Santo Irineu de Lyon (28/6) e a virtude da intransigência contra o mal

Santo do Dia, 3 de julho de 1965

A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.

 

Hoje se comemoram dois santos: São Leão II, Papa e Confessor, que aprovou as atas do 6º Concílio Ecumênico, que condenaram a falta daqueles que, no dizer do Santo, em vez de purificar esta Igreja Apostólica, permitiam que a Imaculada fosse maculada por uma traição profana. Século VII (atualmente, celebra-se a 3 de julho).

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É festa também de Santo Irineu, Bispo e Confessor de Lyon, a quem, segundo a oração da liturgia, Deus deu a graça de destruir as heresias, para [a] verdade da doutrina e lutou contra os gnósticos no século II (“Irenoeo Martyri tuo atque Pontifici tribuisti, ut et veritate doctrinae expugnaret haereses, et pacem Ecclesiae feliciter confirmaret”).

Os senhores estão vendo que são dois santos,  um foi Papa e outro Bispo, que viveram a uma grande distância, no tempo, um do outro, uma vez que um viveu no século II – Santo Irineu – e outro no século VII, São Leão II. Uma grande distância porque quando ouvimos falar em século II e século VII, temos a impressão, nós que estamos no século XX, que o século II e o século VII foram muito próximos um do outro e que, ao nosso olhar no recuo do tempo, [parecem] dar numa coisa só. Mas na realidade, entre o século II e o século VII podemos calcular o que representa [esta diferença] imaginando o que são quinhentos anos de agora.

Quer dizer, a distância cronológica que havia entre esses dois séculos é mais ou menos a que há entre o Brasil no seu descobrimento e o Brasil de hoje. Compreende-se então como esses santos viveram distantes um do outro.

Ora, esses dois santos, apesar de tal distância de lugar, tal distância de tempo, época e, sobretudo, tal distância de nós, a Liturgia faz com que suas figuras se levantem e se juntem, hoje, para veneração dos fiéis; as duas figuras se levantam juntas, tendo um traço comum, que está aqui consignado: eles combateram a heresia, eles expulsaram os hereges de dentro da Igreja.

Segundo diz a Liturgia, eles, com isto, vingaram a honra da Igreja, porque a heresia presente dentro da Igreja maculava sua honra, que é imaculada. E por causa disso a honra da Igreja exigia a expulsão dos hereges, exigia que a heresia fosse posta fora, porque não pode haver coexistência pacífica, coabitação normal entre o Bem e o Mal, a Verdade e o Erro, não pode haver em nenhum lugar, mas, sobretudo, não pode haver dentro da Igreja Católica que é, por excelência, a montanha sagrada da Verdade e do Bem e que repele de si, horrorizada, aquele que, dentro dela, toma defesa do Erro e do Mal.

Os senhores me dirão: mas, afinal de contas, qual é então o papel da misericórdia diante disso? A Igreja tem muita misericórdia e Ela não expulsa de si aquele que reconhece que anda mal, aquele que bate no peito e pede perdão por andar mal, mas aquele que, dentro da Igreja, afirma que o Bem é o Mal ou o Mal é o Bem, aquele que, dentro da Igreja, luta para disseminar o Mal. A este a Igreja expulsa horrorizada por duas razões: primeira, porque ele perde as almas dos que estão dentro da Igreja e, em segundo lugar, por uma razão mais alta, que é uma razão de heterogeneidade fundamental. Ela é heterogênea com quem faz isso e Ela não pode suportar ao seu lado quem faz isso.

Isto porque, em última análise, está na natureza do princípio da contradição. Tudo aquilo que é vivo, pelo próprio fato de ser vivo, tem horror àquilo que lhe é contrário e repele aquilo que é contraditório com toda a força de sua vivacidade.

E a Igreja, cuja vida é eterna, é perene, é sobrenatural, tem um horror contínuo daquilo que lhe é contrário e por isso está na índole dela ejetar para fora de si hereges, ejetar para fora de si o próprio do mau espírito.

Se Ela se manifestar indolente, preguiçosa, pouco apressada na repreensão ao mal, significa que aqueles de seus filhos, ou aqueles de seus representantes que estão [nessa situação], têm dentro de si a Fé em estado de declínio, a Fé em estado de ocaso. Quando a Fé está em estado de aurora, quando a fé está no seu meio-dia ela não transige. Quando a Fé declina, começa a envelhecer, começa a murchar, começa então com estancados, com [composições] e não sente aquela fundamental incompatibilidade com aquilo que lhe é oposto.

Então nós compreendemos porque que a Igreja insiste na liturgia – o que eu estou dizendo aos senhores são trechos da liturgia – quando, numa festa do Santo, ela canta a glória do Santo, é o antístite como título de glória do Santo que ejetou para fora da Igreja o mal.

Aqui diz: ele teve a graça de expurgar da Igreja um homem que maculava a Igreja imaculada. Agora, qual é a razão disto? A razão evidente é a seguinte: a Igreja quer mostrar na plenitude que a virtude e a vivacidade da Fé são opostas a essa composição, a esse transigir que hoje tão freqüentemente se vê.

Essas circunstâncias se prendem à vida de São Leão II. Está aqui na ficha que ele aprovou as atas do 6º Concílio Ecumênico, que condenara a falta daquele que, no dizer do Papa São Leão II, em vez de purificar esta Igreja Apostólica, permitiu que a Imaculada fosse maculada por uma traição profana. O nome daquele não está dito aqui, entretanto, quem era aquele? Era o Papa Honório. O Papa São Leão II disse isto do seu antecessor Honório.

Ele teve esta dificuldade tremenda de ter vivido no tempo de uma Papa em relação ao qual o Concílio que se realizou depois dele tomou uma atitude de condenação. Os senhores compreendem que dias difíceis viveu este Santo.

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