Catolicismo, Nº 798, Abril de 2009, pag. 52
Vendo o Santo Sudário de Turim, impressiona-me a recusa e a repulsa que nele há em relação ao que está próximo. Nosso Senhor contempla a si próprio, olha o Padre Eterno, e sabe que a seus pés encontra-se Maria Santíssima — cor unum et anima una (coração e alma unidos a Ele).
Não vejo naquelas pálpebras cerradas o menor sinal de compaixão. Tenho impressão de que elas se cerraram em recusa e em horror ao pecado que os homens cometeram.
Na Sagrada Face notam-se as marcas dos golpes que recebeu, seus cabelos estão rarefeitos e desordenados. Ele foi maltratado de todos os modos. Percebe-se seu protesto diante de tudo isso, mas também sua dignidade.
Ele afirmara que o próprio Salomão, no auge de sua glória, não se vestiu tão esplendorosamente como os lírios do campo (Cfr. Mt 6, 28-29). Eu teria vontade de dizer: “Quem era Salomão em toda a sua glória, se comparado à majestade deste Rei?”. Comparados a tal majestade, quanto são pobres e pequenos os lírios do campo! Quanto é pobre e pequeno Salomão!
Além da recusa, também vejo nessas pálpebras cerradas uma decisão e uma incompatibilidade que arrebentou as portas da morte e as transpôs. É a matriz da incompatibilidade completa e do ódio completo. É uma lúcida, firme e serena incompatibilidade com seus algozes; uma recusa completa de qualquer afinidade e condescendência com seus inimigos; uma posição de quem sente tal horror ao pecado cometido, que afundou num oceano de horrores para, legítima e dignamente, recusar aqueles que ativa ou passivamente participaram da Crucifixão.
Esse é o estado de espírito que também nós devemos ter.
Nota: Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em 26 de janeiro de 1980