* 1966 – Renascença, Parte I – A Renascença: primeiro golpe desfechado contra a Cristandade e, sob certo ângulo, o mais carregado de malícia / Abalizada documentação indicada no curso das exposições – Uma ampla Revolução feita em nome da arte e da cultura à qual atribuíam um valor supremo – A colocação da cultura como valor supremo gerou um profundo conflito de consciência: três atitudes de alma, semelhantes aos grandes problemas que se colocam em nossos dias – O entusiasmo delirante pelos autores pagãos criou nos homens da Renascença um modo de se exprimir, que a pretexto de ser completamente clássico, é perfeitamente pagão – Estranha simbiose entre paganismo e Cristianismo – Nessa “época de cultura”, renasceram antigas superstições e em face delas se procedia com extrema condescendência, ao mesmo que se era implacável para com as “obscuridades” da Idade Média – O católico deve ser adorador de Jesus Cristo com toda a alma e todo o coração. Tem que pertencer à Igreja sem mescla nem heterogeneidade de coisa alguma estranha a Ela – Para o católico, não é o trabalho intelectual o que há de mais elevado. É a Fé. Aquele tem seu mérito, mas só se considerado dentro da Fé.
* Renascença, Parte II – O homem da Renascença tinha uma espécie de cinismo a respeito de todos os assuntos / Muito do que se pode dizer da psicologia de uma pessoa, pode aplicar-se também a uma época histórica. Os rumos das almas é o que mais importa: se está em ascensão ou escorregando para o abismo – O renascentista estava ainda muito próximo da Idade Média e tinha no seu subconsciente e nos seus hábitos mentais, muitíssimas concepções medievais – O homem medieval estava habituado à seriedade de alma. No que ela consiste? – Mentalidade renascentista: saciedade da vida medieval equilibrada, séria, dirigida para os fins últimos e sequiosa do prazer, do divertimento, da alegria – Sempre que o homem busca sofregamente a alegria, nasce a tristeza dentro de sua alma, dessas tristezas pesadas e escuras, que o devoram, que pesam e que conduzem ao desespero – O renascentista acabou perdendo aquilo que é o corolário necessário da perda da Fé: a perda da convicção e da confiança na razão. Quando o homem tem fé, evita a dúvida e é capaz de certezas – Ao lado do racionalismo, começa o gosto por uma experiência mística que possa dar aquela certeza que o raciocínio não dá mais.
* Renascença, Parte III (conclusão): Misticismo católico, panteísmo e satanismo – Olimpismo, naturalismo, complacência para consigo mesmo. No plano político: totalitarismo, nacionalismo exacerbado e espírito beligerante / O misticismo panteísta aparece muito claramente em Wagner – A Renascença é a ausência quase completa de qualquer misticismo. O homem é naturalista e corta a tendência para o transcendental (diferença entre as pinturas de Rafael e Fra Angelico, o Moisés de Miguel Ângelo) – A posição puramente naturalista do homem renascentista teve, como consequência, um desejo desenfreado de gozar a vida, mas de todos os modos e por todos os poros – Restos da tradição medieval a serviço do naturalismo renascentista: entre eles, o apreço pela inteligência – Começa a decadência: o homem não mais pensa para encontrar a verdade, mas pensa pelo prazer de fazer brilhantes raciocínios, à busca de bonitos panoramas da vida intelectual – Fisicamente, também, o renascentista devia ser um homem perfeito – A superação quantitativa sucede à noção de transcendência: reflexos na política renascentista e aparecimento do nacionalismo – Em termos de política interna, esse mesmo espírito não concebe respeito nem admiração pelos mais fracos – Do estado de espírito olímpico brotou o absolutismo e veio o ocaso da sociedade orgânica medieval. E com isto, a igualdade. O homem olímpico detesta toda hierarquia que existe abaixo dele e é levado, em consequência, a destruí-la, nivelando tudo. E, por isto, Luiz XIV que, embora tenha sido posterior à Renascença, a encarna em muitos dos seus aspectos.