Santo do Dia – 18 de agosto de 1964
A D V E R T Ê N C I A
O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.
Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério tradicional da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:
“Católico apostólico romano, o autor deste texto se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto, por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.
As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.
Invenção (Encontro) da Santa Cruz
Do livro de horas Très Belles Heures de Notre-Dame (Turin-Mailänder Gebetbuch)
Hoje é festa de Santa Helena, imperatriz e viúva. Mãe de Constantino Magno, e a quem se deve a Invenção [ou seja, descoberta, n.d.c.] da Verdadeira Cruz. E é a Novena do Imaculado Coração de Maria também.
A importância de Santa Helena vem não só do fato de ela ter sido imperatriz, mas também de que teve sobre Constantino uma influência semelhante àquela de Santa Clotilde sobre Clóvis.
Constantino, o primeiro imperador, faz uma promessa para ver se, com o auxílio de Nosso Senhor Jesus Cristo venceria seus adversários; recebe a confirmação dessa promessa e, de fato, vence e derruba a estrutura do Estado pagão.
Evidentemente não podemos deixar de reconhecer uma relação de causa e efeito entre isto e o fato de que, apesar de até o fim de sua vida não ter dado provas de santidade – pelo contrário há muitas objeções a fazer à vida pessoal de Constantino – ter feito, no entanto, uma obra magnífica.
Quando nos lembramos de Santa Mônica rezando por Santo Agostinho e obtendo a conversão dele; quando nos recordamos de Santa Clotilde, inspirando e obtendo a conversão de Clóvis, é impossível não supor que Santa Helena não tenha inspirado, a fundo, Constantino. E que a atitude deste último não tenha sido, em grande parte, decorrente da influência que ela exercia sobre si.
Ora, nossa finalidade consiste em lutar pela restauração da ordem social e temporal católica (*). E é evidente que não podemos deixar de reconhecer, com muita alegria, o trabalho feito por ela precisamente para isto: tomar o império, que era pagão e não só fazer cessar as perseguições, mas fazer com que o imperador começasse a edificar uma nova ordem temporal que, se não chegou a ter a plenitude de catolicidade que teve o Estado medieval, foi a primeira tentativa para constituir uma ordem temporal católica.
Tentativa, por vários lados, verdadeiramente gloriosa. Não só porque o Edito de Milão dava liberdade para a Igreja, mas porque também mandava fechar todos os cultos pagãos. E, realmente, a partir daquele tempo, veio um ideal de unidade imperial católico que a Idade Média conservou e do qual surgiu, depois, a estrutura do Sacro Império Romano Alemão.
Vemos, portanto, como Santa Helena estava na raiz, pela sua mão e pelo seu exemplo, de um mundo de realizações gloriosas, de idéias grandiosas, de princípios que repercutiriam depois até a queda do sacro Império Romano Alemão e até os nossos dias.
Quem luta pelo ideal do estado da ordem temporal católica não pode deixar de ter muita veneração por santa Helena e compreender, com este exemplo, o papel da oração nessas coisas. Mas – veja-se bem – compreender o papel da oração equilibradamente. Porque há um certo modo de falar do papel da oração que tem um aspecto de sentimentalismo e um insinuar de que não adianta fazer mais nada, basta rezar. E isso não é. É o papel da oração para mover à ação que desencadeia e realiza o seu fim.
Então, temos Santa Helena rezando, Constantino lutando. E lutando com as armas, com o emblema de Nosso Senhor Jesus Cristo no lábaro, de armas na mão para impor aquilo, para alcançar a sua vitória. Aqui o equilíbrio é perfeito: Santa Helena reza, mas reza de uma oração que, com certeza, foi acompanhada de muito apostolado com o filho e este cuida dos meios materiais – inclusive militares – para realizar o que, sem dúvida, sua mãe desejaria realizar, porque é impossível imaginar que Santa Helena não quisesse ardentemente o que seu filho realizou.
Então, temos um equilíbrio entre a oração e a ação. A oração, que é realmente a razão mais fecunda do desencadear dos fatos, mas depois estes realizam o que se quer. Portanto, uma oração que não é uma condenação da ação, não uma forma de sentimentalismo, por onde a ação fica quase suspeita: “Você está agindo? Ihhh! Pensei que estivesse rezando…”. Não é isto. Mas também não é o contrário: age, age e age, porque só a ação dá certo. Vemos aí o papel primordial, se bem que não único, da oração e a necessidade da ação, segundo os planos comuns de Deus. É preciso agir.
É muito bonito que esta santa tenha sido, ao mesmo tempo, a santa que encontrou a verdadeira Cruz. Sabe-se que ela se serviu de revelações privadas, de tradições do local e que, afinal, encontrou a verdadeira Cruz, que foi cercada de milagres, de bênçãos, e é a Cruz da qual se espalham fragmentos por toda a Terra. Os senhores compreendem o que representa para uma mulher, ao mesmo tempo, ser mãe do primeiro imperador cristão e ser aquela que tira das entranhas da terra a verdadeira Cruz, com todos os benefícios que foram espalhados pela terra por tal relíquia, pelos atos de adoração à verdadeira Cruz…
Pintura representando o Encontro da Santa Cruz por Santa Helena (Basílica de Santa Cruz em Jerusalém, Roma)
Todos esses benefícios têm Santa Helena na sua origem. Aí se compreende o vulto dessa mulher, sua estatura de alma e se compreende também o que é uma grande missão. Mas também se compreende algo do respeito do feitio feminino, quando é verdadeiramente católico, sem nada em comum com o tipo de mulherica tão em voga hoje em dia. É o grande tipo de mulher que, verdadeiramente, vive só para Nosso Senhor. Matrona de alma alta, de horizontes largos, considerando as coisas a partir dos seus aspectos mais sublimes e de maior alcance. E que, por causa disso, transforma um Império e dá ao mundo a dádiva imensamente grandiosa da verdadeira Cruz de Cristo.
Quanto esses horizontes são diferentes dos de certo tipo de pessoas que hoje em dia frequentam as igrejas: basta anunciar uma cantoria e elas se enchem…
Gostaria de perguntar a esse tipo de pessoas: “Os senhores pensaram no Império Romano? Os senhores pensaram na verdadeira Cruz? Os senhores têm as idéias voltadas para a atualidade dos problemas do Brasil, no qual, ao contrário da obra de Constantino, está para ser feita a implantação da foice e do martelo? Os senhores rezaram por isto? Os senhores sofrem com isto? Os senhores pensam na possibilidade desses fragmentos da verdadeira Cruz desaparecerem completamente nas mãos dos comunistas, ecologistas, sem terra, e tantos outros, quando tomarem a terra? E, sobretudo, os senhores pensam numa coisa mais grave, que são as almas, que valem mais que a própria Cruz de Cristo? Porque Cristo teria morrido por cada um de nós ainda que se tratasse de salvar só a nós. Mas, para uma cruz, Ele não teria morrido, por mais sagrado que seja, é um objeto material. O senhor, a senhora pensa nessas almas que poderão se perder?”…
Quantas pensam nisto? Horizontes mínimos… minúsculos! O gosto das orações vai para o padre cantor, para o marido, para uma enxaqueca que têm ou então para uma tia que mandou uma carta e está meio aflita porque ela, por sua vez, tem um tio que está doente na Espanha…
Os senhores compreendem como isto são horizontes completamente diferentes destes. E, através disso, os senhores compreendem o que é a altura do verdadeiro espírito católico, do espírito contra-revolucionário.
Vamos, portanto, nos recomendar a Santa Helena no dia de hoje.
(*) Para aprofundar este assunto, vide o artigo em “Catolicismo” A CRUZADA DO SÉCULO XX, de janeiro de 1951.
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