Recordações de Plinio Corrêa de Oliveira sobre os primeiros instantes quando recobrou os sentidos após grave desastre de automóvel (3 de fevereiro de 1975)

Reunião de 5 de agosto de 1975, Terça-feira

A D V E R T Ê N C I A

Gravação de conferência do Prof. Plinio com sócios da TFP, não tendo sido revista pelo autor.

Se Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá Dr. Plinio em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.

 

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Acima e abaixo, fotos de como ficou o carro do Prof. Plinio após o desastre. Ele viajava no banco dianteiro, que recebeu o maior impacto com o ônibus que vinha em sentido contrário ao de seu veículo

 

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Eu me lembro por ocasião desse meu recente desastre de automóvel [a 3 de fevereiro de 1975] eu vi o que a Providência queria de mim.

Porque quando eu dei acordo de mim, eu – todo o resto eu esqueci – eu estava esticado numa cama do Instituto Santa Catarina, tratado – eu volto a dizer e espero dizer até o fim dos meus dias – com um carinho e com uma bondade pelos senhores e, sobretudo, por aqueles que estavam mais no caso de me prestarem essa assistência, de um modo simplesmente admirável!

Bem. Mas eu me dei conta [de mim mesmo] na cama e com a ideia de que eu tinha sofrido um desastre de automóvel. Eu me lembro da situação. Eu perscrutei os meus órgãos internos e percebi que nesta caixa, daqui até aqui, tudo corria normal. E pensei com os meus botões: “Esse desastre que eu sofri não deve ter afetado os meus órgãos fundamentais”. Vi a vista, estava olhando quase bem e pensei: “isso é alguma perturbaçãozinha explicável – e como era mesmo – no acidente e que normalmente se recompõe – eu continuarei a ver. Notei que eu falava bem, me exprimia bem, notei que havia uma falta de dentes etc., mas que eu me exprimia bem.

Pensei com os meus botões o seguinte: “o grande problema vai ser de eu ser tratado e de eu não prejudicar o tratamento que eu receber. Eu estou vendo como eu estou sendo tratado, e estou vendo que em torno de mim não falta absolutamente nada. É preciso eu corresponder a tanta coisa que a Providência me dá em torno de mim mantendo o estado de espírito mais favorável à minha cura, não só para corresponder, mas porque minha obrigação é viver, e levar a minha vida até os últimos limites possíveis de minha existência.

“Eu tenho que conduzir isto com uma calma, com uma confiança, com uma tranquilidade que seja o elemento decisivo da minha cura. E por isto desde já confiança em Nossa Senhora, vamos tocar para frente! O que é preciso é viver. Pode ser que eu fique aleijado, pode ser que eu tenha que andar numa cadeira de rodas, pode ser que eu fique deitado na cama a vida inteira, mas uma coisa é positiva: eu penso, falo, respiro, logo vivo. Enquanto eu pensar e falar eu serei nocivo à Revolução, em alguma coisa eu serei. Sendo nocivo à Revolução eu quero viver, porque eu quero fazer a ela todo o mal possível e à Contra-Revolução todo o bem possível.

Ainda que eu fique um contra-revolucionário encostado num canto de um hospital e a quem, uma vez por ano, um outro contra-revolucionário vá visitar e peça um conselho, eu quero viver para dar esse conselho. Ainda que eu passe o resto do ano abandonado e sozinho e inútil, eu não quero que ninguém tenha tombado no caminho em que Nossa Senhora nos chama porque esse conselho faltouEu viverei para ser talvez o mais inútil dos contra-revolucionários, mas se eu puder ser de uma utilidade assim, esta utilidade eu a quero a favor do Reino de Maria e contra a Revolução! E, portanto, vamos começar ponto a ponto a viver, a curar, na medida do que for possível”.

Quer dizer, os senhores estão vendo aqui a impostação dirigida para o fim, sem vontade de espernear – qualquer um teria vontade – de se fazer de coitado, de protestar, de fazer perguntas inoportunas, de se afligir com a demora, com o vai-e-vem das coisas. Nada! Isto tem que ser aguentado por inteiro, até o fim. Se eu não aguentar eu digo a Nossa Senhora e peço a Ela que me ajude. Mas se eu aguentar, isso tem de ser aguentado até o fim. Assim se vive!

Isso não é apenas para um acidentado na cama. Todo homem é como se fosse um acidentado. Ele levou tais trombadas nas suas aspirações, tais trombadas nas suas esperanças, de tal maneira a coisa é como ele não queria, que ele tem a bacia partida, mas para todo o sempre. Mais ainda, a espinha partida, mas para todo o sempre. E isso ele tem que aguentar assim! mas assim! Ele tem que pedir auxílio a Nossa Senhora, tem que pedir forças a Nossa Senhora e tocar para a frente. Nossa Senhora ajuda!

 

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Acima, foto durante a primeira reunião feita pelo Prof. Plinio após o desastre automobilístico, no Auditório São Miguel da TFP, à Rua Martinico Prado 246, na capital paulista

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