Santo do Dia, 14 de março de 1966
A D V E R T Ê N C I A
O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.
Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério tradicional da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:
“Católico apostólico romano, o autor deste texto se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto, por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.
As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.
São Clemente Maria Hofbauer (1751-1821), canonizado por São Pio X em 1909, tendo sido proclamado padroeiro de Viena em 1914 por aquele mesmo Papa Santo. Sua festa se comemora no dia 15 de março
Leitura de uma ficha biográfica, escrita por (ininteligível):
“Estudava Clemente em Viena, seguindo o curso de Teologia, pois pretendia, quando pudesse, ordenar-se sacerdote. Mas cedo verificou que alguns de seus professores, não querendo fugir ao racionalismo do século, procuravam uma estranha conciliação entre a doutrina católica e o iluminismo. Clemente, desde muito jovem, era dotado de um sentimento muito seguro que lhe indicava com precisão qual a verdadeira doutrina católica. Assim, ao ouvir aquelas doutrinas falsificadas, sentia-se dolorosamente constrangido.
“Um dia, terminada a preleção, foi manifestar ao professor certas dificuldades. O mestre, admirado, explicou ao estudante que o século no qual viviam dificilmente seguiria uma doutrina tradicional, pois só aceitava a linguagem da pura inteligência, quer no púlpito quer na cátedra universitária. E concluiu: ‘Temos que seguir a corrente, se não quisermos ficar para trás’. Responde o pobre ajudante de padeiro: ‘Seguir a corrente é covardia, pois é contra as correntes que devemos lutar. A melodia errada não se torna menos desafinada pela simples razão de a acompanharmos baixinho. Quem quiser indicar o caminho ao nosso tempo, vá acender seu facho de luz na própria Revelação’.
“Disse o professor: ‘Hofbauer, o senhor terá um dia de pregar diante de bancos vazios. Nosso tempo não suporta mais essa linguagem’.
“Resposta: ‘Então, já chegou a época anunciada por São Paulo: Tempo virá em que não hão de suportar a sã doutrina. Que diria São Paulo de suas opiniões, senhor professor?’
“Outra ocasião um professor disse em aula que a Imaculada Conceição da Bem-aventurada Virgem Maria não passava de piedosa lenda. No século XIX não devia ser mencionada perante um auditório. Levanta-se Clemente indignado: ‘Senhor professor, essa doutrina não é a católica’. E retirou-se da sala. ‘Talvez um dia haja mais luz dentro dessa cabeça de camponês’, gritou atrás dele o mestre. Mas foi obrigado a interromper a aula, pois os estudantes esvaziaram a sala, seguindo a Hofbauer”.
Edifício no qual funcionava a padaria em que São Clemente Maria Hofbauer trabalhou como auxiliar de padeiro, na cidade de Znojmo, atualmente na República Checa
Placa colocada no edifício acima, para imortalizar os tempos passados naquele local por São Clemente
É interessante notarmos a identidade de métodos da Revolução. O século XVIII nos parece velho: é o tempo da liteira, da saia balão, do chapéu de três bicos… Século XIX também. Tudo se perde no mesmo fundo histórico. Pois neste século os homens se reputavam “moderníssimos” e já vinham com a ideia de que era preciso, diante da Revolução, adotar a tática do “ceder para não perder”. É a mesma impiedade exprimindo-se pelas mesmas formas e procurando acovardar do mesmo jeito…
Outra coisa é a ameaça: “O senhor, quando se formar, vai pregar para bancos vazios”. É o que dizem para nós: “A doutrina de vocês não é capaz de arrastar os homens de hoje”. Mas, na realidade, a situação não está tão comprometida quanto dizem. Está comprometida por causa das cúpulas; ali está comprometidissima. É fato que na base está gravemente comprometida, mas muito menos do que nas cúpulas. Havendo coragem, as pessoas vão atrás. É questão de dizer tudo por inteiro. Este é que é o verdadeiro problema.
É também interessante ver como a posição de São Clemente Hofbauer é a do contra-revolucionário: ele combate o “ceder para não perder”, não cede diante da ameaça de pregar para bancos vazios. E, se isto tiver que acontecer, sua conclusão é que chegou o fim dos tempos, o que – evidentemente – seu professor modernoso não quis considerar. Uma das características do progressismo é de que não há fim dos tempos mas, pelo contrário, é preciso aproveitar esta época para gozar a vida.
Pormenor da “pupitre” utilizada para as conferências na Sala do Reino de Maria, na Sede da Rua Maranhão, decorada pelo Prof. Plinio. O leão à esquerda está lutando contra uma serpente bicéfala simbolizando o orgulho e a sensualidade, as duas molas propulsoras da Revolução. E o da direita está enfrentando uma serpente com três cabeças, em recordação das três Revoluções. Ao centro, a frase “Residuum revertetur – O resto voltará”. O ano de 1571 evoca a vitória da Cristandade em Lepanto.
Os senhores vêem como é verdadeira aquela doutrina cujo enunciado está esculpido na “pupitre” da sala do Reino de Maria: “o resto voltará”. É a continuidade da mesma batalha entre o espírito bom e o espírito ruim ao longo dos séculos. Por isso os contra-revolucionários não somos um grupo que apareceu de repente, mas um elo na mais magnífica e majestosa das correntes, ou seja dos que são escravos de Nossa Senhora que pisam na cabeça da serpente.
Vemos isto pela identidade dos contra-revolucionários de hoje com São Clemente Hofbauer e todos seus antecessores, de um lado. E, de outro, a identidade dos inimigos atuais da Contra-Revolução com os inimigos de outrora. Tudo indica, pois, que essa luta não é de hoje, nem é uma luta somente; é uma luta que foi de ontem e será de amanhã, até o fim dos séculos.
Trata-se, pois, de uma corrente de ouro que começou nas mais antigas raízes do Antigo Testamento e que irá até o último momento de aflição, em que os últimos católicos estarão ainda vivos, temendo que esteja tudo perdido, quando vier o Filho do Homem, em grande pompa e majestade, para julgar os vivos e os mortos e a História se encerrará.
Então, essa corrente estará completa e, com a graça de Nossa Senhora, todos seus membros se encontrarão no Céu.