São Francisco de Assis (4/10): foi doce graças às flagelações que praticou

Legionário, 1º. de outubro de 1939, N. 368, pag. 4

 

blank

São Francisco de Assis (* 1181 ou 1182 + 1226), pintura no Mosteiro de Subiaco (Itália)

Filho de ricos comerciantes, esperavam eles de Francisco, que continuasse esse mesmo gênero de vida.

Extremamente alegre, inteligente e vivo, Francisco era a figura central das rapaziadas de seu tempo. O seu pai olhava com benevolência essa vida fútil, principalmente porque o dinheiro não escasseava.

Entretanto, uma feição do caráter desse moço burguês, começou a se acentuar cada vez mais. Tomou primeiro a resolução de nunca despedir um mendigo sem esmola. Uma vez, estando ocupado, negou-se a atender um, mas logo lembrando-se de sua resolução, correu atrás dele, e deu-lhe tudo quanto tinha no momento. O arrependimento dessa pequena imperfeição, foi o início de um grande surto de vida interior. Uma vez, encontrando-se com um leproso, Francisco teve repugnância de sua mão ao dar a esmola. Para castigar o seu corpo, tomou dessa mesma mão disforme, beijou-a afetuosamente, tratando-a depois.

Sentindo um chamado especial para um gênero de vida ainda desconhecida mesmo dele, Francisco revelou ao reitor da Igreja de São Damião o seu desejo de se retirar para um ermo e lá esperar que a sua vocação se esclarecesse. O pai, que tão indulgente fora com relação aos divertimentos, embora inocentes do filho, mudou de atitude. Como Francisco não quisesse absolutamente mudar de resolução, ele o deserdou e o expulsou de sua casa. Mas essa violência deu lugar ao grande santo de dizer: “Até hoje chamei-vos de pai. Agora poderei dizer com toda razão: Pai Nosso que estais no Céu, pois só nEle ponho agora a minha esperança”.

São Francisco desde esse dia passou a viver uma vida de extrema penitência. Três vezes por ano, jejuava num período de 40 dias consecutivos, e ainda fazia jejuns menos prolongados. A sua comida era sempre misturada com cinzas, para que alimentasse, mas não deliciasse. A água que bebia não era fresca e não bebia senão água.

A sua humildade era imensa. Nunca foi ordenado, pois se considerava absolutamente indigno de receber um tão eminente sacramento. Ele sempre dizia que se um Anjo lhe aparecesse ao mesmo tempo que um sacerdote, saudaria primeiro a este, pois o Anjo não pode consagrar.

A sua vida era uma constante oração, mas uma oração dolorosa, porque ele se lembrava das palavras de Jesus Cristo: “Quando for elevado da terra chamarei a mim todos os povos”. Tinha, pois, sede de sofrimento, porque tinha sede de salvar almas. Bem avisado foi, pois, o Papa que deu à Ação Católica um padroeiro como São Francisco.

Foi ele quem introduziu a devoção ao Presépio. E estando ele, uma tarde, ajoelhado diante de um e repetindo Belém, Belém, toda uma multidão que o ouvia ficou suspensa em êxtase. Mas esse dom de conquistar as almas com quantas penitências atrozes não foi comprado.

A sua devoção a Maria Santíssima era absolutamente filial. Nos seus atos de amor, nunca separava a Mãe do Filho, e se o Filho era o seu maior bem, nunca se esquecia que O recebera por intermédio da Mãe.

Assim, depois de São Paulo, São Francisco foi o homem que mais se aproximou do ideal de nós todos: Cristo. No seu amor por Maria, na sua sede de salvar almas, nos meios adotados para conseguir esse fim, Francisco foi um perfeito milagre da graça. Quem ama, tende a se unir com o objeto amado. Francisco tanto amou a Cristo, tanto amou o que Ele amou, e tanto detestou o que Ele detestou, que o próprio Cristo quis marcar essa semelhança. Um dia estando em jejum no monte La Verna, Jesus se apresentou a ele, doando-lhe as Suas próprias chegas. Digna recompensa de quem tivera a loucura da cruz.

Como absolutamente ninguém podem se igualar a Cristo, ninguém deve ter a ousadia de pretender a se igualar daquele que mais próximo lhe ficava. Mas nada nos impede que para o mesmo efeito, procuremos empregar os mesmos métodos. São Francisco foi doce, a ponto das aves não o temerem, mas para conseguir essa doçura, ele gastou por meio das flagelações todas as arestas de seu temperamento. Não queiramos ser doces como ele, se não quisermos adotar os mesmos métodos. São Francisco tinha sede de santificar as almas, mas do modo que Cristo mesmo disse que se havia de conquista-las, isto é, procurando-se igualar a Este. De tal forma São Francisco o conseguiu, que o próprio Nosso Senhor Jesus Cristo completou a semelhança, dando-lhe os estigmas da crucifixão.

Esse é o tipo ideal de apóstolo que o Santo Padre nos apresenta como modelo. Procuremos imitá-lo, sem nunca ter a pretensão de o igualar.

Contato