Santa Gertrudes (16/11)

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Santa Gertrudes de Helfta (ou Santa Gertrudes a Grande) foi uma beneditina, mística e teóloga alemã. Nasceu em 6 de Janeiro de 1256 e julga-se que terá sido na aldeia de Helft, em Eisleben, na Alta Saxônia, na Alemanha. Faleceu em Helfta, em torno de 1302 e foi canonizada pelo Papa Clemente XII no ano de 1677.

 

Trecho de carta de Dr. Plinio para Alceu Amoroso Lima (Tristão de Athayde), de 30 de novembro de 1931

 

(…) Em uma das extraordinárias visões com que foi favorecida por Nosso Senhor, Santa Gertrudes conta em seu livro que Deus é tão ávido do amor das criaturas, que lança mão de todos os artifícios para conservá-las unidas a Ele. Assim é que, para desapegá-las das coisas criadas, envia às vezes certas provações, que têm por efeito mostrar-lhes como são ilusórias todas as coisas terrenas, quanto às felicidades que proporcionam. Efetivamente, até os mais legítimos afetos humanos não são isentos da dor e da instabilidade!

É curioso como nossa época perdeu completamente a noção cristã da dor. A evolução é fácil de se descrever. A resignação cristã, ao mesmo tempo que faz conservar, entre os vivos, a memória constante dos mortos, lembrados aos sufrágios da Igreja militante por inúmeras orações, proporciona, no entanto, aos vivos aquela força de espírito necessária para não sucumbir ao sofrimento constantemente reavivado, das saudades dos mortos por quem continuamente rezamos.

Veio o surto pagão. Começou por hipertrofiar um dos sentimentos que compunham a resignação. Exaltou a dor, as saudades, os desgostos irremediáveis. Todo mundo passou a entender que, para ser “decente”, a dor precisaria ser acompanhada de gritos lancinantes, de desmaios, às vezes de suicídios.

O convencionalismo, o caráter exageradamente dramático, e às vezes ridículo de tais encenações, provocou uma reação em sentido absolutamente contrário. Passou-se a pregar a indiferençaOs lutos se encurtam cada vez mais. Tendem a ser inteiramente abolidos, não somente nas roupagens (o que constitui um simbolismo muito bonito, e uma homenagem tocante ao morto), mas também no prazo em que se devem as pessoas afastar de festas e cinemas. Não é mais nas preces, que se vai buscar a resignação. Afogam-se simplesmente as saudades no jazz e na champagne.

Quanto ao morto, é imediatamente incinerado, e guardado prudentemente em uma pequena urna inexpressiva, onde seus restos mortais deverão ocupar o menor espaço material possível… do mesmo modo porque sua lembrança deve também ser reduzida ao mínimo na memória dos viventes! É pagão, brutal e duro a mais não poder.

Estas impressões me escaparam à medida que escrevia. Tome-as como um parêntesis.

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Legionário, N.º 629, 27 de agosto de 1944

“In sinu Jesu”

(…) Em suas admiráveis revelações Santa Gertrudes tem palavras que explicam perfeitamente o lema do novo Arcebispo [de São Paulo]. Diz ela:

“Como ela (a Santa fala de si na terceira pessoa, por humildade) visse suas outras irmãs se dirigir ao sermão, queixou-se ao Senhor nestes termos: “Vede, meu Bem-Amado, que eu gostaria de ouvir o sermão, se não estivesse retida pela moléstia”. O Senhor lhe respondeu: “Queres, minha bem-amada, que Eu te pregue, Eu mesmo, o sermão?” “Desejo-o ardentemente”, respondeu ela. O Senhor a atraiu então a Si, de tal maneira que seu coração repousava sobre o Coração divino. Depois de ter saboreado esse doce momento de repouso, ela sentiu bater o Coração de Jesus com dois modos admiráveis e soberanamente doces. O Senhor lhe disse: “Cada uma dessas pulsações de Coração opera a salvação dos homens de três modos: a primeira opera a salvação dos pecadores, a segunda a dos justos. Pela primeira pulsação de amor, Eu invoco incessantemente o Padre Eterno, Eu o satisfaço e inclino à misericórdia. Em seguida, falo a todos os meus Santos, e, depois de ter advogado perante eles a causa dos pecadores com o zelo e a fidelidade de um irmão, Eu os excito a rogar por essas pobres almas. Em terceiro lugar, Eu me dirijo ao próprio pecador, e o chamo misericordiosamente à penitência, esperando em seguida sua conversão, com um desejo inefável. Pela segunda pulsação de Meu Coração, convido antes de tudo o Padre Eterno a se regozijar comigo por haver tão utilmente efundido Meu Sangue pela redenção dos eleitos, pois que agora me delicio com suas almas. Em segundo lugar, excito a milícia celeste a celebrar por louvores a vida tão santa dos justos, e a Me agradecer por tantos benefícios de que os gratifiquei e ainda gratificarei. Enfim, dirijo-Me aos justos, e lhes dou provas dulcíssimas de Meu amor, excitando-os com invencível perseverança a progredir dia a dia e hora a hora. E como o bater do coração humano não é interrompido nem pela ação da vista, nem do ouvido, nem do trabalho manual, do mesmo modo o governo do Céu, da terra e do universo inteiro não poderá, até o fim do mundo, nem suspender por um instante, nem retardar, nem impedir este doce bater de Meu Divino Coração”. (Sta. Gertrudes, “O Arauto do Divino Amor”, tradução segundo a edição de Solesmes, Mame e Fils, editores, Paris, vol. 1, pg. 268).

Assim, pois, o programa de governo do novo Prelado – “In sinu Jesu” – consiste em abrir de modo mais franco possível os mananciais de vida que brotam do Coração de Jesus, de inserir toda São Paulo, com seus palácios e suas oficinas, com seus centros de estudo e de diversão, de arte e de trabalho, no grande e adorável movimento de sístole e diástole, que inunda a Cristandade com as graças brotadas do Coração de Jesus, e que leva para o Coração de Jesus todas as almas que Ele quer salvar. Fidelíssimo devoto de São João Evangelista, o novo Arcebispo quer que a seu exemplo todos nós tenhamos os ouvidos atentos às pulsações adoráveis do Coração Divino. Elas, e só elas saberão apagar dentro de nós o tumulto das paixões desregradas, o fragor das rivalidades, das cóleras, dos rancores que dilaceram o mundo contemporâneo. Ao som divinamente suave dessas pulsações, ouviremos a Verdade, seremos inundados pela Vida, e na sístole e diástole espiritual do Coração de Jesus encontraremos o Caminho.

Não poderia haver mais belo programa. Para nós, paulistas, esse programa constitui, nos lábios do novo Pastor, uma confortadora esperança, um santo estímulo a um devotamento irrestrito, a uma filial e respeitosa cooperação.

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