São Justo de Rochester, bispo de Cantuária (10/11)

Santo do Dia, 9 de novembro de 1966

A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.

 

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Estátua de São Justo na Catedral de Rochester, Reino Unido (foto de Octave 444 — Trabalho pessoal, CC BY-SA 4.0, Wikipedia

Amanhã  vai ser festa de São Justo (? 627), bispo e confessor, do qual afirma Rohrbacher, na “Vida dos Santos”, o seguinte:

“São Justo foi companheiro de Santo Agostinho [de Cantuária (? 604)] em seu trabalho de conversão da Inglaterra.

 “Escreveu-lhe São Gregório o seguinte, a respeito de uma consulta: ‘Quando chegardes ao pé de nosso irmão Agostinho, dizei-lhe que, depois de ter pensado longamente, examinado bem a questão dos ingleses, julguei que não devia destruir os templos, mas somente os ídolos que neles estão. Purifique-os com água benta, desça do altar os ídolos e lá coloque relíquias, porque, se esses templos são bons, bem edificados, que passem do culto dos demônios ao serviço do verdadeiro Deus. Se o povo vê conservados  os lugares sagrados aos quais estão acostumados, será mais disposto a que neles passem a ir mais à vontade. E como estão acostumados a sacrificar bois aos demônios, estabeleça qualquer cerimônia solene, como da consagração, ou dos mártires de que ali estão as relíquias. Que façam barracas em volta dos templos transformados em Igrejas, e celebrem a festa com refeições discretas. Ao invés de imolar animais ao demônio, que os matem para comer e render graças a Deus que lhes deu o alimento, a fim de que, deixando quaisquer manifestações sensíveis de júbilo, possam insinuar-se mais facilmente nas alegrias interiores. Porque é impossível destituir os duros espíritos de todos os costumes, de uma só vez. É devagar que se vai ao longe’”.

Esta carta é muito interessante. Antes de tudo por causa dessa afirmação que nós encontramos em Padres e em Doutores da Igreja,  que todos os deuses antigos são demônios. Há um trecho da Escritura que diz isso: “omnes dii gentium daemonia” (Salmo 95, 5), referindo-se a todos os deuses dos povos pagãos. E isso provêm desse fato (que São Luís Grignion de Montfort põe muito em relevo): o homem depois do pecado original nasceu escravo; ou ele é escravo de Deus ou é escravo do demônio; ou ele é escravo de Nossa Senhora (*) ou escravo do demônio.

De maneira que a expres ( são é muito característica, e se opõe profundamente ao que muitos hoje entendem por ecumenismo. Exatamente nesse sentido é interessante esta carta do Papa São Gregório Magno, porque ela indica, ao mesmo tempo, muita ductilidade, muita maleabilidade naquilo que não tem importância, e uma enorme severidade naquilo que é realmente importante.

Os templos dessas nações pagãs eram templos que não tinham nada de comum com a arte moderna. Esta última freqüentemente é uma negação violenta e blasfema da verdade e do bem. Em tais casos, é a arbitrariedade artística erigida em afirmação normal de desordem e de feiúra. Evidentemente, esta arte não é adequada para uma igreja católica. Mas os templos constituídos em outras escolas artísticas, que não terão a elevação do gótico, não terão a sacralidade do gótico, mas que são escolas dignas e que realmente contêm verdadeiros elementos de beleza, esses templos podem adequadamente servir para o culto católico.

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Nós publicamos certa vez, na seção “Ambientes e Costumes” de “Catolicismo”, um pagode chinês e mostrávamos como ele era próprio para servir ao culto católico dentro de uma nação chinesa. Não que se fosse construir um pagode para ali pôr um culto católico, porque quando se constrói uma nova igreja, procura-se fazer o melhor possível. Mas quando se recebe o fato consumado, procura-se aceitar o aceitável, e o pagode bonito, com muita nobreza, com muitos valores, merecia perfeitamente ser aceito pelo culto católico.

Quando os heróis da Reconquista tomavam aquelas cidades onde os mouros construíram mesquitas muito bonitas – como, por exemplo, as famosas mesquitas de Córdoba e de Granada – eles as purificavam, tiravam de lá todos os emblemas do islamismo e instalavam ali o culto católico. E até hoje o culto católico continua a ser celebrado nesses locais, e isso é uma coisa digna, feita pelos próprios heróis da Reconquista.

Quando Isabel, a Católica (1451-1504), penetrou em Granada, uma de suas primordiais preocupações foi precisamente de mandar purificar a principal mesquita, e de mandar rezar ali uma Missa católica. Era o principal símbolo da vitória alcançada contra o Islã.

Ora, é exatamente desse gênero o conselho que São Gregório dá a Santo Agostinho de Cantuária. Se os templos pagãos eram bem construídos, quer dizer, adequados ao culto, os católicos podiam  aproveitar. O Papa dava também uma razão de caráter psicológico: as pessoas estão habituadas a ir lá; uma vez que se elimine o elemento ruim ali dentro, que é o culto idolátrico, o hábito de ir lá desinibe a pessoa de freqüentá-lo. Então, convém aproveitar essa circunstância.

Os senhores estão vendo quanta intransigência no necessário e depois quanta ductilidade naquilo que é secundário e que realmente aí não há nenhuma transigência com os princípios. Não quer dizer o seguinte: ser intransigente com os princípios fundamentais e tolerante com os princípios secundários. Em matéria de princípios  deve-se ser coerente em toda linha. Mas há uma parte da realidade que está fora – sob vários aspectos – do campo dos princípios e que, portanto, pode ser considerada com essa largueza de espírito.

Vemos que São Gregório aconselha também fazer barraquinhas em torno da igreja, para fazer comilanças, porque aquele pessoal está habituado a comer. E ele indica um sentido religioso para isso: alegrem-se, celebrem, alegrem a Deus que lhes deu essa comida! Pois comam e fiquem alegres com isso! – E com isso se atraía o povo.

Diz-se que foi Deus quem deu a maçã ao alemão para fazer o apfelstrudel. O apfelstrudel que o alemão fez que nos dê alegria: comam, pois, o apfelstrudel!

Os senhores estão vendo como essas coisas se relacionam harmoniosamente e dão bem uma expressão da perenidade da Igreja até nas coisas inteiramente secundárias.

Nota: Sobre o conceito de escravidão a Nossa Senhora, por São Luis Maria Grignion de Montfort, recomendamos a nossos visitantes a leitura da conferência de 28 de abril de 1973 do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, A ESCRAVIDÃO A NOSSA SENHORA É A SUPREMA LIBERDADE”

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