Santo do Dia, 14 de outubro de 1966
A D V E R T Ê N C I A
O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.
Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:
“Católico apostólico romano, o autor deste texto se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto, por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.
As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo“, em abril de 1959.
Santa Teresa de Ávila (1515-1582)
Amanhã, dia 15 de outubro, será festa de Santa Teresa de Ávila e de São Calixto de Huesca.
Sobre Santa Teresa de Ávila (1515-1582), o Rohrbacher tem essas considerações:
“No primeiro capítulo de sua obra O caminho de perfeição, Teresa explica os motivos que a levaram a estabelecer uma observância tão rigorosa no mosteiro carmelita de São José de Ávila.
Diz ela: “Tendo conhecimento dos desastres em França, da devastação que aí faziam os heréticos, e como essa infeliz seita [protestantes] aí se fortificava dia a dia, fui por isso tão vivamente tocada que, como se eu pudesse alguma coisa, ou se eu fosse alguma coisa, chorava em presença de Deus e implorava que remediasse tão grande mal. Parecia-me que eu teria dado mil vidas para salvar um só do grande número de almas que se perdiam nesse reino. Mas vendo que era somente uma mulher e ainda tão má e totalmente incapaz de prestar a Deus o serviço que eu desejava, acreditei, como acredito ainda que, pois como há tantos inimigos e tão pouco amigos, eu devia trabalhar o quanto pudesse para fazer com que esses últimos fossem bons.
“Assim, tomei a resolução de fazer o que dependia de mim para praticar os conselhos evangélicos com maior perfeição que pudesse, e procurar levar esse pequeno número de religiosas que estão aqui, a fazer a mesma coisa. Nesse sentido, confiei-me à bondade de Deus, que não deixa jamais de assistir àqueles que a tudo renunciam por seu amor.
“Esperei que essas boas moças, sendo como meu desejo as figurava, meus defeitos seriam cobertos por suas virtudes e poderíamos contentar a Deus em alguma coisa, ocupando-nos todas em rezar pelos pregadores, pelos defensores da Igreja e pelos homens sábios que sustentam discussões. Pois assim faríamos o que estava a nosso alcance para socorrer nosso Mestre, que esses traidores, que lhe devem tantos benefícios, tratam com tanta indignidade, que parecem querer crucificá-Lo ainda e não deixar lugar algum onde Ele pudesse repousar a cabeça”.
Santa Teresa de Jesús — Anónimo — Siglo XVII — Real Academia de la Lengua — Madrid
A reflexão de Santa Teresa é lindíssima. Era uma simples religiosa de um convento carmelita, não propriamente corrupto, mas relaxado e ela mesmo tendo passado muito tempo na tibieza e na mediocridade no amor de Deus. Ouviu falar nas devastações que o protestantismo estava fazendo na França, naquele tempo, muito grandes. Os protestantes tinham conquistado completamente um pequeno reino que havia no sul, que era o Reino de Navarra, cuja rainha Jeanne, e mais tarde o filho dela, o rei Henrique, futuro Henrique IV da França, eram protestantes militantes.
Por outro lado, um terço da França se tinha tornado protestante, cometendo seus adeptos toda espécie de blasfêmias, opressões às igrejas, depredações pavorosas, em suma, um verdadeiro incêndio religioso na França.
A notícia desse fato chega à Espanha e ao conhecimento dessa freira então um tanto medíocre. E aí a graça de Deus toca sua alma e compreende o imenso desastre que isso representava. E em vez de ficar com ideias nacionalistas idiotas, pensando: Aquilo é a França, eu estou na Espanha e não tenho nada que ver com o que se passa lá, compreendendo a universalidade da religião Católica, a universalidade da Redenção de Nosso Senhor Jesus Cristo, entendeu também que isso era um verdadeiro desastre para o mundo católico inteiro. Então pôs-se a chorar copiosamente e daí veio a ideia de sua conversão.
Como isto se deu? Ela o expõe apenas muito de passagem aqui, mas em outros trechos isso fica mais claro.
Seu raciocínio foi: Eu sou uma simples religiosa e não posso, eu, como mulher, fazer nada. A não ser o seguinte: os amigos de Deus são poucos e tíbios. Os inimigos de Deus são muitos e ardorosos. Eu devo, portanto, rezar, imolar-me, renunciar a tudo para que os amigos de Deus se tornem mais fortes e sejam capazes de fazer face aos inimigos de Deus. Então, afervorar os católicos, catolicizar os católicos era o meio de levar o inimigo à derrota.
Então, para consegui-lo, era preciso tomar algumas freiras que estavam ao seu alcance e fazer com que elas freiras se imolassem, rezassem; ela mesma também passar da mediocridade para o fervor, para conseguir que os pregadores, os doutores, os que lutavam pelas armas católicas se tornassem capazes de derrotar os protestantes. Então, dessa ideia veio a reforma do Carmelo. E naturalmente graças incontáveis que se derramaram sobre a França em consequência das orações das carmelitas.
Os senhores estão vendo por aí que se trata de uma ideia altamente teológica e altamente sapiencial que inspirou tal movimento. A ideia da Comunhão dos santos, do valor preponderante da oração e do sacrifício para a Igreja vencer suas grandes batalhas; a ideia de catolicizar os católicos como meio de deter o furor e vencer os que não são católicos. E, por fim, a ideia de uma reforma de uma Ordem religiosa especialmente para isso. É uma concatenação de ideias esplêndidas que se ligam umas às outras e que têm como desfecho a reforma da Ordem do Carmo.
É isso que explica aos senhores esse fato curioso: Santa Teresa de Jesus, apenas o que fez foi reformar a Ordem do Carmo. O Carmelo é uma Ordem de reclusas e estabelecer a reforma dos Carmelitas descalços, que não são reclusos. A obra em si, humanamente falando, não é tão extraordinária. O que representa triplicar o número de conventos de religiosas trancadas no seu convento? Multiplicar o número de padres, vamos dizer, de padres fervorosos, só isso a mais?
Entretanto, não há História da Igreja um pouco cuidadosa, que não mencione entre os principais fatos da Contra-Reforma, a reforma teresiana do Carmelo. Por quê? Porque ela teve um efeito extraordinário nos imponderáveis de toda a Cristandade.
O fervor aumentou em toda a Igreja; em torno das carmelitas desencadeou-se um movimento de afervoramento, movimento este que foi dos maiores, mais vigorosos da Contra-Reforma. Os Padres carmelitas também atuaram da mesma maneira. Quer dizer, uma ação que era maior do que os meios humanos, empreendeu uma expansão de um espírito, de uma mentalidade, de uma atitude de alma, que tinha como consequência um afervoramento geral dos católicos, e fazendo, portanto, da obra de Santa Teresa uma das grandes realizações da Contra-Reforma.
O curioso é que isso se explica muito mais pelo lado sobrenatural do que pelo natural. E nos mostra, por outro lado, quanta razão temos ao dar prioridade à vida interior sobre a vida ativa; em catolicizar os católicos, sobre a preocupação de conquistar não católicos para a Igreja; a ideia de que a oração e o sofrimento valem mais, na luta contra os adversários, do que a ação; o desejo, entretanto, ardente, da ação e da ação levada até suas últimas audácias, que caracterizavam o espírito de Santa Teresa de Jesus. Tudo faz com que percebamos, em sua grande autoridade, quantas concepções nossas são verdadeiras e quanto, portanto, nós a ela devemos ser fiéis.
É preciso dizer que esse extravasamento do zelo de Santa Teresa de Jesus para a França produziu a implantação da reforma do Carmelo também lá, feita por uma de suas discípulas. Daí decorreu, no “doux pays de France”, um florescimento carmelitano, o qual por sua vez produziu como flor mais recente e estupenda, flor igual às maiores flores – e exatamente disse a “mais recente” evitando a palavra “última”, porque foi o ponto de partida de novos florescimentos – Santa Teresinha do Menino Jesus.
Devemos ver, portanto, em Santa Teresinha do Menino Jesus mais uma expansão desse zelo pela França de Santa Teresa, a Grande, que produziu depois o nascer, na França e depois fora dela, de toda a imensa família das pequenas almas estimuladas, suscitadas e – eu diria – espiritualmente dirigidas por Santa Teresinha do Menino Jesus.
Santa Teresinha do Menino Jesus (1873-1897)