Santo do Dia, 6 de junho de 1980
A D V E R T Ê N C I A
O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.
Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:
“Católico apostólico romano, o autor deste texto se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto, por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.
As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo“, em abril de 1959.
Ah! Bom! Vamos ver Santa Teresa de Ávila, é verdade.
Ó que estupendo, que ambiação magnífica! Vire um pouquinho para cá, inclinar um pouquinho mais o quadro, eu quero que o auditório veja melhor. Creio que dá para todos verem bem.
O que eu acho magnífica nessa pintura e porque ela exprime bem o que eu imaginava de Santa Teresa, a Grande.
O rosto é completamente impassível, completamente impassível. E o olhar olha e tem uma vida própria, por assim dizer autônoma do rosto. De maneira que enquanto o rosto está átono, enxuto, o olhar tem uma vida, está contemplando ao longe uma coisa extraordinária.
Mas de um par de olhos que se compraz em olhar ao longe o que tem mais longe, como o olhar da águia, assim. E gosta de ver longe, e que só se contenta bem quando se finca no mais longe do seu horizonte e se sente unido a ele.
Assim ela está olhando um ponto esplendoroso, magnífico. Dir-se-ia que ela está olhando um sol que não ofusca. Como o sol tem aquela chama e muda de aspectos, assim é o que ela está considerando. O que ela considera com admiração, com veneração, com uma forma de amor que não é propriamente o carinho mas é a completa entrega de si e o não querer a não ser aquilo que ela está olhando.
Mas há por detrás dessa impassibilidade do rosto, pela posição da cabeça sobre o pescoço e do pescoço sobre os ombros, forma uma regra de três.
As pessoas muito coerentes têm a cabeça posta sobre o pescoço segundo uma harmonia que coincide com o modo do pescoço encaixar no corpo. Não sei… A gente diria que a cabeça está para o pescoço como o pescoço está para o corpo. E que esta impostação assim caracteriza o élan e a coragem.
Enquanto há modos lamentáveis de usar a cabeça, não é? Mas dos mais lamentáveis possíveis… É até um treino interessante quando a gente quer se distrair um pouco, andando pela rua, sobretudo quando se anda de automóvel, é ir fazendo a crítica do modo pelo qual as pessoas usam as cabeças. Vale a pena fazer.
Um é o modo pelo qual usa a cabeça, outro é o modo pelo qual usa os braços. Há braços que a gente tem a impressão que estão pendurados preguiçosamente ao longo do corpo e que o indivíduo se sentiria mais leve se não tivesse os braços. Há outros braços que acompanham o andar e que têm movimentação.
Há mãos em que os dedos são estalactites e pendem inúteis da mão. Há outros dedos que são garras em férias, que querem pegar. Há dedos que são epílogos elegantes e refinados da mão.
Isso tudo é muito interessante de observar, desde que a gente goste de observar os outros. E a si próprio também.
Bem, Santa Teresa de Jesus aqui, a cabeça, o pescoço e o corpo tomam uma atitude de altivez, de altaneria que parece que ela recebe essa dignidade daquEle a quem ela olha. E que o olhar dela e o rosto dizem o seguinte: “eu só temo Aquele a quem eu admiro, e a favor dEle e contra outro eu não temo absolutamente ninguém, qualquer coisa que me possa acontecer, e desafio qualquer um. Eu não me incomodo porque Aquele a quem eu admiro é tudo e vence tudo, e portanto vamos para a frente!”
A meu ver é a própria expressão da reflexão, da decisão e da perseverança. Aí a gente compreende o comentário do fassur de Leibnitz quando morreu Santa Teresa. Ele escreveu uma carta dando novidades do dia a um amigo e diz: “consta que morreu o grande homem que é a freira espanhola Teresa de Jesus”. Ele era protestante… tudo o que os senhores queiram, um simples horror de homem.
Mas isso aqui é uma alma varonil, com nada de feminista de hoje. Eu não conheço… Eu vou dizer mais: aqui eu encontro bem toda a impressão que me causa o quadro dela: ela é a figura feminina, e talvez também a figura masculina – eu precisa pensar um pouco mais – mais próxima da grandeza carolingea que eu tenha visto até hoje. Não precisa dizer mais nada. No domínio feminino, ela é o Carlos Magno. Acho a grandeza perfeita e acabada.
Eu acho que ela se poderia chamar “Teresa de Jesus, a carolíngea”. Magnífico elogio para Carlos Magno…
Bem, meus caros, está terminado o comentário, nós podemos também terminar a nossa reunião. Vamos andando.