Santo Alexandre (25/2) e os mais responsáveis pela difusão da heresia ariana

Santo do Dia, 25 de fevereiro de 1965

A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério tradicional da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.

 

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Santo Alexandre, bispo e Confessor. Bispo de Alexandria, abrasado de zelo pela fé, expeliu da Igreja o presbítero Ario, o súdito depravado pela impiedade da heresia. Mais tarde condenou-o novamente no Concílio de Nicéia. É o que diz dele o Martirológio.

 Amanhã será o aniversário também da morte do servo de Deus Cardeal Merry del Val, secretário de Estado durante o pontificado de São Pio X. Neste dia, em 1949, foi assinada a carta em que o Sumo Pontífice Pio XII mandou louvar o livro “Em defesa da Ação Católica”.

São três datas de natureza muito diferentes, mas que todas elas têm a sua atualidade, porque atualmente se faz todo o mal possível, e assim todo o bem que aconteceu no passado tem sua atualidade, “a contrario sensu”, nos dias de hoje.

Em primeiro lugar, Santo Alexandre, bispo e confessor. Na qualidade de arcebispo de Alexandria – Alexandria do Egito era uma das mais importantes sedes eclesiásticas do mundo, era mesmo um patriarcado – percebeu o que havia de mal na doutrina de Ario. E quando a heresia ariana ainda estava começando, ele a fulminou, excluindo da Igreja a Ario, que já era padre.

Os senhores estão vendo aqui a perspicácia desse santo: percebeu a heresia quando ela vinha, quando estava se delineando de longe. Já a castigou e quis atalhar quando ainda era pequena.

Apesar disso, a heresia ariana se desenvolveu como uma árvore imensa que cobriu com seus ramos a terra inteira. Basta dizer, parece-me que é São Gregório que tem essa frase: “o arianismo se espalhou com tal rapidez, que o mundo inteiro gemeu por se encontrar de um momento para o outro ariano”.

Depois do arianismo ser condenado no Oriente e praticamente ter lá desaparecido, inoculou-se nos bárbaros que tinham o Império Romano do Ocidente e assim o invadiu. E ele dominou durante muito tempo o Ocidente, criando para a Igreja dificuldades gravíssimas, porque então era a invasão bárbara, pagã, mais a invasão ariana, dentro da hecatombe do Império Romano. Humanamente falando, a Igreja quase desapareceu. Todo esse mal procedeu de ArioSe se tivesse atendido a observação desse Santoo arianismo não se teria espalhado pela terra.

Qual foi a razão do mal imenso que assim se realizou?

É a gente sem previdência, sem perspicácia, indiferente aos verdadeiros interesses da Igreja, que foi mole com Ario quase até o fim, e que permitiu que sua doutrina se espalhasse como um incêndio. De maneira que o grande malfeitor disso foram todos os bispos que não acompanharam Santo Alexandre, e não puniram a tempo a posição do Ario.

Os senhores dirão: “Mas Dr. Plinio, é dura essa linguagem apesar de tudo… Porque então o senhor responsabiliza bispos por isso. E o senhor acaba dizendo que a Igreja, considerada no conjunto de seus bispos, andou mal…”

Pois se estamos numa época em que vemos um papa, como Paulo VI, dizer que a Igreja pede perdão por todo mal que fez no passado, um historiador não pode deixar de se perguntar qual é o mal.  Então, fez algum mal. E não pode deixar de julgar legítimo que se procure qual é esse mal. Pois se Ela publicamente pede perdão por algo, é legítimo perguntar qual é esse algo pelo qual pede perdão.

No meu modo de entender, o mal é esse. É, por exemplo, não ter punido Ario a tempo. É, por exemplo, não ter punido Lutero a tempo.  É, por exemplo, não ter vitalizado a Inquisição no momento em que devia fazê-lo. E é por tudo isto que eu acho que realmente estamos sendo castigados.

Lembro-me de uma frase de Joseph de Maistre a respeito da Inquisição. Ele escreveu um livro intitulado “Carta sobre a Inquisição”, que o José Gustavo de Souza Queiroz (membro falecido do Grupo do “Legionário”), traduziu. Nessa obra, depois de expor tudo sobre a Inquisição, afirma o seguinte: Não se trata, vendo como era esse tribunal, de perguntar qual é o mal que esse tribunal fez. Mas sim de perguntar quem é o responsável pelo mal imenso de ter deixado inoperante e, por fim, ter abolido esse tribunal?

Quando se fala das faltas da Igreja, devemos pensar que as faltas ponderáveis foram as de moleza, e são essas que devemos visualizar.

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Rafael María José Pedro Francisco Borja Domingo Gerardo de la Santísma Trinidad Merry del Val y Zulueta (1865-1930), de família nobre, de origem anglo-espanhola, foi secretário de Estado da Santa Sé, no pontificado de São Pio X.

Devemos considerar agora o aniversário da morte de servo de Deus Cardeal Merry del Val. Os senhores sabem que o Cardeal Merry Del Val, cuja capa se venera aqui na nossa sede, sua morte sugere um comentário absolutamente idêntico.

O cardeal Merry del Val foi secretário de São Pio X e morreu em odor de santidade. Gozava da confiança enorme, da estima e de toda a consideração de São Pio X.

São Pio X e o cardeal Merry del Val tentaram fazer contra o modernismo todo o possível. Morreu São Pio X, o cardeal Merry del Val, apesar de ser um homem de alta influência pessoal, de altas relações em todas as Cortes da Europa, que naquele tempo era quase toda monárquica, de uma apresentação pessoal estupenda, de uma orientação doutrinária magnífica, foi posto completamente à margem. E, mesmo assim, sua ação contra o modernismo ainda se fazia sentir pelo alento de que ele dava a todos os antimodernistas.

Afinal de contas, como os senhores sabem, durante uma simples operação de apendicite – quando tais cirurgias já se tinham tornado perfeitamente banais; e o Cardeal era um homem robusto – morreu asfixiado…

O cardeal Merry del Val jaz na cripta do Vaticano, numa muito bonita sepultura, perto da qual ficara São Pio X. Sobre seus restos e os de São Pio X, o progressismo e o modernismo galoparam como as bestas do Apocalipse, e agora estão por todos os lugares, dominando a terra.

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Ao fundo, à direita, em uma urna de vidro, a capa do Cardeal Merry del Val

Para os senhores saberem o que representa essa capa cardinalícia – ainda feita de seda – que o cardeal Merry del Val usava: ela nos foi obtida pelo então promotor de seu processo da canonização, e tem costurada dentro dela uma declaração comprovando sua origem etc.

A capa tem isto de interessante: ela está muito consertada e muito curtida, sem perder o decoro, provando o espírito de pobreza do Cardeal. Ao mesmo tempo ostentando um ornamento esplêndido, mas no possível, no necessário, vivendo na pobreza. Dessa capa foram tirados alguns fragmentos exatamente para aquele livro da Ladainha da Humildade composta pelo Cardeal Merry Del Val. De maneira que então o objeto é de uma inteira autenticidade e os que quiserem pedir alguma graça ao Cardeal del Val têm muito motivo para fazê-lo e uma razão especial de confiança na presença da capa aqui. Porque uma relíquia indireta torna mais provável a obtenção das graças de um santo.

 Direi amanhã uma palavra a respeito da carta que em 1949, o santo padre Pio XII mandou para louvar o livro em “Em defesa da Ação Católica”.

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