Santa Clotilde (3/6): as grandes vocações são belas como as flores dos cactos

Santo do Dia, 3 de junho de 1969

A D V E R T Ê N C I A

Gravação de conferência do Prof. Plinio com sócios e cooperadores da TFP, não tendo sido revista pelo autor.

Se Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá Dr. Plinio em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.

 

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Santa Clotilde (474-545) – Estátua da Igreja de São Germano de Auxerre (Saint Germain l´Auxerrois), em Paris. Feita em 1841 pelo escultor Louis Desprez. Foto de © Marie-Lan Nguyen / Wikimedia Commons, CC BY 3.0

Hoje é 3 de junho, festa de Santa Clotilde, viúva. Da oração litúrgica na festa dela, nosso calendário tirou a seguinte frase: “Ela foi rainha da França, filha do rei Quilperico II, esposa do rei Clovis. Às suas orações, a França deve o dom da fé”.

Uma referência tirada de Dom Guéranger, de sua obra “L’Année Liturgique”:

Santa Clotilde foi aureolada pela glória de uma maravilhosa maternidade espiritual, pois foi graças a essa rainha que, numa noite de Natal, nascia nas fontes batismais de Reims a nação primogênita da Igreja. Clotilde foi preparada pelo sofrimento para o grande destino que Deus lhe reservava. A morte violenta de seu pai, destronado por um usurpador fratricida, seus irmãos massacrados, sua mãe afogada no Ródano, seu novo cativeiro na corte ariana do carrasco que trazia consigo a heresia ao trono dos borguinhões, desenvolveram nela o heroísmo do martírio e a fizeram mãe de um povo”.

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Dom Guéranger tem um estilo único, eu só não sei se é muito claro para os de gerações mais recentes…

Abreviadas as coisas, o fato é o seguinte: Santa Clotilde era filha do rei dos borguinhões. O pai dela era católico e o irmão do pai dela, portanto tio dela, era ariano. O arianismo constituía uma heresia terrível que infestou a Igreja durante séculos, uma coisa bárbara. E esse ariano matou o católico e dizimou toda a família de Santa Clotilde, o que os senhores acabaram de ouvir. A mãe foi jogada no Ródano, enfim, uma chacina completa, os irmãos foram mortos etc.

Nunca obtive uma explicação do motivo pelo qual Santa Clotilde não foi morta por esse mesmo sujeito. Ele a levou para sua corte e a tinha ali como uma espécie de sobrinha de segunda categoria, meio prisioneira, em cativeiro.

Clovis, que era o rei dos francos, uma nação vizinha dos borguinhões, quis se casar com ela, a qual perguntou então como é que seria a questão de sua fé. Clovis, apesar de pagão, garantiu que lhe daria liberdade de conservá-la. Santa Clotilde, então, se casou com Clovis, o qual respeitou sua fé.

Dom Guéranger mostra muito bem o contraste que havia no começo da vida dessa rainha e o fim. No começo opressa, perseguida etc. De repente, ela sobe ao trono, mas era de um rei pagão e bárbaro. Ela se casa com o bárbaro, mas este se converte, daí nascendo uma nação católica. Os senhores veem aí, portanto, a linda vocação de Santa Clotilde!

Todas as vocações muito bonitas começam de um modo tremendo: contra golpes, dificuldades, coisas impossíveis etc. etc. Mas é desses espinhos que nasce a vocação bonita. Fala-se muito da beleza da rosa, mas há uma outra que na minha opinião rivaliza com a rosa em beleza e talvez seja mais bonita: é a flor – o Dr. Eduardo pode dizer exatamente que for é, eu vou dar uma noção ultra imprecisa – mas é a flor do cactos.

Há um tipo de cactos que dá uma flor meio azul, meio vermelha – não sei se os senhores conhecem -, uma verdadeira maravilha! O cactos é uma planta horrenda, “de lo último”. Basta dizer que é “moderna”… É grossa, espinhada, sem cheiro, sem forma, de um jeito monstruoso, uma espécie de animal antediluviano em ponto vegetal. Porém disso nasce essa beleza que é a flor do cactos.

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Assim também são as grandes vocações. Elas nascem de sofrimentos que não têm nome, nem palavras, nem eira nem beira, decepções, coisas que se entrecruzam, que derrocam, que não têm caminho etc., etc. No meio disso tudo, o “cactos” vai produzindo a sua flor. E, afinal de contas, acaba desabrochando em algo mais bonito, que é a vocação, cujo êxito não se deve a nenhuma mão de homem, não se deve a nada que tenha tido início no homem, mas se deve a Nossa Senhora!

É pena eu não ter a Epístola da Missa do Domingo passado aqui, para comentar com os senhores. Achei muito bonita! São Paulo diz isso: quem é que pode se gabar de ter dado a Deus algo, que depois não o tenha premiado? Ou seja, primeiro Deus nos dá algo, depois nós fazemos algo por Ele e aí Ele premeia em nós o próprio dom que Ele nos deu… Essa é a realidade, e que convém muito ter em vista.

Então aqui está Santa Clotilde: desde pequena preservada para isso, guiada para isso, não porque tenha feito algo, mas porque Deus quis e ela foi correspondendo ao que Deus quis. Aí está a santidade dela, seu mérito, mas o início foi todo ele de Deus.

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Continua Dom Guéranger:

Deus quis que o homem, saindo de Suas mãos, ainda sem poder contemplar diretamente seu Autor, encontrasse como primeira tradução de Seu amor infinito a ternura de uma mãe. Isso dá às mães essa facilidade única de completar, pela educação, na alma do filho, a reprodução completa do ideal divino que deve nele imprimir-se”.

O pensamento de Dom Guéranger é belíssimo! Como Deus faz o filho nascer de sua mãe, esta tem uma intuição especial para completar no filho a obra de Deus. O que é verdade da mãe terrena, mas é muito mais verdade da Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana, na qual nós somos gerados e que tem, portanto, uma intuição materna para completar em nós a obra de Deus. E é também insondavelmente verdade em relação a Nossa Senhora.

E se tão grande é a maternidade na ordem da natureza, muito mais sublime ainda o é na ordem da graça. É o exemplo da Santíssima Virgem, Mãe de Deus e, como decorrência, mãe de todos os homens. E toda maternidade não foi, desde então, num verdadeiro sentido, senão uma decorrência da de Maria, uma delegação de seu amor e a comunicação de seu augusto privilégio de dar aos homens que devam ser seus filhos.

A dignidade de mãe cristã foi acrescida por Maria a um ponto em que a natureza nunca poderia suspeitar. Como Clotilde, frequentemente a esposa, preparada pelo divino sofrimento, ver-se-á dotada de uma fecundidade mil vezes maior do que a terrena. Felizes os homens nascidos, pelo favor de Maria, dessa fecundidade sobrenatural, que resume todas as grandezas. Felizes os povos aos quais foi dada uma mãe, pela divina munificência”.

Ele faz aqui uma linda comparação: o que Santa Clotilde foi para os franceses, Nossa Senhora o é para todo o gênero humano, Ela é a mãe de todos os católicos. E assim como da graça de Santa Clotilde, da beleza de Santa Clotilde, da fé de Santa Clotilde nasceu a nação que foi outrora a nação da fé, da graça e da beleza, assim também nisso temos um exemplo do que foi nascermos de Nossa Senhora. Quer dizer, Nossa Senhora nos comunica também a sua beleza espiritual, a sua graça e sua fé. Ou seja, somos filhos de Nossa Senhora porque tudo recebemos dEla, somos gerados dEla. Esse é o pensamento que está no restante da ficha.

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