Reunião de 14 de junho de 1968
A D V E R T Ê N C I A
Gravação de conferência do Prof. Plinio com sócios e cooperadores da TFP, não tendo sido revista pelo autor.
Se Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:
“Católico apostólico romano, o autor deste texto se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto, por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.
As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá Dr. Plinio em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.
Superior Geral dos Barnabitas, Santo Alexandre Sauli (1530-1592), combatente dos erros de Lutero e seus sequazes. Foi Bispo na Córsega e São Carlos Borromeu o convidou para pregar em Milão e o tomou como confessor e conselheiro
(Santo Alexandre Sauli)
Já que está projetada sua fisionomia, vamos comentá-la. Depois leio a sua biografia.
Existe entre nós, como o brasileiro é muito intuitivo – é uma das glórias e uma das infelicidades, porque o brasileiro usa mal dessa intuição -, ela pega as coisas muito rapidamente. E existe uma espécie de desprezo, ou pelo menos de menosprezo, de um apreço menor do que deveria ser, da meditação enquanto andando vagarosamente ponto por ponto, em um esforço árduo do espírito no penetrar verdade por verdade, pesar cada uma, cotejá-la, diferenciá-la do erro e depois estigmatizá-lo. Mas nisto há uma forma de sabedoria, que é a intuição passada em câmara lenta.
Porém acontece que as coisas passadas em câmara lenta, tomam muitas vezes uma beleza que não têm no seu movimento natural. Às vezes é o contrário, mas às vezes é assim.
Aqui os Srs. têm propriamente uma fisionomia meditativa na força do termo. De um desses espíritos que pesam tudo, ponderam tudo com um discernimento, com vagar, numa longa, vagarosa e meticulosa análise de todas as coisas, e que vão construindo o edifício da verdade no interior de sua própria alma, com o cuidado e o enlevo com que um ourives vai burilando pedra por pedra e depois desenhando o encaixe para fazer a joia que ele tem em vista realizar.
Há, nessa fisionomia, todo um mundo de considerações sobre o universo! Um espírito metafísico estupendo! Um mundo de meditações a respeito de problemas que foram difíceis de resolver, mas em que sua alma foi cada vez se tornando mais robusta, mais ágil, mais penetrante. E de tal modo que deixaram uma ordem não só em suas idéias, mas em suas disposições mentais que o fazem, literalmente, um verdadeiro bem-aventurado!
A indagação, a investigação, a construção, a conclusão, o triunfo, estão todos expressos nessa fisionomia com uma harmonia que a mim verdadeiramente me encanta!
Eu teria vontade de me ajoelhar diante de São Alexandre Sauli, ficar olhando para ele e lhe pedir: “Não olhe para mim, olhe para isto que vós estais olhando e deixai-me olhar para vós”. Eu teria a impressão de que, gota a gota, essas coisas iriam imergindo em mim, porque acho isto aqui uma verdadeira maravilha!
Os Srs. dirão: “Mas ele não é um pouco fúnebre?” Tenho a impressão de que ele dá essa impressão para as gerações mais novas, ou é falso isto? Não dá?
(Aparte: Dá sim.)
Bem. Eu digo o seguinte: os Srs. notam como ele está em paz? Ele é “fúnebre” por quê? Porque ele seria um homem superficial se não tivesse medido bem todo o mal que há na terra e há uma tristeza da existência do mal nesta alma.
Trago à recordação dos srs. uma cara que, comparada com a dele, seria quase um despropósito se não fosse neste contexto. Os Srs. se lembram do riso fácil, pseudo bobo, de crianção do homem “hollywoodizado”?
Nós estamos um pouco “hollywoodizado” no nosso modo de entender as coisas. Santo Alexandre Sauli não é fúnebre, ele é solene. Eu aprecio muito a solenidade. Como ele é solene! Os Srs. já imaginaram seu passo? Imaginem ele sentado numa cela pensando. Alguém teria coragem de bater à porta, abrir e contar para ele uma piada? Ele não incute respeito? O modo de ele dizer quando, alguém batesse à porta “Abre!…” seria tão carregado de meditação, tão suave, ao mesmo tempo tão atencioso. Quando o indivíduo contasse uma piada, com que cara ficava? Ele era capaz de responder: “Entendi”. Pronto, “gelava” o sujeito. E daí? Não é bem verdade isso?
Então, os Srs. têm nessa fisionomia algo… enfim, não sei dizer que encanto me produz!
Ele é filho do Margrave Dominicus Sauli. Ele nasceu em 1530 e pediu para ser Barnabita. Foi um dos aplicadores do Concílio de Trento.
(O senhor acha, vamos dizer assim, uma certa falta de caridade?)
Não. A ser fiel aos princípios que enunciei – e há razão para isso – a gente faria a reconstrução assim: ele é muito pensador, deveria ter tendência para ser um poca. É muito aplicado, deveria ter tendência para ser um dissipado. É muito solene e se volta à tendência à “poquice”.
Você imagine a ele de barba raspada, bigode raspado, velhinho, sentado numa cadeira de balanço, de chinelo, fumando um cigarrinho de palha e comentando as galinhas… Por aí pode-se imaginar o que ele teria sido se não fosse Santo.
Os barnabitas eram, na origem, uma ordem tão parecida com os jesuítas, que até se tentou mais de uma vez – da parte deles, não dos jesuítas – a fusão.
Santo Alexandre Sauli retratado com os trajes episcopais