São João Eudes (19/8): horror à heresia e alto respeito pela autoridade, ainda quando decadente

Santo do Dia, 19 de agosto de 1970 

A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto, por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo“, em abril de 1959.

 

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São João Eudes (1601-1680), Fundou a Congregação de Jesus e Maria, para formação doutrinal e espiritual de padres e seminaristas, cujos membros são conhecidos como eudistas. Fundou também uma ordem religiosa feminina: a Ordem de Nossa Senhora da Caridade do Refúgio.

(D. Mayer: Desta vez eu leio e Dr. Plinio faz o comentário.)

(D. Mayer: Divulgou a devoção aos Sagrados Coração de Jesus e Maria, lutou contra os jansenistas, promoveu a criação de seminários para a reforma do clero. Fundador, século XVII. Devo dizer que eu assisti à canonização de São João Eudes.)

Ah! Vossa Excelência assistiu é? Em que ano, Dom Mayer?

(D. Mayer: 1925. Ele foi canonizado juntamente com o Santo Cura d’Ars, no mesmo dia.)

Isso, é …!?

(D. Mayer: São João Eudes nasceu em Ery, pequena cidade da Normandia, a 14 de novembro de 1601.

Era o filho mais velho do casal Isac Eudes e Maria Ruber. Depois dele, seus pais tiveram mais quatro filhas e dois filhos. Família profundamente religiosa, cresceram todos num ambiente sério, impregnado de vida sobrenatural. Receberam excelente educação orientada pelos ensinamentos da Igreja.

Os dois irmãos de São João Eudes foram conhecidos católicos militantes e se distinguiram nas profissões que abraçaram. O mais moço, Charles, estudou medicina, tendo sido um cirurgião de nomeada. Outro, Francisco Eudes de Medzaré, foi historiador e membro da Academia Francesa de Letras.

Pai, apóstolo e doutor da devoção aos Sagrados Corações de Jesus e de Maria, quando morreu, já tinha conseguido a introdução dessa festa em um grande número de dioceses não só na França, como de outros países. Foi ele também que compôs o seu primeiro Ofício. Grande pregador, nas suas missões atraiu multidões. E, muitas vezes, era obrigado a falar em grandes praças públicas completamente tomadas pelo povo. Novo São Vicente Ferrer, conquistava os ouvintes pelo ardor de sua Fé, pela energia com que fustigava os vícios e pela caridade com que tratava os arrependidos e penitentes.

Existe um testemunho histórico de grande valor que comprova o seu êxito. É uma carta de São Vicente de Paula comentando as missões que assistira. Diz ela: “Alguns sacerdotes, da Normandia, conduzidos pelo padre Eudes, pregaram uma missão em Paris com uma bênção extraordinária. O pátio dos Quinze “Vents” é muito grande. Porém, se tornou pequeno dado o grande número de pessoas que desejavam ouvi-la”.

Os hereges não lhe perdoavam o combate enérgico que movia contra os seus erros. A heresia, sendo o maior dos males, ele não compreendia ter, com os seus adeptos, nem a mais leve aparência de relações, chegando mesmo a não os cumprimentar.

Conta-se um fato que, de um lado mostra o cuidado com que guardava a pureza de sua Fé, e de outro, a frivolidade, a prepotência dos eclesiásticos de então.

Um dia, o bispo de Baieux convidou-o a subir em sua carruagem na qual já se encontrava outro sacerdote. Quando ela se pôs em movimento, o bispo lhe perguntou se sabia com quem viajava.

– “Tenho a honra – respondeu – de me encontrar em companhia de V. Exa.”.

– “Não é o que eu lhe estou perguntando” – disse o Bispo. “Sabe o senhor que este eclesiástico que está conosco é um dos mais ferrenhos jansenistas?”

Imediatamente São João Eudes abriu a porta e pediu ao cocheiro para parar porque precisava descer. O Bispo o impediu em nome da obediência e durante o resto da viajem divertiu-se com o mal-estar criado.

 

Oh! que “fraterno” hein!…

 

Não eram só os hereges que o atacavam. Algumas congregações religiosas os ajudavam dizendo que ele era exagerado e criticando a violência de sua linguagem. Chamavam de exagero e violência a santa liberdade com que chamava à ordem os pecadores, mesmo os de condições elevadas. Certa vez, pregando em Versailles, censurou com tanta energia os escândalos da corte, que seus amigos temiam que fosse enviado para a Bastilha.

Ana d’Áustria, ao ter conhecimento desses comentários, mandou-lhe dizer que fizera bem e desde então se tornou sua protetora.

Noutra ocasião, estava celebrando missa na corte, quando percebeu que Luiz XIV estava ajoelhado, mas que a nobreza não se comportava convenientemente. Depois do Evangelho, voltou-se para o Rei e o cumprimentou pela piedade com que assistia à Missa, acrescentando: “Admiro-me, no entanto, que, estando Vossa Majestade prostrado diante do Criador do Céu e da Terra, vossos cortesãos estão longe de imitar tão belo exemplo”. Luís olhou para trás e imediatamente todos os homens se ajoelharam.

Tendo morrido a 18 de agosto de 1680, o mal que fizera aos inimigos da Igreja tinham sido tão incalculável que eles moveram uma grande perseguição à sua memória. Quase cem anos depois, quando Pio IX aconselhou os eudistas a abrirem o processo de sua canonização, verificaram com surpresa que não conheciam o seu Fundador. Foi preciso uma gigantesca investigação histórica para que o processo pudesse ser levado a termo. No entanto, Jean-Jacques Olier, o criador do seminário São Sulpício, seu contemporâneo e amigo, dele dizia que era um homem extraordinário, que era a maravilha do século XVII. Foi canonizado em 1925, no dia de Pentecostes.

(D. Mayer: Eu não devo fazer esse comentário porque o Plinio não vai me fazer mortificação de não me obedecer. Não segue esses maus exemplos. O processo de beatificação e canonização está aí que a Santa Sé terminou me enviando com uma rapidez extraordinária.)

O que é que os senhores acham se S. Exa. Revma. – eu pergunto ao povo, que hoje deve decidir de todos os assuntos… – que teve a felicidade de assistir ao processo de canonização de São João Eudes, nos fizer um duplo Santo do Dia:

Primeiro, as impressões dele, as reminiscências do rito de canonização como era, como é que transcorria. As impressões dele, jovem seminarista, vendo toda aquela pompa etc.

Depois então, a ficha, dando-nos assim, um jornal falado absolutamente sem precedentes a respeito de São João Eudes. Aqueles dos senhores que desejarem, decidam a questão levantando o braço…

  1. Exa., o sufrágio universal soberano e livre ao qual o bispo numa época contestatária não se pode furtar, decidiu… (em tom jocoso, n.d.t.)

(D. Mayer: Como a virtude está no meio, eu vou dizer o que se passou na canonização e o Dr. Plinio faz o comentário da ficha.)

Já é alguma coisa para uma contestação, já é… aprendemos o caminho.

(D. Mayer: Devo primeiramente descrever a cerimônia…

A canonização se deu em 1925. Eu estava em Roma há um ano. Eu cheguei a Roma em 1924. É preciso que se diga que a gente tem muita pouca oportunidade de assistir a todo o cerimonial da canonização, quando a gente assiste no meio do povo e onde nós assistimos, nós seminaristas. Eu assisti à canonização de Santa Joana de França, aí, numa situação muito melhor. Porque eu assisti à canonização de Santa Joana de França como Bispo.

Daí, portanto, estava muito mais perto lá do altar. Mas, infelizmente, o processo de canonização já estava um pouco simplificado. Porque Pio XII simplificou um pouco o processo de canonização.

No processo de canonização de São João Eudes, acho que os senhores sabem, a basílica de São Pedro, que dá para uma infinidade de pessoas, fica dividida em compartimentos. Esses compartimentos são feitos com madeira. De maneira que há os compartimentos melhores e há outros inferiores. Basta dizer o seguinte: que a nave principal, ela fica inteiramente livre, enquanto as outras duas naves ficam divididas em compartimentos.

De maneira que certas pessoas que ficam no compartimento de trás, ou levam para a Basílica um pouco de piedade para, piedosamente acompanharem o espírito da canonização, ou, então, ficam inteiramente logradas, porque não conseguem ver absolutamente nada.

Apenas assistem à passagem do Papa na sede gestatória, porque a sede gestatória suspende um pouco o Papa sobre as cabeças das pessoas.

Então, a gente percebe que o Papa está passando, abençoando; as trombetas de prata naquele tempo ainda tocavam, e, então, a sensação que a gente tem, depois a Basílica toda gritava, tremia com aqueles “vivas” ao Papa.

Foi assim que eu assisti a Pio XI entrando na Basílica de São Pedro para a canonização, primeiro, de Santa Teresinha do Menino Jesus, depois, aqui de São João Eudes e Santo Cura d’Ars, que foram canonizados no mesmo dia. Mas, eu estava num compartimento muito pobre. De maneira que terminei não podendo assistir praticamente nada.

Mas, o processo de canonização vem a ser uma missa que é celebrada pelo Papa. Essa Missa celebrada pelo Papa, como em todas as missas papais, tem a leitura do Evangelho, ou melhor, da epístola, em grego e em latim. Quer dizer, cantada em grego e cantada também em latim.

O cerimonial se desenvolve como qualquer outra missa, outra missa pontifical. Apenas que o trono do Papa fica junto do altar da cátedra.

Não sei se os senhores têm uma ideia de São Pedro. São Pedro tem, no transepto, ali onde se faz a cruz, ali tem o altar chamado papal, onde está aquela colunata de Bernini, como é?

Baldaquino. Baldaquino de Bernini, a colunata com as armas dos Barberini por volta e com um significado até de si muito…

Depois, no fundo da Igreja, mas com um espaço enorme, está o altar da cátedra. Mas este altar é tão grande que quase que a gente precisa de uma condução para ir de um lado para outro, tão vasto que é este altar. Sobre o altar da cátedra está uma grande cadeira sustentada por quatro doutores da Igreja. Dizem que esta cadeira envolve uma cadeira que teria servido algum tempo São Pedro.

Bem. E são os quatro doutores, dois da Igreja Grega e dois da Igreja Latina: Santo Ambrósio e Santo Agostinho, da Igreja Latina e Santo Atanásio e São João Crisóstomo, da Igreja Grega.

Os bispos ficam, então, precisamente, nestas estalas que são colocadas aí na capela-mor, para assistirem mais de perto as solenidades. Os mais privilegiados não são propriamente os bispos, são os assistentes ao sólio. E os monsenhores apostólicos porque eles acompanham o Papa para qualquer lugar que ele vai. De maneira que estão junto do Papa enquanto ele está no altar de Bernini, e também junto do Papa quando ele está lá no trono.

A diferença que há na missa pontifical da missa do Papa é que, antigamente, agora não sei como é que Paulo VI está fazendo, é que o Papa comunga em pé e comunga no trono, não comunga no altar. Depois que termina todo o Cânon, ele volta para o trono.

Então, o diácono traz o Santíssimo, Nosso Senhor Jesus Cristo na hóstia e o Santíssimo Sangue, e ele, então, comunga em pé e no trono. Depois, o diácono é que faz as abluções, ele que prepara as purificações.

Agora, nesta missa da canonização, por cima da cadeira de São Pedro há o que eles chamam de “glória de Bernini”. É um círculo assim… é uma coisa oval e com uma porção de raios todos eles também de bronze que normalmente tem um vitral em branco.

Quando o santo é canonizado, coloca-se um quadro do santo nesta glória, chamada a glória de Bernini. Ele fica ali durante toda a cerimônia. E o Papa, na homilia que faz na ocasião, ele faz sobre o Santo. E tece considerações a respeito das virtudes em que o Santo mais se salientou.

Tudo isso, feito em latim, sem auto falante. Quer dizer que eu jejuei durante todo esse tempo, não sei o que é que Pio XI terá dito. Certamente fez uns bons elogios, não sei se eram contra o jansenismo, isso eu não sei. Mas certamente, terá elogiado o zelo de São João Eudes, seu zelo apostólico; depois, como Fundador também dessas duas congregações religiosas. Então, terá sido isso. Quando o Papa se retira também em sede gestatória e todo mundo se dispersa.

De maneira que aí está, resumindo, o que vem a ser uma canonização. Às canonizações comparece todo mundo, e é preciso ter a ficha de entrada, que é distribuída gratuitamente. Essa ficha de entrada dá o lugar onde a pessoa pode ficar na basílica, que é só naquele compartimento ao qual corresponde aquela ficha que varia conforme as cores. O único meio que a gente tem de obter um lugar melhor é quando a gente consegue, por exemplo, ser secretário de algum bispo, então, a gente consegue. O secretário do bispo acompanha o bispo, quer dizer, vai com o bispo até lá. Mas um inconveniente, que o bispo depois fica lá no lugar dele, e há uma espécie de depósito de secretários que ficam numa das colunas do transepto, praticamente sem visibilidade nenhuma.

Isso aconteceu comigo e com um padre que aqui muitos conhecem, padre Rich… [inaudível] que está em Joinville agora, numa creio que foi, não me recordo mais bem, mas foi numa beatificação, que nós servimos de secretários para Dom Duarte Leopoldo e Silva. Não assistimos nada. Apenas tomamos parte no cortejo papal, única vantagem que havia foi essa.

Aí está o que eu poderia dizer, não tenho mais nada a poder dizer. O resto é anedótico: o que a pessoa faz, o que os alunos fazem, as falcatruas que fazem para passar de um lugar para outro para tomarem parte na procissão papal etc., uma porção de “contrabandos”; às vezes, umas correrias porque o cerimoniário pontifício percebe, persegue para também pôr fora… Isso não tem grande interesse.

Minha parte está feita. Agora vamos ver Dr. Plinio na sua parte. – Dom Mayer conclui sua parte)

Pergunto aos senhores: não valeu bem a pena ter insistido?…

* A atitude de São João Eudes mostra a alta conta em que devemos ter a autoridade eclesiástica

Serei breve. Gostaria de lembrar aos senhores alguns aspectos dessa vida de São João Eudes que estão mencionados aqui: a presença do herege, a atitude do bispo e o mal estar do santo.

Os senhores estão vendo que, pregando ao santo esta cilada, era um bispo que não era inimigo dos jansenistas. Para ter dentro da carruagem um jansenista para viajar consigo, é evidentemente porque não sentia esse mal estar. Mas, pelo contrário, sentia-se bem estar com o jansenista porque senão não faria isso.

O Bispo tratava São João Eudes já com atitude com a qual a impiedade trata quem é verdadeiramente piedoso. Quer dizer, divertindo-se durante a viagem com o mal estar de São João Eudes, pela vizinhança daquele homem, divertindo-se só com o mal estar do Santo que manifestava uma espécie de repulsa, uma espécie de horror, uma espécie de aversão, como se houvesse uma possibilidade de contágio. E o bispo, então, caçoando dele…

É a velha atitude do ímpio em relação ao piedoso, que se recata, que se precavém e que, por isso, se defende contra coisas dessas, e que é tido como imaginoso, fantasioso, medroso, homem sem coragem, sem decisão etc. E, como ele era bispo, São João Eudes que era um homem tão enérgico, não queria tomar atitude enérgica que ele tomou com Luís XIV…

Os senhores veem o grande respeito de São João Eudes pela autoridade do bispo. Porque, quem era capaz de dizer ao maior rei da Terra, e de cara, o que ele disse, evidentemente, teria facilidade também de dizer para o bispo. Não lhe faltava personalidade, não lhe faltava nada…

Mas, uma é a autoridade eclesiástica, outra é a autoridade civil. E, sempre que se pode em relação à autoridade eclesiástica tomar uma atitude submissa, a melhor via é a da submissão. De maneira que, na má atitude do bispo, como na do outro jansenista, a posição de São João Eudes nos mostra bem qual é o amor que o católico deve ter à obediência, sempre que, em consciência, lhe seja possível manter essa obediência. E de outro lado também, em que alta conta se deve ter a autoridade eclesiástica.

* Na época de São João Eudes existia ainda restos de moralidade mesmo nos piores pecadores

O episódio com Ana d’Áustria mereceria ser narrado depois do episódio com Luís XIV.

Os senhores não pensem que a atitude dele elogiando Luís XIV, como vem narrado aqui, não ia sem uma censura ao Rei, porque era óbvio que essas coisas eram toleradas na corte. E era óbvio que o rei sabia o que estava se passando ali, que eram esses os costumes da corte presidida pelo rei. Havia, portanto, ao lado de um modo cortês de censurar o rei, que era de começar por elogiá-lo, havia uma verdadeira censura para com ele.

E, de fato, o mal que podia ser ali removido, de tal forma dependia do rei, que bastou ele olhar para os fidalgos, que estes se ajoelharam… Quer dizer, isto prova bem que estava nas mãos do rei obrigar os fidalgos a tomarem uma atitude exterior que eles não tomavam porque o rei não os via.

Mas, não é este o único fato da vida de Luís XIV em que ele ouviu uma porção de verdades do alto do púlpito. E ouviu humildemente, como filho da Igreja.

Quer dizer, ele era um pecador público, prestou à Igreja, ao lado de alguns serviços, alguns desserviços insignes, mas a profundidade e o modo de ser do pecado e até do pecado grave nas almas, não eram de hoje em dia.

Quer dizer, os senhores tomam pecadores de outrora, às vezes de má vida, e encontram neles restos de moralidade, restos de piedade, restos de , restos de humildade que no pecador de hoje absolutamente não se encontram. O que indica ainda bem que naquela época em que se preparavam as monstruosidades de hoje, ainda havia ainda muita seiva, muita possibilidade de resistência que só não foi levada a cabo inteiramente por um conjunto de circunstâncias históricas, que não vem ao caso narrar. Mas era, em todo caso, uma época muito mais católica ainda do que a nossa.

Característico também é o caso com Ana d’Áustria. Os senhores sabem que ela, mãe de Luiís XIV, era uma soberana que não se distinguia por uma piedade saliente. Era religiosa, tinha um oratório em sua casa, tinha seu palácio, etc. Mas absolutamente não se distinguia por uma piedade saliente nem deu uma educação muito piedosa a seus filhos.

O apoio que ela deu a Mazzarino durante todo o seu governo, foi, em última análise, dado às forças secretas. Porque Mazzarino era o tipo do personagem comprometido daquele tempo.

Está bem. Essa mulher, entretanto, quando sabe de um santo como São João Eudes que falou fortemente na corte contra a imoralidade, ela o apoia e manda dizer que gostou, que está bem, que está direito etc.

Era ela mesma também que tinha em alto conceito São Vicente de Paula. E os senhores veem aí na ficha que ela apoiou São João Eudes.

Ou seja, uma atitude completamente diferente do afastamento sistemático de todo ultramontano, de todo aquele que reage, de todo aquele que procura ser séria e sinceramente católico nos dias de hoje. Não havia o boicote completo do católico verdadeiro que há hoje. O que indica, exatamente, que o vício, o erro, o mal ainda estavam num estado de debilidade, e que não se permitiam as insolências, os despotismos que eles se permitem hoje.

Isso nos faz ver, com toda clareza, o tamanho da decadência em meio à qual estamos. Mas com isto acende em nós a esperança de um auxílio, de uma regeneração, e se preciso for também de um castigo de Nossa Senhora para nos tirar desta triste era histórica na qual estamos.

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