Legionário, 6 de fevereiro de 1938, N. 282, pag. 7
O último colóquio de São Bento com sua irmã Santa Escolástica (c. 480 – 10 de fevereiro de 542), pintura no Mosteiro de Subiaco (Itália)
Em geral, os católicos se esquecem de sua fé, quando as atribulações da vida vêm bater à sua porta. É raro se encontrar católicos que tenham ilimitada confiança na Providência, entregando-se a Ela completamente. Os cuidados da vida os absorvem completamente, quando não chegam a impedir o cuidado por suas almas, e a prática da virtude, que é a única coisa verdadeiramente necessária na terra.
Eles acreditam piamente em todas as verdades do Catolicismo, praticam-nas, creem na bondade e justiça de Nosso Senhor Jesus Cristo, mas, apenas uma sombra se erga nos seus afazeres, esquecem-se completamente de tudo em que acreditam, e passam a procurar vencê-la apenas com os seus meios naturais, afobam-se, queixam-se, esquecidos que, se empregarem o que suas forças permitem para vencer essas dificuldades, Nosso Senhor não deixará de acudir, como Ele próprio prometeu.
Se passarmos dos verdadeiros católicos para os católicos de meias tintas, então a falta de confiança em Deus é absoluta. Chega ela até a impedir a prática dos deveres mais essenciais do Catolicismo, porque os cuidados da vida tomam completamente o seu tempo.
No entanto, a fé em Nosso Senhor deve ser simples e confiante, sem a agitação que perturba a alma e a impede de se aproximar de Deus pela oração. Nas atribulações, nos momentos em que mais nos parece difícil a vitória, mais confiantes devemos ser, pois Nosso Senhor nunca deixa de atender a quem recorra a Ele com confiança, e tudo faz para vencer as dificuldades.
Uma das virtudes que mais agrada a Nosso Senhor é a confiança. A confiança nEle consegue tudo, até as coisas que mais pareceriam impossíveis. E uma das características justamente de todos os Santos é a confiança ilimitada em Deus.
Santa Escolástica, por exemplo, nascera de piedosa família, e desde criança aprendera a cultivar a virtude, colocando-a como a mais necessária das coisas da vida.
Irmã de São Bento, quando este se retirou com alguns companheiros para o Monte Cassino, onde fundou a Ordem beneditina, pediu a ele que lhe desse uma regra de vida, indicando-lhe o caminho que deveria tomar.
São Bento deu-lhe uma regra semelhante à da Ordem que fundara e mandou construir uma pequena cela, próxima ao mosteiro para que ela ali vivesse.
Aos poucos, inúmeras moças procuravam Santa Escolástica e a ela se associavam, tendo assim início a Ordem das Beneditinas, que teve Santa Escolástica por primeira superiora.
As beneditinas têm clausura absoluta, sendo proibida a entrada de qualquer homem em seus conventos. O próprio São Bento não entrava neles e para encontrar-se com sua irmã, dirigia-se uma vez por ano a uma casa próxima do mosteiro. Nesse dia, entregavam-se os dois irmãos a santas palestras, e dava São Bento as normas para Santa Escolástica dirigir as suas monjas.
Em uma dessas visitas, Santa Escolástica pediu insistentemente a seu irmão que passasse a noite conversando com ela sobre as coisas de Deus. São Bento negou-se terminantemente, por não querer passar a noite fora de seu mosteiro.
Santa Escolástica, confiantemente, pediu a Deus essa graça de conservar ali o seu irmão, e nem bem terminara a oração, desabava violentíssimo temporal, que impedia a saída de São Bento e seus companheiros.
São Bento, embora visse a vontade de Deus, repreendeu a sua irmã, dizendo-lhe: “Deus te perdoe, minha irmã, o que fizeste”, ao que Santa Escolástica respondeu: “Eu te pedi e não quiseste atender-me; dirigi-me a Deus e fui ouvida”.
Passaram os santos irmãos toda a noite conversando sobre assuntos piedosos e pela manhã despediram-se para sempre, pois três dias depois Santa Escolástica entregou sua alma a Deus.
Nosso Senhor nunca falta a seus filhos, quando eles confiam, como Ele mostrou claramente à Santa Escolástica. Devemos, pois, ter uma confiança absoluta na Providência, trabalhando, dando o máximo dos nossos esforços, para vencermos as tentações e atribulações que nos ameaçarem, mas, calmos e confiantes de que venceremos, pois Nosso Senhor não deixará de nos socorrer.