prudência”. São os que enterram todas as causas boas.
“O arquiduque, tendo chamado Frei Lourenço ao conselho, fê-lo tomar conhecimento da deliberação”.
Os senhores imaginem o conselho de guerra reunido, interpretando a situação do ponto de vista militar, do qual talvez houvesse razões para achar que era o caso de se retirar. Mas chama-se o homem de Deus.
Então, podemos imaginar a tenda do arquiduque Matias com tudo quanto podia haver de magnífico na tenda de um arquiduque generalíssimo de exército: guardas do lado de fora, mesa de conselho… Chega lá o Capuchinho, leigo em matéria militar, e que vai dar sua opinião, que é acatada como de um homem de Deus. Porque os homens de Deus já eram raros, mas ainda eram profundamente ouvidos.
Então continua:
“O frade opinou pelo ataque. E, pela segunda vez, assegurou à assembléia uma vitória completa.”
O que evidentemente transmitia uma certeza carismática.
“Tendo diminuído o temor com essa resposta…”
Ele comunicou coragem, naturalmente.
“…decidiu-se começar a batalha e os soldados foram colocados em posição.”
Ou seja, foi a palavra dele que determinou isso que, humanamente falando, seria possivelmente ou provavelmente uma temeridade.
“Frei Lourenço, a cavalo, colocou-se na primeira linha revestido de seu hábito religioso.”
Não para combater, porque um sacerdote não derrama sangue mas é para estimular com sua presença. Quer dizer, para levar os outros ao combate, para levar os outros à luta.
“Então, elevando um Crucifixo que segurava, voltou-se para as tropas e falou-lhes com tanta força que eles não quiseram mais esperar o ataque dos turcos.”
Isso é um orador! E isso é um orador sacro! Quantas vezes os senhores viram alguém, do alto de um púlpito, falar com esse fogo?
“Lançaram-se contra o inimigo com um valor incrível”.
Isso é Dom Chautard, (é a sua obra) “A Alma de todo o Apostolado” aplicado a assuntos militares! Em outros termos, se é um homem de Deus e se tem verdadeiramente vida interior, sua palavra pega fogo e move montanhas. Mas é preciso ser um homem de Deus! Aqui está a precedência da santidade sobre a vida ativa.
“Os turcos, de seu lado, os receberam com firmeza e o choque foi terrível. O irmão Lourenço foi, num momento, rodeado pelos infiéis”.
Os senhores já imaginaram a coragem de ir cavalgando na frente dos outros e sem armas? E, naturalmente, bradando: Avanço! Avanço! Que atitude magnífica ver esse Capuchinho a cavalo e incentivando todo mundo para a guerra e continuando os seus sermões por meio de exclamações e, de repente, quase cercado pelos infiéis.
“Mas os coronéis Rossburg e Altaim, correndo para defendê-lo, arrancaram-no do perigo e o conjuraram a retirar-se, dizendo que lá não era seu lugar. ‘Vós vos enganais’, respondeu-lhes em voz alta. ‘É aqui que eu devo estar. Avancemos, a vitória é nossa’.”
Os senhores já imaginaram o que é isso? Um santo a cavalo no meio da guerra que grita: Avancemos, avancemos, a vitória é nossa! Com o Crucifixo na mão! Isso é lutar! isso é fazer guerra!
“Os cristãos recomeçaram a carga e o inimigo, tomado de terror, fugiu em todas as direções.”
Não tem comentários…!
“Essa batalha deu-se a 11 de outubro de 1611. Uma segunda batalha teve lugar a 14 do mesmo mês; seguida do mesmo sucesso. Os turcos retiraram-se para além do Danúbio após terem perdido trinta mil homens. Não se saberia exprimir os sentimentos de admiração que o irmão Lourenço havia inspirado aos generais e soldados. O duque de Mercoeur, que comandava sob o arquiduque, declarou que o santo religioso fizera mais nessa guerra do que todas as tropas juntas.”
É evidente que foi mesmo. E é um homem só. Mas um homem no qual está Deus. Aqui está a questão!
“E, depois de Deus e da Virgem Maria, era a ele que se deveria atribuir as duas vitórias conseguidas. Mais uma vez a Europa livrava-se da barbárie do infiel oriental”.
Os senhores podem imaginar o que seria a História do mundo se essas batalhas tivessem sido perdidas? Se as tropas tivessem chegado até Viena? Se tivessem chegado até Roma? Com aquele pulular de protestantismo e de heresias por toda a Europa? Não podemos imaginar o que poderia ter sido…
Enfim, isso foi salvo por um homem de Deus que não teve medo de fazer dezoito mil homens derramarem o sangue abundantemente pela Causa da Igreja. E o resultado magnífico aí está. Vamos nos recomendar, portanto, a ele.