Santo do Dia, 28 de outubro de 1963
A D V E R T Ê N C I A
O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.
Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:
“Católico apostólico romano, o autor deste texto se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto, por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.
As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo“, em abril de 1959.
Santos comemorados hoje: São Simão e São Judas, Apóstolos.
Sinto-me embaraçado de fazer algum comentário a respeito destes dois Apóstolos, porque quase nada sei a respeito deles: da biografia de São Simão, sei apenas que foi Apóstolo. De São Judas, conheço sua celebridade atual e que era primo de Nosso Senhor.
Então, aparece a pergunta: por que acho que está bem feito que estejam eles aqui em nosso devocionário? Porque – como já disse – os Apóstolos, pela relação que têm com as origens da Igreja — se bem que não constituísse um colégio apostólico no sentido em que alguns cardeais entendem —, os Apóstolos todos devem ser objeto de especial devoção.
A festa de um Apóstolo não pode ser indiferente ao bom católico. Este deve tomar isso em consideração, deve rezar, deve pedir seu apoio, sua intercessão.
Mas quando vejo nomes de Apóstolos que deixaram um nome bastante pequeno na história escrita para que uma pessoa não muito instruída nessas matérias, nada saiba a respeito dele — porque a celebridade consiste em ser conhecido não pelos cultos, mas pelos ignorantes – lembro-me muito da disparidade da fecundidade dos Apóstolos que agiram na bacia do Mediterrâneo e a dos outros que atuaram em outros lugares. E penso muito a respeito da resignação que esses Apóstolos devem ter tido. Muitos deles morrendo em paz, vendo que seu apostolado não havia produzido nenhum fruto, mas sabendo que todas as ações feitas de acordo com a vocação de cada um, com integridade de espírito, com retidão de intenção, obedecendo à moção da Providência, todas serão premiadas no Céu, e concorrem para a glória de Deus, ainda que os homens na terra tenham dado um aplauso pequeno, ou um consentimento insignificante a essas ações.
É interessante notar que um bom número de Apóstolos aparentemente tiveram um apostolado ineficiente e fracassado. Dir-se-ia hoje que os Apóstolos da bacia do Mediterrâneo se “realizaram”, e os outros morreram “irrealizados”, com essa mania de realização e esse horror do fracasso que existe hoje em dia.
É indispensável tomarmos em consideração que isso é uma lição para os que se dedicam à Contra-Revolução. Em que sentido? O respeito com que a Santa Igreja Católica cerca a memória desses Apóstolos, na gratidão com que Ela os trata, na afirmação da santidade pessoal alcançada por eles. Quer dizer, corresponderam inteira e plenamente aos desígnios da Providência Divina e que, portanto, Deus está contente com eles e suas vidas se realizaram inteiramente, tendo morrido certamente em paz, dentro do aparente fracasso de seu apostolado.
Mais ainda: sabendo certamente que outros estavam tendo um apostolado muito frutífero em outros lugares. E morreram em paz — creio que a maioria martirizada — sabendo que algum dia aquele sangue seria de utilidade para aqueles povos.
Mas mais do que isso: ainda que não tivesse utilidade para povo nenhum, tinham eles prestado a Deus o culto de sua adoração e de seu sacrifício desinteressado, até mesmo sem objetivo terreno. Apenas porque eram criaturas de Deus, chamados por Ele para uma certa obra, a fizeram e nela morreram para a glória de Deus.
Em outros termos, fizeram de si como aquelas ânforas que Santa Maria Madalena quebrou com perfumes sobre os pés de Nosso Senhor, que não tiveram outra utilidade senão serem derramadas ali e a Ele servirem.
Há aqui uma lição mesmo para o apostolado bem sucedido, que vale, principalmente, por essa espécie de imolação, de holocausto, de adoração sem mais porque Deus é Deus.
E digo mais: se é verdade que um apostolado com essas intenções pode não ser bem sucedido, não creio que haja apostolado bem sucedido sem essas intenções.
Se alguém soubesse que seu apostolado seria como o de São Simão e São Judas Tadeu, isto é, sem nenhum fruto humano, e não fizesse apostolado, uma tal pessoa não daria ao seu apostolado a fecundidade necessária. Porque é esse estado de espírito que deve ser o ponto de partida para que o apostolado seja fecundo.
Isto é uma coisa que deve ser marcada e retida por nós.